Loading
  • 25 de Fevereiro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Considerações sobre o ateísmo (3)

O abade Meslier, indignado com a opressão e as injustiças sociais praticadas contra os camponeses, durante o reinado de Luís XIV, foi um autor radical, incisivo, comunista e ateu, mas manteve as suas ideias no mais absoluto sigilo, pois sabia que, não existindo vida para além da morte, era prudente preservar a única e irrepetível que lhe coube.

Os seus escritos, onde nega de forma inequívoca o dogma da criação do universo e, por conseguinte, as ideias de divindade, transcendência e ordenação divina da natureza, só foram conhecidos postumamente. Foi um revoltado, por razões políticas e sociais, com sermões materialistas. Calcula-se o escândalo provocado pelo seu ateísmo, quando foi conhecido, pelas diatribes contra Cristo que descreveu como louco, fanático, ignorante e charlatão, indivíduo astuto que se aproveitou da credulidade e do desespero de pessoas ignorantes para estabelecer o seu império.

Foi, aliás, imensamente crítico para com a religião, que considerou um artifício humano, nefasto expediente dos espertalhões e um eficiente instrumento de dominação utilizado por reis, sacerdotes e demais parasitas para submeterem e manipularem as populações miseráveis e abatidas pelo sofrimento.

O abade Meslier é um expoente do Iluminismo francês cujo manuscrito, se não fosse tão prolixo e de estilo rebarbativo, era merecedor de ombrear com as obras de Montesquieu, Rousseau e Voltaire, na filosofia política das Luzes que originou a Revolução Francesa e com os filósofos ingleses John Locke e Thomas Hobbes.

É surpreendente observar como o desespero e a miséria provocam ondas de piedade e de devoção, não sendo raro ver milagres nos sobreviventes de uma catástrofe ou nas sobras de um cataclismo, mas também é verdade que o deus que os homens inventaram sempre foi interpelado na sua alegada omnipotência, desde Epicuro (3.000 anos antes de Cristo) até Pierre Bayle, no Iluminismo. O clero, porém, sempre procurou atribuir as catástrofes naturais à vingança do seu deus provocada pelos pecados dos seus crentes ou pela existência de descrentes.

A ideia do deus relojoeiro, proposta por Newton e repetida por J. J. Rousseau, levanta tantas dúvidas sobre o autor do relógio como sobre o criador do autor, com o absurdo levado ao infinito.

Perfil de Autor

Website | + posts

- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

- Blogger:

- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/

- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/

- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/

- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#

- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

http://www.blogger.com/profile/17078847174833183365

http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=165