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  • 3 de Junho, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

Da Galiza a Hakkari, dos bispos espanhóis aos mullahs turcos

 

Da Galiza, situada na ponta noroeste da Europa, até Hakkari, a província do extremo da Turquia, no sudeste da Anatólia, o proselitismo religioso percorre a Europa e a Ásia na sanha demente contra a modernidade e os direitos humanos.

 

A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) insiste no desmantelamento da legislação do PSOE sobre o direito de família. O casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito à adoção, a Interrupção Voluntária da Gravidez e o divórcio estão em risco de alterações profundas. Os avanços legislativos esbarram nas sotainas, com os báculos brandidos por bispos onde brilha mais a mitra que ostentam do que a cabeça que a suporta.

 

O franquismo regressa através dos infiltrados no PP com os aliados de sempre, bispos que não desistem de expor o anelão ao ósculo subserviente de devotos e reacionários.

 

Na Turquia, perante a indulgência dos países democráticos, o PM, Tayyip Erdoğan, vai corroendo a herança de Kemal Atatürk. O estado secular, sem religião oficial, com uma constituição que consagra a liberdade religiosa e de consciência, altera-se. A “república constitucional democrática, secular e unitária” está refém do PM e dos mullahs que o apoiam.

 

A Europa e os EUA, na defesa da democracia formal, estimularam a purga aos juízes e militares que cuidavam da laicidade imposta pela Constituição. Protegeram o PM, um devoto cuja mulher não larga o niqab com que esconde o focinho, e ignoraram a odiosa declaração de compreensão pelo assassinato de juízes que subscreveram o acórdão que legitimou a proibição do niqab nas universidades que sobrepunham a ciência e a cultura às orações e homilias. O PM turco disse que percebia a raiva das pessoas que viam limitada a expressão da sua religiosidade, não lhe merecendo a mínima solidariedade a jurisprudência e o martírio dos juízes do tribunal supremo, na defesa da laicidade.

 

A Europa está a descurar a laicidade em nome da caça ao voto pio e a esquerda deixa à extrema-direita, racista e xenófoba, o monopólio do combate ideológico, permitindo que a neutralidade do laicismo se transforme em proselitismo concorrente, como acontece já em França, num desvario islamofóbico de matriz católica.

 

Erdoğan começou por afastar os defensores da laicidade e facilita agora a reislamização que conduz à sharia. Enquanto as pequenas leis limitam as carícias públicas trocadas por namorados e restringem a venda e o consumo de álcool, os talibãs fomentam a explosão do fascismo islâmico e a liquidação da herança de Atatürk.

 

Os europeus, imbecis, vão recitando o breviário do multiculturalismo e aconchegam-se às sotainas.

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