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  • 23 de Março, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Hoje é dia de Páscoa cá no burgo

A Páscoa é pelos motivos que um homem quiser. Os judeus celebram a saída do Egipto e os cristãos comemoram a ressurreição de Cristo. Com o tempo, perdem-se a memória do plágio e os motivos da festa.

Hoje é dia Páscoa – dia em que JC ressuscitou dos mortos, com quem esteve a estagiar. Depois andou por aí, como alguns políticos, visitou quem quis e foi visto pelos que acreditaram ou, melhor, pelos que acreditam que houve quem o visse.

Ontem, ainda o ícone da lenda cristã fazia de morto, já os pantagruélicos festins tinham lugar para gáudio da indústria da restauração. Hoje, com o número da ressurreição feito, está tudo fechado. Quis um sítio para tomar um café e não encontrei quem mo servisse.

Despregado do sinal mais onde se finou, JC estagiou num túmulo, como toda a gente, e, para animação do negócio pio a que deu origem, subiu ao Céu e sentou-se à mão direita de deus-pai, um troglodita de mau feitio cuja biografia vem, em toda a sua crueza, num livro pouco recomendável e de origem duvidosa – o Antigo Testamento.

Para mim, que há muito deixei de acreditar nas pias fantasias e elucubrações católicas, é-me indiferente que JC se tenha dedicado à carpintaria, para continuar o negócio de família, ou se tenha afeiçoado à pregação e aos milagres, ao tempo o mais promissor segmento do sector terciário de uma economia rudimentar.

O que me dói, independentemente dos laivos politeístas da ICAR, com um deus-pai, o deus-filho, a mãe do filho, a pomba e muitos outros filhos da mãe cujos cadáveres eleva à condição de santos, o que me dói – dizia –, é não ter um sítio para tomar café.

Se a Páscoa da Ressurreição servisse para fazer o número de um morto que se cansa da posição, dá uns passeios e emigra para o Céu, mas não fechassem os Cafés, eu não estaria aqui a amaldiçoar a beata gazeta dos industriais da restauração.

Aprecio mais um bom café do que uma ressurreição bem feita.