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Categoria: Ateísmo

10 de Julho, 2015 Carlos Esperança

Madre Teresa de Calcutá e a indústria dos milagres

Deixo a biografia de Madre Teresa para os ódios de estimação e os devotos do costume. Refiro apenas a ajuda que prestou a João Paulo II na defesa da teologia do látex quando em África morriam centenas de milhares de vítimas da Sida e um cardeal afirmava que o preservativo era perigoso.

João Paulo II (JP2), amigo do peito e da hóstia de Pinochet a quem denodadamente quis defender, sem êxito, da prisão em Londres, foi mais político do que santo. Madre Teresa escapou à canonização em vida por não ser canónica antes da defunção. Recém defunta, obrou o primeiro milagre.

JP2 atribuiu a cura de uma indiana, com um tumor gástrico, à intervenção sobrenatural de Madre Teresa, um ano após a sua morte, e logo assinou um decreto confirmando a veracidade do milagre, com vista à beatificação da freira. A jovem indiana Monica Besra explicou em 1998 que foi curada de um tumor de tamanho grande no estômago mediante orações à Madre, apesar de os médicos que a trataram terem assegurado que ela não tinha cancro, mas um quisto. O Vaticano aceitou a cura como milagre em 2002.

Foi o que deu encomendar o milagre em país pouco devoto ao Deus de Madre Teresa!

O papa Francisco, com alvará para criar santos, é mais prudente, por vergonha ou receio de que o segundo milagre seja de novo posto em causa, mas os negócios da fé não se compadecem com pausas na máquina da santidade.

Assim, o milagre de que a bem-aventurada precisa, para ser elevada de beata a santa, foi adjudicado no Brasil, com menor hipótese de escândalo, também na especialidade de oncologia. Foi obrado em Santos e está a ser ‘investigado’ pelo Vaticano para canonizar Madre Teresa de Calcutá. Um homem internado em estado terminal, num dos hospitais da cidade, teve cura inexplicavelmente alcançada, segundo a Cúria Diocesana de Santos.

Não espanta a vocação dos defuntos para o exercício ilegal da medicina, o que admira é o faro do Vaticano para descobrir o/a taumaturgo/a.

Como é hábito, depois de apresentarem currículo para a canonização, os santos, depois de o serem, nunca mais se dão ao trabalho de obrar novos milagres. E a falta que fazem!

8 de Julho, 2015 Carlos Esperança

OS PROBLEMAS TEOLÓGICOS DA TAUMATURGIA

Por

João Pedro Moura

Os problemas religiosos da taumaturgia, como eu já disse noutros artigos e comentários, assentam em duas objeções fundamentais, que a Igreja contorna habilidosamente, mas que lhe vai granjeando algum êxito, entre os crédulos e néscios:

  • Qual o tratado teológico, ou outras obras fundamentais de teologia, que demonstre que alguém ligado à Igreja, no estado de defunto, está apto para curar um mal?!

É que não chega dizer que fulano ou beltrano impetrou a benesse curativa a um(a) morto(a) qualquer, supostamente integrante do jardim da celeste corte.

É absolutamente necessário demonstrar que tal ou tal outra figura, do aprisco eclesiástico, ao morrer, ingressou numa espécie de bloco operatório, de tal jardim celestial, ficando apta a operar prodígios taumatúrgicos, post mortem, em vez de prodígios cirúrgicos, ao vivo…

Dentro deste problema, ainda se fazem as seguintes objeções:

  1. Por que é que tais “milagres” só são operados numa ou noutra pessoa, preterindo milhões doutras, que, certamente, também rezam, impetrando cura divinal para os seus males???!!!

 

  1. Por que é que tais supostos milagres só são relatados uma ou duas vezes, com notória projeção mediática, para justificarem a beatificação ou canonização, mas depois parece que tal taumaturgia cessa definitivamente, não mais se falando de terceiro milagre, quarto… décimo…quinquagésimo… alheando-se o Vaticano de quaisquer outras “investigações”???!!!…

E o(a) santo(a )morto(a), depois de um ou dois milagres, fica , então, num estado ocioso, alheio às impetrações dos seus crédulos???!!!

Isto é, faz um ou dois milagres e depois fica parado toda a vida, digo toda a morte…

  1. E o miraculado, depois, viverá para sempre?! Não voltará a ter a mesma doença ou outra, de que morrerá?!… E o taumaturgo não poderá aplicar um segundo resgate, digo um segundo milagre ao mesmo doente?!

Que atitude tão desprezível, por parte desta divinofauna defunteira, essencialmente tida como bondosa e misericordiosa!…

  • Se a Medicina não consegue explicar tudo o que acontece no nosso corpo, incluindo aparecimentos e desaparecimentos de doenças, por que é que se atribuem os desaparecimentos inexplicáveis de doenças a não menos inexplicáveis forças divinais???!!!

Será que o que não é explicado pela ciência, é explicável pela Igreja católica?! E apenas por esta?! E as outras religiões e igrejas?!

Para quando milagres de alto impacto ambiental, como a regeneração de mãos e pés, braços e pernas… amputados???!!!…

…Capazes de convencerem os próprios ateus…

27 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Homilia de Frei Bento

Por

Frei Bento

(Epístola com pedido de publicação)

Caríssimos irmãos em Cristo, permiti que eu vos fale, hoje, da Eucaristia, a.k.a. Comunhão. Como sabeis, e se não sabeis devíeis saber, a Eucaristia simboliza e perpetua a Última Ceia de Nosso Senhor. De acordo com os evangelhos, a Ceia foi constituída apenas por pão e por vinho, o que não lembra nem a um penico, por muito sujo que esteja. Não faz o menor sentido treze marmanjos alaparem-se a uma mesa para a ceia sabendo-se, ainda para mais, que era a última, não faz o menor sentido, dizia eu, tratarem de apenas comer pão e beber vinho. Apenas.

Apenas? Não!

Aquando das escavações para as fundações do que viria a ser, posteriormente, a nossa Abadia, foram encontrados documentos que a própria Ciência, com quem estamos de costas voltadas desde aquela cena de a Terra andar à volta do Sol, pois bem, a própria Ciência, contra o seu costume, considerou tais documentos como autênticos – e não me refiro, naturalmente, aos cientistas que analisaram o Santo Sudário, refiro-me a cientistas MESMO. Tais documentos afirmam, sem margem para dúvidas, que a Ceia de Nosso Senhor não consistiu nos triviais pão e vinho. A ementa era farta, posso garantir, embora a ética religiosa me impeça de divulgar o menu. Quem sou eu, ou quem somos nós, frades Neo-Goliardos, para desmentir os Evangelhos, por muitas dúvidas que estes possam suscitar? Posso, no entanto, garantir que da ementa não faziam parte nem as tapas de presunto nem os camarões “al ajillo”. Por razões biblicamente compreensíveis.

Pois bem, rezam, literalmente, os documentos em poder da nossa Abadia, que, depois de todos bem comidos e melhor bebidos, Jesus se levantou para fazer um brinde, habitual naquelas e em similares circunstâncias. Mas Jesus era, e continua a ser, Filho de Deus. Filho e Pai, mas isso fica para outra ocasião. Pois bem, Jesus entendeu, e eu vou-lhe ao entendimento, que deveria fazer um brinde diferente. Nada do corriqueiro “Et fosses, et esgharabet et bitta tu”, nada disso. Daí que, pegando no pão que ainda estava na mesa, e que não seria descontado na conta, porque tendo vindo para a mesa tinha de ser pago mesmo que não consumido, distribuiu-o por entre os comensais e disse: “Tomai e comei, já que tenho de o pagar.”, embora neste ponto haja divergências quanto ao sentido de “tenho de o pagar”. Por exemplo, o nosso irmão Hermeneuta entendia que devia ser traduzido por “isto é o meu corpo”, mas o Abade de Priscos, nosso superior hierárquico, afirma que a tradução literal é “isto sai-me do corpo”, já que quem convida é que paga e Judas, que era a Maria Luís da época, garantia que havia almofada financeira para o evento, mas sem descurar a austeridade. “Nihil sub sole novum”, como se depreende. Os documentos falam, também, num episódio parecido, mas envolvendo vinho, só que, entretanto, já ninguém estava em condições de dizer, e muito menos escrever, fosse o que fosse. O que aparece escrito já é passível de muitas especulações.

Ora, e é aqui que eu quero chegar, a Igreja Católica decidiu-se pela apropriação da tradução do nosso irmão Hermeneuta, que Deus tenha em eterno descanso. E como se não bastasse, ainda tiveram a lata de garantir uma coisa que nunca foi minimamente provada, que é essa merda – Deus me perdoe! – da transubstanciação. Ou seja, uma rodela de farinha amassada com água dá direito a garantir que aquilo é o corpo e sangue de Cristo. E toda a gente – os que comem aquela mistela – nem se apercebem de que estão a praticar canibalismo. Antropofagia, que é pior! E o ministério público mudo e quedo. Porque se a antropofagia não é considerada crime, acho eu, já o mesmo não se pode dizer da profanação de cadáver. Quer dizer: andam há quase dois mil anos a comer Cristo, e ninguém mexe uma palha, ninguém faz a ponta de um corno!

Caríssimos irmãos em Cristo, a Eucaristia é um acto simbólico. É uma forma de os crentes “confraternizarem” com Jesus, e nada tem a ver com o comer-lhe o corpo às rodelas, já que o “sangue” é bebido pelos vampiros sacerdotes. Nós, na nossa Abadia, praticamos, naturalmente, a sagrada Eucaristia. Distribuímos pão ázimo, que mandamos vir diariamente da comunidade judaica de Belmonte e, contrariamente ao que se pratica na Igreja Católica, damos a beber aos crentes, vinho. Poiares maduro, colheita de 1967, para que conste! Aos menores de 16 anos (18, a partir de Julho) damos a escolher entre sumos ou Coca-cola. É uma cerimónia bonita, que se desenrola ao som de “In Taberna Quando Sumos”, entoada pelo nosso grupo coral.

Por isso, irmãos: se quereis participar numa eucaristia CDS (Como Deve Ser), vinde até nós.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

25 de Junho, 2015 Carlos Esperança

As religiões e o proselitismo

Nada tenho contra os crentes e tudo contra as crenças, sobretudo quando os fiéis querem impor aos outros a sua fé e, muito especialmente, se recorrem à violência.

O ateísmo também merece igual censura se for sectário e violento. As guerras santas são devastadoras e a Europa tem longa tradição nesse desvario. Por mais que a componente económica influencie os conflitos, é o ódio religioso que aparece como o mais violento detonador de guerras.

Que raio de deuses inventaram os homens que precisam de religiões como agências de promoção e instrumento de coação?

A laicidade é a vacina que interessa a crentes de todas as religiões não dominantes, no espaço em que se inserem, bem como a todos os não crentes, e não pode ser descurada.

É tão perverso um Estado ateu como um confessional. O Estado deve ser neutro e evitar intrometer-se na vida das associações cuja liberdade lhe cabe respeitar e defender. Só o código penal deve limitar a demência do proselitismo e a violência dos prosélitos.

Não posso deixar de recordar Voltaire no leito da morte, a quem, como era hábito, para terem o troféu «converteu-se na hora da morte», pretendiam que «negasse o Diabo», ao que respondeu com fina ironia: «Não é o momento apropriado para criar inimigos».

Mais sarcástico, Christopher Hitchens, influente escritor e jornalista britânico, autor do livro «Deus não é grande», quando soube que, na sequência do cancro que o consumia, se faziam apostas na NET sobre se se converteria antes de morrer, declarou: «se me converter é porque acho preferível que morra um crente do que um ateu».

23 de Junho, 2015 Carlos Esperança

E os homens criaram deus…

Quando os homens criaram Deus, era o medo do desconhecido, a ignorância da ciência, a dor sem remédio, a doença sem cura, as epidemias sem explicação, a imaginar um ser, à sua imagem e semelhança, capaz de os proteger em troca do pior de que eram capazes.

Sacrificaram-lhe filhos, animais e bem-estar. Criaram exigências tolas para satisfazer o mito e foram infelizes na parva ilusão de que fariam feliz o imaginado carrasco.

A ignorância foi sendo vencida e o medo, a mãe de todos os medos, o medo da morte, é a derradeira justificação para o ser hipotético que continua a exigir que os homens se lhe ajoelhem como se tal indignidade fosse a forma de honrar quem quer que seja.

As religiões são multinacionais organizadas em torno da fé e detonadoras de ódios que todos os totalitarismos destilam. Têm funcionários e torturadores amestrados.

O Diabo é a antítese dialética da mais infeliz das criações humanas. O homem é o único animal que reza e nenhum outro se sujeita a atos ridículos de adoração.

Será a religião necessária? As necessidades criam-se. Bom proveito aos crentes mas não queiram que o deus de cada um de vós seja o algoz de todos e cada um de nós.

22 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Crucifixo assassino

Em Cerdeña, Itália, em junho de 2005, uma mulher que assistia à missa em honra do patrono local, S. Lourenço, morreu ao cair-lhe em cima um crucifixo acompanhado de um pedaço da cornija da igreja.

A vítima, de 38 anos, assistia à missa com os seus dois filhos, um de nove anos e outro de ano e meio, quando o crucifixo a atingiu bruscamente.

Dada a afluência de fiéis, a malograda devota assistia à missa no exterior do templo, como muitas outras pessoas, quando parte da cornija e o crucifixo se soltaram da fachada, provocando-lhe morte instantânea.

19 de Junho, 2015 Carlos Esperança

As mutações de Deus

Enquanto o reino animal, ao longo da história, sofreu alterações genéticas que melhoraram as espécies e transformaram o género humano em seres cada vez mais evoluídos, Deus sofreu mutações que o fizeram regredir e o tornaram pior.

As mutações divinas que empobreceram o produto original foram introduzidas pelos charlatães que fabricam Deus, sem terem em conta os benefícios das clientelas, olhando aos seus interesses exclusivos.

O Islão clonou o Deus judaico-cristão, sem conhecer a cultura helénica nem o direito romano. Produziu um aborto que o profeta Maomé, analfabeto e rude, converteu num perigoso inimigo da humanidade e em violento fator de retrocesso civilizacional.

Para piorar as coisas, Deus, per se um produto defeituoso, ficou nas mãos dos clérigos cujo poder e importância dependem da subserviência dos fiéis, da autoridade que conseguem impor e do terror que infundem.

É este o dilema da civilização: ou afasta o clero do poder ou perde os homens para a modernidade, a democracia e o progresso. Deus está a mais num processo de transformação social. É um elemento perturbador da felicidade humana.

18 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Aniversário da morte de um ateu

 

No 5.º aniversário da morte do maior ficcionista português de todos os tempos, o Nobel do nosso orgulho e contentamento:

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