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13 de Maio – uma farsa de 90 anos

Ontem, em Roma, eram quinhentos mil levados e acirrados por padres e monsenhores, a crocitar e uivar contra a proposta de lei que admite as uniões de facto e homossexuais. Eram a voz do ódio à diferença, da intolerância aos outros, do medo de si próprios e da sua insegurança.

Hoje, um número idêntico cantava e rezava na Cova da Iria, apaziguando temores, cumprindo promessas e mendigando graças. Virados para a Virgem de cujo barro só chega o silêncio e a indiferença da matéria inerte de que a fizeram, solicitam favores, abandonam pertences, por conta, e, na histeria própria das multidões e do ambiente prometem voltar.

Alguns chagaram os joelhos e muitos tinham os pés gretados e as pernas inchadas. Até a menina inglesa lhes serviu de inspiração para os pedidos com que esqueceram os seus.

Da padralhada veio a bênção, a missa, o terço e a procissão, mas do andor apenas chegou a mudez do barro e o fulgor das tintas que refulgem na intensidade das luzes.

Os manifestantes de Roma reclamaram o Inferno para os legisladores tolerantes e justos, os de Fátima pediram um pedaço de Céu nas agruras da Terra, uma centelha de Deus na vida de sofrimento e angústia.

Da catarse colectiva que ali os levou, resta a recordação do espectáculo grandioso das multidões, o folclore dos vestidinhos eclesiásticos, o deslumbramento dos simples com uma estátua de barro a viajar numa padiola e a vastidão de lenços a adejar à passagem do pedaço de barro pintado, em forma de mulher vestida até aos pés e com os cabelos cobertos, a ensinar a forma de trajar feminina.

Terminada a feira, regressam os peregrinos à tristeza quotidiana e às dificuldades de sempre, à espera de graças que não chegam e de milagres que não acontecem.

É a fé.