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Fátima – Supermercado da fé

A feira anual da fé tem este ano o atractivo suplementar dos números redondos. Faz 90 anos que a burla levantou voo depois de aterrar a Virgem numa azinheira, um anjo nas pastagens e o catecismo terrorista na cabeça de três crianças.

A luta contra a República e o ódio à separação da Igreja e do Estado e à instituição do divórcio, levaram a padralhada ao desvario e os rurais embrutecidos nas paróquias ao desespero pio.

Valeu-lhes a Virgem e o Anjo, caídos do Céu, que andavam a passear na Cova da Iria e encontraram três inocentes criancinhas. Até o Sol ajudou, com as cambalhotas, o circo místico ali montado.

A Lúcia, a mais mitómana, via e ouvia aquela que disse «Eu sou a Nossa Senhora». A Jacinta só ouvia e o Francisco não viu nem ouviu mas todos sabiam que, para reparar o humor divino, o terço era a arma terapêutica, o amuleto de eleição, o argumento para que Deus tramasse os portugueses dando longa vida ao seu enviado – Salazar.

Amanhã, dia 13, Fátima será o enorme cinzeiro da fé, um recipiente cheio de beatas, com cheiro a incenso e a estearina, com uma multidão de parasitas da fé a borrifar peregrinos com hissopes de prata e a fazerem cruzes no ar com anelões de ametista.

Em Fátima viajam báculos, esvoaçam mitras e, dentro de vestidinhos de púrpura, alguns cardeais abanam custódias, distribuem hóstias, debitam orações e alinham a coreografia que estimula os crentes a deixarem os ouros e os euros numa ansiedade mórbida de se inscreverem no Paraíso.

Os padres dirigem o espectáculo com o profissionalismo de grandes ilusionistas e com a certeza de que as autoridades não interferem no negócio.

Se fossem ciganos a vender roupa contrafeita na Feira do Relógio apareciam polícias a apreender a mercadoria e a multar os comerciantes, mas aos padres ninguém controla a qualidade das hóstias, a higiene do fabrico e a validade da consagração.

Um cardeal não é um cigano que precisa de sustentar a família, é um agiota que alicia os supersticiosos para deixarem as alianças e os cordões à guarda da Virgem em troca de bênçãos para nutrir a alma. Um bispo não é a bruxa que alivia a carteira da mulher que o marido abandonou e a livra do mau olhado, é o artista que usa a mitra e o báculo como garantia de uma assoalhada no Paraíso para a alma de quem lhe beije o anelão.

Deus é pretexto para espoliar crentes e encher de bolhas os pés e de chagas os joelhos dos peregrinos.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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