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  • 5 de Agosto, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A fé e a crise

Quando a ciência avança vacila a fé. A lepra cuja cura era um truque favorito de JC não resistiu às sulfamidas, à higiene e aos antibióticos. As epidemias, que rendiam orações e promessas, foram controladas, não pela graça divina, mas pela descoberta das vacinas.

Mas, à medida que a ciência avança, novos problemas nos desafiam e, nos períodos de crise, as religiões florescem. A doença, a fome e a guerra são os alimentos predilectos da fé. A irracionalidade atinge o auge com o desespero, os deuses ganham clientes e os padres  arrecadam esmolas.

Também os bruxos, quiromantes e outros parasitas da desgraça alheia, vêem aumentar a clientela e os honorários. A ciência é recente e ainda não eliminou medos e superstições geneticamente assimilados ao longo dos séculos.

Não sei o que leva os homens e as mulheres a ajoelharem-se perante outros homens que têm o hábito de se vestirem de mulheres, fazerem sinais cabalísticos e borrifarem os clientes com água normal a que chamam benta.

As angústias da vida  e séculos de sujeição estão na origem  desta perda da razão a favor da fé, da quebra da dignidade por submissão ao medo e da troca da posição vertical por genuflexões e rastejamentos.

Quando as pessoas se curarem dos terrores da fé, poderemos construir uma sociedade de homens e mulheres livres, sociedade eternamente adiada, à espera de que as desgraças deixem de bater à porta dos que sofrem e crêem.