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Sob o título «O ópio dos intelectuais» (EXPRESSO, 10/01/04, João Carlos Espada (JCE) associa-se ao ataque generalizado que, em Portugal, acolheu a proposta francesa sobre a laicidade. JCE reduz a França aos intelectuais do Quartier Latin, acoima a lei de «fundamentalismo, (…) impotente e patético» e atribui-a à ignorância da História por parte de Chirac.

Ora, a guerra dos véus, iniciada por duas alunas francesas, foi uma provocação instigada por clérigos que vêem com bons olhos a burka, a proibição da carne de porco, a excisão e a poligamia, em nome da pureza do islamismo – uma tentativa de desafiar a laicidade do Estado, em vigor desde 1905.

A proposta de lei não põe em causa a liberdade religiosa – como alega JCE – mas apenas que seja usada para perseguir os legítimos direitos das mulheres e impedir que a discriminação se perpetue por constrangimentos sociais. É por isso que há na sociedade francesa um consenso apenas quebrado por comunistas, verdes e trotsquistas. Não tendo a sociedade francesa ensandecido somos levados a crer que, pelo menos, haja motivos fortes para tal decisão.

Os sectores mais reaccionários da igreja católica apoiam a reivindicação islâmica, unidos no proselitismo, à espera de ajuste de contas posterior. A sábia decisão francesa acautela o direito de poder ter qualquer religião, ou nenhuma, perante anacronismos que consideram a apostasia e a blasfémia crimes hediondos merecedores de julgamento sumário e penas perpétuas.

Neste, como noutros casos, a comunicação social tem-se revelado um excelente veículo de difusão de notícias mas um medíocre espaço de confronto de ideias.

Injustamente para a França.