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O perigo do adventismo

Como muito bem diz o Carlos Esperança, Deus não existe, as religiões sim. Infelizmente. Através do seu rasto a história da humanidade é contada com sangue fogo e espada.

No seu livro: Las Religiones Asesinas; Élie Barnavi escreve:

«…um bom judeu ou um bom muçulmano, é aquele que obedece a um conjunto de preceitos; o bom cristão é aquele que tem a fé metida no corpo».

O problema começa quando, a verdade, e por conseguinte a tranquilidade aqui na terra, e a felicidade no outro mundo, só se alcançam através da “disciplina religiosa”, o mesmo é dizer: através da submissão às autoridades eclesiásticas e às regras por eles estabelecidas.

O judaísmo é uma religião étnica que não tem por objectivo formar prosélitos, impondo até, provas draconianas a quem se lhes queira juntar. Ao contrário das outras religiões, apenas estabelece um “contrato” com Deus, e os seus adeptos não se sentem na obrigação de levar a Boa Nova ao resto da Humanidade. Não fora o maldito proselitismo e a mania da universalidade de que as outras duas religiões monoteístas se pintam, e haveria certamente mais paz. Segundo as três religiões monoteístas: – está escrito, basta esperar que se cumpra a vontade divina, com ou sem a ajuda dos homens.

Os judeus esperam a vinda do Messias, os cristãos esperam o segundo advento do “seu” Messias. Até o Islão, cujo profeta “enclausurou” toda a série de mensageiros até então, deixou uma “oportunidade” para as figuras messiânicas – o Imã oculto dos Xiitas, o Mahdi, que o presidente Ahmadineyad espera com impaciência. O Messias dos cristãos é o próprio Deus; o dos judeus e muçulmanos é um chefe essencialmente político, humano e mortal. A característica comum é a capacidade de dividir a história da humanidade em duas partes; um antes e um depois, na tentativa de transformar o tempo “profano” em tempo “sagrado”.

O mais frequente nestes crentes é a atitude passiva, confiando na omnipotência divina, e na espera do advento do dito Messias. O problema é que há alguns mais impacientes que estão decididos a dar uma mãozinha ao “Senhor” com o objectivo de “antecipar” esse mesmo advento. A força destes movimentos adventistas vemo-la todos os dias, mais viva, e com mais angustia que nunca.

Nós, europeus, olhamos com leviandade o fundamentalismo norte-americano, suficientemente poderoso para colocar um Bush na Casa Branca, impor o embuste criacionista, darem shows televisivos 24 horas por dia e ainda têm tempo para colocar bombas em clínicas onde se pratica a interrupção voluntária da gravidez. Acusam os europeus de condicionarem a liberdade religiosa e legislarem sobre as seitas: – trampa para débeis mentais que lhes interessa proteger.

As calamidades que assolam a humanidade, ocorrem, não porque as vítimas se neguem a dar ouvidos aos profetas da desgraça do seu próprio bando (apesar de que estes se equivocam frequentemente), senão porque se recusam a acreditar nas ameaças dos seus futuros verdugos. Antes de 1940, quantos haviam lido o Mein Kampf? Quantos dos que o leram lhe deram crédito? Quantos lêem hoje a abundante literatura dos “Loucos de Deus”? Quantos acreditam no pequeno Hitler de Teerão, quando diz que vai “eliminar” Israel do mapa? (apesar de ser pouco provável que Israel deixe), mas que poderá levar aquela região e o mundo, a um cataclismo nuclear sem precedentes na história da humanidade. O cinismo é património da gente razoável, os fanáticos, por desgraça, são sinceros. A principal causa de uma guerra de religiões, não é o território, o dinheiro nem a forma de poder. – É a religião.

O que se passa na Europa, não é um conflito clássico em que a vitória no campo de batalha traz a paz ou pelo menos um tratado mais ou menos duradouro. Não nos defrontamos contra um governo que representa um povo, senão uma nebulosa que transmite uma ideia. Por isso a batalha das mentes é mais importante que a batalha dos minaretes. Apesar de que o fundamentalismo Islâmico não nasceu da miséria, ele prospera amparando-se na miséria e no subdesenvolvimento. Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade ocidentais, arrancados durante séculos com tantos sacrifícios e sem os quais a vida não valia a pena ser vivida, devem ser defendidos com o mesmo afinco com que os seus inimigos tentam destruí-los.