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4 de Novembro, 2004 Mariana de Oliveira

À conquista da Nação

Depois da iniciativa «A Bíblia Manuscrita Jovem» (veja os textos de 21 e 23 de Março e o comunicado de imprensa da Associação República e Laicidade sobre o assunto), que ocupou 50.000 pessoas – professores, alunos e funcionários incluídos – de mais de duzentas escolas, na próxima sexta-feira, o projecto «A Bíblia Manuscrita» será alargado a todo o país.

A primeira actividade copista já tinha dado uma facada na laicidade do Estado ao ter como alta patrocinadora a senhora dona Mariana Cascais, então Secretária de Estado da Educação, ao instalar-se em escolas públicas (que não devem dar um tratamento de preferência a qualquer religião) e a ocupar tempo curricular de disciplinas que não são de Educação Religiosa. Agora, a gala de abertura da globalização da cópia bíblica será presidida pelo Presidente da República, que será o primeiro a manuscrever os duas ou três frases da Bíblia, devidamente acompanhado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, o reitor da Universidade de Lisboa, José Barata Moura, e o presidente do Tribunal Constitucional, Artur Maurício. Estranhamente – e entrando no domínio obscuro das cabalas e das teorias da conspiração – a actual Ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra, é irmã do padre Seabra Sinto-me sempre com urticária intelectual cada vez que vejo um representante do Estado Português e da magistratura, ambos laicos, em cerimónias exclusivamente religiosas e representantes da Igreja em cerimónias civis. É uma ofensa a todos nós, ateus ou não.

Antes da sessão de transcrição, será dado um concerto sob o nome de «Música e Escrituras», em que as receitas reverterão a favor da organização não-governamental de cooperação e desenvolvimento da Oikos. Daí, as verbas vão ser aplicadas a projectos de financiamento da auto-subsistência de famílias de Moçambique e do Peru. Assim, todos se podem sentir bem por já terem feito um pouco de caridadezinha.

3 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

História do Diário Ateísta

Em 29 de Julho de 2003 o Ricardo Pinho (RP) escreveu um texto a manifestar dúvidas, que partilhava com o Cachapa, sobre a bondade da ideia de um blog de ateus.

Escreveu então que «é fundamental que os blogs não sejam um espaço onde não se venham a escrever textos». Era a resposta ao entusiasmo do Aires, da Mariana e do Miguel Duarte que pretendiam partir para a nova aventura.

Em 20 de Novembro RP escreveu um texto com as regras de candidatura a «participante do blog». No dia 30 de Novembro o João Vasco anunciou a chegada dos ateus à blogosfera com este segundo e último texto do mês.

Em Dezembro, primeiro mês de experiência, a Mariana, o João Vasco, o Hugo Charneca e o Ricardo Pinho publicaram 17 textos e a foto do 1.º Encontro Nacional de Ateus. Daí para cá é conhecido o percurso.

Penso que podemos considerar o dia 30 de Novembro de 2003, anunciado então pelo João Vasco, como o 1.º dia do Diário Ateísta cujo 1.º aniversário e a respectiva comemoração se aproximam.

3 de Novembro, 2004 jvasco

Bush ganhou…

Havia duas opções: um católico para quem a sua fé era muito importante, e um metodista que acreditava seguir o plano que Deus tinha para si.

A diferença é que Kerry, o católico, não era fundamentalista religioso, não conquistou o poder à custa dos fundamentalistas religiosos, iria respeitar a separação de poderes, e seria o melhor caminho para que as leis dos EUA respeitassem uma constituição laica.

Bush, o metodista vencedor, é o líder ideal para que esta nação tão poderosa caminhe para o obscurantismo. Também é o líder ideal para promover o ódio e o fundamentalismo islâmico em várias nações e culturas.

Como cidadão do mundo, lamento o que se passou.

3 de Novembro, 2004 Ricardo Alves

Ide evangelizar os peixinhos!

Segundo notícias fidedignas da mui católica agência Ecclesia, estará «a caminho de Lisboa» uma operação de propaganda da religião católica apostólica romana intitulada «Nova Evangelização».
Anuncio desde já aos candidatos a «evangelizadores» que sou ateu e tenciono continuar a sê-lo até à última descarga eléctrica do meu cérebro. Mais os previno de que a minha ética laica lhes reconhece o direito de me tentarem convencer a partilhar da sua fé, mas que tal direito é recíproco do meu direito a convencê-los a abandonarem a sua religião. Aviso-os ainda de que respeito o proselitismo feito com meios privados, mas que execro quem usa meios do Estado e o dinheiro de todos para propagandear a religião de alguns. Advirto que tenho conhecimentos de Cosmologia, Lógica, Física Quântica e Biologia que contrariam as teses históricas da ICAR, e que talvez os utilize. Mais os informo de que, por muito que isso lhes custe, não me privo de falar da Inquisição e do Estado Novo quando me apetecer e até de troçar de Fátima. Faço saber que dispenso conselhos sobre a minha vida privada, e que a vida sexual de outrém, desde que seja livre, não me incomoda. Previno-os finalmente de que, se pensam adoptar os métodos da concorrência e impingirem-me revistas coloridas, não levarão mais do que fotocópias a preto e branco do Voltaire, do Tomás da Fonseca, do Russel e do «Diário Ateísta».
Peço ainda a caridade de não me tentarem evangelizar aos fins de semana antes das dez da manhã.
3 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Filhas mortas à facada

Abdel Nasser Ibrahim Mahmud, um homem a quem Deus outorgou o privilégio de se tornar «muezin» (uma espécie de tocador de sinos da ICAR, ou seja, o muçulmano que do minarete da mesquita anuncia o horário das orações), esfaqueou até à morte quatro das suas sete filhas e deixou seriamente feridas as restantes três, depois de ter expulsado de casa, um mês antes, a mulher que em 18 anos só lhe deu filhas.

O piedoso muçulmano terá confessado aos vizinhos: «eu matei-as porque não queria meninas, queria um menino». A piedosa selvajaria aconteceu numa das regiões mais retrógradas e piedosas do Egipto (185 km. a sul de Sohag), uma região onde é considerada uma humilhação a ausência de um herdeiro do sexo masculino.

Perante um Deus misógino e cruel, para os crentes cuja demência acompanha a devoção, o crime é um acto de fé, uma forma extrema de busca da santidade e do martírio.

2 de Novembro, 2004 Palmira Silva

Sem Rodeios: A vida sexual de um padre

Estava hoje entregue a um dos meus passatempos preferidos, zapping aos telejornais nacionais, quando deparo com um apontamento muito interessante, num canal à partida insuspeito: a TVI.

Versava o programa sobre a vida de um padre, transcrita no livro que dá título ao post, no original «Sin tapujos: La vida sexual de un cura», obra que esgotou em dois dias e abriu um debate sobre o celibato na Argentina. No programa da TVI o Padre José Guillermo «Quito» Mariani, prestes a ser julgado por um tribunal eclesiástico pelas páginas que escreveu, admite que por uma questão de coerência não acata a ordem de “silêncio absoluto” imposta pelo arcebispo de Córdoba, Carlos Ñañez, e continua a dar entrevistas e a colaborar num canal local de televisão. Onde transmite não só a sua posição sem dogmas em relação ao sexo como também entra em rota de colisão com o catolicismo instituido em relação a outros assuntos de cariz social, nomeadamente no que respeita à colaboração entre a Igreja Católica e as ditaduras que se viveram na Argentina (e não só).

O sacerdote, com uma anterior incursão poética, Poemas de Confissão e Denúncia, confessa no livro duas relações sexuais que manteve com mulheres e uma tentativa com um homem. Acrescenta que «No Vaticano vi coisas que me chocaram: os negócios, as rivalidades por cargos, as vendas pelo cardeal Ottaviani das fotos da agonia de Pio XII para o Washington Post. Ali todos sabiam que havia, em pleno Vaticano, prostituição masculina e feminina».

Numa entrevista ao periódico argentino Rio Negro o padre afirma que «Todo o tipo de literatura, ensaios, investigação histórica, etc., que denuncie o dogmatismo e o espírito acrítico com que se move há séculos a hierarquia eclesiástica, é considerado, dentro da Igreja, como uma obra de genética satânica…»

Acho que este padre (católico), idolatrado pelos seus paroquianos, concordaria com a maioria dos posts do Diário Ateísta…

2 de Novembro, 2004 Palmira Silva

Liberdade de opinião

O cineasta holandês Theo van Gogh, que realizou o polémico filme «Submission» em que é criticada a violência contra mulheres nas sociedades islâmicas, foi hoje assassinado por um homem que, de acordo com testemunhas oculares, vestia as vestes tradicionais marroquinas.

Desde que o filme passou na televisão holandesa que o cineasta e a deputada liberal Ayaan Hirsi Ali, uma etíope que renunciou ao islamismo e cuja fuga a um casamento pré arranjado inspirou o filme, foram ameaçados de morte por fundamentalistas islâmicos.

O primeiro ministro holandês, Jan Peter Balkenende, afirmou ser inaceitável que a expressão da opinião do cineasta pudesse motivar um assassínio tão brutal.

Na Holanda vivem cerca de um milhão de muçulmanos, aproximadamente 5,5% da população.

1 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Agradecimentos

O Diário Ateísta agradece a todos os amigos e inimigos que o visitaram o sucesso para que contribuíram.

1 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Charlatanismo legal

Se um homem, sem emprego nem poiso certo, estaciona a mala numa praça e começa a fazer propaganda a umas caixas de pomada que tira do interior, se diz que o unguento cura o reumatismo e a ciática, regulariza os intestinos e alivia as dores de cabeça, protege os rins e baixa a tensão, cura os diabetes e evita as artroses, esse homem que vende duas caixinhas por metade do preço de uma única, em qualquer casa da especialidade, é um aldrabão.

Se uma cigana, carregada de filhos, de netos e de fome, lê a palma da mão a um casal de namorados e lhes anuncia três filhos e muitas felicidades, um ou outro contratempo e uma longa viagem, largos períodos de muita paixão e curtos amuos, os adverte contra os maus olhados e a inveja, lhes pede um euro por cada linha da sorte que percorreu e acaba por se contentar com uma moeda, reduzindo o número de filhos e o grau de felicidade, é uma aldrabona.

Se um clandestino lhe quer vender um Rolex em platina, mais falso do que um clérigo romano, desviado da alfândega por um larápio em desespero, cheio de fome e medo da polícia, merece ser preso e deportado porque é um vigarista.

Se uma empresa domiciliada num apartado postal põe um anúncio a solicitar-lhe o envio de cinquenta euros, em cheque ou vale de correio, e, em troca, lhe promete um emprego que lhe permite ganhar até cinco mil euros mensais, sem sair de casa, é uma associação especializada no conto do vigário e que deve ser denunciada à polícia como criminosa.

Mas, se uma organização internacional, com rede de vendedores, comercializa indulgências e transportes para o Paraíso, transforma água vulgar em água benta, purifica pecadores com borrifos de hissope, limpa os pecados da alma usando como benzina sinais cabalísticos e ladainhas, distribui rodelas de pão ázimo e diz que contêm o corpo e o sangue de um pregador desaparecido há dois mil anos, fabrica milagres e cria santos, é a ICAR, igreja cujos bispos, padres, monsenhores, cardeais, diáconos e o próprio Papa só pensam na paz e no bem da humanidade. É respeitável e tem direito à protecção e preferência nos seus produtos, através de um convénio comercial a que se chama Concordata. A sede é no Vaticano.

Apostila – Para a ICAR, hoje é dia de todos os santos mas, com o fabrico em série, até o ano inteiro começa a ser curto para caberem tantos.