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14 de Maio, 2007 Carlos Esperança

O desaparecimento de Madeleine McCann

O desaparecimento da menina inglesa, no Algarve, deu origem à doentia exploração da comunicação social.

Os telejornais abrem com meia hora sem notícias na demente perseguição do mórbido e na devassa da vida íntima do casal que perdeu a filha. Não há sentido de proporções, a ética foi exonerada e os sentimentos são explorados de forma vil e degradante.

O drama da menina de quatro anos, Madeleine McCann, merece a contenção e pudor que a conquista de audiências não justifica. Claro que o genocídio do Darfur é longe, as vítimas são feias e pobres e a morte por inanição ou lapidação já faz parte do dia-a-dia.

Há dez dias que os virtuosos pais são acompanhados na praia, na piscina e nas devoções pias: orações e missas com homilias preparadas. Em Fátima, os peregrinos esqueceram os pedidos próprios e levaram fotos da criança à Virgem. O massacre informativo é uma desmedida manifestação de mau gosto.

Há nesta febre demente um masoquismo malsão, uma mistura de atrofia mental com a coscuvilhice rural, um sofrimento colectivo que parece uma fuga à realidade quotidiana e às responsabilidades de cada um.

Transformar os pais, que por incúria ou fleuma deixaram sozinhos os três filhos de tenra idade, em modelos é o início de uma nova devassa que transformará em vilões os heróis fabricados pelos noticiários e exaltados pelas convicções religiosas.

A juntar à tragédia da criança e à dor da família vem aí a decepção dos espectadores.

14 de Maio, 2007 Carlos Esperança

É preciso topete!

Ontem, no Brasil, o Papa expressou a sua preocupação pelo aparecimento de formas autoritárias de Governo na América latina.

B16 é um modelo de tolerância e o Vaticano um exemplo de Estado democrático.

14 de Maio, 2007 Ricardo Alves

O fracasso brasileiro de Ratzinger

Lendo a imprensa brasileira, a conclusão que se retira é que a incursão de Ratzinger pelo Brasil foi um tremendo fracasso. Politicamente, ouviu um sonoro «não» de um político que raramente se impõe. E teve menos pessoas a idolatrá-lo em público do que em qualquer festival católico de verão que tenha realizado na sisuda Alemanha.

Foi uma surpresa positiva que Lula da Silva, um Presidente ambíguo e pouco dado a rupturas, tenha dito a Ratzinger que o Brasil vai «preservar e consolidar o Estado laico». B-16 pedira, nessa entrevista, uma Concordata que garantisse os privilégios a que a ICAR está habituada noutros países: isenções fiscais e ensino do catolicismo na escola pública a expensas do Estado, por exemplo (com o acinte extra da obrigatoriedade do ensino do catolicismo). Também quereria interferir, aparentemente, na legislação sobre aborto e distribuição de anticoncepcionais. Levou, em tudo, um rotundo «não».

Nas acções de massas, a decepção de Raztinger também foi grande. Teve menos pessoas do que se esperava, e não há jornal que não frise que o catolicismo brasileiro está em regressão demográfica, em perda para as igrejas evangélicas. Uma perda de influência que se estende a toda a América Latina e que Raztinger não parece ser capaz de inverter.

Como se não bastasse, a sua viagem levou a imprensa brasileira a entrevistar os «teólogos da libertação» (como Leonardo Boff) que Ratzinger tanto detesta e que tanto tem perseguido. Enfim, uma semana aziaga para o Papa alemão.

Espero que, pelo menos, o Sapatinhos Vermelhos tenha tido tempo para umas caipirinhas…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
14 de Maio, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Catolicismo e as bisbilhotices sexuais

Das sarjetas católicas brota um rato de esgoto psicopático, orientador das arquitecturas e canalizações, deseja desaguar nos boeiros propícios e assim o faz. Os gatos andam nos telhados a apanhar sol, e cios para aqui e para acolá desviam sexualmente, ratos de esgoto que se empecilhem entre si, até porque caem mal no estômago e sabe-se lá por andaram com a boca.

Big Brother enlouqueceu o chefe dos ratos, Orwell não interessa, mídia e bisbilhotice rende mais e mais canalizações produz. Todos os que não cumpram as regras sexuais dos ratos de esgoto são sujos, disse Ratzinger, aludindo à limpeza de não ter relações sexuais, mais limpo só com toalhetes de cheiro a rosas e humidificados, um ou outro incenso a queimar e algodões não enganam.

Todos os que pratiquem sexo antes das cerimónias de acasalamento carimbadas por deus e pombas são sujos, também o são se o sexo for desta ou de outra maneira, Kamasutra é melhor não ver e não praticar. Manias de saber quem vai ou não, que se faz ou deixa de fazer na casa do vizinho é sinal de pouca vida e muito tédio.

Se Ratzinger e ratos da espécie não conseguem arranjar temas de conversa das suas vidas, que se deliciem nos esgotos e siga a caravana, antes caravela que estamos em terrenos lusófonos. Tal não lhes apetece, apetites são vastos, mais ainda os que não próprios, os dos outros. Dizer que este ou aquele é desviado sexualmente é revista cor-de-rosa a mais e vida própria a menos. Tenho o meu desvio, claro está. Para a esquerda, testicularmente não sei se lhe interessa, melhor enviar a correspondência pelo espírito santo, rezando às Fadas e Duendes de Saturno que não me manche excessivamente a carta com carimbos verdes de dejecto.

Todos prestamos contas a deus, claro está, um deles pelo menos, se quisermos a vários, insurrectos não faltam. Melhor encaminhar a correspondência rapidamente para prevenir engarrafamento do sistema. Prestem contas do que fazem na cama, o que fazem, se é para a esquerda ou direita, se por cima ou por baixo, se demora muito ou pouco, se mete pelo meio algemas e chicotes, espancamentos pode ser mas tem de deixar pisadura, assim dita a lei de deus nas bíblias, apedrejamentos era o mais normal, mas vulgo espancamento não está mal. Deuteronómio recomenda a pedra. Carimbo verde do espírito santo, esfregadela do rabo para melhor lacrar, e presa na pata lá vai. Contas feitas, depois se decide o desvio sexual. Acentuado vai para a fogueira, mas caso seja leve vai para a fogueira. Queimar para a eternidade que estas coisas de pénis desviado são infernais.

Limpinhos os clericais com toalhetes de odor a rosas, sobem aos céus, desvio não houve, pedofilia não conta, muito menos violações, santos são eles e nas nuvens passam a eternidade, a masturbarem-se porque os anjos não possuem sexo.

Também publicado em LiVerdades e Ateismos.net

14 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «O cérebro serve para o animal se orientar e prosperar no seu ambiente. Nisto não somos excepção, mas o nosso ambiente é peculiar. O nosso cérebro serve-nos para prosperar em sociedades complexas, e é uma máquina de processar intenções, parentescos, favores, amizades, inimizades, direitos, obrigações…

    Com cem mil milhões de neurónios dedicados a identificar quem e para quê não é de admirar que esta espécie seja tão religiosa. Tudo julgamos ser obra de Alguém. E, é claro, o Grande Chefe tem que ter mulher, filhos, ajudantes e subordinados. Religião é projectar no universo a estrutura social que construímos aqui à nossa escala microscópica. E o nosso cérebro especializou-se nestas hierarquias […]

    Ajudas o meu filho e eu ando cinquenta quilómetros a pé, ou coisa do género. Se Maria tem esses poderes e se é em Fátima que os manifesta, vale a pena tentar. Deus é demasiado vago e distante para estas coisas.

    Hoje celebra-se um exemplo da maior treta na religião. […] As pessoas relacionam-se com o universo como se relacionam entre si. Pedindo, oferecendo, bajulando, sacrificando-se, ajudando, trocando favores e amizades. É o que fazemos melhor. Quem não disse já uns palavrões ao computador ou nunca pediu desculpa ao cão se o pisou? A verdadeira religião, a religião dos crentes, é ligar-se dessa forma a tudo o que os rodeia.[…]

    É triste que milhões de pessoas levem tanto a sério as fantasias de uma criança. Mas o relato que bispos e papas teceram à volta deste acidente sociológicoo é que é uma Treta de se lhe tirar o chapéu.»Treta da semana: Nossa Senhora de Fátima.», no Que Treta!)

  2. «Entre os presentes nessa data estava um dos mais destacados dirigentes do movimento católico, Domingos Pinto Coelho. Este advogado e proprietário miguelista, fundador e candidato pelo primeiro ensaio de partido católico em Portugal (em 1901), publica na primeira página do principal diário católico- A Ordem- um testemunho em que afirma peremptoriamente que está convencido que se presenciou não um milagre do Sol, mas um fenómeno natural:[…] Ora precisamente essa analogia de circunstâncias proporcionou-se-nos ontem. (…) Vimos as mesmas sucessões de cores, o mesmo investimento rotativo, etc.” E daí concluiu: “Eliminado pois o único facto extraordinário, que fica? (…) As afirmações de três crianças e nada mais. É muito pouco» («O “FENÓMENO FÁTIMA”: os primeiros cinquenta anos de Fátima- 2», no História e Ciência)
  3. «Na segunda parte, resolveu dedicar-se às previsões e à futurologia. E lá entendeu por bem prever que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses já estariam de volta ao solo pátrio pelo Natal.
    O pior foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica, no ano de 1918.
    Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitada?
    »
    Diz que é uma espécie de religião monoteísta…», no Random Precision)
13 de Maio, 2007 Carlos Esperança

A resistência da Turquia laica

A Turquia resiste. Sitiada pela Europa que a abandona às mãos dos seus fanáticos e dos fundamentalistas seus vizinhos, assediada pelo clero, cujas únicas leis que respeita são as do anacrónico Corão, a Turquia laica, civilizada e democrática sai à rua para defender os valores civilizacionais.

A Europa, medíocre e cobarde, que invadiu o Iraque e ignorou o genocídio de Darfur, insiste em invocar referências confessionais para si própria e abandona a Turquia, que a tem protegido do desvario dos mullahs e do proselitismo dos ayatolás.

Este mês, em Ankara um milhão de pessoas saiu à rua. Em Istambul foi ainda maior a multidão. Agora, em Esmirna, os turcos continuam a defender o laicismo e os princípios republicanos com gigantescas manifestações de massas. Têm consigo juízes, militares, a Constituição, a memória de Mustafa Kemal Atatürk e, sobretudo, o pavor da sharia.

A Europa, vítima de contradições internas, pusilânime e incapaz de enfrentar o populismo, condescende com os afloramentos xenófobos e abandona a Turquia que lhe serve para integrar a NATO mas despreza como parceiro digno de inclusão no espaço económico e civilizacional da Europa secular, multicultural e democrática.

A falta de grandeza e dimensão política dos actuais dirigentes europeus não vê para lá dos negócios e quem não vê mais além, nem os negócios será capaz de defender.

13 de Maio, 2007 Carlos Esperança

13 de Maio – uma farsa de 90 anos

Ontem, em Roma, eram quinhentos mil levados e acirrados por padres e monsenhores, a crocitar e uivar contra a proposta de lei que admite as uniões de facto e homossexuais. Eram a voz do ódio à diferença, da intolerância aos outros, do medo de si próprios e da sua insegurança.

Hoje, um número idêntico cantava e rezava na Cova da Iria, apaziguando temores, cumprindo promessas e mendigando graças. Virados para a Virgem de cujo barro só chega o silêncio e a indiferença da matéria inerte de que a fizeram, solicitam favores, abandonam pertences, por conta, e, na histeria própria das multidões e do ambiente prometem voltar.

Alguns chagaram os joelhos e muitos tinham os pés gretados e as pernas inchadas. Até a menina inglesa lhes serviu de inspiração para os pedidos com que esqueceram os seus.

Da padralhada veio a bênção, a missa, o terço e a procissão, mas do andor apenas chegou a mudez do barro e o fulgor das tintas que refulgem na intensidade das luzes.

Os manifestantes de Roma reclamaram o Inferno para os legisladores tolerantes e justos, os de Fátima pediram um pedaço de Céu nas agruras da Terra, uma centelha de Deus na vida de sofrimento e angústia.

Da catarse colectiva que ali os levou, resta a recordação do espectáculo grandioso das multidões, o folclore dos vestidinhos eclesiásticos, o deslumbramento dos simples com uma estátua de barro a viajar numa padiola e a vastidão de lenços a adejar à passagem do pedaço de barro pintado, em forma de mulher vestida até aos pés e com os cabelos cobertos, a ensinar a forma de trajar feminina.

Terminada a feira, regressam os peregrinos à tristeza quotidiana e às dificuldades de sempre, à espera de graças que não chegam e de milagres que não acontecem.

É a fé.

12 de Maio, 2007 Carlos Esperança

Religião e morte

Lê-se e não se acredita. Vêem-se as fotografias e, entre a raiva e o asco, maldiz-se o mundo, a crueldade e a intolerância.

«El País» dá-nos conta de uma jovem de 17 anos que se apaixonou por um muçulmano e que, por amor, para casar com ele, se converteu ao Islão.

De volta a casa, dois mil curdos de uma seita satânica a que a adolescente pertencia, aguardavam para a matar. À pedrada, como manda a tradição e a honra das famílias. Demorou 30 minutos a agonia de uma vida enquanto o corpo era dilacerado.

A seita – esclarece «El País» – é uma mistura de judaísmo, cristianismo e islamismo, com numerosas regras para ambos os sexos. Os homens não podem lavar-se – nem a cara -, ou barbear-se, e as mulheres são impedidas de aprender a ler e escrever. E o azul é uma cor proibida.

O céu e o mar estão proibidos onde se vive sem azul e morre com o vermelho do sangue próprio. Nenhum credo perdoa ao apóstata.

Parece que adoram o Diabo, a face oculta de Deus, a intolerância dos preconceitos que fazem parte do ADN e constituem a matriz genética de todos os fanatismos.

Fala-se de tradição e há um sobressalto de horror que assoma nos que se libertaram da cultura da morte. Em nome dos costumes, há uma memória colectiva que, de tempos a tempos, nos assalta na orgia de horror e sofrimento que os preconceitos alimentam.

Neste Inferno que a superstição alimenta são sempre mulheres as vítimas da crueldade, as preferidas dos deuses para o sofrimento, designadas pelos hierarcas para expiarem os pecados originais e as culpas colectivas que a demência inventa.

Raios os partam.

DA/Ponte Europa

12 de Maio, 2007 Carlos Esperança

Correio dos leitores – Cumplicidades com a ICAR

Sou um ex-aluno da Universidade de Aveiro. Formei-me nesta bela instituição de ensino superior há poucos anos.
Sempre senti orgulho da minha universidade (duplamente até, porque não só sou formado por ela, mas também sou aveirense), até há 4 dias atrás.

Ao ler um jornal da região, vi que a tradicional “Bênção das Pastas”, este ano, foi realizada em pleno campus universitário, na chamada “Alameda da Universidade”.
Apesar das minhas fortíssimas convicções ateias, não me oponho à liberdade das pessoas (liberdade é aliás, na minha opinião, um dos grandes estandartes dos verdadeiros ateus e humanistas seculares). Quem quiser abençoar a sua pasta, que o faça à vontade. Considero um acto assente na mais pura estupidez e ignorância, mas se é disso que gostam, façam favor.

O que me irrita profundamente, é ver uma cerimónia religiosa, com a presença oficial do bispo de Aveiro, a ser realizada no terreno de uma instituição de ensino. Já para não dizer ensino superior. E pior ainda, ensino superior público. Porque se a Universidade Católica quisesse fazer o mesmo, obviamente não podia criticar. É privada e intimamente ligada à Igreja.
O mais incrível é que o seminário de Aveiro, onde treinam os novos atiradores de hóstias, fica a não mais que 500 metros do local onde foi realizada a cerimónia.

Enviei prontamente um e-mail dirigido à reitora da Universidade de Aveiro, em nome pessoal, como ex-aluno, a questionar as razões para permitir a realização de uma cerimónia religiosa num local de ensino superior público.

Surpresa das surpresas, até este momento não recebi qualquer resposta.

Aproveitei também para enviar um e-mail à secção “Nós por cá” do Jornal da SIC. Também não obtive resposta.

É incrivelmente triste ver que neste país, o que aconteceu no campus da Universidade de Aveiro é visto como algo perfeitamente banal, normal e aceitável. Duvido que a reitora ou a SIC se dignem responder.
Para ambos, nada de mal aconteceu certamente.

Aproveitemos o 13 de Maio para rezar à virgem que os meus e-mails obtenham resposta.
Se entretanto houver desenvolvimentos, manter-vos-ei informados.

a) João Brandão

12 de Maio, 2007 Carlos Esperança

Fátima – Supermercado da fé

A feira anual da fé tem este ano o atractivo suplementar dos números redondos. Faz 90 anos que a burla levantou voo depois de aterrar a Virgem numa azinheira, um anjo nas pastagens e o catecismo terrorista na cabeça de três crianças.

A luta contra a República e o ódio à separação da Igreja e do Estado e à instituição do divórcio, levaram a padralhada ao desvario e os rurais embrutecidos nas paróquias ao desespero pio.

Valeu-lhes a Virgem e o Anjo, caídos do Céu, que andavam a passear na Cova da Iria e encontraram três inocentes criancinhas. Até o Sol ajudou, com as cambalhotas, o circo místico ali montado.

A Lúcia, a mais mitómana, via e ouvia aquela que disse «Eu sou a Nossa Senhora». A Jacinta só ouvia e o Francisco não viu nem ouviu mas todos sabiam que, para reparar o humor divino, o terço era a arma terapêutica, o amuleto de eleição, o argumento para que Deus tramasse os portugueses dando longa vida ao seu enviado – Salazar.

Amanhã, dia 13, Fátima será o enorme cinzeiro da fé, um recipiente cheio de beatas, com cheiro a incenso e a estearina, com uma multidão de parasitas da fé a borrifar peregrinos com hissopes de prata e a fazerem cruzes no ar com anelões de ametista.

Em Fátima viajam báculos, esvoaçam mitras e, dentro de vestidinhos de púrpura, alguns cardeais abanam custódias, distribuem hóstias, debitam orações e alinham a coreografia que estimula os crentes a deixarem os ouros e os euros numa ansiedade mórbida de se inscreverem no Paraíso.

Os padres dirigem o espectáculo com o profissionalismo de grandes ilusionistas e com a certeza de que as autoridades não interferem no negócio.

Se fossem ciganos a vender roupa contrafeita na Feira do Relógio apareciam polícias a apreender a mercadoria e a multar os comerciantes, mas aos padres ninguém controla a qualidade das hóstias, a higiene do fabrico e a validade da consagração.

Um cardeal não é um cigano que precisa de sustentar a família, é um agiota que alicia os supersticiosos para deixarem as alianças e os cordões à guarda da Virgem em troca de bênçãos para nutrir a alma. Um bispo não é a bruxa que alivia a carteira da mulher que o marido abandonou e a livra do mau olhado, é o artista que usa a mitra e o báculo como garantia de uma assoalhada no Paraíso para a alma de quem lhe beije o anelão.

Deus é pretexto para espoliar crentes e encher de bolhas os pés e de chagas os joelhos dos peregrinos.