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TEMPESTADE

De Norte a Sul, de Este a Oeste, o mundo estremece e convulsiona-se, mostrando as garras ao poder desmesurado que o silêncio e a inércia permitiram ascender sem questionar.

Os deuses inventados também se reinventam diariamente e reencarnam em perniciosas figuras bípedes que se insinuam como portadores de uma verdade obscura que concederá a salvação por intermédio do encarceramento do espírito e da maceração do corpo.

Mas há sempre quem resista, quem esteja disposto a lutar contra todos os deuses, sejam eles imateriais ou de carne e osso, pela verdade, pela liberdade, pela justiça, contra tudo e contra todos os que pretendem assassinar cobardemente o direito a sermos o que nascemos: homens livres!

A todos os que lutam, a minha homenagem:

 

   TEMPESTADE

 

Tu e eu seremos juntos a tormenta,

A pele da noite a recitar trovões

Sobre a cidade adormecida

À beira-medo.

 

E aguçaremos os gumes dos nossos raios

Nesses sonhos inquietos e dormentes

Que atormentam as pessoas indolentes.

 

Juntos, tu e eu seremos a mensagem de revolta,

Arautos de tumultos por haver

No despertar tardio das consciências hibernadas.

 

Tu e eu seremos frios como as espadas

Dos heróis mumificados no bolor dos livros ancestrais,

Lentamente a invernar no cemitério das estantes.

 

Juntos, tu e eu seremos a palavra apetecida,

A sede interrompida

A chover torrencialmente sobre os lábios desertificados

Dos que se calaram.

 

Juntos, tu e eu seremos a coragem

Dos que não ousaram!

 

David Ferreira