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  • 3 de Janeiro, 2011
  • Por Carlos Esperança
  • Literatura

Momento de poesia

Dissertação sobre a profanação dos ícones…

Como disse Ortega Y Gasset, em matéria de arte,
amor ou ideias, são pouco eficazes os anúncios e programas,
e eu não tenho qualquer programa, nem venho aqui
anunciar nada que faça estremecer as convexidades labirínticas
dos cenáculos.
Vivo na desconexão grotesca de todas as realidades,
as existentes ou as simplesmente inventadas, e duvido sempre.
Duvido sempre, como se a dúvida galgasse todas as encostas
da vida e procurasse alcançar as asperezas das arestas nas
escarpas da verdade, numa exibição impudica da bebedeira
à beira de abismos esfomeados.
Por isso, eu sei que nunca serei encontrado no meio
das multidões ululantes, a anunciar alvoradas, crepúsculos,
em sintonia com a promiscuidade dos ícones ou a adorar
objectos siderais em danças mágicas com fetiches a iluminar
os caminhos aos rebanhos anémicos.
Peregrino pelas inquietações da minha cegueira
e procuro-me e regenero-me em cada nova encruzilhada
como se regressasse sempre à primitiva inocência.

Alexandre de Castro