Investigadora de Coimbra assegura
autenticidade de manuscrito de Lúcia sobre Fátima
Uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC) assegura que “a terceira parte do manuscrito do segredo de Fátima é realmente um documento autêntico”, depois de, a convite do Vaticano, ter feito o seu estudo diplomático e paleográfico.
Quando a Senhora do Rosário, heterónimo com que a Senhora de Fátima se apresentou na Cova da Iria, à Lúcia, ainda criança (a Lúcia, naturalmente), era imprevisível que se tornassem tão chegadas.
O pedido para que o Papa consagrasse o Mundo ao seu Imaculado Coração (da Virgem, claro) foi uma prova de simpatia para com uma criança do concelho de Ourém porque o poderia fazer diretamente ao representante do filho, no Vaticano.
Desse encontro e dos que se seguiram nasceu uma amizade para a vida da que viria a ser a Irmã Lúcia. Começou por promover o terço, exercício que aliviava os cavadores das posições viciosas da enxada e permitia às mulheres aliviar a coluna das lides do campo e da casa. Passou a ter uma interlocutora privilegiada no Paraíso, donde recebia ordens e sabia novas. Soube do valor do terço para a conversão da Rússia, dos humores de Cristo agravados pelos pecados dos homens e ausências à santa missa, e do epílogo da guerra.
Tal como os documentos do Pentágono e da CIA, desclassificados depois de 25 anos, também os escritos da Irmã Lúcia guardados numa gaveta fechada à chave no Carmelo de Coimbra, gaveta para a qual tinha uma autorização especial, foram agora publicados na extensa biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus.
Ficou assim a saber-se, que à sorrelfa, sem que a madre superiora suspeitasse, a vidente «recebeu, várias vezes, na clausura do convento em Coimbra, a presença de Nossa Senhora». São textos inéditos, num livro de 495 páginas, que Lúcia nunca compartilhou com as outras carmelitas, ora autoras da publicação.
Já não eram visões, como no princípio, eram aparições, como refere o livro, e não é uma questão de semiótica, uma alteração da significância das palavras, é uma transformação dialética de visões para aparições que, “além doutras, ocorreram a 22 de agosto de 1949, a 31 de dezembro de 1979 e em outubro de 1984”, segundo o DN de 8 de dezembro, da era vulgar de 2013, página 29.
A amizade era tal que, sobre a aparição de 1979, escreveu a Irmã Lúcia: “Assim orava com a fronte inclinada, na cela às escuras, com a janela cerrada, quando sinto uma mão suave pousar-me no ombro esquerdo”, para depois adicionar a mensagem que escutara: “Deus ouviu a tua oração e envia-Me [sic] para te dizer que é preciso intensificar a oração e o trabalho pela união da Igreja, dos bispos com o Santo Padre e dos sacerdotes com os bispos (…).
Estas descobertas valiosas, estes tesouros ocultos, só puderam ser desvendados após a morte da vidente, que se esqueceu de respirar em 13 de fevereiro de 2005.
Espero que estas informações agucem o apetite para a leitura pia de “Um caminho sob o Olhar de Maria: Biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado» (ed. Carmelo, 2013; 20 euros) – prefácio de D. Virgílio Antunes, atual bispo da diocese de Coimbra, onde se pode ler: “Acreditamos que as aparições de Nossa Senhora que a Irmã Lúcia teve no Carmelo de Coimbra, ao longo dos 57 anos que aí viveu, se tenham dado na sua cela, lugar de recolhimento, intimidade e oração da carmelita. Mas tudo se passou sempre com muita discrição e ninguém adivinhava quando andaria por aí Nossa senhora», um prefácio que é uma pérola e mais uma razão para comprar e ler o livro.
Observações:
1 – A discrição de “Nossa Senhora” teria de ser muita, para não derrubar uma cadeira, atirar com um castiçal ou esbarrar num crucifixo, o que levaria o pânico ao Carmelo;
2 – O recado de Deus para intensificar as orações, o trabalho, etc. ganham consistência pela semelhança com as orientações da troika, noutro campo, ao Governo português;
3 – O facto de Deus ter ouvido as orações da Lúcia foi motivo para uma aparição que o confirmou, o que pode levantar dúvidas sobre a audição das orações dos crentes que não privam com a Senhora de Fátima, mas um crente não pode ter dúvidas, tem certezas.
Lúcia de Jesus dos Santos ou Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Irmã Lúcia, para os mais chegados, fez a 1.ª comunhão aos 6 anos e aos 14 tornou-se reclusa, como pensionista, na escola das Irmãs de St.ª Doroteia, em Vilar, próximo do Porto.
A 3 de janeiro de 1944, já com letra aprimorada e intimidade com o divino, escreveu, a pedido, a “Terceira Parte do Segredo de Fátima”, quando ainda usava o pseudónimo de Maria das Dores e vivia enclausurada em Tui, Espanha.
Já era então vasto o currículo místico, com amplo traquejo no campo das visões, desde as entrevistas com a Virgem, que saltitava de azinheira em azinheira, até aos rodopios do sol, transformado em bola de fogo, a brilhar em numerosas cores, e à viagem ao Inferno onde encontrou o Administrador do Concelho de Ourém, a frigir como merecia, por, em vida, ter faltado à missa.
A Terceira Parte do Segredo de Fátima foi um ponto alto da sua bibliografia pois era a profecia que o papa João Paulo II, na sua superstição, entendeu ser a seu respeito. Esse recado celeste vai agora ser investigado por uma professora catedrática de Coimbra, Maria José Azevedo Santos, não porque tenha a santidade no apelido, mas por ser uma cientista em Paleografia, Diplomática e Codicologia, ciências terrenas que hão de ajudar a compreender as idiossincrasias do Paraíso.
A Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo-Ofício, de passado pouco estimável, é a possuidora do valioso documento, ora emprestado, pelo prazo de 1 ano, ao Santuário de Fátima onde integrará a exposição «Segredo e Revelação», evento que acordará paixões pias e êxtases místicos.
Espera-se que no acervo dos alvitres da Senhora do Rosário – nome com que a virgem se apresentou aos pastorinhos –, não faltem as cartas que a experiente vidente dirigiu a Marcelo Caetano pedindo legislação adequada para a altura das saias e o tamanho das mangas dos vestidos femininos.
Sabe-se que a Ir.ª Lúcia está no Céu porque, no dia do seu funeral, o Papa João Paulo II e o futuro Papa Bento XVI disseram que ela iria para o céu e Deus seria incapaz de lhes contrariar as previsões.
O Papa Francisco permitiu expor pela primeira vez ao público o manuscrito da “Terceira Parte do Segredo de Fátima” no santuário da Cova de Iria.
O empréstimo do manuscrito foi autorizado pelo Papa Francisco em junho e será a peça “de maior valor simbólico” que integra a mostra “Segredo e Revelação”, que é inaugurada a 30 de novembro, explicou o comissário da exposição, Marco Daniel Duarte, que é também diretor do Museu do Santuário de Fátima.
Deslocação da imagem de Nossa Senhora de Fátima ao Vaticano “vigiada” por conservadoras do Politécnico
Antes de seguir viagem até ao Vaticano, onde esteve nos últimos dias 12 e 13 de Outubro, na Jornada Mariana promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi observada com minúcia por uma equipa composta pela conservadora restauradora do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), Carla Rego, 46 anos, e a sua estagiária Lígia Mateus.
“É uma imagem que é venerada em todo o mundo pelo que, sem dúvida, este é um marco na minha carreira. Arrepiei-me quando, no domingo, vi o Papa Francisco beijar a Imagem. Já estive tanto tempo com ela que o que significa para tanta gente toca-me”, conta Carla Rego a O MIRANTE, que vai publicar uma entrevista com a conservadora na próxima edição.
Diário de uns Ateus – A deriva da Igreja católica para a idolatria é irreversível.
13 de Outubro de 2013
OS CÃES PERDERAM A FÉ… SÓ OS DONOS RASTEJAM
Pelos caminhos de Portugal, a pé para os mais crentes, de carro para os mais céticos ou com um caminheiro alugado, para cumprir promessas dos mais abastados, há imensos peregrinos que hoje se dirigem para o anjódromo de Fátima, local onde a República viu organizar a oposição e, mais tarde, durante a guerra fria, a luta contra o comunismo.
Em 1917, o sol interrompeu o sedentarismo sideral enquanto uma virgem irrequieta ia de azinheira em azinheira a conversar com uma pastorinha que a via e ouvia, enquanto outra só a ouvia, e o outro não via nem ouvia. E foi assim que pobres prédios rústicos se converteram num lucrativo comércio da fé e o sector primário virou terciário.
Podia a voz da senhora mais brilhante do que o sol não ter chegado ao céu, mas ouviu-a, na Terra, a diocese de Leiria e a gente simples que rezava, primeiro, contra a maçonaria e a carbonária, e, depois, contra o comunismo. O terço era o demonífugo de eleição e o instrumento para a conversão da Rússia, rezado com afinco nos 31 dias de cada mês de maio, nas aldeias de Portugal.
Hoje, o talismã dos peregrinos está em Roma, a pedido do PDG, para despertar emoções e perpetuar a crença. Foi de avião, acondicionado por um clérigo, dar alma ao negócio que começou com um burrito a tropeçar nos buracos dos caminhos de Nazaré e acabou a voar a jacto para todos os continentes.
Os peregrinos, conformados com a ausência da mascote, sentindo-se defraudados na sua caminhada, não deixaram de se regozijar por ter ido fazer milagres para o Vaticano, o bairro com maior densidade de sotainas e onde os milagres obrados nos mais diversos sítios do Planeta acabam por obter o certificado de garantia.
No universo, cada vez mais inseguro, é a fé o cajado onde se encostam as angústias e se amarram as frágeis esperanças de quem espera num mundo imaginário o que lhes faltou no que lhes coube.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.