26 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança
Acontece em contexto islâmico. Sempre.
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/02/25/actualidad/1393341989_288576.html

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Pedem-me para respeitar as tradições. Vão para o raio que os parta.
Em Espanha, 17 mil meninas estão em risco de ser vítimas da excisão do clitóris. Este crime pratica-se sempre em contexto muçulmano. Não me peçam consensos, não exijam a minha compreensão, não defendam a tradição.
http://ccaa.elpais.com/ccaa/2014/01/31/catalunya/1391167593_685782.html
Em 2005, um juiz italiano pretendeu julgar Oriana Fallaci, notável jornalista, que vivia então em Nona York, por difamação do Islão, para gáudio dos islamitas, em geral, e dos mullahs, em particular.
O juiz acusou o seu livro «A força da razão», de 2004, de incitamento ao ódio religioso pois a autora escreveu que o islão «semeia o ódio no lugar do amor e escravidão no lugar da liberdade».
O juiz António Grasso, de Bérgamo, considerou que algumas palavras da jornalista eram «sem dúvida ofensivas para o islão e para os que praticam essa fé».
O juiz tinha razão. Eu, que li o livro, apurei que Oriana Fallaci ofendeu o Islão. Conta a forma demente como a mulher é tratada nos países islâmicos, fala do ódio que o Corão prega, reproduz os abjetos preceitos e corrobora tudo o que sabemos sobre o desprezo do islão pelas liberdades essenciais e pelos direitos sagrados da democracia.
Porventura o islão não ofende a razão e a liberdade? Os clérigos muçulmanos aceitam renunciar à pena de morte em relação à apostasia, à blasfémia e ao adultério? Admite o islão o direito à liberdade e à democracia? Não é, por acaso, o Corão o instrumento do ódio aos infiéis, da repressão das mulheres e da alienação dos crentes?
A simples tentativa de julgar quem denuncia a iniquidade de forma vigorosa foi um atentado à liberdade, a perversão da democracia e um atentado contra a civilização.
O multiculturalismo, desejável e louvável, tem de terminar onde começam os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Proceder de outra forma é regressar à barbárie, expor a democracia à demência teocrática, substituir o sistema representativo, saído de eleições livres, pelas determinações dos livros sagrados. É, em suma, substituir os defeitos dos homens pela loucura de Deus.
Infelizmente, Oriana Fallaci viria a falecer em setembro de 2006, antes de ser julgada. Poupou ao juiz uma iniquidade e à Europa a urgência de escrutinar as leis religiosas com a mesma severidade com que aprecia os programas partidários.

Amina Filali, 16 anos – estuprada, espancada e forçada a se casar com seu estuprador – se suicidou porque o Código Penal do Marrocos permite que um estuprador se case com sua vítima se ela for menor de idade. Depois de anos de luta pela reforma da lei, uma grande votação que pode acabar com essa previsão absurda pode acontecer em dias! Vamos honrar a memória de Amina garantindo que sua tragédia nunca mais se repita.
Por
A Turquia vive momentos de grande instabilidade política que estão longe de serem resolvidos por uma ampla e precipitada remodelação governamental.
A ruptura entre o partido de Erdogan (AKP) um formação política híbrida (conservadora e religiosa) e o eclético ‘movimento Gülen’ (religioso, assistencialista e empresarial) é, na verdade, o problema político fundamental que se arrasta desde o último Verão e está longe de qualquer (re)solução. Sem esta ‘conjugação’ de esforços e de estratégias os obscuros – mas primordiais – objectivos do actual governo turco dirigido por Erdogan, i. e., a islamização do País e a neutralização dos ‘árbitros da laicidade’ (Exército e o poder judicial), herdeiros da concepção da ‘nova República Turca’, imposta por Ataturk, estão seriamente comprometidos.
Muitos analistas consideram que o actual Governo dificilmente conseguirá sobreviver, politicamente, sem o oculto mas decisivo apoio de Gülen, nomeadamente no campo financeiro. E o paradoxal, em termos do que estará efectivamente em disputa, é que quer Recep Tayyip Erdogan quer Fethullah Gülen, ambos reivindicam pertencer a um mítico e enganador ‘islamismo moderado’, tentando disfarçar sob esta ambiguidade as suas (de ambos) vocações totalitárias que, como a História recente nos mostra, conduzem necessariamente a uma teocracia. Se quisermos fazer uma comparação caricatural poderíamos considerar que as actuais guerras intestinas na Turquia são uma tosca reprodução dos conhecidos diferendos e lutas pelo protagonismo e influência dentro do Vaticano que, desde há largas dezenas de anos, assistimos no Ocidente (p. exº. entre os jesuítas e a Opus Dei).
As Forças Armadas, ainda não totalmente recompostas da célebre ‘depuração Ergenekon’, mantêm uma atitude prudente e expectante já que as contradições internas abundam por terem estas instituições terem sido objecto de paulatinas infiltrações (pelo movimento Gülen e pelo AKP).
A ‘sagrada aliança’ entre o AKP e o movimento Gülen que até aqui serviu para purgar as altas chefias militares e os Tribunais, iniciando deste modo uma subreptícia ‘deriva islâmica’ está, ao que tudo indica, momentaneamente (irremediavelmente?) desfeita, o que deixa muitos ‘fantasmas à solta’.
Todavia, os ajustes de contas, em curso, não ocorrem à volta de uma corrupção disseminada que atinge os mais altos escalões do Estado mas também passa por uma linha divisória entre forças islamitas em confronto tendo como pólos visíveis o AKP e o movimento Gülen e uma sucessão de eleições que se avizinham. Há também a nítida percepção de que existem contas antigas para saldar que envolvem vários protagonistas entre eles o Exército e o Poder Judicial.
Para já, o fiel da balança vive longe de Istambul ou de Ankara. Está sedeado nos EUA, num pacato ambiente rural da Pensilvânia e, aparentemente, ‘só’ manifesta interesse em questões educativas e à prática de actos caritativos. É um auto-exilado chefe religioso enigmático com vastas ambições políticas e chama-se Fethullah Gülen (na imagem). É, neste momento, a chave da ‘questão turca’.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.