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  • 7 de Janeiro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Virados para deus

Há tempos, numa entrevista ao RCP, o jornalista perguntou-me como explicava o facto de as pessoas, em época de crise, se virarem para deus.

Claro que viram. O desespero é o húmus onde medra a fé. A desgraça bate à porta e, logo, disparam as orações. A eficácia não está provada mas acontece o mesmo com as mesinhas que se usam na falta de médico.

Não são apenas os deuses que beneficiam da doença e da desgraça, também os bruxos, quiromantes e outros exploradores das fraquezas humanas. Desde sempre os homens se viraram para as nuvens à espera das respostas que a ciência ainda não dá. A lepra, por exemplo, era encarada como castigo divino e as vítimas apedrejadas. O próprio Cristo fez a reputação com milagres no ramo. Hoje, a higiene e os medicamentos erradicaram o flagelo nos países civilizados.

No Islão, onde o fanatismo é obrigatório, os crentes viram-se para Meca por falta de bússola que lhes indique o Paraíso e, para urinarem, escolhem o sentido contrário. Os católicos mantêm o hábito de olhar para o firmamento, onde julgam que mora o deus que os padres lhes vendem, mas não se importam de urinar em direcção ao Papa.

Enfim, a desgraça de uns é a felicidade de outros. Enquanto houver quem rasteje e se ajoelhe, não falta quem receba a subserviência em nome de um deus qualquer. Vêm aí tempos em que a superstição encontra terreno fértil mas não é provável que as leis da física se alterem.