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5 de Outubro, 2025 Eva Monteiro

Carta a um Crente

(Quase) todas as quartas-feiras sou anfitriã de um debate online em que convido crentes a discutirem temas que me parecem relevantes à luz das suas crenças. Faço-o através da plataforma TikTok e vou lá deixando também, em formato de vídeo, algum conteúdo. Foi com alguma surpresa que encontrei na minha caixa de entrada desta plataforma uma mensagem mais educada e razoável que as do costume (normalmente são insultos). Sou detalhada nas minhas respostas, pelo que no fim, achei que o texto poderia ser útil e decidi publicá-lo aqui. O que se segue é a mensagem inicial desta pessoa:

Ponderei bastante antes de enviar mensagem. Era bem mais fácil não dizer nada e pronto, vida que segue. Mas não consigo concordar contigo em relação às religiões. As religiões têm um papel fundamental na sociedade e esta é somente a minha opinião. E esta é a minha verdade. Tu tens a tua e outra pessoa qualquer poderá ter a dela e está tudo certo. Sem julgamentos, até porque a meu ver cada um tem o seu caminho e trajeto a seguir. Que me digas que houve e há uma instrumentalização por parte dos homens em relação a essas mesmas religiões, sem dúvida alguma, 100% de acordo. No entanto, as religiões na sua essência são apenas e só uma maneira de mostrar valores e distinguir o certo do errado. Percebo que me digas que isso faz parte da educação de cada ser, mas na minha opinião não é a mesma coisa. Pois uma coisa é o pai, ou a mãe, ou mesmo a professora, outra é supostamente uma entidade superior a demonstrar o bem ou o mal.

Atenção que à medida que crescemos todos nós optamos por diversos caminhos e começamos a questionar esses mesmos ensinamentos. O que é normal pois são apenas histórias que passaram de pessoas para pessoas e que quem as passa age como se fossem verdades absolutas.

Como é lógico, devemos questionar sempre e não acreditarmos em algo só porque sim. Devemos tirar as nossas próprias conclusões, pelas nossas próprias experiências e também pelas nossas pesquisas se assim o desejarmos e quisermos saber mais. Por exemplo, se me perguntares se eu acredito em Deus, eu vou responder o que respondo sempre. Eu não acredito, eu sei que Existe.

Não me identifico com nenhuma religião. Fui educado sim na igreja católica cristã (é cultural) e tive passagens pelo budismo. No entanto, desde os meus 5 anos de idade que tenho contato com outros planos, que não aquele que estamos no momento presente. Estudo o espiritismo segundo Allan Kardec, sempre baseado no método científico.

Como eu costumo dizer, o espiritismo não é uma religião, é um modo de vida. É apenas a maneira como vemos o mundo e que não há certos nem errados, há apenas experiências e modos de fazer e ver as coisas de maneira diferente. Lá porque dizes que algo é assim e eu digo que é assado é tudo uma questão de perspectivas. Estamos sempre a aprender e a evoluir.

Peço desculpa pela intromissão e pelo testamento. Bom fim de semana.

A minha resposta:

É a tua vez de me perdoares a extensão da resposta. Quando acabei de a escrever dei conta que talvez tenha sido detalhada demais. Ainda assim, acho que devo escrever o que tenho a dizer e tu decidirás se tens o tempo e a paciência de fazeres a leitura e até, se eu tiver alguma sorte, responderes aos pontos em que discordo contigo.

Prometi que te respondia mal pudesse dar atenção completa à tua mensagem e tive algum tempo para ponderar. É sempre um sinal de integridade intelectual quando alguém que me manda mensagem privada numa rede social se dispõe a refletir, questionar e dialogar, mesmo quando o tema é sensível; e poucas coisas o são mais do que as crenças religiosas. Por isso, antes de mais, quero agradecer-te novamente pela mensagem.

O facto de não concordares comigo quanto às religiões é válido, temos direito a portar diferentes opiniões e a defendermos diferentes posições. Contudo, eu acredito em fundamentar as minhas posições e a questionar o fundamento das posições contrárias à minha. Desta forma, posso entender se a minha posição está afinal, errada. Hoje não foi o dia. Parece-me que confundes, antes de mais, opinião com verdade. Esta ideia de que dada coisa é “a minha verdade” é completamente descabida. É a tua opinião, faz parte da tua mundividência, é o que tu achas. A verdade é outra coisa. Não depende da opinião nem da perspectiva de quem afirma que algo é verdadeiro, mas da coerência entre a afirmação e a realidade. Isto é, uma afirmação é verdadeira se corresponder aos factos ou ao estado de coisas que a pessoa afirma.

Quanto a opiniões, cada um tem a sua, é verdade. Por outro lado, não devo aceitar tudo o que me dizem só porque as pessoas têm direito a terem opiniões. Podemos certamente concordar que nem todas as opiniões fazem sentido. Há quem acredite que a terra é plana. Têm direito a acreditar numa coisa falsa, mas eu não tenho que aceitar que a terra é plana só porque essa é a opinião de uma pessoa que está muito claramente errada mas que decidiu ser essa “a sua verdade”. Há opiniões sobre tudo e para todos os gostos. Algumas opiniões são inócuas, outras têm consequências. Quando a consequência só atinge o próprio, está tudo bem. Quanto a consequência atinge outros ou a sociedade em geral, creio que opor-me é imperativo.

Do ponto de vista histórico, é verdade que as religiões moldaram civilizações, inspiraram arte, música e literatura, e serviram de estrutura moral e social durante séculos. Mas a questão crucial é: a que custo e com que fundamentos. A religião, de uma forma geral, foi a primeira explicação que a humanidade conseguiu dar a grandes questões, mas não foi a última nem foi a melhor. Pelo contrário, é a mais imperfeita das explicações do mundo e a que provocou piores danos. Contudo, ainda que não tivesse provocado danos e não fosse hoje uma visão obsoleta, o facto de em tempos ter tido utilidade não significa que seja verdade. São dois conceitos diferentes. Um vidente pode ser útil a um cliente que lá vai desabafar, mas não deixa de ser charlatanice. Naturalmente, não concordo contigo que as religiões ainda têm esse papel social, pelo menos no ocidente secularizado em que as leis, feitas por pessoas para pessoas, moldam a nossa vida diária. Por outro lado, a religião mantém esse poder em países onde a teocracia é a regra. Acho que basta olhar para os países que não fazem a separação entre o estado e as organizações religiosas para vermos o quanto a religião corrompe e destrói sociedades inteiras.

Quando alguém me diz que as pessoas é que instrumentalizam a religião, sinto que estamos a cair numa tautologia. A religião não é petróleo. Não é uma coisa que a humanidade descobriu e que não soube usar corretamente. A religião é uma construção humana cujo objetivo é o controlo. Parece-me por isso evidente que um instrumento seja… instrumentalizado. Basta olharmos para as sociedades para entendermos que tipo de deuses é que as pessoas criam. Uma sociedade de pequenas tribos, onde toda a gente se conhece e em que a violência e o crime são situações pontuais e aberrantes tende a ser animista. Já uma sociedade que desenvolve grandes cidades tende a criar deuses que vigiam, que estão em todo o lado, que castigam pecados. A religião é o que as pessoas criam antes de desenvolverem sistemas legais e modos mais seculares de regulação social.

Na sua essência, as religiões não te dão um sistema de valores. Pelo contrário, és tu que imprimes moralidade à religião que professas. Por isso é que tantos cristãos não são racistas, misóginos e violentos, apesar de o seu livro sagrado estabelecer um sistema de “valores” absurdo e impensável. Se decidisses agora seguir à letra o sistema de valores que o cristianismo, o judaísmo ou o islamismo oferecem nos seus escritos sagrados, só não ias parar à cadeia se te rebentasses juntamente com uma bomba, ou te suicidasses após desatares a matar infiéis, pecadores, bruxas, ateus e outros. Se seguisses à letra esse sistema de “valores”, não distinguirias o certo do errado. É porque consegues distinguir o certo do errado que tens a capacidade de ignorar as partes imorais de uma religião e selecionar ou reinterpretar as partes que se coadunam com o teu sistema moral.

Para mim, distinguir o que é bom e o que é mau também não faz inteiramente parte da educação de cada pessoa. Faz também parte do processo de seleção e da sobrevivência da espécie. Somos uma espécie cooperativa e se não tivéssemos a capacidade de coexistir, de saber que não se faz mal aos outros, que devemos ser bons uns para os outros, não sobreviveríamos enquanto espécie. Com todos os defeitos que temos, temos tendência a não sermos violentos, a não sermos destruidores da nossa própria espécie. É coisa comum a muitas espécies, especialmente entre os mamíferos e especificamente entre os primatas que nos são, do ponto de vista da evolução, mais próximos. A mãe e o pai, ou a mãe e a mãe, ou o pai e o pai, ou a avó, o avô, o tio, a tia, ou seja quem for que educa uma criança tem um papel essencial na sua vida através da educação e isso eu não nego. Uma criança bem educada terá um futuro mais feliz e útil, para si e para os outros. Contudo, falas de uma entidade superior que demonstra o bem e o mal. Suponho no entanto que o teu deus, seja ele qual for, nunca te respondeu às preces de forma audível e verificável. Não temos quaisquer provas de que uma entidade sobrenatural alguma vez tenha falado ou aparecido a alguém. Temos é padres, pastores, bispos, apóstolos, profetas, gurus e restantes líderes espirituais que dizem saber o que está certo e o que está errado, e que afirmam o que é ou deixa de ser a vontade do respetivo deus. Ora, cada líder religioso tem a sua opinião sobre o que está certo ou errado, pelo que não existe nessa suposta comunicação divina objetividade suficiente, nem nos dias de hoje nem ao longo da História, para suportar a tua afirmação. Eu creio que entendes isto, pela forma como escreves, mas não me parece que entendas que o que dizes num parágrafo contradiz o que dizes no parágrafo anterior.

Concordo que devemos questionar, tirar as nossas próprias conclusões, como dizes. Mas então em que momento desse processo é que entra deus?

Dizes uma frase que já ouvi centenas se não milhares de vezes em debates, especialmente com cristãos e muçulmanos: “Eu não acredito, eu sei que Existe.” Na verdade é o oposto, tu não sabes, tu acreditas. É matéria de fé e não de facto. Se soubesses efetivamente que o teu deus existe, terias como prová-lo. Se fosse esse o caso, não estaríamos a debater via mensagem no TikTok, terias mostrado esse facto à humanidade, não existiriam ateus e terias ganho meia dúzia de prémios Nobel e pelo menos uma beatificação. É apenas, e lamento ter que to dizer de forma tão direta, uma frase feita daquelas que os padres e os pastores gostam de atirar ao ar mas que carecem de qualquer tipo de sentido. É aquela jogada de dizer “eu sei no meu coração que deus existe” – se sabes no teu coração, não sabes na tua cabeça. Estou interessada naquilo que é verificável, não em “verdades pessoais” que é uma forma de dizer crenças infundadas.

Quando alguém me diz que não se identifica com nenhuma religião chego sempre à conclusão que é porque não se querem comprometer à partida com determinados dogmas, com os quais podem não concordar ou não saber como sustentar. No entanto, quando faço perguntas a quem diz que não se identifica com nenhuma religião, chego sempre à conclusão que o deus em que acreditam é aquele que lhes foi imposto na infância e que as suas crenças religiosas vão de encontro às crenças da instituição religiosa correspondente, ainda que não na sua totalidade. Resumindo, posso dizer que apesar de tu não te identificares com nenhuma religião, bastariam 10 minutos de conversa honesta para eu fazer essa identificação por ti. Aliás, esse diálogo, a ser feito internamente e de forma honesta, provavelmente também faria com que te identificasses com alguma religião. Vou apostar, sem muita base, porque essa conversa não aconteceu, que acreditas no deus da Igreja Católica (omnisciente, omnipotente, omnipresente e bom), mas que gostas de práticas mais místicas pelo que em vez de ires à missa preferes meditar e que não te identificas com a Igreja Católica porque o Kardecismo te conferiu a crença de que o mundo dos espíritos está ao teu alcance, quando a Igreja o nega. Isto é, descaradamente, um pré-conceito da minha parte. Não o nego e até peço desculpas se estiver errada. No entanto, apostaria uns euros nesta opinião se fosse forçada a isso.

Quanto ao espiritismo e à ideia de contacto com outros planos, o que posso dizer é que a sinceridade da experiência não garante a veracidade da interpretação. As experiências subjetivas (visões, intuições, sentimentos de presença) são universais e explicáveis em termos neurológicos e psicológicos. A mente humana é extraordinariamente criativa, e o cérebro é capaz de gerar experiências intensamente reais que, no entanto, não têm correspondência objetiva. O método científico serve precisamente para proteger-nos dessas ilusões, inclusive das mais agradáveis.

Embora Allan Kardec afirmasse seguir o “método científico” na elaboração da doutrina espírita, na realidade ele nunca aplicou qualquer procedimento científico reconhecível. Não houve observação controlada, hipóteses testáveis, experimentação reproduzível nem revisão por pares. O que Kardec fez foi recolher relatos mediúnicos e interpretá-los à luz das suas próprias convicções, apresentando-os como factos. Esse processo pode ter sido feito com sinceridade, mas não é ciência, é especulação metafísica. A ciência baseia-se em evidências verificáveis e na possibilidade de refutação. Já o espiritismo baseia-se em testemunhos subjetivos e fenómenos não demonstráveis. Portanto, apesar de Kardec desejar dar ao espiritismo uma aparência racional, os seus escritos pertencem ao domínio da crença, não ao da investigação científica. Que seja esse o teu modo de vida é uma escolha pessoal que não tenho que questionar. Contudo, é só isso, uma escolha de vida que em nada demonstra a veracidade dos ensinamentos que escolheste seguir e que em nada se baseia no método científico.

Concordo inteiramente contigo num ponto essencial: devemos sempre questionar e continuar a aprender. O problema é que o verdadeiro questionamento exige que também coloquemos em dúvida as nossas certezas mais íntimas, inclusive as espirituais. E é aqui que a postura ateísta não é uma negação da espiritualidade humana, mas uma exigência de honestidade intelectual. Por fim, suspeito que o que te incomoda no meu conteúdo é sobretudo o anticlericalismo. Deixa-me só referir que o anticlericalismo não é ódio à religião, mas defesa da liberdade de consciência contra qualquer instituição que pretenda ter autoridade sobre o pensamento humano. É uma oposição ao poder clerical. As igrejas e demais instituições religiosas e espirituais, todas elas, devem ser submetidas ao mesmo escrutínio que qualquer outra forma de poder. Isso não é intolerância; é maturidade intelectual.

Ao ler e reler a tua mensagem fico na dúvida: seria uma forma de evangelização? Tens como objetivo arrancar-me do ateísmo herege e pecaminoso? Tiveste necessidade de partilhar as tuas crenças porque sentes que o meu conteúdo as invalida de alguma forma? Ou só quiseste iniciar um debate? Não sei, mas agradeço na mesma a tua mensagem. O diálogo é o que nos permite evoluir.

Evoluímos melhor quando a verdade, e não o conforto, é o nosso objetivo.

29 de Setembro, 2025 Onofre Varela

«ERA UMA VEZ NA AMÉRICA»…

Os Estados Unidos da América (EUA) pelas acções dos republicanos no poder comandados por Donald Trump, deram, de si mesmos, a habitual imagem degradante do que é a política na versão fundamentalista com muletas religiosas.

Charlie Kirk, militante republicano assassinado a tiro no dia 10 de Setembro último, foi homenageado num recinto que se mostrou pequeno para albergar a multidão que acorreu à homenagem, congregando cerca de 90.000 pessoas. Kirk foi honrado como “mártir da fé cristã”, nas palavras do vice-presidente dos EUA, J. D. Vance. E Donald Trump, por sua vez, referiu-o como um “evangelista da liberdade”!…

Esta do “evangelista” é a mais recente versão do Cristianismo no seu modelo de seita fundamentalista, conseguida na confusão do lema “A América Grande Outra Vez” inventado por Trump, que é o candidato ao lugar histórico de ditador dos EUA. Nesta aproximação da América actual ao figurino religioso islâmico-fundamentalista, o Secretário de Estado Marco Rubio comparou Charlie Kirk a Jesus Cristo!…

Por sua vez, a viúva de Kirk tomou parte do espectáculo debitando um discurso místico, perdoando ao “jovem que matou” o seu marido, porque foi o que Jesus fez na cruz, ao dizer “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. “Porque a resposta nunca é o ódio, mas sim o amor. Amor pelos nossos inimigos e por quem nos persegue”.

Seguiu-se um outro momento patriótico com a multidão a entoar a canção “América the Beautiful”, rematada com um discurso do conselheiro presidencial Stephen Miller, dizendo que os que estão contra o activista Kirk “não são conscientes do que despertaram. Vós acreditastes que pudestes matar Charlie Kirk? Só conseguistes torná-lo imortal… agora, milhões tomarão o seu lugar!”

Depois apelou à derrota “das forças das trevas e do mal”, concluindo: “Não podem parar-nos. Nós temos beleza, luz, virtude, força, determinação. Os nossos inimigos não percebem a nossa paixão. Nós construímos este mundo e vamos defendê-lo. Estamos do lado do bem, do lado de Deus”. A seguir, Jack Posobiec, comentador de extrema-Direita e apoiante fervoroso de Trump, na mesma senda de Miller, entrou em cena apelando “a uma guerra espiritual”!…

Chegou o momento de Trump brilhar em apoteose, encerrando o degradante espectáculo. Fez um comício onde enalteceu o ideal “republicano-americano”, defendendo as comissões “caça-dinheiro” que impôs aos países que querem negociar com os EUA; atacou Joe Biden (o seu inimigo de estimação já neutralizado desde as eleições); mais os imigrantes que quer ver expulsos do território; e mais a “esquerda radical” a quem culpa pelo assassinato de Kirk; e ainda os meios de informação independentes por não dizerem o que ele quer que se diga. Acabou em grande, garantindo que nos seus oito meses de governação converteu os EUA no “país mais sexy do mundo”!…

Se tudo isto não é uma súmula de discursos de loucos… então o que é?!…

Aquilo que seria o funeral de um activista político assassinado, foi transformado numa jornada “político-religiosa” com Deus na boca e o Diabo no coração de todos os intervenientes, ao estilo das ameaças extremistas islâmicas!

E tudo isto acontece, hoje, na América!…

28 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Pode-se viver sem deuses, mas não sem Conhecimento

Roberto Calasso foi um escritor e editor italiano que morreu em Milão no dia 29 de Julho de 2021, com 80 anos de idade. Reconhecido pelos seus amigos como sendo dono de um carácter “muito difícil e complicado”, também se lhe reconhecia a sua extrema elegância, falando com a precisão dos sábios. E sabia manter o silêncio sobre qualquer pensamento do qual ainda não tivesse tomado consciência plena para se poder exprimir sobre ele.

O filósofo e ensaísta espanhol Juan Arnau, especialista em religiões orientais, escreveu sobre Roberto Calasso, começando por dizer que “da solidão surge o conhecimento, do conhecimento a arte e da arte o eterno, fechando-se o ciclo”. Calasso não encontrava diferença entre “o pensamento e a literatura”, convivendo com as duas matérias como se fosse uma só.

Numa das suas últimas entrevistas, o escritor e editor confessou que se pode viver sem os deuses, mas que “a experiência do divino muda tudo”, e é essencial saber reconhecê-lo. Calasso soube ler o mundo como se fosse um texto sagrado no qual estamos entrelaçados, mas, ao mesmo tempo, olhava com receio os êxitos da nossa civilização tecnológica, dizendo que “a tecnologia cria a ilusão do conhecimento”, e que “estamos perto de sabermos quase tudo do que não nos interessa saber”.

Sobre a Neurociência (disciplina da moda no século XXI), Calasso mostrou-se muito crítico da ideia de “a consciência ser uma propriedade da matéria”, concluindo que a antiga busca do divino, encetada pelos gregos, se transformou hoje na indagação sobre a Natureza e a consciência, mas que a nossa civilização não foi (ainda) capaz de distinguir “mente e consciência”.

Nem sequer Husserl, que foi o primeiro a fazer da consciência o tema central da filosofia contemporânea. (Gustav Hussel [1859-1938] foi um filósofo e matemático alemão, fundador da “escola da fenomenologia”, cujo pensamento influenciou profundamente todo o cenário intelectual do século XX, mais a parte do século XXI que já vivemos).

Ao contrário do que é aceite – de que a mente está no cérebro – Calasso defendeu o contrário: o cérebro é que está dentro da mente! A identificação entre mente e cérebro é um dos descalabros do pensamento moderno – dizia ele – para a seguir sentenciar que “na sociedade secular tudo é idolatria, e que toda a boa literatura é sagrada”. A mente deixou-se embrulhar na sua própria projecção “e a inteligência deixou-se absorver pelos algoritmos”, do que resultou esta fatalidade: “os verdadeiros problemas não têm solução”… ou não estamos nada interessados em procurá-la, encantados que nos sentimos na artificialidade com que decoramos a naturalidade, como se fosse uma árvore de Natal!…

22 de Setembro, 2025 João Monteiro

Oradores Congresso Livre-Pensamento

João Monteiro

Presidente da Associação Ateísta Portuguesa, é licenciado em Biologia, mestre em Biologia do Desenvolvimento e doutorado em História, Filosofia e Património da Ciência e Tecnologia. Tem trabalhado nas áreas da comunicação de ciência e da investigação académica. A sua investigação tem-se centrado em torno dos temas da História da Medicina Tropical, o papel das mulheres na ciência e coleções científicas. Vai falar da história recente do ateísmo em Portugal.

Anabela Pinto-Poulton

Anabela Pinto-Poulton é licenciada em Biologia Universidade Clássica de Lisboa, com Mestrados em Ecologia pela Universidade de Aarhus (DK) e Psicologia pela Universidade de Hertfordshire (UK). Doutorada em Evolução e Ecologia Comportamental pela Universidade de Aarhus.

Trabalhou como investigadora na Universidade de Cambridge nos departamentos de Veterinária, Antropologia Biológica e Psicologia e leccionou nas Universidades de Cambridge e outras instituições britânicas e internacionais em comportamento, bem-estar e ética animal, antropologia biológica, psicologia, métodos em investigação científica, escrita académica em inglês e pensamento crítico.

Em 2002 fundou a empresa Cambridge e-Learning Institute oferecendo os primeiros cursos on-line internacionais em bem-estar animal e pensamento crítico para universidades e empresas. Foi professora convidada para dar cursos em pensamento crítico em Chengdu na China e em várias Universidades no Brasil.

Palestrante internacional, tem dedicado os últimos 20 anos de sua carreira a promover o pensamento crítico. O seu interesse académico foca em psicologia evolutiva onde se debruça sobre a evolução da moralidade e psicologia da religião.

J. Xavier de Basto

J. Xavier de Basto pertence à Associação República e Laicidade desde 2004 e, actualmente, é membro da sua Direcção. É lisboeta, tem 60 anos e trabalha com sistemas informáticos de gestão (ERP) para as PMEs desde 1988. Xavier resume assim a sua apresentação: “Definição/ões da Laicidade.  Análise breve da situação da Laicidade em Portugal. Desafios para a Laicidade, no futuro próximo numa realidade globalizada.”

João Sequeira

Arqueólogo licenciado e mestre pela Univ. Nova de Lisboa, é doutorando em História – Património na Universidade do Minho, com o projeto “Humanizar a Arqueologia Industrial”, financiado pela FCT em 2021 e desenvolvido nos centros CICS NOVA e IHC. É autor e coautor de vários artigos e do livro Arqueologia Contemporânea em Portugal (séc. XIX e XX). Tem experiência em intervenções arqueológicas empresariais e participou em projetos como o IH4Future na Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços.

Joel Santos

Joel Santos licenciou-se em Arqueologia pela Universidade NOVA de Lisboa. Obteve posteriormente um mestrado em Arqueologia e Património na Universidade de Leicester, onde desenvolveu uma dissertação sobre a Arqueologia da Solidão. Apaixonado pela resolução de problemas, dedica-se principalmente à análise crítica e ao debate teórico em Arqueologia, aplicando também conhecimentos adquiridos numa licenciatura anterior em Engenharia Electrónica e de Computadores no Instituto Superior Técnico de Lisboa

Tânia Casimiro

Tânia Casimiro é investigadora da Universidade de Stirling, associada ao Centre for the Sciences of Place and Memory. Arqueóloga especializada em cultura material, marginalidade urbana e legados coloniais, a sua pesquisa explora memória, lugares e identidades por meio de diversos projetos, incluindo a arqueologia dos resíduos e descartes, espaços abandonados, cemitérios e comunidades urbanas informais. Liderou escavações e projectos interdisciplinares em diferentes lugares do mundo, investigando como objectos e espaços preservam histórias e relações.

Estes três oradores (João Sequeira, Joel Santos e Tânia Casimiro) irão falar de arqueologia do lixo religioso. Mas de que se trata esta área de estudo arqueológica? Os oradores apresentam o seu tema da seguinte maneira: “A Arqueologia do lixo religioso desmonta a ilusão da pureza espiritual associada a dois rituais católicos: a Procissão das Velas em Fátima e a Luminara de San Ranieri em Pisa. Milhões de fiéis produzem toneladas de plástico, que são ocultadas em tempo real para manter a aura do sagrado. A arqueologia que defendemos é ativista e, através de uma abordagem também em tempo real, pretende desmascarar o óbvio: devoção e destruição caminham juntas, e a fé acaba por ser um gatilho de indiferença na produção de lixo, a que chamamos religioso.”

Eva Monteiro

Formada em Filosofia pela Faculdade de Letras Universidade do Porto, produziu e apresentou o Podcast Portugal de Culto em que explorou temas controversos relacionados com seitas religiosas e outros grupos de alto controlo. Podcaster e dirigente da Associação Ateísta Portuguesa, promove o pensamento crítico e a laicidade. Apresenta e produz o Podcast Homo SemDeus, denunciando violações da laicidade em Portugal. Citada no livro O Universo das Seitas Destrutivas, participou na sua apresentação ao lado de Steven Hassan.

João Nascimento

Assistente técnico do SNS, poeta, filósofo, amante da palavra escrita e da ironia como força metafísica. Motivado por uma sede incessante por conhecimento e pelos mistérios do cosmos. Fascinado pelo estudo histórico das religiões. Escreveu o texto biográfico de homenagem a Tomás da Fonseca, personagem histórica que inspirou a organização deste Congresso.

19 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Bandidos e religiosos no poder

Por Onofre Varela

No primeiro dia do seu segundo mandato (21 de Janeiro de 2025), Trump indultou cerca de 1.600 condenados por delitos cometidos no assalto ao Capitólio de Janeiro de 2021, onde morreram cinco pessoas e houve muita destruição. A origem do tumulto esteve num discurso de Trump, enquanto perdedor das eleições, incendiando a raiva dos seus apoiantes, levando-os à prática de actos de bandidagem. Actos que Trump premiou quatro anos depois libertando os bandidos.

Trump e Bolsonaro (este seguiu aquele no acto de assaltar a “Casa da Democracia”) fazem parte de um punhado de tiranos que se imaginam “mandatados por Deus”. Bolsonaro deixou-se “benzer” pelo líder de uma seita extremista, dita cristã, e Trump criou o “Departamento de Fé da Casa Branca”, tendo como “assessora espiritual”, desde Fevereiro de 2025, Paula White, de 59 anos, que proclamou esta enormidade: “está a caminho uma legião de anjos para oferecer reforço celestial a Trump” (jornal espanhol El País de 13/09/2025).

Ao contrário de Bolsonaro, Trump não se assume como “fiel crente de uma fé religiosa”, só porque o seu umbigo fortemente inchado de poder e arrogância, não lhe permite submeter-se aos ditames de um deus; ele está acima de qualquer deidade… todos os deuses do mundo é que devem submeter-se-lhe… a “fé” de Trump é outra. Como comissionista que é, não obedece a outros deuses que não sejam o lucro, as suas contas bancárias, o desejo de exercer o poder sobre todos os governos do mundo, e de ver submetidos a si todos os cidadãos do universo.

Trump encarna “uma virilidade autoritária enraizada no imaginário evangélico”, a qual faz parte da cartilha dos extremistas da Direita americana (quiçá mundial) que interrogam: “Se Deus decide quem é o rico e o pobre, o que é que o Estado pode fazer perante tal decisão divina?”. Esta perigosa associação da política extremada de Direita com o extremismo religioso cristão, criou uma nova ideia referida por “cristoneofascismo” que preocupa muita gente, incluindo teólogos como Juan José Tamayo (que acabou de publicar o ensaio «Cristianismo Radical», na editora Trotta – Madrid) no qual afirma que “o evangelho da prosperidade” – conceito extremado na Direita política dos EUA e da América do Sul – está a arrebatar ao cristianismo a sua mensagem original.

Se os “pobrezinhos europeus” se consolam na ideia da bondade de Deus, do outro lado do Atlântico isso não basta. Enraíza-se a ideia de que “Deus abençoa os bons cristãos com êxito material”. Se a minha avó ouvisse tal argumento benzia-se com a mão esquerda e morria outra vez! (Bom… na verdade, a Igreja sempre praticou o poder material. A filosofia do “pobrezinho mas honrado” não passa de artimanha saloia para arrebanhar fiéis na escala dos mais desgraçados).

Quem alerta para essa ideia é Kristin du Mez, autora do livro “Jesús y John Wayne”, onde diz que os cristãos substituíram o humilde Jesus dos evangelhos por ídolos de masculinidade autoritária e pelo nacionalismo cristão. Pior ainda… há quem difunda a ideia de que “os pobres são indignos e os únicos culpados da sua pobreza”, cuja mensagem contraria os ensinamentos cristãos, mas que pretendem fazer lei na «América grande outra vez», de Trump.

Concluindo este meu raciocínio, alerto os meus leitores para o facto de Trump apoiar a decisão de El Salvador (para cujas prisões “exportou” imigrantes latino-americanos) poder abolir os limites do mandato presidencial, abrindo caminho ao presidente autocrático Nayib Bukele (empresário de 44 anos filiado no partido de extrema-Direita “Novas Ideias”, no poder desde 2019) para que se eternize no cargo de presidente do país). Isto devia preocupar-nos a todos porque, na sua campanha eleitoral, Trump disse aos americanos, ser “a última vez que precisam de votar” numa clara alusão à vontade de se eternizar no poder se conseguir, nos seus quatro anos de mandato, alterar as leis fundamentais da democracia nos EUA!…

(Quanto aos Bandidos e Religiosos referidos no título, deixo ao leitor uma viagem pela geografia política do mundo para poder elaborar a sua própria lista).

OV

16 de Setembro, 2025 João Monteiro

Congresso Livre-Pensamento terá lugar em Coimbra

Será já no dia 27 de setembro de 2025, um sábado, que terá lugar o Congresso Livre-Pensamento, organizado pela AAP. A Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, será o espaço que irá acolher este evento.

O programa completo pode ser consultado na página da Associação.

A entrada é gratuita e a inscrição pode ser feita aqui.

Contamos com a vossa presença.

12 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Trump enterra o Ocidente num “cemitério bonito”

Por Onofre Varela*

*Publicado no Semanário Alto Minho e na Gazeta de Paços de Ferreira.

Donald Trump tomou conta do seu segundo mandato depois de ter sido derrotado eleitoralmente no final do primeiro (e após ter tentado uma espécie de “golpe de Estado” no incentivo que deu aos seus apoiantes para tomarem de assalto o Capitólio), prometendo tornar a “América grande outra vez”. (O seu homólogo brasileiro está a ser julgado por ter incentivado as mesmas acções de assalto ao poder, mas Trump está escudado pela “lei do Far-West”). 

O seu modo de “engrandecer a América” baseia-se na experiência que tem de comissionista, cobrando taxas pelo serviço de intermediação… profissão que deve ter exercido durante toda a sua vida, no estilo de cobrar dois cêntimos por cada botão vendido no território que dominava, tal como Al Capone cobrava com a venda ilegal de whisky no tempo da “Lei Seca” dos anos 20 e 30, nos bairros nova-iorquinos (a “honestidade” do seu enriquecimento poderá ter tido por base o mesmo modelo).

O espírito comercial de Trump, ávido de encher os cofres do Estado (e de fomentar o seu próprio negócio imobiliário), leva-o a reduzir despesas não apoiando a investigação científica, cortando verbas a universidades impedindo a formação de muita gente (entre a qual, estrangeiros), despedindo profissionais qualificados, insultando adversários políticos, ameaçando cancelar a licença de televisão à NBC, dificultando a vida a jornais, começando pelo The New York Times que teima em resistir-lhe, e expulsando imigrantes.

Com tal atitude Trump prepara-se para transformar os EUA numa espécie de Rússia/Putiniana ou China/comunista/capitalista, ambas governadas por quem despreza as liberdades individuais, mais todos os valores humanistas e solidários praticados na Europa desde 1789, reforçados com o fim da Segunda Guerra Mundial há 80 anos. 

Entre a América e o Oriente (via Oceano Atlântico), fica esta Europa que representa a Civilização Ocidental e que vive maus dias. Embora prezando a máxima que diz: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (no significado de “ausência de opressão, direitos iguais para todos e solidariedade”) instituídos após a Revolução Francesa no século XVIII, a Europa vê os seus inimigos internos cada vez mais apoiados por ideais totalitários importados de regimes políticos ditatoriais, colocando em risco todos os valores democráticos e as liberdades conquistadas pelos europeus que nos precederam e que as construíram sobre as ruínas da Segunda Guerra Mundial… fazendo esta Europa Moderna amante da Liberdade.

Do outro lado do mundo, Xi Jinping (China), Narendra Modi (Índia) e Vladimir Putin (Rússia) organizam-se numa frente comercial e num exército bem “municiado” de armamento e soldados, apoiados por outros vizinhos, como: Cazaquistão, Paquistão, Irão e Coreia do Norte, mais cerca de uma dúzia de outros países, de entre os quais se conta: Turquia, Arábia Saudita, Egipto e Myanmar (ex-Birmânia).

Este projecto “Made in Oriente” foi agora anunciado por Xi Jinping como sendo “um esforço de propiciar um modelo de diálogo alternativo ao ocidente”, cuja apresentação teve como convidado especial (para “inglês ver”…) António Guterres numa reunião bi-lateral com Xi Jinping na China. Este “modelo de diálogo alternativo”, obviamente, não passará de um monólogo imperial na imposição de uma única ideia (o que é costume acontecer com ditadores como são Xi e Putin)!

O futuro de todo o mundo adivinha-se muito preocupante, com o comissionista dos EUA a aliar-se aos opressores de todas as liberdades, ou a deixar-se enganar por eles, levado pela sua extrema vaidade incauta e inculta, convicto de que todas as suas acções “são bonitas” não percebendo que corre o risco de ajudar a transformar o mundo (principalmente o Ocidente que tanto preza o Humanismo) num “cemitério bonito”!

OV

Cartoon da autoria de Onofre Varela
12 de Setembro, 2025 João Monteiro

ONOFRE VARELA EXPÕE “OBRA VÁRIA”

A Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto tem patente na sua sede (Rua de Rodrigues Sampaio, 140 – na esquina com a Rua do Bonjardim, à Praça de D. João I, no Porto) de 15 de Setembro até 15 de Outubro, uma exposição do artista plástico Onofre Varela (cartunista e cronista d’O Cidadão).

Com o título “ObraVária’7”, a exposição contempla Desenho Gráfico, Retrato, Cartune e Banda Desenhada, juntamente com recortes biográficos de imprensa e livros do autor.

Com abertura às 18 horas do dia 15 de Setembro (Segunda-feira), a exposição manter-se-á franqueada ao público até ao dia 15 de Outubro, apenas na parte da tarde, de Segunda a Sexta-feira, das 15h às 18h.

8 de Setembro, 2025 Carlos Silva

Sudário de Turim

Imagem: Internet

Diz o povo, com razão, que “a mentira tem a perna curta”.

Em Cadouin, França, desde o século XII que os cristãos veneravam e atribuíam milagres a um Sudário (peça de tecido) que supostamente teria envolvido a cabeça de “Cristo” e tinha sido preparada pela própria “Virgem Maria”.

Porém, inesperadamente, em 1935, a Igreja Católica cancelou abruptamente todas as peregrinações e cerimónias pois descobriu que a “relíquia” continha a inscrição “em nome de Deus clemente e misterioso… Deus não há senão Allah” e teria pertencido a Moustali, califa do Egipto entre 1094 e 1101.

 Resumindo, por mais de 700 anos, milhares de fiéis cristãos veneraram um véu islâmico que continha inscrições que glorificaram Allah… -um longo e humilhante período de paixão religiosa, agora desmascarado, ridicularizado e alvo de chacota popular.

Como há algum tempo que uma relíquia da Igreja Católica não era desmascarada ou desacreditada, eis que chegou a vez do Sudário de Turim.

O Sudário de Turim é um pano de linho que se encontra guardado na Catedral de Turim, norte da Itália, desde 1578, que mostra a imagem de um homem que milhões de católicos ainda hoje veneram por acreditarem piamente que se trata da mortalha que envolveu o corpo de “Cristo” após a sua crucificação.

Tal como o Sudário de Cadouin, o Sudário de Turim também tem uma longa e controversa história de devoções e desacreditações…

Recentemente, Cícero Moraes, designer brasileiro, publicou um estudo científico onde demonstra que a imagem do Sudário não foi formada pelo contato de um corpo humano, mas sim por um molde de baixo-relevo, uma técnica artística comum na Idade Média, levantando assim dúvidas sobre a sua autenticidade.

Já em 1988, uma datação por radiocarbono efetuada por três laboratórios diferentes, tinha estabelecido que o material de linho do Sudário foi produzido entre os anos 1260 e 1390, o que reforça o estudo de Cícero de Morais, uma vez que estas representações religiosas em baixo-relevo eram práticas comuns na Europa nesse período.

Entretanto, eis que um documento medieval, recentemente descoberto, vem complementar as provas anteriores e arrasar por completo a crença do Sudário, classificando-a como uma “fraude deliberada”.

“A autenticidade do Sudário já tinha sido rejeitada por Nicole Oresme, teólogo do século XIV que se tornaria Bispo de Lisieux. Oresme classificou o Sudário como um “engano claro e patente” que teria sido orquestrado por clérigos para obter donativos dos fiéis.”

Esta análise de Oresme é, pois, a rejeição mais antiga que se conhece sobre a autenticidade do Sudário o que revela que nessa altura já se sabia que era falso!

Há mais de 500 anos que a Igreja Católica sabe que o Sudário de Turim é falso!

Perante a esmagadora evidência das provas agora apresentadas, muita gente questionará…

Como é que a Igreja Católica consegue fazer com que milhões de pessoas continuem a acreditar piamente que o Sudário é uma mortalha que envolveu o corpo de “Cristo” após a sua crucificação?

Como é que o Vaticano consegue manter vivo este “milagre”?

A resposta é muito simples…

O Sudário é um negócio lucrativo que continua a dar dinheiro… muito dinheiro!


AGORA ATEU (II), 2025-09-03 Carlos Silva

5 de Setembro, 2025 Ricardo Alves

Missa de Estado? Era o que faltava.

Texto inicialmente publicado no blogue Esquerda Republicana, por Ricardo Alves.

A ICAR apropriou-se da tragédia do Elevador da Glória para se vestir de Igreja de Estado. Contou para tal com a conivência do presidente da República, do Primeiro Ministro, de vários ministros e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que colaboraram na encenação, assim como políticos da «oposição».

A tragédia da Glória não foi católica, aliás não há religião comum a coreanos, um marroquino, israelitas, brasileiros, norte-americanos, um suíço, alemães, etc. E Lisboa não tem, que se saiba, religião oficial. Tal como a República.

Faz parte da liberdade religiosa a ICAR promover uma missa pela razão que entender, como faz parte dessa liberdade católicos lá irem. Só que a encenação da missa à hora dos telejornais com as altas autoridades do Estado na primeira fila foi uma descarada exibição de poder.

Não há qualquer obrigação para os políticos do poder ou da oposição de se prestarem a estas cerimónias. Há muitas formas de homenagear os mortos e confortar os vivos, e participar na forma católica é privilegiar essa igreja.

Foi confrangedor.