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  • 4 de Setembro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Os fogos da nossa incúria

Anuncia-se chuva para os próximos dias. A ela incumbirá levar a terra que resta nas serras áridas onde a vegetação incandescente consumiu seis bombeiros, quase 100 mil hectares de flora, e dizimou os animais selvagens que a povoavam com outros que eram o sustento de famílias.

Os coelhos começaram a morrer primeiro, vítimas de uma doença que os vai dizimando e de que não se ouve falar. As perdizes foram apanhadas por entre labaredas, cansadas, a correr para a fogueira. Os químicos invadem o chão cada vez mais árido e o oxigénio que esperávamos da floresta perdeu-se na impossibilidade da fotossíntese e aumenta o dióxido de carbono.

Nas aldeias, gente sofrida, olhava para o céu e dele não veio ajuda. As novenas ainda não começaram mas, com ou sem elas, a chuva virá. Só os campos ficam vazios, como vazias ficam as pessoas a remoer a sorte, desanimadas, em sítios perigosos onde perdem o sustento e a vontade de viver.

Não há bombeiros que cheguem para tanto incêndio. A nossa incúria é pior do que a inclemência do tempo e o desvario dos pirómanos.

Imaginem que Deus existia. Deixá-lo-íamos à solta nos lugares que o fogo fustiga para saber que só os homens conseguem ainda fazer-lhe frente.