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7 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Genocídio em Darfur

Desde Fevereiro de 2003 que Darfur – zona ocidental do Sudão, fronteira com a Líbia e o Chade – praticamente desapareceu dos noticiários internacionais, não obstante ser palco de um conflito que muitos consideram genocídio.

De facto, desde essa data, quase meio milhão de africanos negros de aldeias de tradição agrícola foram trucidados por milícias árabes apoiadas pelo governo, as milícias Janjuweed, que causaram ainda mais de dois milhões de refugiados. Mulheres e crianças são violadas na frente das famílias (e – pasmem – algumas mulheres são depois apedrejadas por «adultério»), e constituem o alvo predilecto das atrocidades desumanas cometidas pelas milícias árabes, recrutadas e armadas pelas autoridades de Cartum para combaterem a rebelião na região de Darfur. Rebelião que tinha como pano de fundo a discriminação do muçulmano governo sudanês em relação a todos os não muçulmanos do país.

Nos últimos três meses a situação em Darfur está completamente descontrolada. Dezenas de milhares de civis não muçulmanos foram desalojados e a violência contra o corpo de paz da União Africana e restantes ONGs humanitárias atingiu o seu zénite. Corpo de paz africano que deve abandonar a região em finais de Setembro, o que desencadeou receios de uma catástrofe humanitária. Mas a insegurança crescente resultou em que cerca de meio milhão de pessoas se encontram actualmente sem auxílio humanitário e muitas mais estarão em risco quando o corpo de paz da UA sair.

A pressão constante dos activistas por Darfur resultou numa resolução do Conselho de Segurança da ONU, datada de 31 de Agosto, que apela à deslocação para Darfur de um corpo de paz internacional que ajude a controlar a violência e a implementar o acordo de paz assinado no príncipio do ano. Mas é pouco provável que essa força de paz da ONU chegue alguma vez a Darfur já que o presidente sudanês descreveu como ilegal qualquer intervenção da ONU em Darfur.

O presidente sudanês, Omar al-Bashir, afirmou que tal destacamento de paz da ONU violaria a soberania do Sudão e não passaria de um cavalo de Tróia para o real objectivo, uma mudança de regime que inviabilizaria um governo islâmico, baseado na Sharia, como o actual.

Sugeriu ainda que a força de paz da ONU atrairia terroristas islâmicos para a combater uma vez que Osama Bin Laden já no passado declarou Darfur mais um alvo de «tropas Cruzadas» e apelou aos «bons» muçulmanos para irem para o Sudão combater «uma guerra de longo prazo» contra pacificadores da ONU e outros infiéis.

Enquanto a opinião pública mundial não for mobilizada e alertada para a situação de Darfur, que causa diariamente mais mortos que todo o recente e mui mediatizado conflito entre Israel e o Hezbollah, é pouco provável que haja alguma alteração na situação dos não muçulmanos em Darfur, aliás é muito provável que se nada for feito as dimensões do genocídio atinjam proporções ainda mais catastróficas.

6 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Steve Irwin e os prosélitos


Steve Irwin, o conhecido «Crocodile Hunter», morreu ontem num acidente infeliz, quando mergulhava na Great Barrier Reef. Um militante incansável de causas ecológicas, especialmente focadas na necessidade de preservar predadores como tubarões e crocodilos, Steve foi um dos maiores defensores da conservação da Natureza do século XX. Os seus programas de televisão, transmitidos em inúmeros países, despertaram os muitos milhões de espectadores para a sua causa, mostrando, da forma carismática que o caracterizava, centenas de espécies nos seus habitats naturais, desmistificando o que normalmente é sensacionalizado e revelando toda a beleza do mundo natural de uma forma didáctica mas com a simplicidade e paixão que o caracterizavam.

A sua missão de re-ligar a humanidade ao mundo natural, fazendo os espectadores dos seus documentários perceberem o mundo que as gerações futuras herdarão se nada for feito para preservar as espécies ameaçadas de extinção, foi inesperadamente cerceada por uma raia.

Ken Ham, o presidente da coisa que dá pelo nome de Answers in Genesis, aproveitou de forma vergonhosa a morte de Irwin. A leitura da prosa desprezivelmente cristã que debitou, indica não conseguir o devoto cristão engolir a popularidade do carismático e ateu guerreiro da natureza. Assim, usa de forma inaceitável o trágico acidente para proselitar os seus leitores, recorrendo às armas habituais do cristianismo, a ameaça com a morte e com a ira do Deus vingativo inventado no neolítico, insinuando que Steve morreu porque não era um criacionista, aliás para além de ateu, nos seus programas era, como qualquer pessoa normal, um advogado do evolucionismo.

Como diz PZ Meyers, a vida e a morte de Steve Irwin recorda-nos o entusiasmo e paixão de uma vida bem vivida, uma vida que contribuiu para um mundo melhor. A vida de Ken Ham relembra-nos quão desprezíveis, mesquinhas e insignificantes são as vidas daqueles que deixam a religião obliterar-lhes o cérebro!

6 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

B16, tartufo de serviço

Religião não pode justificar terrorismo, diz B16, Papa de serviço ao catolicismo, ditador vitalício do Vaticano, que foi a Assis com pele de cordeiro a imitar o antecessor, futuro santo JP2, e rezar pelo diálogo inter-religioso.

A desfaçatez dos tartufos esboroa-se quando afirmam que o seu Deus é o verdadeiro e único capaz de emitir bilhetes válidos para o Paraíso.

Rezam, por hábito, conhecendo a inutilidade das orações, com excepção da piedade que induzem nos incautos e na prodigalidade dos óbolos que geram.

Só pode admirar-se com os apelos à conversão quem esquece que Portugal foi fundado na luta contra os moiros e se afundou a perseguir cristãos-novos e grelhar judeus.

As religiões que apregoam o diálogo são as que convertem os crentes das outras com quem fingem amizade, todas unidas no ódio aos ateus e nas rivalidades entre si.

JP2, o rural que perseguiu e silenciou teólogos progressistas, era amigo de Pinochet e consentiu o tráfico de armas para o ditador da Nicarágua, Anastácio Somoza, e o desvio de dinheiro do Banco Ambrosiano para o sindicato polaco Solidariedade. Hoje é o bem-aventurado a caminho da santidade, graças à intensa campanha de propaganda da ICAR.

Foi um papa dissimulado que apadrinhou a sombria prelatura pessoal – OPUS DEI – um exército de prosélitos sedento de dinheiro e poder, enquanto a «Santa Aliança» cumpria as orientações papais de espionagem e intriga internacional.

B16, é tão profundamente reaccionário como o antecessor, apenas lhe falta a superstição e a fé de JP2 com que este que emocionava as multidões com os trejeitos de artista de circo e devoção sincera.

Por ironia, JP2 era espiado no Vaticano pela polícia comunista polaca enquanto a CIA e a espionagem do Vaticano colaboravam. Segundo fontes polacas, entre 10% e 15% dos religiosos polacos colaboraram com os serviços secretos durante o regime comunista.

Durante a guerra foi muito maior a percentagem dos que colaboraram com o nazismo.

A confissão é uma arma terrível.

6 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Pedofilia e religião

  1. A Procuradoria do Estado de São Paulo (Brasil) vai pedir à delegação local da ICAR uma indemnização pelos crimes de abuso sexual de menores cometidos pelo padre Alfieri. Provou-se que este sacerdote católico abusou de 13 crianças, nalguns casos com apenas 5 e 6 anos, que o padre colocava numa instituição de caridade que dirigia. O padre filmou e escreveu num diário os crimes que cometeu. Os responsáveis locais da ICAR não comentam. Se fosse um caso de aborto, talvez o fizessem.
  2. Em Paranaguá (Brasil), um casal de pastores evangélicos foi detido sob acusação de pedofilia. O pastor é acusado de violar pelo menos dez meninas, e a esposa é acusada de cumplicidade. Tinham fundado a Igreja do Supremo Amor de Cristo há cinco anos. Os abusos sexuais aconteciam durante o estudo da Bíblia, altura em que o pastor alegava «incorporar» um «anjo» que o «enfraquecia» e do qual só se libertava tendo relações sexuais.
6 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Fraudes centenárias com aval de Bento XVI



Reza a Agência Ecclesia que Bento XVI se deslocou ao Santuário do Santo Rosto em Manoppello, uma localidade italiana da região dos Abruzos (Abruzzo), onde se encontra uma das muitas fraudes religiosamente mantidas em igrejas um pouco por todo o mundo, conhecidas por relíquias, que são preciosas ajudas não só para a manutenção dos crentes num mui apreciado estado de infantilização obscurantista como para a mais prosaica manutenção da saúde financeira da ICAR.

A fraude em questão é conhecida como o véu de Verónica, mulher que a crendice católica, alimentada agora por Bento XVI – determinado na sua cruzada obscurantista contra a ciência, protegendo as pessoas simples, isto é, os católicos, dos intelectuais – acredita ter limpo o rosto do mítico Cristo no caminho para o suposto calvário. Uma fraude (artigo em pdf publicado no Thermochica Acta que confirma que o dito sudário foi confeccionado no século XIII ou XIV) em tudo análoga à do Sudário de Turim, aliás como rezam as agências noticiosas católicas «a imagem no Sudário de Turim e a imagem que aparece no véu em Manoppello são de tamanhos idênticos e passíveis de serem sobrepostas».

Notícia especialmente divertida numa semana em que o nosso cavaleiro da pérola redonda, na sua homilia de segunda, prelecciona sobre os malefícios de «Erigir um mundo de ficção como orientação para a vida, que muitos consideram alienação ou manipulação de massas». Claro que João César das Neves não se apercebe do rídiculo em que incorre já que ele elegeu igualmente um mundo de ficção para orientar a sua vida, a única diferença em relação aos trekkies é que os fãs do Star Trek sabem ser o alvo do seu inofensivo passatempo uma «mentira, um mundo de ficção em que realmente não acreditam».

Todos sabem que Spock é um personagem de ficção e não são atribuidos quaisquer poderes sobrenaturais às «relíquias» que os fãs procuram – que o escandalizado JCN, que não revela as dimensões do mercado da fé, indica ser um mercado de 50 mil milhões de dólares há 7 anos – nem delas são esperadas curas «milagrosas» ou disparates afins. Nenhum mal vem ao Mundo da fixação com personagens que todos sabem ficcionais. E como uma trekkie indicou, os valores expressos na série são valores que ela subscreve «tolerância, paz e fé na humanidade». Quiçá seja esse o problema de J.C. das Neves em relação às «propostas de filosofias, partidos e movimentos para substituir as religiões» que incluem abominações anti-cristãs como «liberdade, justiça, humanidade, raça, classe, ciência, progresso, natureza, prazer».

Comisera JC das Neves que «os trekkies julgam ser felizes numa vida que não existe» mas que dizer dos milhões enganados por um negócio, a adoração de relíquias, mantida para impulsionar o lucrativo mercado da peregrinação, que a ICAR sabe serem falsas? Diz a Enciclopédia Católica que a Igreja permite a adoração de relíquias falsas para evitar escândalos e distúrbios populares. Será esta uma justificação aceitável? Que a ICAR mantenha os seus crentes «felizes» com mentiras?

O véu de Verónica, aliás vários véus, surgiu na Idade Média, época em que imperava o lucrativo negócio de venda de relíquias, em que abundavam prepúcios, cordões umbilicais, bocados da «santa» cruz, «santos» pregos e demais recuerdos cristológicos para além de um gigantesco mercado de venda de souvenirs anatómicos de santinhos, mártires e afins.

Aliás, esta proliferação de «relíquias» sagradas, tão bem caricaturada no romance homónimo de Eça de Queiroz, foi um dos factores, associado às indulgências, que despoletou a reforma protestante. De facto, Calvino, afirma no seu Traité Des Reliques a propósito da «santa» cruz:

«Não há uma abadia tão pobre que não tenha um exemplar. Em alguns locais há fragmentos grandes, como na Capela Sagrada de Paris, em Poitiers e em Roma, onde um crucifixo de grandes dimensões é suposto ter sido feito dela. Em resumo, se todos os pedaços fossem reunidos, fariam uma enorme carga para um navio. No entanto o Evangelho testemunha que um único homem foi capaz de a carregar».

A igreja do castelo de Wittenberg onde Lutero pregou as suas 95 teses tinha… 19013 relíquias (!), incluindo vários frascos com leite da «virgem» Maria, palha da mangedoura onde a lenda coloca o nascimento do mito e mesmo um dos «inocentes» massacrados (sem registo histórico) por Herodes!

Já João Paulo II, entre outras fraudes, Fátima entre elas, tinha uma especial veneração pela «Santa» Casa de Loreto, supostamente a casa onde a sagrada família viveu em Nazaré e… transportada por anjos para Itália, algures no século XV!

A lista de fraudes adoradas por milhões de devotos católicos como realidades capazes dos mais sortidos «milagres» é demasiado extensa para enunciar, pelo que acho deveras estranho que JCN tenha escolhido logo esta semana para azucrinar os fãs de filmes de «culto». Que legitimidade para criticar os trekkies tem um devoto de uma igreja que encoraja a idolatria supersticiosa de «relíquias» obviamente falsas, com o pretexto de que não há problemas morais «na continuação de um erro que foi transmitido em boa fé por muitos séculos», ou seja, não há qualquer imoralidade em encorajar a crença em fraudes centenárias?

5 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Abaixo o proselitismo

No dia em que a clericanalha deixar de baptizar crianças de fralda, doutrinar crianças em idade escolar e atormentar velhos em fase terminal, deixo de denunciar as mentiras e crimes das religiões.

Quando, em vez de curarem paralíticos e cancerosos, os cadáveres apodrecidos do catolicismo fizerem crescer membros amputados e crescer o cabelo aos calvos, calo o ridículo da ICAR e os escândalos dos seus padres.

Se um Papa se revelar uma pessoa de bem e deixar de interferir na política dos países democráticos, deixo de denunciar o antro do Vaticano e os crimes que aí se cometem.

Se o dinheiro pilhado aos pobres e o ouro deixado cair nos santuários, por multidões de infelizes e desesperados, for posto ao serviço dos milhões de refugiados, deixo de apontar a cupidez e o luxo dos bazares da fé e de me indignar com os tesouros reunidos no Vaticano.

Quando a clericanalha deixar de aterrorizar crentes com o castigo eterno, as fogueiras perpétuas, o choro e ranger de dentes para quem seja avesso ao incenso e sofra náuseas com a hóstia, abandono o Diário Ateísta e dedico-me a outras causas.

Mas, enquanto os prelados exibirem anelões e passearem as mitras, os mullahs apelarem ao ódio e ao martírio e os rabis clamarem que são donos da Palestina, farei minhas as palavras dessa grande mulher e escritora, George Sand:

«Há cinquenta anos que trago em mim uma maldição que hei-de repetir até à hora derradeira, maldita, maldita, três vezes maldita seja a intromissão dos padres na família».

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo II

Para os crentes mais esclarecidos, a linguagem escolhida para negar o evolucionismo é outra, lembra a de Philip E. Jonhson, um dos pais da IDiotia, que afirmou ««Ser um cientista não é necessariamente uma vantagem, quando lidamos com um tópico tão abrangente como a evolução, que se entrelaça com muitas disciplinas científicas e também envolve os toques da filosofia»

Também o Vaticano recorre à «filosofia», isto é, à pseudo-filosofia que dá pelo nome de teologia, para tentar reconciliar esses crentes. Ou seja, como filosofia normalmente não é tema em que sejam fluentes aqueles que têm uma educação mais científica, aquilo que vemos delineado na imprensa é uma apresentação da IDiotia como filosofia da natureza, philosophia naturalis (um termo que designa o estudo objectivo da natureza e do mundo físico, isto é, outro nome para ciência) pelo que, sem se perceber bem como, «os cientistas estão a ultrapassar os limites da ciência» explicando a origem das espécies a partir de um ancestral comum com o ateu evolucionismo, como afirma o padre jesuíta Joseph Fessio, que participou do encontro.

Assim, Fessio afirma que «os neodarwinistas [aka evolucionistas] que negam Deus tiram uma conclusão ideológica que não é comprovada pela teoria». O que é igualmente absolutamente falso, a ciência não nega Deus, apenas conclui que este é uma hipótese desnecessária na explicação do mundo e tal é comprovado não apenas nas ciências da vida mas em todas as áreas da ciência!

Noutras palavras, manipulando sofismatica e habilmente a linguagem, enganando os mais incautos com a pretensão de que filosofia da natureza é algo diverso de ciência, o Vaticano vai atacar directamente a ciência, tentando impor limites, pelo menos na opinião pública, ao que a ciência pode ou não abordar, e indirectamente assestando as baterias nos ateus cientistas.

Pretendendo que, devido ao seu desconhecimento de «filosofia», os cientistas são totalmente incompetentes para explicar os mecanismos da evolução, já que causas sobrenaturais não são contempladas pela ciência – aliás, são negadas pela ciência – e estes deveriam esperar por autorização «superior» das instâncias religiosas, as senhoras absolutas da «filosofia», antes de ousarem explicar algo que só pode ser alvo de uma explicação religiosa (que sofismaticamente tentam igualar a filosófica, quando na realidade religião está nos antípodas de filosofia).

Assim, não é complicado prever que as actas do dito seminário vão estar recheadas de argumentos IDiotas que negam o evolucionismo, que o papa vê como «uma filosofia fundamental … que pretende explicar a realidade como um todo» sem Deus, mas que aceitem a evolução, que é impossível de negar.

Diria ainda que esta aceitação da evolução será fraseada de forma que, embora evidenciando que o Vaticano «aceita» a micro evolução, deixe espaço de manobra para a negação da macro evolução, isto é, a evolução de uma espécie para outra. Macro evolucão que Ratzinger questiona e que é impossível de aceitar já que refuta «a base imutável de toda a antropologia cristã», que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e torna muito complicado justificar o pecado original…

Pecado original de que Ratzinger usa e abusa, nomeadamente para explicar porque as mulheres se devem submeter cristamente aos seus melhores, os homens! E remissão do dito cujo na qual assenta o cristianismo.

Isto é, se não houve pecado original, se o homem evoluiu muito lenta e progressivamente de um organismo unicelular primevo, como justificar a necessidade de um mítico salvador de «almas» incarnado e crucificado – a tal complicação com duas essências que faz parte de uma entidade com três pessoas e uma essência – mesmo com macro evolução «desenhada»? Se, como pretendem alguns teólogos, o pecado original é uma alegoria do pecado indissociável do ser humano, será o designer assim tão incompetente que não conseguiu eliminar essa pecha para o «pecado» do seu desenho – assim como, sei lá, cancro, HIV, etc., para além de inúmeros outros exemplos do «mal»? Ou será necessário recorrer à teoria dos anjos para explicar «desenho malevolente»?

Para além, disso, se houve macroevolução, mesmo «desenhada», em que ponto da evolução fomos mimoseados com almas que necessitam ser «salvas»? Mesmo admitindo apenas microevolução, teria o Neanderthal alma? Se sim, que «pecado» cometeu para «merecer» a extinção? Ou apenas o Homo sapiens sapiens foi agraciado com a dita? Mas então, como se justificam os indícios de comportamento «anímico» que as últimas descobertas arqueológicas indicam para o Neanderthal? E porquê alma no Sapiens e não no seu ancestral Homo erectus? Ou no ancestral mais remoto, o Australopithecus afarensis? E já agora porque não nos outros ramos da mesma árvore evolutiva, por exemplo os restantes primatas?

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo

As actas do seminário em que Ratzinger pomposamente «examinou» a evolução vão ser publicadas ainda este ano, de acordo com a agência Reuters, para o ano segundo um teólogo português que participou no encontro.

Enquanto as actas não são disponibilizadas, pela primeira vez em toda a história destes debates anuais de Ratzinger, o que demonstra a importância do tema para a ICAR, podemos olhar para a imprensa católica para apreciar o que foi de facto discutido no dito seminário.

A evolução é um tema recorrente na prosa do corrente Papa, abordado por Ratzinger logo no seu discurso de tomada de posse, em que afirmou «nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução». O evolucionismo é assim um perigo que urge eliminar, porque, como confirma Rafael Pascual, decano de Filosofia e director do Mestrado sobre Ciência e Fé no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum – o tal que oferece mui científicos cursos de exorcismo:

«criacionismo e evolucionismo são em si incompatíveis» embora o não sejam «criação e evolução, que, pelo contrário, se encontram em dois níveis diferentes».

Isto é, a ICAR pretende falaciosamente que a criação, ou seja, a origem das espécies, só pode ser abordada «na perspectiva filosófica e teológica» e não faz parte das competências da ciência explicar como surgiram e evoluiram as espécies que povoam o nosso planeta.

De facto, a Igreja precisa arranjar uma história que contemple a evolução, completamente impossível de negar – mesmo o mais ignorante dos créus sabe que o vírus da gripe evoluiu, especialmente agora em que todos esperam o que os acasos da evolução fazem ao vírus da gripe das aves – e negue o evolucionismo. A penas de ir perdendo clientes já que, à luz do conhecimento científico actual, os mitos cristãos são cada vez mais implausíveis e é necessário um grande esforço de dissociação para conseguir ser-se cristão e simultaneamente minimamente esclarecido cientificamente. E a Igreja sabe que acima de tudo precisa de arranjar uma forma «airosa» de alimentar os mitos sem alienar os seus clientes cientificamente mais cultos.

Em primeiro lugar, já conseguiram o primeiro objectivo, instilar dúvidas nos crentes analfabetos cientificamente sobre a aceitação do evolucionismo na comunidade científica, argumentando que a teoria da evolução deve ser vista como uma «teoria científica, com os argumentos a favor, mas também reconhecendo os limites e os problemas ainda por resolver», e como tal não deve ser apresentada «como uma espécie de dogma absoluto, definitivo e indiscutível».

Escolha de linguagem judiciosa que é um acumular de contradictio in terminus científicos, mas que joga com o desconhecimento do público em geral do método científico e joga com o léxico do quotidiano em que «teoria», entendida como palpite, tem um significado completamente distinto daquele que tem em ciência.

Ou seja, este tipo de linguagem faz crer aos clientes mais distantes da realidade científica que há dúvidas na comunidade científica sobre o evolucionismo, que não passa ainda por cima de um palpite «ateu», o que é completamente falso!

(continua)
4 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Bush e Bin Laden do mesmo lado

«Bush e Bin Laden estão efectivamente do mesmo lado: do lado da fé e da violência contra o lado da razão e do debate. Ambos têm uma fé implacável de que estão certos e o outro está errado. Cada um acredita que quando morrer irá para o céu. Cada um acredita que, se pudesse matar o outro, o seu caminho para o paraíso no outro mundo seria mais fácil.»

(Richard Dawkins em entrevista à Salon.)