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Carlos Esperança

3 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Beatificações e canonizações

Vaticano beatifica hoje Carlos I da Áustria, o Santo Imperador

As beatificações e canonizações são a doença senil deste pontificado. Carlos I, o último imperador dos Habsburgos austríacos – Carlos IV, entre os reis da Hungria – teve um milagre reconhecido pelo Vaticano e vai ser hoje beatificado.

Aos 34 anos Deus, por gostar tanto dele, chamou-o à sua divina presença, quando se encontrava na Madeira exilado, depois de ter sido obrigado a abdicar, após a queda do império austro-húngaro, altura em que Deus não lhe valeu.

Nos dez anos de vida matrimonial a mulher, Princesa Zita de Borbone-Parma, teve oito filhos, motivo suficiente para Deus se ter condoído da desgraçada e enviado uma «gripe com localização bronco-pulmomar» ao perigoso reprodutor.

« O milagre aprovado pela Santa Sé é referente a um facto ocorrido com uma religiosa polaca, a Irmã Maria Zita Gradowska, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Em 1944, com 50 anos, foi atingida por uma tromboflebite na perna direita. Dez anos depois o mesmo episódio aconteceu na perna esquerda. As dores impediam qualquer movimento. Nos últimos dias de Dezembro de 1960, a Irmã, aconselhada por uma outra religiosa a fazer uma novena pedindo a cura, invocou o Servo de Deus Carlos de Áustria. Depois de algumas horas de sono acordou sem dores e foi sozinha para a capela rezar com as outras irmãs. A ferida sarou, começou a andar, e até ao fim da sua vida em 1989, não sofreu mais nenhuma dor, morrendo com 95 anos».

O novo beato mereceu a distinção por vários motivos:

1 – Estava morto na Madeira e fez o milagre na Polónia;

2 – Fez o milagre na pátria do Papa e numa freira;

3 – O milagre durou quase 29 anos;

Claro que Deus,se regulasse bem da cabeça, escusava de ter mandado a doença à freira. Era mais fácil do que curá-la. E se o Papa não estivesse senil talvez não fizesse dos católicos parvos. JP2 está a precisar de um milagre para si.

1 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A ICAR mente

Sob o título «Crer em Deus continua a ser motivo de perseguição e morte» o Diário de Notícias de hoje, em artigo de Licínio Lima, refere um relatório da ICAR «dando conta que nos quatro cantos do mundo ainda se assiste a perseguições e mortes por motivos confessionais». Sendo verdade, trata-se de uma mistificação. Não é a crença em Deus que atrai a perseguição, é a crença num deus concorrente. Não é a fé que se persegue, é a liberdade. É, de facto, como sempre foi, uma manifestação da vocação totalitária das religiões que não toleram a diferença. Todas têm um deus verdadeiro e a obrigação de erradicar os falsos ídolos. Converter os que andam errados à verdadeira fé é o desígnio dos crentes que aspiram ao Paraíso. Quando estão em minoria são subservientes e hipócritas, quando se tornam maioria transformam-se em autoritários e violentos. Esse é o problema que a laicidade do Estado atenua e a apostasia resolve.

A história da ICAR confunde-se com a actualização permanente das mentiras que mais lhe convêm. A sua técnica é minimizar e branquear os factos que a comprometem e exaltar e sublinhar os que mais a glorificam.

Constantino enjeitou dezenas de evangelhos e seleccionou os quatro mais úteis e menos contraditórios que, após sucessivos aperfeiçoamentos e piedosas falsificações, se transformaram em livros sagrados, mas o tempo encarregou-se de os tornar obsoletos. As recomendações anacrónicas e violentas podem continuar a reflectir a vontade de Deus mas deixaram de entusiasmar as pessoas de mente sã. O paradigma da civilização que floresceu em países cristãos, tantas vezes em conflito aberto com a vontade divina, afastou-se da Bíblia. É por isso que até o clero repudia hoje, em nome da civilização, o que devia defender em nome da ortodoxia.

A ICAR, ao recusar o progresso e a justiça, ao exaltar o sofrimento e glorificar a morte, ao aliar-se às ditaduras contra a democracia, alienou sistematicamente quem se revê nos ideais da Revolução Francesa que tão ferozmente combateu e que, mais de dois séculos depois, ainda deplora.

Enquanto os livres-pensadores buscam os caminhos da paz e da liberdade, a ICAR não desiste de transformar o mundo num bando de beatos, tímidos e idiotas, prontos a derramar o sangue por um Deus cruel. As religiões – todas as religiões – precisam de uma revisão que lhes reduza o consumo de sangue por cada 100 anos de história percorridos. Melhor ainda era declararem falência e fecharem os estabelecimentos. Basta de tanta amargura em nome de um deus sanguinário.

Os ateus amam a vida e buscam a felicidade, os crentes adoram a morte e exaltam o sofrimento. Talvez por isso, a ICAR é muito lesta a reivindicar mártires e demasiado lenta a reconhecer as suas vítimas.

29 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Fátima – mealheiro do Vaticano

O supermercado mais lucrativo da fé católica, em Portugal, é objecto da cobiça do Vaticano.

Foi nos laboratórios da ICAR que se fabricaram os dois milagres necessários à canonização dos pastorinhos, cerimónia que está para breve, segundo confidenciaram ao Diário dos Ateus fontes bem relacionadas com a divina providência e a santa madre igreja, isto é, beatos mais fanáticos que João César das Neves.

O primeiro milagre, na área da locomoção, foi obrado na pessoa da D. Emília que morreu a seguir mas a andar na perfeição. O segundo realizou-se na área da endocrinologia – a cura de uma criança com diabetes – milagre tentado pela mãe que a trouxe a Fátima mas sem sucesso. O milagre acabou por acontecer em casa, na Suíça, graças a uma corrida de joelhos à volta do televisor, enquanto em Fátima JP2 procedia a uma bênção com a qualidade apurada em muitos anos de experiência.

Acontece que a fé não obra apenas milagres e deixa resíduos entre os quais um subproduto muito apreciado – dinheiro. É por isso que o Vaticano – segundo informações do Correio da Manhã – pretende explorar o santuário por administração directa. Assim, em vez da comissão a que tem direito, passa a dar uma percentagem reduzida ao santuário e à diocese.

Serve de pretexto às alterações na área comercial a gestão demasiado liberal do actual bispo de Leiria que deixou rezar em Fátima (sem cobrar emolumentos) o Dalai Lama, primeiro, e um sacerdote hindu, depois.

A idade avançada de Monsenhor Luciano Guerra, reitor do santuário, e a do bispo de Leiria, D. Serafim Ferreira e Silva, também servem os desígnios do Vaticano que já nomeará os novos encarregados comerciais sem os benefícios concedidos desde o tempo em que ainda não estava assegurado o êxito comercial de Fátima nem a vitória sobre o comunismo.

O fim do comunismo deve-se à consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria, uma terapêutica preconizada pela Virgem, que visitou o local várias vezes, conversou com a Lúcia e pôs milhares de portuguesas a deixarem esturrar a comida enquanto rezavam o terço a seu pedido.

27 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

O erro de J. César das Neves

João César das Neves (JCN) regressou às homilias da segunda-feira, no Diário de Notícias. Deixa o Domingo para os padres, muito mais cépticos quanto à existência de Deus, e reserva o dia seguinte para a sua catequização. Que pecados o atormentam ou que misticismo o devora para se dedicar ao proselitismo e querer convencer os incréus da existência do seu Deus?

Que JCN acredite em Deus e na Senhora de Fátima, que exulte com as aparições e se exalte com os milagres, que se comova com o martírio do seu Deus e acredite na virtude da sua Igreja é um direito que encontra em mim um denodado defensor. Mas que queira converter os outros à sua fé, sujeitá-los aos humores do seu Deus, amarrá-los às imposições da sua Igreja, assustá-los com o Inferno, convencê-los das superstições e condená-los à moral importada da Cúria Romana, é um exagero que se desculpa num devoto mas um despautério que arrepia num universitário.

JCN amofinou-se com a afirmação do cientista António Damásio que considera as religiões criações dos homens. Já Dante, na Divina Comédia, quando os homens se queixaram aos deuses, com voz triste, por tê-los criado, pôs os deuses, com voz ainda mais triste, a responderem: «homens para que nos criastes»?

Para contestar o Prof. Damásio, JCN argumenta com o facto de metade da população mundial acreditar numa das três religiões do livro e, se lhe juntar os crentes das outras religiões, apenas 20% não são crentes. E conclui em êxtase místico: «Mostrar com toda a certeza científica, que 80% da Humanidade está errada seria um feito sublime na história do conhecimento». Nem se lembrou de que esse feito foi cometido por Galileu para quase 100% da Humanidade, embora com os dissabores conhecidos.

Tempos houve que mais de 80% acreditavam que o Sol girava à volta da Terra e que esta era plana. Estou de acordo com JCN que foi um feito sublime – e perigoso – provar (nestes casos com percentagem bem maior) que 80% da Humanidade estava errada. E era Deus quem revelava uma atroz ignorância.

Com o seu argumento JCN concluiu – e bem – que a ignorância é a melhor prova da existência de Deus, embora não fosse essa a sua piedosa intenção.

26 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

A ICAR e os acidentes de trabalho

O padre católico de Alkemade (pequena aldeia a 30 km. de Haia) foi condenado em 1997 a um ano e meio de prisão por abuso sexual continuado de uma rapariga de 12 anos. A indemnização de 56.800 euros, reclamada pelos pais da vítima, que certamente recusaram o pagamento em indulgências, foi prontamente paga pela ICAR, para evitar um caso em tribunal e confiante de que a Companhia de Seguros Aegon, a ressarcisse da preciosa quantia, necessária à propagação da fé.

A Seguradora alega nunca ter sido sua intenção pagar indemnizações por semelhantes acidentes, mas tem contra si o facto de em 2001 ter redefinido as condições da apólice e excluído explicitamente o abuso sexual. Por sua vez a ICAR alega – e bem – que o contacto sexual indesejado ocorreu antes de 2001 e deve ser encarado como um «acidente de trabalho», pois teve lugar «durante o horário de trabalho» e «no local de trabalho».

Apostila 1 – A sentença sobre a responsabilidade da Companhia de Seguros no acidente de trabalho está prevista para Outubro.

Apostila 2 – O padre acidentado foi despedido pelo bispo de Roterdão e, após cumprir a pena, regressou discretamente ao ramo, sob os auspícios da fundação Hulp en Recht («Socorro e Justiça»), uma organização ligada à ICAR e que dá apoio às vítimas de abuso sexual cometido pelo clero católico.

Apostila 3 – Os antigos paroquianos ficaram estupefactos ao vê-lo na televisão, um ano após a saída da prisão, como acompanhante de coros religiosos do centro da Holanda.

Apostila 4 – Na sequência dos protestos, o padre foi proibido… de ir à televisão.

Fonte: Revista Única – Expresso n.º 1665 de 25-09-2004 pg. 18.

24 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Igreja Ortodoxa



Um clérigo a olear a fé para iluminar os caminhos do seu Senhor.

22 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

O crucifixo mata

A partir do séc. III, em que os peixes começaram a ser substituídos como símbolo do cristianismo, o crucifixo passou a ser mais do que um simples instrumento de tortura onde supostamente Cristo morreu, para se tornar uma ameaça a quem recusasse a conversão.

Crucifixos há-os de todos os tamanhos e feitios. Estão no cimo dos montes e nas torres dos campanários para lembrarem o poder da ICAR. Povoam os cemitérios e os sítios onde ocorreram óbitos para lugubremente aterrorizarem os vivos. Servem para espantar o demo e são o instrumento de trabalho para o laborioso clero cristão que se dedica à evangelização. Aparece em brincos como adorno ou dependurado ao pescoço a seguir as delícias de um decote. Os padres dizem que o crucifixo salva. A história mostra que oprime. A notícia que divulgo prova que mata.

Mulher morre ao ser atingida por crucifixo no sul da Itália

«Um mulher morreu nesta quarta-feira depois de ser atingida na cabeça por um crucifixo de dois metros, que caiu de um monumento que estava sendo restaurado. Maddalena Camillo, 72, caminhava no principal quarteirão do vilarejo de Sant’Onofrio, região da Calábria, a cerca de 600 km da capital Roma, quando o crucifixo se soltou e caiu sobre sua cabeça, matando-a na hora».

22 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Açores – Eleições Regionais.

O bispo dos Açores apelou ao voto nas eleições regionais através de uma Nota Pastoral – uma espécie de edital que os bispos elaboram para ser lido nas paróquias e distribuído à clientela -, que reflecte o pensamento do prelado.

Da prelecção de D. António Sousa Braga destaco duas afirmações:

1 – «votar é uma obrigação tão séria, como ir à Missa ao Domingo»

RE: Devia ter mais respeito pelas eleições.

2 – «uma consciência cristã bem formada não pode favorecer, com o seu voto, a realização de um programa político, em que os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos».

RE: Aqui está o veneno, servido sub-repticiamente, para encaminhar o voto para os partidos que se identifiquem com o carácter retrógrado da ICAR.