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Carlos Esperança

21 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Ecumenismo

O ecumenismo de que o Vaticano se reclama não é mais do que um golpe publicitário para a hegemonia que procura, a tentativa de reunir forças para liderar a cruzada contra o ateísmo e a laicidade.

Não há ideologia mais odiada do que o ateísmo nem postura que mais descontrole o clero que a indiferença perante os dogmas e as sotainas.

As três regiões do livro são idênticas na sua intolerância, no ódio à liberdade e ao livre pensamento, na obsessão prosélita e na presunção de que cada uma é a verdadeira.

As sociedades ocidentais, na sua luta pela liberdade e emancipação, limaram as garras eclesiásticas, contiveram a prepotência religiosa e empurraram o Papa para o Vaticano.

Os protestantes, após as guerras da reforma e contra-reforma, em que o ódio cristão explodiu em torrentes de sangue, foram-se reduzindo à liturgia e à oração e perderam o fervor que agora regressa impetuosamente através de seitas cada vez mais agressivas.

O islão, inculto e radical, misógino e beato, impõe cinco orações diárias, o poder do clero e uma legião de dementes submissos às crueldades do Corão – um livro execrável que apela em quase todas as páginas à destruição dos infiéis, da sua religião, cultura e civilização, assim como dos cristão e judeus, em nome de um Deus misericordioso.

Os islamistas não são piores do que os cristãos ou os judeus, apenas se mantêm na Idade Média, com maior medo dos parasitas que pregam nas mesquitas do que do Deus que está no Paraíso com 70 virgens e rios de mel à sua espera.

A tragédia da humanidade não está nos crentes, está na droga das religiões e nos charlatães que as promovem e impõem.

17 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O comércio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar particularmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre Eterno.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por baptizar, pois sabe-se de ciência certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não baptizados têm como destino o Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como os que o Deus de Abraão criou como destino dos bem-aventurados ou das almas penadas.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contracepção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozóide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação nocturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados de tratar das almas e olhar pelo negócio, andam estarrecidos com a possibilidade do fim da perseguição criminal ás mulheres que interrompam a gravidez.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e os louvores ao Deus da zona de residência.

15 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Vitória contra o terrorismo

Numa notável operação a polícia holandesa desarticulou e prendeu um grupo de crentes que ansiavam por rios de mel e dezenas de virgens através da violência, do terrorismo e de assassinatos.

Os facínoras de Alá, habituados a exibir o traseiro em sentido contrário a Meca, queriam agradar a Deus lançando o pânico, a destruição e a morte.

A polícia, pouco dada à oração e indiferente ao destino da alma, apanhou os díscolos e enviou-os a tribunal.

Não foi apenas um bando de assassinos, comprometidos na morte de Theo van Gogh, que a polícia arrecadou, foi um grupo de crentes cuja fé está de acordo com o Corão, uma cáfila de beatos, uma associação de malfeitores que, por amor a Deus, odeiam a humanidade.

A fé é a fonte do terrorismo que urge vigiar. As três religiões do livro são o instrumento perturbador da paz, o alimento demencial de devotos para quem o crime é uma oração, rezada à bomba, e o sangue um sacrifício que oferecem ao divino.

As religiões não são a terapêutica de coisa nenhuma, são a doença de todas as coisas.

14 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O Sínodo da ICAR

No Vaticano continua aquela orgia mística, em que participam 256 bispos e cardeais de 118 países, chamada sínodo.

Em três semanas de reclusão, sob o olhar indiferente de um Cristo com ar de passador de droga, rodeados de santos com aspecto demente e da Virgem parida e insatisfeita, 256 celibatários debitam trivialidades e convencimento. Têm a clientela a preservar, um livro estúpido a defender e rituais obsoletos a manter.

B16, guardião da fé e almocreve da tradição, pede a quadratura do círculo para que a atracção do circo se mantenha e o recrutamento de vendedores da fé se dinamize. Vão maus os tempos para quem não se adapta ao mercado.

Aparecem outros charlatães, mais ousados e divertidos, com músicas novas a tomar o lugar do cantochão, a coreografia e o bailado a substituir o ritual romano, milagres em directo e ao domicílio e a expulsão de demónios às mãos cheias.

Após três semanas de albergue e castidade, relatórios e orações, a massajar a próstata em cadeirões, persignando-se para esconjurar o demo, as 256 criaturas certificam que «nas sagradas espécies Jesus Cristo está real e substancialmente presente».

É a transubstanciação, um fenómeno alquímico que com farinha e água recria o corpo e o sangue de Jesus. E os beatos, convictos da endrómina, engolem a hóstia receosos de trincar um tendão, mastigar uma cartilagem, romper uma artéria, ferrar um canino no escroto ou triturarem uma víscera do divino JC com os molares.

Por tão pouco, foi desperdício a viagem ao Vaticano.

Claro que é sempre possível às excelências reverendíssimas levar numerário, trazer relíquias, e transformar pós da Colômbia em substâncias aromáticas para abastecer o turíbulo e disfarçar a alergia ao banho.

12 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Todos os dias 13

Hoje, milhares de peregrinos regaram a fé e os ossos a caminho da Cova da Iria. O Deus pusilânime e mesquinho mandou a água que faltou nos incêndios, arruinou as culturas e secou as nascentes.

Muitos rosários e dores de pés acompanharam os devotos até ao lugar onde monsenhor Luciano Guerra aguarda o óbolo em géneros e numerário e um bispo ou cardeal prepara a missa e a bênção e aguarda a comissão.

Há 88 anos, em Maio, o Sol fez ali piruetas enquanto a Virgem, com cio, roída de saudades do Espírito Santo, saltitava de azinheira em azinheira à procura de um pastor faminto. Saíram-lhe três fedelhos embrutecidos pelo padre e pelos pais, cheios de fome e missas, a recordar-lhe as fraldas e o olhar reprovador do carpinteiro.

Apanhada naquele ermo com o manto de luz, e nada por baixo, mandou-lhes fazer o que sabiam, rezar o terço, pedir a conversão da Rússia e, para disfarçar, disse tonteiras: «é preciso consagrar o mundo ao meu imaculado coração», «a guerra vai acabar» e «Deus anda muito zangado», como se o mau humor fosse culpa das crianças.

Pobres peregrinos, levam preces e fé e apanham gripes e desenganos. Chegam cansados e regressam benzidos e mal pagos às fábricas falidas do vale do Ave e às pobres courelas de Entre Douro e Minho.

É assim todos os dias 13, mercados mensais da fé cuja feira anual tem lugar em Maio e é preparada com milhares de velas e rosas, centenas de padres e freiras, bispos, cardeais e outros parasitas da fé em retiro espiritual ou viagem de negócios, a prometer o Paraíso e a ameaçar com o Inferno.

Às vezes, de Roma, chega o Papa a abanar a tiara e a adejar os paramentos. É o delírio.

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O latim está de volta

Quando refiro a morte de Deus os leitores facilmente descobrem que uso uma figura de estilo. Não morre o que nunca viveu, não desaparece o que não existe. Dizer que Zeus morreu ou que Vénus foi seduzida são metáforas.

De Deus nunca foi encontrado o cadáver, sentido o cheiro da decomposição, ou visto o mais leve despojo. Quantas relíquias a ICAR venderia a almas piedosas se a mais leve prova da sua existência fosse encontrada?!

Os crentes afligem-se com apelos lancinantes à paz e orações inúteis contra cataclismos que dilaceram a humanidade, reduzem cidades a escombros e matam milhões de pessoas que acreditam na bondade e protecção divinas.

E as dúvidas aumentam quando Bush revela que fala Com Deus e que as asneiras que faz não são da sua autoria mas da responsabilidade de quem considera Comandante do comandante-chefe das Forças Armadas do EUA.

De facto, por pior que seja, Bush não podia cometer tantos erros, provocar o caos, sem a ajuda de Deus que sempre teve propensão para escolher as piores companhias.

O sínodo que está reunido no Vaticano não deixará de avaliar o estado calamitoso em que se encontra o seu único produto – Deus -, a única fonte de rendimento e pretexto para o assalto ao poder em numerosos países.

As reverendíssimas criaturas chegaram à conclusão de que perderam a ligação a Deus.

Um cardeal que dormitava, após lauto almoço, admoestado por B16, terá dito que não dormia, pensava que Deus só sabia latim e, por isso, tinha deixado de ouvir os crentes.

Os cardeais, cansados das missas e de sínodo, deram-lhe razão. B16, retrógrado e hábil, aproveitou para enterrar o concílio Vaticano 2.º e pensa trazer de volta o latim às missas e a, pelo menos, uma oração.

Não interessa que os crentes não saibam o que dizem. O que é preciso é que Deus perceba.

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

As relíquias da santa

Os restos mortais são na nossa cultura objecto de respeito mas não de idolatria. Ninguém guarda um pêlo púbico da defunta consorte, o parafuso do colo do fémur da inefável sogra, o osso de um progenitor ou a cartilagem de um irmão. Nem, de um parente chegado, a unha com que procedia à higiene auricular.

Só a ICAR, na mórbida contemplação da morte, é capaz de forrar uma capela com ossos humanos, como acontece em Évora, sem sabermos se todos eram de cadáveres. Só a macabra paranóia eclesiástica é capaz de passear um dedo de Francisco Xavier pelas paróquias da Beira Alta, como eu vi na adolescência, sem certificado de garantia nem autorização do Delegado de Saúde.

Em Itália vários santos prepúcios, atribuídos a Cristo, disputaram a autenticidade até que os padres decidiram que JC não podia ter abandonado o sepulcro e emigrado para o Céu sem uma parte do corpo, passando a excomunhão a ser aplicada a quem tivesse o arrojo de falar desse pedaço de pele que os judeus amputam ritualmente.

Não sei que partes do cadáver ou peças do vestuário recôndito da Teresinha de Ávila, uma santa a quem os delírios hormonais exacerbaram os místicos, vai o clero expor à concupiscência e veneração dos fiéis portugueses nos próximos dias 7 a 9 de Dezembro na Guarda, Covilhã e Seia.

Há neste delírio esquizofrénico da Igreja católica, nesta obsessão mórbida por relíquias, uma estranha forma de proselitismo do clero a roçar a necrofilia.

7 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Os talibãs da ICAR

À semelhança do islão os sicários da ICAR andam ressabiados e vão a Roma tirar o curso de mujaidine para praticar a guerra santa contra os Governos que defendem a liberdade religiosa e a laicidade do Estado.

São tão cobardes como os talibãs e mais pérfidos. Usam a intriga em vez da bomba e a pressão social em vez do atentado, mas, se precisam de um braço homicida, escondem-se atrás do braço, sem deixar de proteger o autor. Há bispos croatas a abrigar assassinos reclamados pelo Tribunal Penal Internacional.

A assembleia geral da ICAR, convocada por B16 e denominada «sínodo» (concílio mais reduzido e curto), abriu no último Domingo, em ambiente crispado, com alusões ao Apocalipse e com o ditador vitalício a confrontar 256 bispos e cardeais de 118 países com a falta de padres e perda de clientela.

Os bispos presentes deverão pronunciar-se, durante três semanas, sobre a privação da eucaristia aos políticos católicos que apoiam o direito ao aborto e aos divorciados que voltem a contrair matrimónio sem anulação do anterior.

O tema central será a debilitada equipe de vendas, com défice de sacerdotes, devendo as reverendíssimas criaturas avaliar a eventual influência do celibato no recrutamento.

No fundo é uma reunião do estado-maior da ICAR para decidir a estratégia das batalhas a travar na guerra religiosa.

Adenda – O sínodo ainda foi convocado por JP2 e não por B16, como, por lapso, afirmei. A verdade acima de tudo. Para mentir bastam as religiões.

5 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Diário de Notícias de hoje

Uma viagem sobre os privilégios da ICAR e a forma como mantém a hegemonia.

Vários artigos com interesse e as posições de Luís Mateus, presidente da Associação República e Laicidade, do bispo Januário Torgal e do anacrónico cónego João Seabra, entre outros.

Por mim não havia Concordata

A importância de haver crucifixos nas escolas

Padres com monopólio na assistência religiosa oficial

«Sorriem mas nunca baixam a guarda»

Variações católicas sobre a tolerância

4 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Carta ao Diário as Beiras

Senhor Director,

Solicito que, com a habitual benevolência com que os meus textos são recebidos pelo «Diário as Beiras», autorize a publicação do que agora envio na sequência do artigo de António Rosado, de hoje.

Apresento-lhe os meus melhores cumprimentos.

Coimbra, 2005-10-04
Carlos Esperança

Organizado pelo Conselho da Cidade de Coimbra e Pro Urbe, em 27 de Setembro último, houve um debate público no Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra com os quatro candidatos autárquicos.

Perguntei publicamente, na qualidade de membro da Associação República e Laicidade, se os candidatos se comprometiam a arranjar um local condigno para os mortos que não fossem católicos, bem como um forno crematório para quem preferisse a incineração ao enterro.

Obtive a compreensão dos quatro candidatos e, para além do crematório que o Dr. Carlos Encarnação aproveitou para anunciar, foram unânimes em reconhecer a necessidade de um espaço condigno onde ateus, agnósticos e outros pudessem ser velados, sem imposição de símbolos religiosos.

No dossiê «Autárquicas» de 4 de Outubro, sob o título «A morte também é tema de campanha» leio, perplexo: «No bairro onde se situa o maior cemitério do concelho, foi reivindicada uma capela mortuária e prometido um forno crematório».

Faz falta uma capela mortuária numa cidade onde sobram catedrais, igrejas, capelas e outros pios locais onde jorra água benta e emana incenso?

Os que em vida tiveram uma pituitária alérgica ao cheiro das velas, tímpanos avessos às orações e olhos apáticos às sotainas, não têm direito a local digno, liberto de iconografia religiosa, onde os familiares e amigos estejam ao abrigo do latim e do cantochão?

É de um espaço neutro, liberto da omnipresença católica, que a cidade de Coimbra precisa. E foi isso que foi prometido.

Nem outra coisa é de esperar de quem exerce o poder num país laico, mesmo de quem acredita que a devoção abre as portas do Paraíso. É uma exigência cívica de respeito pela Constituição e pelos outros.