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29 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Richard Dawkins e a ilusão de Deus

Jeremy Paxman, o famoso jornalista da BBC que apresenta desde 1997 o programa Newsnight, conhecido pelo seu estilo agressivo e cáustico, incorporado no léxico do quotidiano pelo termo Paxmanesque – que identifica um interrogatório especialmente duro – entrevista Richard Dawkins a propósito do seu novo lvro, «A ilusão de Deus», publicado na segunda feira e já um best seller.

Para quem estiver interessado, todo o material multimédia referente a Dawkins pode ser encontrado aqui.

Numa entrevista de Paxman absolutamente fabulosa, o acérbico jornalista entrevista Ann Coulter, a teocrata autora de «Godless: The Church of Liberalism», em que a criacionista Coulter critica o liberalismo por rejeitar Deus e o compara a uma religião, completa com «mitos da criação», a teoria da evolução, cosmologia, o Big Bang, e igrejas (as escolas públicas onde não entra a religião mas entram os abominados preservativos). Entrevista que se inicia em puro estilo paxmanesco:

Paxman: Olá, Ann Coulter. Eu li o primeiro capítulo do seu livro que o seu editor me enviou por fax. Os restantes são algo melhor?

28 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Conferência no Porto, sexta-feira

No dia 29 de Setembro de 2006, sexta-feira, realizar-se-á pelas 21h20m no salão nobre do Instituto das Artes e da Imagem à Praça Coronel Pacheco, 1 (antigo Colégio Almeida Garrett) uma Conferência organizada pelo clube UNESCO da cidade do Porto. A conferência será de Luís Mateus, presidente da Associação República e Laicidade, justamente sobre a laicidade.
28 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Esforço de guerra

Dos Asylum Street Spankers, uma banda sui generis do estado que produziu G. W. Bush, vem este delicioso video clip que ilustra um «esforço de guerra» ao alcance de todos os americanos.

27 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Maomé e Cristo juntos contra Mozart

Foi cancelada a apresentação, em Berlim, da ópera de Mozart Idomeneu. A responsabilidade pela decisão cabe à directora da Ópera Alemã, Kirstin Harms, que a justificou com uma informação anónima segundo a qual haveria um «risco com final imprevisível para os funcionários e o público» se a ópera fosse apresentada. O chefe da polícia declarou que não houve uma ameaça concreta.

O líder do Conselho Islâmico Alemão elogiou a decisão, afirmando que «a encenação fere os sentimentos dos muçulmanos», enquanto o presidente da Comunidade turca na Alemanha a criticou, argumentando que «[recomenda] a todos os muçulmanos que aceitem determinadas coisas (…) a arte deve ser livre», o que demonstra que a Europa necessita é de mais muçulmanos educados no laicismo à maneira turca. E acrescento que as minhas convicções jacobinas e o meu gosto artístico estão ofendidos pela atitude de «respeitinho preventivo» da senhora directora da Ópera de Berlim.

Esta ópera de Mozart pode ser lida como uma defesa da rebeldia humana contra os deuses. Na encenação agora cancelada, a frase «os deuses estão mortos» é ilustrada com as cabeças decepadas de Poseidão, Buda, Cristo e Maomé. O encenador (o verdadeiro responsável pelas cabeças cortadas) opõe-se ao cancelamento da ópera e critica a sua directora. Refira-se que quando a ópera esteve em exibição, em 2003, cristãos extremistas presentes no público destruíram as portas da ópera em protesto contra o seu conteúdo iconoclasta. O respeito pela liberdade de expressão, como se verifica, não é um mandamento de religião alguma.

O governo, que mantém a intenção de ensinar a religião muçulmana nas escolas públicas, criticou todavia a decisão da ópera de Berlim.
27 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Cisão na ICAR

O arcebispo Emmanuel Milingo, famoso por se ter casado sem abandonar a ICAR, ordenou no domingo quatro bispos à revelia do Vaticano. Foi excomungado ontem.

Milingo, arcebispo de Lusaca, casara-se em 2001 com Maria Sung numa cerimónia religiosa da Igreja da Unificação (liderada pelo reverendo Moon). Posteriormente, perante o escândalo internacional, o cardeal Bertone trouxera-o de regresso ao celibato eclesiástico, destruindo a sua união matrimonial. No entanto, como o Diário Ateísta relatou, Milingo evadiu-se em Julho passado do convento onde o mantinham em reclusão há quatro anos, voltou à sua legítima esposa, e anunciou a intenção de reconciliar a ICAR com os padres casados.

Do ponto de vista dos regulamentos eclesiais, a situação é formalmente semelhante à ocorrida com o arcebispo Lefebvre: as ordenações episcopais feitas pelo arcebispo Milingo em Washington são ilegítimas, mas válidas. Portanto, temos a cisão que se previra aquando da ascensão ao papado do radical Ratzinger. Neste momento, muitos padres católicos, nomeadamente nos EUA, exercem o seu sacerdócio estando casados. Não é impossível que adiram a esta nova igreja que poderá conciliar o sacerdócio com uma vivência sexual e afectiva mais normal.
27 de Setembro, 2006 Palmira Silva

História do preservativo

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) e o aparecimento da SIDA influenciaram de maneira decisiva a forma como a sexualidade humana começou a ser discutida publicamente no final do século XX. Até então, essa era uma questão tratada com reservas e pudor pela saúde pública. O vírus HIV forçou uma mudança sem precedentes. Assim, falar sobre sexo (independentemente da escolha de cada um) e sobre os preservativos tornou-se uma obrigação dos profissionais da saúde, dos educadores e dos pais. Com excepção, claro, dos prosélitos de Deus, para os quais o assunto continua tabu e como tal se opoem a todos os programas de educação sexual, contrapondo como alternativa as respectivas homilias de desinformação e mentiras grosseiras, nomeadamente as mentiras que especialmente a Igreja Católica dissemina sobre a ineficácia do execrado preservativo. Nalgumas zonas de África essas mentiras atingem carácter criminoso já que os devotos «ensinam» que é o preservativo, contaminado com o HIV, o responsável pelo flagelo da SIDA!

No entanto, o preservativo está presente na vida do homem há milénios tendo os primeiros registos de artefactos muito semelhantes aos preservativos actuais cerca de 5000 anos, cuja representação pode ser encontrada em alguns túmulos de Karnak. Esses registos indicam igualmente que os egipcios recorriam a métodos contraceptivos desde 1850 a.E.C.

Foram os chineses que criaram algo que pode ser descrito como o primeiro preservativo: envoltórios de papel de seda untados com óleo.

De igual forma tudo indica que os gregos não eram ignorantes em matéria de contraceptivos, existindo indicações de que cerca de 1.600 a.E.C., durante o reinado de Minos de Knossos, em Creta, se utilizavam para esse fim bexigas natatórias de peixes. Aliás, foi a mitologia grega que apresentou o preservativo ao Ocidente. O rei Minos, supostamente filho de Zeus e Europa, era casado com Pasiphë. O monarca não era exactamente conhecido por ser um adepto da fidelidade conjugal de forma que por obra de Pasiphë Minos passou a ejacular serpentes, escorpiões e lacraus, que matavam todas as mulheres com que se relacionasse mais intimimamente – com excepção de Pasiphë, imune ao seu próprio feitiço. Minos entretanto apaixonou-se por Procris e para evitar que a consumação dessa paixão fosse fatal para Pocris apresentou ao mundo o primeiro preservativo feminino: uma bexiga de cabra.

De igual forma, foram os gregos, tão elogiados por Bento XVI na sua recente palestra em que pretendeu ser racionalismo inseparável da helenização, os primeiros a descobrir o primeiro contraceptivo oral há cerca de 2100 anos: uma planta selvagem, silphion, que descobriram quando colonizaram Celene no que hoje é a Líbia. Apesar de todas as tentativas envidadas pela civilização helénica em cultivar a planta, os seus esforços foram infrutíferos e a valiosa e mui procurada planta extinguiu-se após 700 anos de colheitas intensivas pelos racionais gregos!

Durante a Idade Média, o apogeu da cristandade, não havia qualquer proibição eclesiástica em relação ao uso de qualquer método contraceptivo, inclusive o actualmente tão execrado preservativo. Assim, a Europa medieval estava inundada de uma série de tratados médicos e leigos recomendando métodos para evitar filhos; o principal era o uso de envoltórios de linho, isto é preservativos, embebidos ou não em ervas medicinais para aumentar a eficácia. Abundavam ainda uma série de mezinhas assentes na superstição vigente na época: poções contraceptivas feitas de urina de cordeiro, pó de testículos de touro torrados e muitas receitas hoje apenas eméticas.

Mas a partir do século XV, com a disseminação de numerosas doenças venéreas (como referência às sacerdotisas dos templos de Vénus) como a sífilis, o homem medieval começou a tentar reduzir os perigos de contaminação pelas DSTs. Nomeadamente recorrendo à «bainha de tecido leve, sob medida, para protecção das doenças venéreas» inventada pelo anatomista e cirurgião italiano Gabrielle Fallopio. Fallopio, nascido em 1523 em Modena de uma família nobre mas sem dinheiro, viu-se na contingência de ingressar no clero para poder prosseguir os seus estudos, de forma que não deixa de ser irónico que o inventor do preservativo moderno seja um padre católico!

As observações de Fallopio sobre o uso perfeito para a sua invenção foram, no mínimo, curiosas: recorreeu a diversos sapos machos a que vestiu ceroulas de linho impermeável e pesquisou o acasalamento dos batráquios. Constatou que as ceroulas não impediam o coito, mas evitavam a fecundação já que retinham o sémen. Posteriormente, e depois de ter efectuado aquele que podemos considerar o primeiro teste clínico de preservativos, em que 1100 homens usaram o seu dispositivo e se verificou que nenhum contraiu sífilis, escreveu um tratado sobre a sífilis em que o tratamento recomendado era o uso do De Morbo Gallico, o preservativo por si inventado a que Shakespeare chamou «luva de Vénus».

Quando entre 1713 e 1715 a cidade de Utrecht foi sede da conferência internacional que conduziu à assinatura do tratado que pôs termo à guerra da sucessão espanhola, foi igualmente sede da difusão do preservativo. Na realidade, reuniram-se nesta cidade as personalidades europeias da época o que atraiu à cidade uma fauna menos nobre e diplomata que proporcionou, para além de formas de distracção das intensas conversações de paz, a disseminação na nata europeia das temíveis e incuráveis à época doenças venéreas, especialemente a sífilis, o equivalente da SIDA até à descoberta da penincilina.

Um artesão criativo resolveu airosamente o problema com preservativos habilmente costurados a partir do ceco (parte do intestino) de carneiros, parte anatómica dos ditos que fornecia películas finas e transparentes utilizadas na cicatrização de ferimentos e queimaduras.


A industrialização do preservativo estava garantida depois deste sucesso. Assim, uns anos depois, em 1780, podia ler-se nos anúncios publicitários de uma das mais famosas casas de prostituição de Paris: «Nesta casa fabricam-se preservativos de alta segurança. Distribuição discreta para França e outros países…». Esta publicidade, que introduziu o termo preservativo, foi posteriormente modificada e preservativo substituido por redingote anglaise, ou seja, «sobretudo – ou sobrecasaca – inglês».

O termo com que os preservativos são designados nos países anglo-saxónicos, condom, tem a sua etimologia associada a Xavier Swediaur, um profissional bastante prestigiado, especialista em doenças venéreas, que defendeu no século XIX ter sido o preservativo inventado por um médico inglês do século XVII, um tal Dr. Condom que se sabe hoje nunca ter existido.

A partir de 1839, data em que Charles Goodyear descobriu que tratar a borracha natural com enxofre, o processo de vulcanização, lhe alterava drasticamente as propriedades mecânicas, surgiram os primeiros preservativos de borracha, espessos, laváveis e reutilizáveis. O resto é história conhecida…

Esta breve e pouco exaustiva história do preservativo mostra que, tal como em relação ao aborto, a posição da Igreja em relação à contracepção tem-se alterado ao longo dos tempos. Na realidade, apenas a partir da altura em que deixou de dispôr de meios mais… enérgicos… – como a Inquisição – para determinar a vida dos cidadãos e se viu relegada do papel político que durante séculos manteve a Europa sob o jugo dos ditames de Roma – o que foi coincidente no tempo com a interrupção da gravidez mais segura para a mulher e com o desenvolvimento de métodos contraceptivos mais eficientes e acessíveis – a Igreja Católica passou a preocupar-se paranoicamente e quasi em exclusividade com a sexualidade humana, mais concretamente com o facto de a humanidade poder usufruir os prazeres do sexo sem a respectiva «punição».

Ou seja, a posição inflexível, anacrónica e criminosa da ICAR em relação ao preservativo e à IVG não tem rigorosamente nada a ver com a apregoada defesa inflexível da vida. Tem simplesmente a ver com manutenção de poder e com a misoginia e execração do sexo sem «castigo» indissociáveis da doutrina católica.

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27 de Setembro, 2006 jvasco

Jesus é o messias?

A Bíblia está cheia de profecias que se provaram falsas. Este vídeo mostra algumas delas.

26 de Setembro, 2006 pfontela

A verdade pode ser ofensiva

Foi o que aconteceu neste caso no Reino Unido em que a associação “Gay Police Association” que teve a “temeridade” de publicar estatísticas que demonstravam um aumento de 74% na violência Homofóbica cujo principal factor era a religião (o comunidado fazia referência ao cristianismo em particular). Por esta vil “manipulação” e ofensa os cristãos evangélicos resolveram mover um processo contra a dita associação.

Obviamente que a queixa foi recusada, a Coroa recusou-se a processar seja quem for – por motivos por demais óbvios: Ninguém pode ser processado por dizer algo que as estatísticas demonstram!

Os cristãos ficam muito ofendidos quando as suas crenças que estão permeadas de ódio ao “outro” saem à luz do dia como causa de violência – é péssimo para as relações públicas. Não deveria ser de estranhar que esta relação existisse já que os movimentos extremistas homofóbicos na Rússia e na Polónia são alimentados precisamente pelas Igrejas cristãs. Só quem se econtra num profundo estado de negação poderia negar a relação entre os dois factores.

26 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Bento XVI – Tolerância e pluralismo


«À luz da nossa experiência com o pluralismo cultural, diz-se frequentemente hoje que a síntese com o Helenismo conseguida na Igreja inicial era uma inculturação preliminar que não deveria ser obrigatória para as outras culturas. (…) Esta tese não é apenas falsa; é grosseira e imprecisa.» Bento XVI in aula magna de Regensburg

A reacção do mundo islâmico à palestra em Regensburg de Ratzinger, de que este excerto exemplifica o que pensa Ratzinger sobre pluralismo, uma abominação relativista, deixou em segundo plano outro assunto muito sensível que envolve o Vaticano – apenas mais um ponto que confirma a intolerância indissociável do catolicismo – e que é a imagem de marca deste Papa que declarou guerra à modernidade.

Mais uma vez recordo que tolerância é apenas atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente mas, tal como em relação ao pluralismo, Ratzinger, que se considera o dono e senhor da «verdade absoluta» e no direito de impor a todos essa «verdade», classifica a tolerância como uma «ditadura do relativismo» que se traduz na não adopção na letra da lei das suas anacrónicas «verdades reveladas».

Um documento debitado recentemente, intitulado «Família e Procriação Humana», uma revisão das posições oficiais da Igreja nas áreas da família e reprodução, dá conta dessa arrogância da ICAR, que considera ser seu direito determinar a lei nos países em que o catolicismo é maioritário. Isto é, o documento que enfatiza a condenação católica das uniões homossexuais, aborto, inseminação artificial, divórcio, uniões de facto e contracepção «artificial», pede «castigo» para o aborto e uma alteração nas leis vigentes na esmagadora maioria dos países europeus, que não reflectem os ditames do Vaticano e como tal não criminalizam tudo o que Vaticano considera «pecado». Basicamente pede que se implemente na Europa o equivalente católico da Sharia…

Em proeminência neste aspecto está o reconhecimento dos direitos dos homossexuais em Itália. Um tema que, como afirmam o director do banco de Nápoles Dario Re e o seu companheiro Giuseppe Archiletti «Em Itália, os direitos de homossexuais não constituem uma questão de direita – esquerda – trata-se de quanto poder tem o Vaticano na política italiana».

O reconhecimento de direitos às uniões de facto, incluindo uniões de facto homossexuais, assim como a fertilidade e o aborto, foram temas quentes nas eleições de Junho último. O paladino de óvulos e espermatozóides perdeu as eleições não obstante o Vaticano ter tentado influenciar o resultado apelando ao voto no grande defensor da família «tradicional» Berlusconi pela voz do Cardeal Camillo Ruini, o eclesiástico máximo da Conferência de Bispos Italianos, que verberou ser necessário aos eleitores italianos «ter em consideração» na decisão do voto assuntos como o aborto e o reconhecimento legal de uniões de facto.

Os italianos esperam agora que o governo de Romano Prodi cumpra as promessas eleitorais sacudindo no processo o jugo ditatorial do Vaticano na política italiana. Resta esperar para ver se este governo tem a coragem política necessária para tal.

O Vaticano já fez saber que o reconhecimento dos direitos legais de homossexuais, que exibem um «mal moral intrínseco», corresponde «à legalização do mal», algo muito diferente da «tolerância do mal», isto é, já que o Vaticano é impotente para criminalizar a homossexualidade e demais «pecados» como os seus congéneres muçulmanos, impotência a que Ratzinger chama «tolerância do mal», pelo menos tudo fará para que continue a discriminação dos pecadores, seres abjectos sem quaisquer direitos na mundivisão católica!