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18 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

O ateísmo, as religiões e a democracia

A minha conhecida condição de ateu não me conduziu ao combate primário às crenças e, jamais, aos crentes que se limitam a viver a fé sem buscarem impô-la pela violência.

Isso não significa que não combata as instituições com poder, que, na minha perspetiva, sejam danosas para a democracia e os direitos humanos. É frequente visar, como tal, as religiões. Combatê-las é um efeito colateral da minha luta pela liberdade.

Em Portugal, apenas as religiões do livro têm representação que mereça atenção. Vale a pena lembrar a origem hebraica do Antigo Testamento (AT), fonte dos 3 monoteísmos e só assim designado pelos dois credos posteriores, cristianismo e islamismo que, tendo aí a origem, consideram respetivamente Cristo e Maomé, também como fontes da vontade divina.

O cristianismo, primeira cisão com êxito do judaísmo, surgiu da utilidade para a coesão do Império Romano pelo imperador Constantino. Paulo de Tarso teve a ideia genial de transformar o Deus de Israel em Deus global e fazer dele o salvador universal, apesar de o Homo Sapiens existir há 350 mil anos, sem salvação até há cerca de 6 mil.

O AT, apesar das alterações, é um interessante documento histórico e literário da Idade do Bronze, quando os patriarcas das tribos hebraicas idealizaram o deus abraâmico à sua imagem e semelhança. Trágico é haver quem perfilhe a moral da Idade do Bronze ou as interpretações clericais da vontade de Deus aí contida.

Quem ler, por exemplo, o Levítico fica horrorizado e não é o perigo de haver quem veja em tais tolices a vontade divina que inquieta, é a ação a que essa crença pode conduzir.

O Islão é uma cópia grosseira de judaísmo e cristianismo, alegadamente ditada durante duas décadas, entre Medina e Meca, pelo Arcanjo Gabriel, a um beduíno analfabeto e amoral com ímpetos belicistas.

Sabe-se como o ambiente em que se nasce nos molda e como a repressão nos impede de refletir livremente, e ninguém pode, em sociedades livres, deixar de contestar preceitos que limitam os direitos humanos, submetem a um plano de inferioridade a mulher ou fazem apelos à guerra santa.

Poucos saberão que, quando o sinistro aiatola Khomeini lançou a fatwa contra o escritor Salman Rushdie, o Papa, o arcebispo de Cantuária e o rabino chefe de Israel rejeitaram a condenação dessa fatwa que, cumprida por um muçulmano, garantia virgens e mel doce ao assassino.

Deve condescender-se com religiões que querem ser filosofia, modo de vida, código de conduta e sistema de Justiça de um estado totalitário cujo modelo perfeito é a teocracia?

Em nome do respeito pelas crenças, pode aceitar-se a humilhação da mulher, a limitação dos direitos humanos e o código de valores que extasia Deus e cujos funcionários são os intérpretes da sua vontade?

– Não, nunca.

16 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

“Religião ou negócio”

Por

ONOFRE VARELA

O título desta prosa copiei-o de um artigo de opinião do jornal espanhol El País publicado na edição de Sábado último, e já falo dele. Quero começar por dizer que sou visitante de igrejas e aprecio Arte Sacra. Na visita de uma cidade há dois rituais que cumpro: entrar no posto de Turismo para colher folhetos informativos, e na igreja paroquial. Visito as igrejas como visito museus. O meu interesse é o mesmo. Algumas delas cobram para se ter acesso a partes do templo, tal como no Porto se paga para subir à Torre dos Clérigos, mas não para entrar na nave onde se celebra o culto (penso eu). Já lá entrei e não paguei.

Há cerca de 30 anos entrei na igreja, ou capela, de Fradelos (junto ao silo-auto, no Porto) para apreciar dois painéis de azulejos da autoria de Jorge Rey Colaço (o autor dos painéis da estação de S. Bento). Foi difícil consegui-lo porque, sempre que por lá passava o templo estava encerrado, ou nele se celebrava missa. Por respeito aos crentes e ao culto, não entro em igrejas no momento da celebração. Um dia encontrei-a com a porta aberta e sem missa. Entrei e vi uma senhora a limpar o chão, exactamente na zona para onde me dirigia. Parei em frente do primeiro painel, e a senhora desapareceu. Pouco depois surgiu, aproximou-se de mim e estendeu-me dois postais com imagens daquelas duas obras, proferindo as sílabas bem entoadas: “A-zu-le-jo. A-zu-le-jo”. Sorri-lhe e disse: “Eu sei, minha senhora!”. “Ah!… É português!?…”. Conversamos um pouco. Só os estrangeiros ali entravam para apreciarem os azulejos, desabafou a senhora. Eu quis pagar os postais. Não aceitou. Era uma oferta.

Também a igreja de Santo Ildefonso é decorada com azulejos da oficina do mesmo ceramista e caricaturista, Rey Colaço. Apresentam muito mau aspecto… o vidrado está a cair, levando partes do desenho. Se não houver uma intervenção rápida, corre-se o risco de se perder aquela obra. Sei que o sacerdote responsável pelo templo está a colectar dinheiro para tratar da recuperação, não só dos azulejos, mas também do interior do templo que está muito degradado.

Agora vamos ao título: o jornalista e escritor espanhol Julio Llamazares publicou um artigo de opinião lamentando a reacção da Igreja a propósito de uma entrevista que concedeu ao mesmo jornal, pela publicação do segundo volume da sua obra sobre catedrais espanholas. Na entrevista disse que “a Igreja sequestrou as catedrais”, e por isso foi acusado de anticlericalista (que é o rótulo clássico que a Igreja tem para colar em quem tem o hábito saudável de pensar e divulgar o seu pensamento) por algum bispo mal disposto que esqueceu, ou não sabe, que Llamazares é um amante de edifícios religiosos, tendo dedicado 17 anos da sua vida a contemplar todas as catedrais espanholas. Já escreveu 1.200 páginas contando as maravilhas que viu. E do que viu desaprovou a entrada paga nas catedrais (que no princípio eram apenas meia dúzia a fazê-lo e hoje são todas), o que as transforma em museus e não em lugares de culto. Llamazares discorda da entrada paga, porque as obras nas catedrais são custeadas pelo erário público, isto é, são pagas com dinheiro saído dos bolsos dos contribuintes… que depois pagam para entrar nelas, para cuja recuperação já pagaram com os seus impostos! Pagam duas vezes!… E lamenta: “o que acontece é que as catedrais são da Igreja para cobrar as entradas, mas são de todos os espanhóis no momento da sua conservação!” Para os bispos mal dispostos, esta constatação lógica é… anticlericalismo!

Nada sei do financiamento das igrejas em Portugal, mas sei que Fátima é uma mina, onde há mais dinheiro do que fé. Alguma da choruda receita pode, muito bem, ser canalizada para recuperar a igreja de Santo Ildefonso, que está muito precisada… ou será um pecado que a seráfica Maria não tolera?

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

12 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

O negócio das relíquias está de volta.

Não dedico a Lutero e, ainda menos a Calvino, especial sedução, mas admiro, sobretudo ao primeiro, a coragem com que denunciou o negócio das indulgências e o das relíquias, que eram para Leão X o que as especiarias, cravinho, canela e noz-moscada, foram para os portugueses da mesma época.

Quando as indulgências se vendiam ao domicílio e já prosperava o lucrativo negócio de relíquias contrafeitas, sem certificado de origem nem garantia de milagres, insurgiu-se Lutero contra o negócio e causou rombos irreparáveis no comércio papal e no mercado paralelo.

A excomunhão da Igreja Romana e a pena de proscrito, esta imposta pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico, causaram-lhe menos danos do que ele aos negócios pios. No fundo, as cotações das excomunhões baixaram em linha com as das relíquias e indulgências na bolsa de valores da fé.

Há anos, chegaram a Portugal, ao Santuário de Cerejais, em Alfândega da Fé, relíquias de João Paulo II [cabelo e vestes brancas usadas por ele] certamente com certificação de ADN, o DN de 11 de agosto do Ano da Graça de 2014, deu-nos conta de como um teólogo [especialista numa ciência sem método nem objeto] viu a preciosa chegada.

O teólogo e padre franciscano, Carreira das Neves, especialista da fé, disse que ignorava a importação de tais relíquias, mas que as achava importantes. Os leitores, dos mais pios aos mais céticos, adivinham o que, prudente, poderia dizer um profissional da casa.

O que surpreendeu foi a confissão do padre Carreira das Neves de que ‘João Paulo II não acreditava em Fátima mas depois do atentado que sofreu mandou vir [sic] coisas para o Vaticano sobre Fátima e passou a ser devoto’.

Perplexos ficaram os incréus com João Paulo II que, não crendo, se prestou a vir a Fátima a enganar devotos e ter sido preciso que, em dias 13 de maio, quiçá por desígnio divino, o padre Juan Fernández Krohn e Ali Agca tivessem de o convencer à força.

11 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

Sobre a liberdade de expressão e outras liberdades

Engana-se quem pensa que é apenas o código penal a limitar a liberdade de expressão, no caso português, honrosamente liberal, e com jurisprudência que a privilegia.

Os constrangimentos sociais são suficientemente fortes para condicionar a liberdade dos cidadãos. A tradição é a anacrónica desculpa para a limitar e até o maldito aforismo, “A nossa liberdade acaba onde começa a dos outros”, serve para intimidar quem não desiste da sua defesa.

As ideologias políticas e, sobretudo, as religiosas têm tendência a ser totalitárias. Não é a fé individual que está em causa, é o poder institucional das religiões. O proselitismo é a tara monoteísta que começou com Paulo de Tarso e impregnou o cristianismo e a mais implacável das três religiões do livro, o Islão. Só escapou o judaísmo que tem a loucura exclusiva, ser detentor da escritura do Notariado Divino, domiciliado em parte incerta, que lhe confere direitos imprescritíveis sobre a Palestina.

O que seria da liberdade de expressão se os crimes e os pecados fossem a mesma coisa, se a interpretação de idiossincrasias divinas, pelos funcionários privativos de cada deus, fosse acolhida pelo código penal de cada país? Não teríamos democracias, estaríamos sujeitos a teocracias, não teríamos a civilização moldada pela secularização, mas uma ditadura clerical.

Há crenças que odeiam a música, a dança, o corpo da mulher, as esculturas, a carne de porco, a democracia e os direitos humanos. Com que legitimidade temos de abdicar da civilização e dos direitos individuais para não ferir as suscetibilidades beatas de quem a fé embrutece e a sede do Paraíso desvaira?

Os direitos humanos enunciados na Declaração Universal (DUDH) sobrepõem-se aos interditos que cada um considera sagrados para si próprio, sem direito a impô-los a quem é indiferente às crenças ou perfilha uma crença diferente.

Todos os crentes pensam que a sua fé lava mais branco do que a fé da concorrência e a Europa sabe por dolorosa experiência o que foi a violência das guerras religiosas até à Paz de Vestefália que pôs termo à Guerra dos Trinta Anos.

Só a laicidade sem tibiezas pode barrar os desmandos prosélitos que religiões exógenas à Europa dos últimos séculos introduziram no tecido social da nossa civilização onde as religiões tradicionais foram acalmadas pela repressão política sobre o seu clero.

Não se pode permitir o regresso à competição violenta no mercado da fé. É tão legítimo ridicularizar o ateísmo como qualquer religião. É o direito à liberdade de expressão.

10 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

As religiões, os crentes e a intolerância

Não lamentaria o fim das religiões, mas magoar-me-ia que um só crente, qualquer que fosse o seu deus, acabasse molestado. Considero as religiões, todas as religiões, falsas e prejudiciais, mas não imagino que a sua ausência tornasse os povos mais felizes e mais racionais os crentes.

Sendo o mundo o que é e as pessoas como são, porque são moldadas no berço e sofrem os constrangimentos das sociedades onde vivem, seria ótimo se houvesse um módico de racionalidade a suavizar o proselitismo que devora os crentes mais exaltados.

É ocioso referir a crueldade e sofrimento provocados por suicidas que morrem e matam a gritar que “deus é grande”, à espera do ror de virgens e de rios de mel doce que julgam à espera, depois da imolação insana.

O bando de cruzados mentirosos que agrediu o Iraque originou uma tragédia que devia arrepiar os cúmplices de Bush, Blair, Aznar e Barroso. A comunidade de cristãos de 4,5 milhões de crentes que, em 1950, vivia no Iraque, desde o século I d.C., está reduzida a cerca de 200 mil, com tendência a extinguir-se.

O protestantismo evangélico pretende o domínio dos aparelhos de Estado no continente americano e trava uma guerra impiedosa com o islamismo wahabista, pelo controlo de África, na região do Sahel. A violência sionista do judaísmo e o primarismo católico das Filipinas, onde jovens se crucificam na Páscoas cristã, não abrandam.

A atual deriva nacionalista do hinduísmo adicionou a xenofobia à divisão em castas e à humilhação das viúvas que voltaram a casar. Pretende o extermínio dos muçulmanos na Índia, o país das duas comunidades, e alimenta tensões com países vizinhos.

Quase desconhecida é a ferocidade do monge budista Ashin Wirathu, a face mais cruel do terrorismo budista, apelando à limpeza étnica dos 4% da população da Birmânia, que professa o islamismo, assim como a xenofobia manifestada no Sri Lanka ou o ódio entre conventos budistas e, dentro dos conventos, entre os seus monges.

A violência conventual da exótica teocracia monástica do Monte Athos cuja misoginia proíbe o acesso de mulheres e de quaisquer animais fêmeas, é a tendência universal das crenças que o medo da secularização e do livre-pensamento torna intolerantes e cruéis.

É este caldo de cultura que está à solta com a cumplicidade dos Estados que apregoam a separação do Estado e das Igrejas, mas, na prática, traem a laicidade e cortejam o clero, que exibe as vestes pias nas cerimónias seculares.

9 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

Citação

“As regras e teorias de um velho sheik árabe chamado Maomé e as abstrusas interpretações de gerações de sujos e ignorantes padrecos fixaram a lei civil e penal da Turquia. Eles determinaram a forma da constituição, as mais pequenas acções e gestos do cidadão, a sua alimentação, as horas para levantar e dormir, tradições e hábitos e mesmo os mais íntimos pensamentos.

O Islão, essa absurda teologia de um beduíno amoral, é um cadáver podre que envenena a nossa vida. A população da república turca, que reclama o direito a ser civilizada, tem de demonstrar a sua civilização através das suas ideias, sua mentalidade, através da sua vida familiar e seu modo de vida”.

8 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

A pena de morte e a Igreja católica

A pena de morte é um anacronismo que persiste em sociedades ditas civilizadas, nódoa que a direita europeia de vocação fascizante se prepara para reintroduzir, à semelhança do que sucedeu em 1976 nos EUA, onde é aplicada em 34 dos 50 estados.A aplicação, sem efeitos dissuasores, tem sido responsável pela execução de inocentes, por erros judiciais. Deveria bastar a irreversibilidade para fazer tremer a mão aos juízes humanistas, mas não faltam carrascos à crueldade, quando legalizada.

A Igreja católica, pressionada pela civilização europeia, condenou a pena de morte, mas com restrições, na última edição do seu catecismo.O Papa Francisco limpou finalmente a nódoa do catecismo romano quando o facínora das Filipinas, PR católico, defende execuções sumárias para traficantes e drogados, e, como outros déspotas católicos europeus, se prepara para reintroduzir a pena de morte.

A decisão deste papa, rompe com dois milénios de tradição, credita-o como humanista e honra-o perante o mundo civilizado. Esperemos que, com este exemplo, as religiões não continuem ao serviço da tradição e dos interditos e se tornem aliadas da modernidade.

Foi de forma simples que revolucionou o Evangelho, um repositório da moral da Idade do Bronze: “A pena de morte é inadmissível porque é um ataque à inviolabilidade e dignidade da pessoa e ela [Igreja católica] trabalha com determinação para que seja abolida no mundo todo”.

Não posso deixar de me solidarizar com o papa católico que dignificou a Igreja ao assumir o compromisso de se associar ao movimento abolicionista. Assim procedam os dignitários de outras religiões e das várias teocracias.

Recordando e alterando Neil Armstrong, ao pisar na lua: “Esse é um pequeno passo para a civilização, mas um enorme salto para o Vaticano”.

Infelizmente, o catecismo não foi alterado.

7 de Agosto, 2020 João Monteiro

A mulher mais odiada da América

Está disponível na Netflix o filme “A mulher mais odiada na América” – no original, “Most hated woman in America”. Baseado em acontecimentos reais, o filme centra-se no desaparecimento de Madalyn Murray O’Hair, a fundadora da associação American Atheists. A história do desaparecimento é acompanhada de recuos temporais que contam a origem da organização.

Assista ao trailer aqui:

5 de Agosto, 2020 João Monteiro

Igreja quis processo bilionário contra a Netflix

No final do ano passado, a produtora Porta dos Fundos apresentou, na Netflix, o seu especial de Natal intitulado “A primeira tentação de Cristo”. Esse episódio humorístico apresentava um Jesus Cristo que regressava a casa após ter estado 40 dias no deserto, onde fora tentado de várias maneiras por Lúcifer. Para o receber, a sua família preparara-lhe uma festa surpresa e decidira contar a verdade sobre a sua origem. O que viria a gerar grande polémica, não só no Brasil mas também a nível internacional foi o facto de Jesus ser representado como gay, a sua mãe Maria como uma mulher promíscua e os apóstolos como um grupo de alcoólicos.

Assista ao trailer aqui:

A polémica:

Este foi o episódio mais polémico da equipa brasileira da Porta dos Fundos, tendo originado uma grande mobilização da sociedade civil: uma petição online recolhera 280 mil assinaturas para que a Netflix removesse o programa da sua plataforma; o programa mereceu críticas de políticos brasileiros; após queixa apresentada por um grupo cristão por ofender a liberdade religiosa, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ordenou a retirada do programa do ar no Brasil por “cautela, para acalmar os ânimos”; contudo, a anterior decisão viria a ser revista, posteriormente, pelo Supremo Tribunal Federal alegando o direito à liberdade de expressão: “…dizendo que não se deve descuidar do respeito à fé cristã, mas não pode se supor que uma sátira humorística tenha o poder de abalar a fé que existe há 2 mil anos.”; a sede da Porta dos Fundos foi atacada com cocktails molotov e incendiada, levando a equipa a procurar um novo edifício; entre outros.   

Um processo caricato:

Mas de todas as iniciativas, uma foi notícia pelo caricato da situação.

Anselmo Ferreira de Melo da Costa, simultaneamente presidente da Igreja Templo Planeta do Senhor e advogado do processo, alegou sentir-se desrespeitado na sua fé cristã por ver representado um Jesus Cristo homossexual pelo que pediu uma indemnização de 1 bilião de reais à Netflix e à produtora Porta dos Fundos. Além disso, pediu que se retirasse o programa do ar.

Contudo o processo terminou apenas ao fim de seis meses e sem que a Netflix ou a Porta dos Fundos tivessem sido notificadas da sua existência. Acontece que o Templo desistiu porque a juíza não lhe deu o direito da “Justiça gratuita”, como o requerente pretendia para não gastar dinheiro. Além disso, como pedia o bilião de reais, as custas foram elevadas, no valor de 82mil reais, valor que pode duplicar caso queira recorrer. Se a Netflix e a Porta dos Fundos tivessem sido notificadas, o Templo ainda teria de pagar os honorários dos advogados dessas empresas, aumentando ainda mais as custas na justiça.

A isto há que acrescentar vários erros processuais, como a troca dos títulos dos episódios em causa, a legitimidade da igreja receber a indeminização, a justificação do elevado valor pedido e a recusa em entregar os balancetes contabilísticos da Igreja – este último elemento esteve na base da recusa da aceitação da “Justiça gratuita”.

Quanto à retirada do programa do ar, o Supremo Tribunal Federal já recusara num outro processo, alegando o direito à liberdade de expressão (ver acima).

Não deixa de ser irónico que o pastor que deveria instruir o seu rebanho a perseguir os valores espirituais e a abandonar as riquezas terrenas, tenha sido o mesmo a deixar-se levar pela avareza de perseguir valores bilionários. Mas como diz o conhecimento popular “Deus escreve direito por linhas tortas”, e este pastor em vez de arrecadar fortuna teve de pagar as custas.

Fonte: Igreja queria lucrar 1 Bilião de reais.