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27 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Fé, selvajaria e crime – caminhos do Paraíso

O piedoso muçulmano Moqtada al-Sadr e o bando de beatos que o acompanham, enquanto mantiveram o controlo da mesquita de Najaf, torturaram, mutilaram e assassinaram, tendo já sido descobertos 25 cadáveres.

Os excessos de fé, estimulados pela proximidade do mausoléu de Imã Ali, conduziram às barbaridades que deixam extasiado Alá e babado de gozo o seu profeta Maomé.

Esta é a lógica das religiões – o exercício do poder em nome de Deus -, e a crueldade e o terror como instrumentos da sua conquista.

Al Sistani II, apresentado como um clérigo moderado, logrou um acordo para pacificar a cidade, mas não esqueçamos que um clérigo moderado é um extremista contido, à espera de melhor oportunidade.

27 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Adolescente enforcada por «actos incompatíveis com a castidade»

Segundo a Amnistia Internacional, uma adolescente de 16 anos habitante da cidade de Neka, no norte do Irão, foi enforcada, na praça pública, por ter cometido «actos incompatíveis com a castidade». A notícia é especialmente chocante porque acredita-se que Ateqeh Rajabi não era mentalmente capaz, tanto aquando do crime (ter relações sexuais fora do vínculo do matrimónio) como durante o julgamento, e não teve acesso a apoio jurídico em qualquer fase do processo.

Foi também reportado que o co-arguido foi condenado a 100 chicotadas, após as quais foi posto em liberdade.

O único comentário a fazer acerca deste acontecimento resume-se a uma palavra: bárbaro. Aplicar a pena de morte é, só por si, motivo de crítica, mas aplicá-la daquela maneira a uma menor e por «actos incompatíveis com a castidade» é inadmissível.

26 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Igreja de São Tomé condena a política demográfica do governo

O ódio ao preservativo é uma obsessão paranóica da ICAR. Em São Tomé e Príncipe, paupérrimo país africano, onde a escassez de alimentos provoca fenómenos de fome generalizada, o capataz da ICAR no minúsculo arquipélago, D. Abílio Ribas, censura que se use o preservativo «como pretexto para evitar o nascimento de mais pessoas».

A crueldade da ICAR é idêntica ao dos traficantes de armamento. Não interessa que as armas matem, é preciso desenvolver o negócio.

No caso da demografia, a ICAR comporta-se como o dono um supermercado a abarrotar de almas que é preciso fazer escoar.

A ICAR promove o crescimento demográfico irracional para que haja miséria para alimentar a fé e almas para saciar a gula divina.

26 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

JP2, os jovens e a adoração do verdadeiro Deus

JP2 enviou uma mensagem aos jovens de todo o mundo que se preparam para o XX Jornada Mundial da Juventude, a realizar em Colónia, em 2005. Nesse texto, o Papa exorta os jovens a serem «adoradores do único verdadeiro Deus», advertindo-os em relação a todas as formas de idolatria, incluindo «a sedução da riqueza, o consumismo e a violência subtil utilizada pelos Mass Media». Estão ressalvados desta advertência os bispos, cardeais e todas as altas patentes da Igreja Católica cujas obras pela propagação da fé ICARiana não se compadecem com a falta de dinheiro e manipulação dos meios de comunicação social.

«Lamentavelmente, há gente que procura a solução dos seus problemas em práticas religiosas incompatíveis com a fé cristã. É forte a tentação de acreditar nos falsos mitos do poder e do êxito, é perigoso abraçar conceitos evanescentes do sagrado, que apresentam Deus sob a forma de energia cósmica», diz o chefe da ICAR. Mais uma vez, vemos o Papa a brandir uma qualquer verdade universal contra crenças que sejam diferentes das que propugna. Eis a tolerância de que a Igreja tanto fala: creiam, desde que seja naquilo que é aprovado por nós.

26 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Religião: prioridade para os países pobres

Segundo os dados de um inquérito agora divulgados, as sociedades mais pobres têm tendência a conceder prioridade à religião, bem como as sociedades de tradição islâmica. Deste modo, países como a Indonésia, o Egipto ou a Argélia, nações maioritariamente islâmicas, enquadram-se nesta categoria.

Por seu turno, a importância concedida à religião nas sociedades industrializadas avançadas, como a França ou a Alemanha, diminuiu. Já nos países em vias de desenvolvimento, a tendência é contrária. Apesar da secularização, aparentemente, se ter sedimentado na maioria dos países ricos, o número de pessoas religiosas parece ter aumentado, no total, a nível mundial.

O estudo revela que, a nível dos sexos, as mulheres são mais afectas à crença do que os homens. As mulheres apresentam as mesmas probabilidades de atribuir à religião um lugar prioritário nas suas vidas, mas em nenhuma das 81 sociedades estudas os homens colocam a religião num lugar cimeiro nas suas vidas.

Neste inquérito observou-se que a probabilidade que a religião tem de desempenhar um papel importante na vida de uma pessoa, em determinados países, é quatro vezes maior em indivíduos com mais de 50 anos do que em indivíduos com menos de 30 anos.

Quanto ao nível cultural, os indivíduos mais instruídos dão menos importância à religião do que os indivíduos menos cultos e com menos educação.

Este estudo demonstra que a pobreza e a ignorância sempre foram terreno fértil para a propagação da crendice e, assim, para a exploração dos mais desfavorecidos. Por isso, para que as populações tenham oportunidade de escolherem de forma consciente os seus caminhos, é que devemos lutar por uma educação universal, livre e laica.

25 de Agosto, 2004 André Esteves

Friedrich Nietzsche morreu há 104 anos

Friedrich Nietzsche morreu há 104 anos, depois de uma longa doença.

Os seus últimos anos passou-os à sombra da sua irmã, uma proto-nazi que aproveitou a incapacidade mental do irmão para distorcer e usar a obra e reputação, ganha por Nietzsche, com fins pró-arianos e anti-semitas. Era um ateu solitário e foi por estar sozinho que a sua voz lhe foi roubada.

Não deixemos que tal aconteça com a nossa voz.

Friedrich te lembramos!

Homem como nós.

Nietzsche – Entrada na Enciclopédia Wikipedia [inglês]

Entrada na Enciclopédia de Filosofia da universidade de Standford [inglês]

Obras de Nietzsche disponíveis no projecto Gutenberg [inglês]

Pequena biografia em português.

Entrada no «Cantinho da Filosofia»

25 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Perseguição religiosa

Foi com algum constrangimento que li, no Diário de Notícias, que um centro social judeu, que servia refeições kosher aos fiéis desfavorecidos, tinha sido atacado, no passado domingo, em Paris. No local do incidente foram encontradas diversas inscrições racistas, nomeadamente, «o mundo será mais puro quando não houver mais judeus», «sem os judeus seríamos felizes» ou «morte aos judeus», devidamente acompanhadas com as habituais cruzes gamadas.

Um documento oficial do passado mês de Julho indicava uma «aceleração muito forte» dos ataques racistas e anti-semitas no primeiro semestre de 2004, superando o total das agressões do ano anterior. Perante os últimos acontecimentos, o gabinete nacional de vigilância contra o anti-semitismo receia um aumento deste tipo de actos durante as festas judaicas, que se realizam no mês de Setembro.

No ano em que a França celebra os 60 anos do fim da ocupação nazi, o país depara-se com este cenário terrível e inadmissível num século que deveria ser mais tolerante. Todas as perseguições religiosas são inaceitáveis e bárbaras. Todos têm direito a adorarem o que entenderem ou a não adorarem o que quer que seja. Essa é a beleza da Democracia e da laicidade.

25 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Os 100 do fórum

O fórum web do Ateísmo.net atingiu os 100 inscritos.

Para os que ainda não conhecem, o espaço pode (e deve) ser frequentado por crentes e não-crentes. É um local onde se pode debater sobre tudo um pouco: existência de deus(es), a relação da ciência com a religião, o papel da religião nas ciências humanas, a laicidade, a existência de preconceitos ou mesmo a arte.

Vocês, os amantes de uma boa discussão, apareçam, conversem, desconversem e espicacem. Todos são bem-vindos.

24 de Agosto, 2004 Palmira Silva

Women on Waves em Portugal

Li hoje no Expresso online que o barco da organização holandesa Women on Waves vai estar ancorado ao largo de Portugal no período entre 29 de Agosto e 12 de Setembro, a convite de quatro associações portuguesas. Para possibilitar o que a moral absoluta da ICAR nega às mulheres portuguesas (e na Irlanda, Polónia e Malta): a realização em condições dignas e seguras, acessíveis a todas as restantes mulheres europeias, da interrupção voluntária da gravidez.

Ao Estado, como centro legislador da cidadania, compete respeitar as normas seculares da ética, que não dependem de credos religiosos. A necessidade da separação religião-ciência e religião-estado são, hoje em dia, inquestionáveis no mundo Ocidental mas foram conquistas obtidas à custa da vida e liberdade de muitos indíviduos. O que falta ainda assegurar, que na realidade constitui um desafio da modernidade, é a separação religião-moral (e ética). Em relação à interrupção voluntária da gravidez, dada a complexidade e diversidade dos valores e interesses envolvidos, torna-se inviável afirmar uma ética apenas com base em paradigmas em voga ou dogmas religiosos que narcotizam. É necessário reconhecer e respeitar morais individuais mas aceitar que o direito (a ética da polis) deve reflectir uma moral para todos e não apenas para os que professam determinadas crenças.

Assim, a decisão por uma IVG não compete ao Estado nem a uma determinada religião: é uma decisão individual que compete à mulher ou ao casal.

23 de Agosto, 2004 Palmira Silva

Da ICAR e da polis, IV: laicidade

O século XIX foi um século marcante para a laicidade. Com grande luta dos sucessivos papas. No início do século XIX surge em Itália o Risorgimento, isto é, o processo que conduziu à reunificação da Itália e que culminou com a perda dos estados papais, apesar de todos os esforços envidados por Pio IX na manutenção dos territórios pontifícios sob autoridade papal.

Pio IX fugiu de Roma para Nápoles levando como conselheiro político Marcantonio Pacelli, avô do Pio XII de má memória. De Nápoles invectivou a «ultrajante traição da democracia» ameaçando de excomunhão todos os italianos que se atrevessem a votar.

O Santo Pio publicou a encíclica Quanta Cura afirmando que os princípios de filosofia, ciência moral e as leis civis podem e devem ser feitos para se curvarem às autoridades divinas e eclesiásticas, seguida pouco depois do Syllabus errorum, no qual condenou os erros do modernismo, mais concretamente 80 erros monstruosos das «ideias modernas», condenando a democracia como um «princípio absurdo», a liberdade de opinião como «loucura e erro» e condenando especialmente o laicismo, terminando com o último erro atroz a que se arrogavam os laicistas: de que «o sumo pontífice podia e devia reconciliar-se com o progresso, o liberalismo e a civilização moderna».

O acesso de Leão XIII ao papado em 1878 moderou um pouco o tom da guerra aberta entre o Vaticano e as democracias emergentes mas este também descreveu qualquer noção de separação de Igreja-Estado como erro fatal. No contexto italiano, era especialmente condenatório dos Maçãos e das ideias liberais destes. Descreveu-os como parte do reinado do Mafarrico, em luta contra a Igreja e a Cristandade. Uma conspiração em andamento que perigava a própria fábrica da civilização cristã. Expresso na encíclica Immortale Dei de 1885.

As primeiras décadas do século XX foram um tempo de grande ansiedade entre os líderes católicos na Alemanha, França, Polónia, especialmente apreensivos de que o modelo liberal da República de Weimar, associado com judeus e hereges ateus, iria causar o colapso total da noção cristã da ordem social e política. Apreensão essa partilhada por muitos líderes protestantes. O Papa Pio XI expressou a esperança de que o colapso do mercado e a experiência da brutalidade da Revolução Russa afastassem as pessoas na Europa dos laicos liberalismo, democracia e socialismo na direcção da visão tomista dos regimes «bons».

Os dois papas da era do Holocausto, Pio XI e Pio XII, actuaram no âmbito de uma cruzada contra o laicismo. Não eram exactamente grande fãs do nazismo (especialmente Pio XI) mas… quer o fascismo quer o nazismo eram opções de longe preferidas para proteger os interesses institucionais católicos. Com os quais colaboraram entusiasticamente.