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Autor: Ricardo Alves

4 de Novembro, 2011 Ricardo Alves

Irlanda fecha embaixada no Vaticano

Num ano marcado por relações muito tensas com a ICAR, que decorrem das revelações do encobrimento, pela hierarquia católica, de crimes de abuso sexual de menores, a Irlanda decidiu fechar a sua embaixada no Vaticano. Não é um corte de relações diplomáticas, e alegadamente não é consequência da crise diplomática que já levou o Vaticano a chamar o núncio papal em Dublin. A decisão é apresentada, isso sim, como um esforço de contenção de gastos num país severamente atingido pela crise financeira. Cita-se como razão a falta de interesse económico  em ter duas embaixadas em Roma. Mas é uma estalada evidente: um arcebispo irlandês fala mesmo em «profunda desilusão» e «pouca consideração pelo importante papel desenvolvido pela Santa Sé nas relações internacionais».

O governo português poderia pegar na ideia…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

2 de Novembro, 2011 Ricardo Alves

A besta islamista voltou a atacar

A redacção do jornal Charlie Hebdo foi incendiada esta madrugada, aparentemente com um cocktail molotov. A razão é óbvia: o jornal satírico francês lança hoje nas ruas uma edição (capa aqui ao lado) destinada a assinalar a vitória dos islamistas do Ennahda na Tunísia e o anúncio pelo CNT de que as leis líbias se basearão na chária. A edição apresenta o título «Charia Hebdo» e um novo editor: «Maomé» (lui-même). A redacção ficou totalmente destruída.

A sátira e o riso são tão importantes para o meu ateísmo como o ajoelhamento e a prece o são para os religiosos. Se os muçulmanos e os católicos não entendem assim, eu explico melhor: atacar o Charlie Hebdo é como pôr uma bomba em Meca ou em Fátima. Ou melhor ainda: na Europa, o anticlericalismo é um direito. Pôr bombas por causa de umas caricaturas é próprio de bestas que se levam demasiadamente a sério. Ou de fascistas (neste caso, da variante islamofascista). Se não gostam de rir, vão rezar. 
P.S. Agradeço aos leitores que informem na caixa de comentários da localização de alguns dos quiosques e papelarias que vendem o Charlie Hebdo para que todos possamos, em solidariedade, adquirir um exemplar (ou mais…).
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
7 de Outubro, 2011 Ricardo Alves

Cinco mil só nos sonhos dela

Esther Mucznick diz que há cinco mil judeus em Portugal. Ena tantos. Curiosamente, os censos de 2001 nem mil e oitocentos encontraram. E a senhora Mucznick e os seus amigos têm quatro locais de culto em Portugal, dois dos quais nem vinte pessoas devem albergar em dias de festa. Enfim: aldrabices grosseiras como esta passam por verdade num jornal de referência.

3 de Outubro, 2011 Ricardo Alves

«Religião, porquê?» (Manuel Souto Teixeira)

Amanhã, 4 de Outubro, às 19 horas e 30 minutos, estarei no bar do teatro «A Barraca» (Largo de Santos, 2, Lisboa, ver mapa) para apresentar o livro «Religião, porquê? – Introdução a um problema», de Manuel Souto Teixeira.
Trata-se de um livro que aborda, principalmente, a história da religião na Europa ao longo dos últimos dois mil anos, de uma perspectiva não religiosa, irónica e sistemática.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
24 de Setembro, 2011 Ricardo Alves

Milhares em protesto contra Ratzinger

Milhares de pessoas protestaram em Berlim contra a visita de B-16, com o slogan «nenhum poder aos dogmas». Podem ver a reportagem da manifestação aqui, e fotografias aqui. Ratzinger, a cada país europeu que visita, chama multidões que protestam contra a influência indevida que a ICAR tem nas sociedades. Quem se recorda de Wojtyla não pode deixar de reparar que o ambiente em volta do catolicismo está a mudar radicalmente.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

5 de Setembro, 2011 Ricardo Alves

Irlanda: fim do «segredo de confissão»?

O ministro da Justiça irlandês prometeu publicamente passar uma lei obrigando os sacerdotes católicos a denunciarem qualquer crime de abuso sexual de menores, mesmo que o tenham conhecido durante a «confissão» católica. Esta decisão drástica acontece no contexto do escândalo da pedofilia clerical na Irlanda, o qual já suscitou ao Primeiro Ministro do mais católico dos países da Europa ocidental um discurso tão laicista que nenhum Primeiro Ministro português depois de Afonso Costa ousaria fazê-lo. A gravidade das acusações de encobrimento nesse discurso do PM irlandês levou mesmo a Santa Sé a chamar o seu representante diplomático em Dublin. No sábado, a Santa Sé tentou aliviar a consciência rebatendo as acusações das autoridades civis irlandesas, apesar das comprovadas mentiras de pelo menos um bispo.
Historicamente, a Irlanda nunca conheceu o anticlericalismo. Do colonialismo inglês à actualidade, nunca republicanos, bolcheviques ou outros desafiaram o poder da igreja mais popular, a grande aliada da luta contra os ocupantes anglicanos. O que está a acontecer este ano poderá mudar tudo.

Recorde-se que em Portugal está em vigor uma Concordata, assinada em 2004, que garante no seu artigo 5º que «os eclesiásticos não podem ser perguntados pelos magistrados ou outras autoridades sobre factos e coisas de que tenham tido conhecimento por motivo do seu ministério». Ou seja, teoricamente, mesmo que inquiridos em Tribunal podem não denunciar crimes de que tenham tido conhecimento. Os pais que entregam os seus filhos a instituições católicas que interroguem a sua consciência.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
24 de Agosto, 2011 Ricardo Alves

A separação final

Joseph Ratzinger chefia uma Igreja que é um estado. Em visita a Espanha ou Portugal, explora oportunamente essa duplicidade: enquanto último monarca absoluto da Europa, é recebido pelas autoridades estatais; enquanto líder religioso, opina sobre política interna (da contracepção ao suicídio assistido e ao casamento civil) – o que jamais seria tolerado a outro chefe de Estado estrangeiro.

Respeito inteiramente o direito de Ratzinger de se dirigir àqueles que o reconhecem como Papa, ou valorizam as suas orientações. Mas noto que só quando a Santa Sé deixar de ser reconhecida como Estado se resolverá a questão da separação entre política e religião nos países que foram católicos. Ao contrário do Irão, da Arábia Saudita ou da Coreia do Norte (onde num dia desejavelmente próximo as burocracias dogmáticas locais, clericais ou estalinistas, serão derrubadas pelos respectivos povos), o Vaticano moderno, que deve a sua definição territorial a Mussolini, não tem povo próprio. O último estado da Europa sem separação de poderes, e o único do mundo sem maternidade, intervém na Assembleia Geral da ONU como tal, embora represente sempre uma religião e não um povo.

A laicidade só será plena nos países latinos quando a ICAR for apenas uma instituição da sociedade civil. Como o são as outras comunidades religiosas em Portugal, sem que isso todavia diminua a sua liberdade.

(A minha terceira crónica no i.)