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24 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Quem sabe, sabe

Uma das grandes vantagens de se ser religioso, e de que eu, como ateu, lamento profundamente a falta, é a capacidade de falar com Deus. Não aquele corriqueiro ajoelhar e rezar, que isso não traz qualquer retorno, leia-se “feed-back”, mas o dialogar, de modo a saber, ao certo o que o interlocutor, neste caso Deus “lui-même” quer, deseja e manda. Porque uma coisa é ajoelhar-se numa qualquer igreja e berrar padre-nossos e salvé-rainhas que ninguém ouve, e outra, completamente diferente, é sentar-se à mesa de um café com Deus e na sua companhia tomar o pequeno-almoço. O pequeno-almoço e os pensamentos, os desejos, etc.

Pois bem, contrariando os boatos que por aí se vão espalhando, Ratzinger nega que a sua renúncia seja devida a cansaço, velhice, pressões ou lóbis. Nada disso. Ratzinger garante que foi por vontade de Deus a lembrar, vagamente, um fado que esteve muito em voga. Se o papa garante que essa é a vontade do patrão, quem somos nós para duvidar?

O que vai valendo é essa rapaziada toda saber quais são as vontades do tal Deus. Geralmente, são coincidentes com as vontades da tal rapaziada, mas são meras coincidências.

23 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Açores 8/23_02_2013 – Religiosidade no meio do Atlântico

Cheguei numa tarde de sol a Ponta Delgada. Durante 15 dias, a chuva, que é frequente, poupou-me nos passeios pela ilha. O basalto é o material de construção que sobressai nas casas e denuncia a origem vulcânica de S. Miguel e restantes ilhas do arquipélago dos Açores. S. Miguel é uma sucessão de prados verdejantes, povoados de vacas e rodeados de uma vegetação paradisíaca que acompanha a orografia até ao mar.

Saltaram à vista do viandante os azulejos que decoram as frontarias das casas modestas, reproduzindo o Senhor Santo Cristo dos Milagres ou, apenas, perdido o último apelido, o Senhor Santo Cristo, numa iconografia profusamente repetida sem grandes alterações. Há outras imagens pias, em menor abundância, e apenas deparei com uma dedicada a Santa Catarina (mártir) com um apelo que revela a falta de devoção: «dai juízo a todos os que vos louvem».

Entre casas de habitação, exíguas capelas, imaculadamente limpas e com alvas toalhas, prestam culto ao «Divino Espírito Santo», o elemento da Trindade que foi abandonado no Continente e que ainda persiste por essas paragens, em todas as povoações da ilha.

A devoção é um arcaísmo que permanece no meio do oceano quando o Espírito Santo, até em Roma, onde rumava aos consistórios para iluminar os cardeais na eleição de cada novo papa, já foi comutado pela influência da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei, mais expedita na atribuição das tiaras e com dois pontífices de experiência.

Algumas Senhoras de Fátima, sobre azulejos, na frontaria das casas, ainda advertem os transeuntes que percorrem os passeios estreitos, com o pedido: «Não ofendam mais a Deus». Sem elas, dir-se-ia que da Trindade, que a Igreja católica substituiu pela virgem Maria, só faltava o deus-pai cujo culto nunca foi promovido e de quem restam queixas residuais de ter criado o mundo e feito, do barro, o primeiro casal.

A fé e a pobreza caminham a par. Há pessoas que saem de casa em pijama e com ar de se terem furtado ao banho. A ilha é lindíssima e o aeroporto, apesar de não registar já os fluxos turísticos de há anos, foi crismado com o nome o de João Paulo II. Deve ter sido mau olhado pois o número de visitantes, ao que sei, não parou de diminuir desde então.

Gostava de assistir à procissão do Senhor Santo Cristo, não porque me impressionem as manifestações pias, para tentar descobrir o que levava a atual PGR a frequentar o evento com a beca vestida e em representação do Ministério Público, num flagrante atentado ao Estado laico que a Constituição preceitua.

Quem sabe se não foi o desígnio divino que a investiu nesse cargo, graças às ave-marias rezadas com a beca encharcada!

Nesta quaresma, mantendo a tradição, mais de dois mil homens saíram para a estrada no primeiro sábado, dia 16. Os romeiros, partindo das suas aldeias, dão a volta à ilha com mantos garridos, dormem em igrejas, cantam, rezam e, não raro, são atropelados nas curvas dos caminhos. Nas povoações aumentam o tom das preces e dos cantos pios.

Apesar das rezas, o culto é profano e desobedece à vontade da diocese que lhe pretende impor regras. Não sei se deus os ouve mas eu acordei sempre com a algazarra.

22 de Fevereiro, 2013 Luís Grave Rodrigues

Religion

21 de Fevereiro, 2013 José Moreira

(Ainda) a resignação de Bento XVI

Ao que parece, e dando consistência a rumores e suspeitas, a resignação de Joseph Ratzinger não se deve, apenas, à velhice ou ao cansaço. Outros valores mais alto se levantam…

19 de Fevereiro, 2013 David Ferreira

Momento de descontração maternal

A barriga do padre crescia cada vez mais. Descartada a hipótese de uma cirrose, os médicos
decidiram-se por uma cirurgia exploratória, já que não pareciam haver motivos para aquele estranho inchaço.

A cirurgia mostrou que era mera acumulação de líquidos e o problema foi sanado.

Alguns estudantes que se encontravam no hospital resolveram intervir e, quando o padre estava a acordar da recuperação pós-cirúrgica, colocaram-lhe um bebé nos braços.

O padre, espantado, perguntou o que era aquilo e os rapazes disseram que era o que ele tinha na barriga.

Passado o espanto e tomado de ternura, o padre abraçou a criança e não quis
mais separar-se dela. Como se tratava do filho de uma mãe solteira que morrera
durante o parto, os rapazes envidaram todos os esforços para que o padre ficasse com a criança.

Os anos passaram e a criança transformou-se num homem e formou-se em
medicina. Um dia o padre, já velhinho e sentindo que estava a chegar a sua hora, chamou o rapaz e disse:

“- Meu filho! Tenho o maior segredo do mundo pra te contar, mas tenho medo que fiques chocado”.

O rapaz, que já havia intuído de que se tratava, disse compreensivo:
“- Já sei. Adivinhei há muito tempo. O senhor vai dizer-me que é meu pai”.

“-Não, eu sou a tua mãe! O teu pai é o Bispo de Leiria”.

 

 

19 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

A informática, essa espécie de bruxaria

Antigamente a bruxaria era apanágio feminino que alimentava fogueiras e medos coletivos. Aproveitavam a calada da noite para os conciliábulos e a vassoura para transporte até às encruzilhadas dos caminhos onde desembocavam fantasmas e se rogavam pragas. Era aí que a tradição judaico-cristã domiciliava a origem das desgraças que semeavam o pânico na plebe e a loucura nos inquisidores.

Hoje, os feiticeiros têm o nome impresso à entrada dos gabinetes que acendem as luzes à sua chegada, ar condicionado que evita às pituitárias a náusea do odor corporal e computadores onde escondem o saco dos sortilégios.

Circulam sem cerimónia no Windows, deslocam-se em confortáveis automóveis que deixam aprisionar no inferno do trânsito. Vivem num mundo de luzinhas, textos esotéricos que refletem a cabala matemática em sequências de 0 e 1, linguagem binária inacessível a profanos e que estarrece os basbaques. Foi-se o pacto com o demónio.

Os informáticos rezam com o teclado e devassam as trevas do ciberespaço, incapazes de lançar mau olhado. Há bruxos estabelecidos por conta própria e outros que trabalham em multinacionais donde saem programas de várias gerações, informação para todos os gostos e links* à espera de um clique.

Não sei como conseguiu Bill Gates evitar ao exorcista oficial da Igreja católica, o padre Gabriele Amorth, a tentação de lhe esconjurar os demónios.

Que sorte para os informáticos, terem morrido Jaime I e Inocêncio VIII. O primeiro, em Inglaterra, mandava pagar prémios em dinheiro aos denunciantes de suspeitos de bruxaria e o segundo mandou os inquisidores descobrir e eliminar bruxas, incumbência que desempenharam a preceito.

*Link – Feitiço que transforma a seta do rato numa mãozinha de beato a bater no peito.

15 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Hóstias roubadas

As televisões dão-nos notícia de que na zona de Bragança têm sido roubadas hóstias das igrejas.

Diz quem sabe que tais hóstias são destinadas a rituais satânicos – as chamadas “missas negras”. Adiantam, os peritos no assunto, que a venda de hóstias consagradas pode chegar a valer cinco mil euros. Não dizem se é à unidade, ao quilo ou à grosa.  Mas há uma pergunta que me anda a bailar na cabeça: como é que se sabe que as hóstias são “consagradas”? Levam selo de garantia, mudam de cor, ou o sabor é diferente?