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30 de Outubro, 2006 jvasco

Universo de Plástico

Desta vez vou pôr a ciência de parte. Isto não é um argumento contra o criacionismo. É apenas uma opinião: o universo criacionista é foleiro. É feio. É piroso, bárbaro, e de mau gosto. Ainda bem que o criacionismo é falso, senão seria como viver numa caneca das Caldas. Ora vejam.

A gazela e a chita são animais nascidos para a velocidade. A gazela tem que ser rápida para não ser comida pela chita, e a chita para não morrer à fome. Compreendendo a evolução destas espécies podemos imaginar o longo conflito que moldou as duas linhagens. Algo terrível mas ao mesmo tempo belo e fascinante por ser um processo natural, sem plano, sem intenção nem maldade. Mas a chita e a gazela como criações de um ser inteligente são uma barbaridade. O seu conflito é um castigo, uma tortura com requintes de malvadez. A sua velocidade é uma ferramenta concebida para infligir o máximo sofrimento. Um acidente infeliz de um processo natural e inconsciente torna-se num mal evitável e intencional.

E a lesma. Como produto de evolução é um exemplo interessante de um processo que explora todas as possibilidades acessíveis, das mais simples às mais complexas. Mas como concepção inteligente é apenas testemunho de incompetência infantil e falta de imaginação. «Já sei! Vai ser assim tipo macaco do nariz, mas deste tamanho, e a deitar ranho! He he he.»

Outro exemplo, que me ficou na memória desde criança, é o dos peixes pulmunados africanos. Para sobreviver à seca enterram-se na lama, fechados num casulo, e podem ficar assim até dois anos à espera da chuva. Quando chove, passam umas poucas semanas a alimentar-se e a reproduzir-se freneticamente, e depois lá voltam para o buraco para mais um ano ou dois de seca (literalmente). Nem têm tempo para gozar devidamente os intervalos. Como produto de um processo natural demonstram a capacidade de adaptação das espécies. Mas é preocupante que o ser supremo tenha criado existências tão fúteis e sem sentido.

Os desastres naturais, as doenças, as 350 mil espécies de escaravelho, os parasitas intestinais e o cóccix são outros exemplos do muito que não faz sentido como criação inteligente. Ás vezes (raramente) até me dá pena dos criacionistas. Vivem num universo de plástico, kitsch, cheio de aberrações e disparates incompreensíveis. Não admira que precisem de um amigo imaginário…

——————————–[Ludwig Krippahl]

29 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

O clero e o perigo da confissão

Deus anda arredio da moral dos padres e só com muita devoção se pode acreditar que a Igreja católica é a sua Igreja. Deus fica indiferente às crianças abusadas e aos discursos compungidos do Papa.

Se alguém acredita no valor dos sacramentos aí estão as patifarias, que os recalcamentos sexuais exacerbam, a desmenti-los. De nada valem a água benta, o incenso e as orações. Os padres, vítimas do celibato que o Vaticano lhes impõe e do cio que os acicata para as maiores torpezas, não chamam a atenção para a bondade do seu Deus, atraem a atenção para as infâmias de si próprios.

Na Irlanda, um cristianíssimo país onde Santíssima Trindade infecta o preâmbulo da Constituição, os padres católicos colocam mal a ICAR. Podiam tomar como amantes os colegas, ter um bispo por conta ou um cónego privativo mas são as crianças as vítimas dos seus incontroláveis desvarios.

O pior de tudo são as confissões, um mundo de silêncios e cumplicidades, onde o clero se esquece do breviário e acende o fogo que o devora e conduz para as relaxações que envergonham a Igreja e aguardam o julgamento dos tribunais.

Era melhor que se casassem.

29 de Outubro, 2006 Palmira Silva

O referendo ao aborto: autonomia da mulher II

A referida prosa do actual Papa debitada enquanto Inquisidor-mor, é ainda uma elegia às teses agostinianas sobre os males do sexo, isto é, afirma que a «dimensão antropológica da sexualidade é inseparável da teológica» – o abominado sexo é uma consequência da «queda» – e como tal a humanidade deve «evitar as relações marcadas pela concupiscência», na realidade uma «tríplice concupiscência», a «concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida», pechas para o mal advindas «do pecado [original]».

Para a Igreja de Roma, o ideal de mulher deve ser uma mulher completamente anulada como pessoa, devotada à sua «capacidade para o outro», sendo completamente inaceitável por ateísta «um certo discurso feminista» que «reivindica exigências ‘para ela mesma’». A mulher, que se realiza apenas no casamento ou na Igreja, deve no primeiro caso subjugar-se totalmente ao marido e aos filhos, já que não tem valor intrínseco fora de ambos, na realidade tem menos valor que um qualquer óvulo fertilizado – nem em casos «de vida ou de morte, para a mãe» é admissível uma interrupção da gravidez!

De facto, são consideradas «modelos de perfeição cristã» a beata Isabella Canori Mora, que preferiu morrer às mãos de um marido abusivo a «violar a santidade do matrimónio», e a «santa Mãe de Família» Gianna Beretta Molla, que preferiu morrer a abortar.

Assim, a condenação histriónica do aborto (e da contracepção) pela Igreja de Roma e seus sequazes não tem nada a ver com uma pretensa «defesa intransigente» de algo que confessam não saber bem o que seja. Vida que «na sua condição terrena», como já tive oportunidade de abordar, «não é um valor absoluto» para a Igreja! Excepto, claro, na forma unicelular – células estaminais e óvulos fertilizados- e embriónica!

A oposição católica ao aborto, embora baseada nas raízes do cristianismo, que justificam igualmente a oposição à contracepção – misoginia e ódio ao sexo, que desvia os crentes das «virtudes» cristãs – insere-se simplesmente na luta da Igreja pelo poder sobre a sociedade. Poder manifesto cá no burgo, por exemplo, no tempo de antena da Igreja e organizações subsidiárias em todas as estações de rádio e televisão, em que, insidiosamente, se tenta impor ao país os ditames do Vaticano em todos os aspectos da sociedade, da Economia aos comportamentos individuais!

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29 de Outubro, 2006 Palmira Silva

O referendo ao aborto: autonomia da mulher

A guerra contra a modernidade da Igreja Católica, isto é, a guerra pela manutenção do integrismo católico, iniciou-se no plano político, essencialmente combatendo os ideais «hereges» do iluminismo – que ameaçavam a supremacia da Igreja sobre todos os aspectos da vida -, nomeadamente combatendo a soberania do indivíduo, dos seus direitos e da sua liberdade, denunciados como atentados à lei «natural», isto é, à submissão do homem ao Vaticano, representante na Terra de Deus.

Assim o discurso da igreja no século XIX é marcado pela «intransigência católica» em relação às modernices políticas e ao reconhecimento dos direitos humanos, denunciados como «loucura e erro».

No terreno puramente político, a Igreja perdeu a batalha, pelo menos na Europa. E assim no século XX assesta as baterias na sexualidade, «guerra à sexualidade» que no século XXI começa a ser suplantada pela «guerra à ciência». A obsessão da Igreja sobre a questão do sexo é tanto maior quanto ela perdeu, radicalmente, a batalha no campo das autonomias políticas.

Não é assim de estranhar que, em total discordância com a própria doutrina da Igreja, seja apenas em finais do século XIX, depois de Pio No No perder o poder político sobre Itália, que o aborto é declarado um pecado imperdoável. De igual forma, os meios contraceptivos «não naturais», usados desde sempre na História da Humanidade, são declarados «pecaminosos» e proibidos aos católicos somente no século XX.

A «guerra ao sexo» estende-se à igualdade dos sexos e aos direitos da mulher: no momento em que a autonomia da mulher for uma realidade, está ameaçado o reduto do poder da Igreja na sociedade. O combate aos direitos da mulher é disfarçado como sendo uma «ordem» da natureza: a Igreja não tem nada, ulula, contra as mulheres! É a própria ordem «natural» inscrita na biologia feminina que afirma a heteronomia, isto é, estipula os limites da autonomia e dos direitos da mulher.

Assim, tudo o que esbata os limites do «natural» em relação à mulher e reafirme a sua condição de ser humano de plenos direitos é combatido violentamente pela Igreja! Como se viu, por exemplo, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em que os delegados do Vaticano e os seus poucos aliados – os fundamentalistas islâmicos, Malta e alguns países latinoamericanos em que a Igreja detém de facto poder político – tentaram impedir que se alcançasse o consenso necessário à aprovação da Plataforma de Acção, nomeadamente no que diz respeito à universalidade dos direitos humanos, mais especificamente ao reconhecimento dos direitos humanos da mulher.

O ênfase no «natural»* e divinamente predestinado é encontrado ainda na carta aos bispos católicos de todo mundo, «sobre a colaboração do homem e da mulher no mundo e na Igreja» em que a auto-intitulada «Perita em humanidade», expertise conferida pela inenerrante «antropologia bíblica» – leia-se pecado original – denuncia como profundamente errada a «antropologia, que entendia favorecer perspectivas igualitárias para a mulher, libertando-a de todo o determinismo biológico». Ou seja, a emancipação e independência da mulher são uma aberração ateísta que não reconhece a ordem «natural» do mundo divinamente ordenada!

*Estranhamente apenas em relação aos direitos da mulher, antagónicos da ordem divina, o «natural» é invocado! Por exemplo, no caso Terry Schiavo, a interrupção da sustentação artificial da sua vida foi considerado um «atentado contra a vida», um «homicídio» levado a cabo por «carrascos» implacáveis! Ou seja, conforme convém, quer interferir quer não interferir na ordem natural das coisas é considerado um pecado imperdoável, vendido à sociedade como um assassínio!

(continua)
28 de Outubro, 2006 Palmira Silva

The meaning of life

Quando me preparava para continuar a série de posts sobre o aborto e o estatuto do embrião e como, tirando os que ainda não se libertaram de dois milénios de condicionamento social, são os fundamentalistas católicos os estridentes e ululantes «defensores intransigentes da vida», decidi consultar a Enciclopédia Católica para ver afinal o que são supostos defender estes paladinos de óvulos e espermatozóides, seguidores convictos de Agostinho de Hipona que verberava ser a abstinência – excepto para fins estritamente reprodutivos – a única forma de alcançar a graça divina.

Devo confessar que fiquei completamente baralhada! Pensar-se-ia que sendo a defesa da vida o estandarte actual da Igreja de Roma, que ulula contra um imaginado relativismo que resulta numa suposta «cultura de morte», ou seja, numa sexualidade saudável e sem culpas, vida seria algo muito bem definido pela Igreja de Roma.

Na realidade, a Igreja de Roma arvora-se em paladino intransigente de algo que… confessa, em 6 454 palavras (leram bem, seis mil quatrocentas e cinquenta e quatro) de uma dissertação absolutamente hilariante, não fazer a mínima ideia do que seja!

Mais concretamente, o parágrafo inicial diz tudo:

O enigma da vida [a definição do que é a vida] permanece um dos dois ou três problemas que enfrentam quer o cientista quer o filósofo e, não obstante o progresso no conhecimento que se verificou nos últimos 2 300 anos, não avançámos apreciavelmente em relação à posição de Aristóteles no que respeita às questões principais. Quais são as suas [da vida] manifestações características? Quais são as suas formas principais? Qual é a natureza intrínseca da actividade vital?

Ou seja, a Igreja de Roma admite não saber o que é a vida e não ter respostas para a natureza intrínseca da vida que não sejam as propostas por Aristóteles. E assim podemos ler uma dissertação prolixa que basicamente se reduz, depois de muita palha totalmente desconexa, a afirmar que os seres vivos são formados por um corpo biológico organizado e por um princípio vital (que nos humanos é a tal anima que só a ICAR pode salvar).

Só há vida após a animação, a junção do dito princípio vital e do corpo biológico. Animação que a doutrina católica diz ocorrer na espécie humana quando a alma criada por Deus é infundida nos elementos materiais biológicos. Apenas após animação estes elementos físicos ficam aptos a exercerem as funções da vida humana, descrita como outra santíssima trindade, uma triunidade entre as vidas vegetativa, sensciente e intelectual. Isto é, de acordo com esta definição a vida vegetativa, que não tem consciência de si nem do meio ambiente, não é suficiente para descrever a vida humana!

Ou seja, a posição da Igreja Católica em relação ao aborto e à investigação em células estaminais é total e completamente discordante da sua doutrina expressa na Enciclopédia Católica! Afinal, contrariamente ao que ululam os dignitários católicos, a vida humana não se reduz a um genoma humano!

De acordo com a dita Enciclopédia o que caracteriza a vida humana é o tal princípio vital! E sob o título «Unidade do ser vivo» somos informados que «sendo o princípio vital a forma substancial [da vida] só pode existir um destes princípios animando o ser vivo».

Facilmente chegamos à conclusão que o tal princípio vital ou alma não está presente no zigoto, que teria de apresentar dois princípios vitais para explicar a existência de gémeos homozigóticos!

Então se o tal princípio vital não está presente no zigoto em que fase do desenvolvimento se dará a tal animação que define a existência de vida humana? Segundo a Enciclopédia consultamos a grande autoridade sobre a vida, Aristóteles, que defendia a animação tardia, apenas ao fim de 40 dias para os embriões masculinos e 80 dias para os femininos. Uma vez que até pelo menos às 8 semanas, altura em que as gónadas (indiferenciadas) do embrião XY começam a produzir testosterona, todos os embriões são femininos, parece pacífico que não há animação dos embriões dos quais vamos referendar a despenalização do seu abortamento!

Fiquei ainda com uma dúvida: será que a declaração em 1869 por Pio IX, o autor do Syllabus, do «dogma» actual da animação imediata, que a alma incorpora aquando da concepção – despoletando legislação que criminalizava o aborto (inexistente até à data), vigente ainda hoje em países em vias de desenvolvimento ou nos redutos mais fundamentalistas do catolicismo – foi uma premonição da infalibilidade papal decretada um ano depois no concílio Vaticano I ou não passou de mais um amuo papal, uma vingançazinha do santo Pio em relação à modernidade, que ousadia infame, se estava nas tintas para os ditames do Vaticano e lhe «usurpou» o poder temporal sobre meia Itália?

Porque a dita proclamação é contrária à doutrina da Igreja, tal como expressa na Enciclopédia Católica! Fico sempre mistificada com as inúmeras contradições católicas! Devem ser os tais mistérios insondáveis da fé… Mas não deixa de ser divertido confirmar que as ululantes Tétés e afins são defensoras intransigentes não se sabe bem de quê… tirando as teses de Agostinho de Hipona!

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28 de Outubro, 2006 lrodrigues

A Defesa da Vida

O «Los Angeles Times» relata que será aprovada na Nicarágua uma lei que criminaliza todas as formas de aborto, incluindo as resultantes de violações, de malformações do feto e até mesmo as que se destinem a salvar a vida da mulher grávida.

Associações médicas da Nicarágua e movimentos internacionais de direitos humanos têm criticado fortemente esta legislação, que prevê penas de 6 a 30 anos de prisão para as mulheres que abortem e para os médicos que se atrevam a auxiliá-las.
Estima-se que anualmente se façam cerca de 32.000 abortos clandestinos na Nicarágua sem quaisquer condições de segurança ou salubridade, enquanto foram levados a cabo somente 24 abortos legalmente autorizados nos últimos três anos, incluindo o de uma menina de 9 anos que tinha sido violada em 2003 mas que, segundo a nova lei, não poderia agora abortar.
Médicos da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia daquele país afirmaram em conferência de imprensa que esta lei vai perigar a vida das mulheres e vai fazer com que os médicos se sintam relutantes em levar a cabo quaisquer procedimentos destinados a salvar-lhes a vida.
«Quando uma mulher chega a um hospital com uma hemorragia vaginal, ficamos receosos de fazer alguma coisa: se a tratamos podemos ser condenados e se não a tratamos também», declararam.
Mas Rafael Cabrera, um médico obstetra e líder do «Movimento Sim Pela Vida», afirmou:
«A lei actualmente vigente na Nicarágua permite a abertura de uma porta pela qual os abortos podem ser praticados e nós pretendemos fechar essa porta. Não acreditamos que uma criança possa ser destruída sob o pretexto de que uma mulher pode morrer».
Por trás desta iniciativa está uma instituição milenar, fortemente implantada na Nicarágua e influente em todos os sectores da sociedade, e cujos líderes se mobilizaram activamente para redigir a lei e angariar todos os apoios necessários para a sua aprovação, e que se distingue pela sua forma única e peculiar de defesa de embriões, da dignidade das mulheres e da própria vida humana.
Chama-se Igreja Católica Apostólica Romana.

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

27 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

A ignorância de Deus

Deus não está morto, arrasta-se em lenta e dolorosa agonia, que os padres disfarçam com missas e orações, numa vida vegetativa que serve os interesses dos parasitas.

Um dia acabam-lhe com o Inferno – fonte tradicional de rendimento, quase tão eficaz para a devoção como os métodos do Santo Ofício. Depois eliminam-lhe o Purgatório que tantas missas e orações rendeu. Agora até o Limbo foi à praça e, não tendo havido licitações, foi abatido ao activo para fugir ao Imposto Municipal sobre Imóveis.

Resta o Paraíso, desacreditado e triste, à espera de supersticiosos e desesperados, onde se encontram santos pouco recomendáveis e a fauna divina com ar soturno.

Deus, no seu ódio ao progresso e à modernidade, deixou escapar os subsídios da Comunidade Europeia para fazer uma reciclagem e aprender línguas, para se adaptar aos novos tempos e à democracia.

É por isso que deixou de ouvir as preces dos créus, balbuciadas nas línguas autóctones apesar de Bush estar convencido de que o americano é a língua sagrada importada de Londres onde julga que Cristo fez estudos universitários.

O Sapatinhos Vermelhos, enquanto tirava as medidas para um novo vestidinho de seda e experimentava um chapéu de museu, pensou em regressar ao latim para ver se o patrão percebe os pedidos dos padres e recupera o prestígio da sua Igreja.

O Deus do Islão, mais primário que o dos cristãos, só percebe árabe mas há-de julgar-se um intelectual, comparado com o seu Profeta que não conseguiu aprender a ler e anda feliz com multidões embrutecidas pelos mullahs capazes de todas as torpezas.

Enquanto o Deus do Papa se encontra ligado à máquina, com respiração assistida, B16 regressa ao latim para lhe levar algum ânimo. Para isso tem de se submeter à exigência da Sociedade do Santo Pio X (SSPX), um grupo com sede na Suíça fundado pelo falecido arcebispo Marcel Lefebvre, de pendor francamente fascista e anti-semita.

Mas isso não é problema para B 16. Apesar de excomungado já o recebeu em euforia e mantém uma relação tão cordial como a que um boato atribui à de Deus com os anjos.

Em breve teremos de volta o latim e o Sol a girar à volta da Terra. Depois, as almas voltam ao redil do Vaticano e os beatos lambem as mãos dos padres e extasiam-se à passagem de Sua Santidade.

27 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Back to the future?


Michael J. Fox, que sofre da doença de Parkinson, gravou este vídeo em que apela ao voto nos candidatos às eleições de Novembro próximo que apoiem a investigação em células estaminais. Para além de Michael, outras celebridades, como Sheryl Crow, que sobreviveu a um cancro, dão a cara em apoio desta área de investigação.

Michael J. Fox, diagnosticado com Parkinson em 1991, fundou a Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research, uma fundação devotada a financiar investigação sobre a doença que, como muitas outras doenças neurodegenerativas, é actualmente incurável.

A investigação em células estaminais totipotentes – as células estaminais adultas, multipotentes ou seja que apenas se podem diferenciar dentro da sua linhagem celular, são inúteis neste tipo de doença – é a maior esperança para uma futura cura para doentes de Parkinson e de muitas outras doenças, não apenas neurodegenerativas, actualmente incuráveis.

Os opositores da investigação em células estaminais totipotentes – não apenas as embrionárias mas todas as células adultas manipuladas para se tornarem totipotentes – são aqueles que se auto denominam pró-vida e ululam contra o inadmissível «assassínio» de «vida por nascer», já que, como afirmou monsenhor Elio Sgreccia, que preside à Academia Pontifícia para a Vida, uma célula totipotente, independentemente da forma como foi obtida, que pode evoluir para um ser humano totalmente desenvolvido, deve ser considerada, tal como um embrião ou um zigoto, um ser humano de plenos direitos.

De facto, são os fundamentalistas cristãos, com a Igreja de Roma a liderar as hostes ululantes de fanáticos, os únicos oponentes (muito vocais e bem organizados, aliás como nas campanhas contra o aborto) da investigação em células estaminais totipotentes, que as recentes sondagens indicam merecer o apoio da maioria dos americanos.

Recordo que o defensor intransigente da vida (não nascida, claro) G. W. Bush usou recentemente pela primeira vez o veto presidencial para rejeitar legislação aprovada no Congresso norte-americano que expandia as restritas leis que governam o financiamento da investigação em células estaminais embrionárias. Restrições impostas pelo próprio paladino de óvulos, espermatozóides e células totipotentes em 2001 e que limitam a investigação nesta área a 71 linhas de células. Assim, a investigação em células estaminais é um dos temas «quentes» nas próximas eleições que os analistas políticos prevêm resultar no fim da hegemonia republicana no Congresso.

Tão quente e eventualmente tão decisivo que Rush Limbaugh, um dos mais conhecidos homens da rádio americana, um conservador tão pró-vida não nascida que mimoseia as mulheres pró-escolha com o epíteto feminazis, afirmou no seu programa de rádio que Michael J. Fox estava a fingir os tremores e restantes sintomas da doença de forma a atrair as simpatias (e os votos) dos espectadores.

A evidente desonestidade intelectual do fundamentalista cristão, tão evidente que mesmo a CNN fez uma peça sobre o tema, foi violentamente denunciada pelos peritos em Parkinson. Limbaugh, num inédito na sua carreira de maledicência contra os «infiéis» democratas e seus apoiantes, pediu (meia)desculpa pelas mentiras óbvias que debitou.

Mas Limbaugh afirmou que «Michael J. Fox estava a permitir a exploração da sua doença» em favor dos democratas e da investigação «sacrílega» e imoral em células totipotentes. Claro que para o teocrata mostrar simplesmente os efeitos desta doença e apelar a que se permita a investigação mais promissora para uma cura é inadmissível. Mentir deliberadamente, usar imagens falsas e manipuladas de nados-mortos ou fetos do 3º trimestre abortados por razões médicas como sendo o resultado trivial de um aborto «pró-escolha» é perfeitamente legítimo…

Sobre o acérrimo defensor da vida não-nascida (apenas, como Keith Olberman mais uma vez denuncia magistralmente) uma das críticas mais divertidas à sua omnipresente hipocrisia foi feita por Robin Williams a propósito de um frasco de Viagra encontrado na bagagem de Limbaugh quando este regressava de um país conhecido como um paraíso do turismo sexual

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26 de Outubro, 2006 Palmira Silva

As coutadas dos machos das religiões do livro

«Quem não treme horrorizado ao ver na história tantos suplícios atrozes e inócuos, criados e empregados com frieza por monstros que se intitulam sábios?» «O legislador deve, consequentemente, estabelecer fronteiras ao rigor das penalidades, quando o suplício não se transforma senão em espectáculo e parece ordenado mais para demonstração de força do que para a punição do crime.» Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, Dos Delitos e das Penas (1764).

O controverso mufti da Austrália, Taj el-Din al-Hilali, disse num dos seus sermões que as mulheres que não usam um hijab são como «carne descoberta». Continuando «Se puserem carne destapada na rua e os gatos a comerem, de quem é a culpa, dos gatos ou da carne destapada?»

O sheikh Hilali condenou igualmente as mulheres que mexem as ancas de forma sugestiva ao andar e as que se maquilham subentendendo que estas mulheres estão a «pedir» serem violadas. O clérigo aparentemente considera que os violadores são inocentes do seu crime, o problema são os juízes – australianos neste caso particular mas os juízes ocidentais em geral – que não percebem que os verdadeiros culpados nestas histórias de violação são as provocadoras mulheres:

«Depois apanham um juíz sem misericórdia que lhes dá 65 anos [de pena]» ululou o clérigo numa alusão a um grupo de muçulmanos de origem libanesa que cometeram uma série de violações em grupo há seis anos em Sidney e foram condenados a longas penas de prisão.

A comissária para a discriminação sexual, Pru Goward, disse que o sermão do mufti pode ser considerado uma incitação ao crime, já que os «jovens muçulmanos que violem mulheres podem citar isto em tribunal, podem citar este homem, o seu dirigente espiritual no tribunal» afirmando ainda que o clérido egípcio deveria ser deportado.

As palavras do devoto clérigo muçulmano fizeram-me recordar o que se passava cá no burgo quando os valores cristãos (ou culturais como pretende o cardeal patriarca de Lisboa) permeavam o nosso Código Penal.

Para além de os «crimes de honra» serem perfeitamente legais, nomeadamente era considerado completamente apropriado que um marido assassinasse a mulher adúltera e o seu amante se apanhados em flagrante delito,nos anos 60 um tribunal português classificava o comportamento criminoso de um marido como «moderado poder de correcção doméstica» enquanto outro tribunal português, mais recentemente, «culpabilizava» duas jovens vitimas de violação -que estavam a «pedi-las» -, sublinhando que elas nunca deveriam andar vestidas de forma «indecente» numa região considerada «coutada do macho latino».

Estas situações mostram de facto que uma ética que não se consiga separar da religião ou de «os grandes valores da cultura de um povo» na realidade não passa de um conjunto de prescrições autoritárias que correspondem a uma perversão grave dos princípios que supostamente regem a nossa sociedade. Conjunto de prescrições autoritárias que, sem surpresa alguma, nas misóginas religiões do livro se dirigem especialmente às mulheres.

Algo que não nos podemos esquecer quando formos convidados às urnas para decidir da despenalização do aborto. Ou seja, se os que apelam ao «Não» de facto consideram o aborto um assassínio – e nesse caso não se percebe porque razão ululam que não querem ver mulheres «decentes» na prisão e porque não exigem uma mudança no quadro penal para fazer equivaler um aborto a um assassínio – ou se querem apenas sujeitar as «imorais» pecadoras a perigos consideráveis para a respectiva saúde e a humilhações na praça pública.

Durante o fim de semana retomarei o tema do estatuto ético e jurídico do embrião – porque é sobre o direito incondicional à vida de um embrião que vamos ser auscultados – e espero mostrar porque não são convincentes os argumentos do «Não», na sua esmagadora maioria contaminados com julgamentos de valor sobre os motivos das mulheres que abortam, distinguindo entre abortos «morais» – que não devem ser punidos – e abortos «imorais».

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26 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Israel avança para o casamento civil (ou talvez não)

As negociações para o novo governo israelita, que poderá incluir um partido representando a minoria russófila, provocaram um debate sobre a possível criação do casamento civil em Israel. Actualmente, os únicos casamentos reconhecidos são os realizados pelas comunidades religiosas, e muitos israelitas vão casar a Chipre, quer por quererem casar fora da sua comunidade religiosa, quer por não serem considerados judeus, quer por serem judeus moderados que não querem aturar as aulas pré-nupciais (obrigatórias) dadas pelos rabis ortodoxos (cujo fundamentalismo e intolerância não ficam atrás do pior do catolicismo).

O casamento civil permitiria aos imigrantes recentes de origem russa (cerca de 300 000 indivíduos), muitos dos quais não são considerados judeus, casarem-se. É impossível fazê-lo com os arranjos actuais, dado que em Israel o casamento só existe segundo as leis religiosas medievais e retrógradas das comunidades religiosas: consequentemente, uma judia não pode divorciar-se sem autorização do marido (e dos rabis), e a chária é aplicada aos casamentos entre muçulmanos. Evidentemente, os casamentos mistos são impossíveis, o que tem mantido a sociedade israelita segregada segundo linhas de fractura religiosas (contribuindo assim para os níveis de paz social e harmonia tão conhecidos de todos).

Infelizmente, um dos partidos necessários à coligação governamental é o Shas, um partido que obedece assumidamente ao Rabi-chefe da comunidade sefardita, Shlomo Amar. Este senhor, do alto da sua autoridade clerical, fez o seu submisso partido propôr uma «união civil» exclusivamente para cidadãos sem religião, mantendo a impossibilidade legal de casamentos mistos. Mas nem isso está garantido.