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Presunção e Água Benta

Penitenciário mor no YouTube
Há pouco mais de um ano, o penitenciário-mor cardeal James Francis Stafford escreveu um decreto em que proclamava que «O homem, ao ter caído no pecado original, que o privou dos dons quer sobrenaturais quer preternaturais» «está submetido às doenças e aos sofrimentos que as seguem», sofrimentos esses «que têm índole penal».

Declarações ainda mais extraordinárias foram proferidas há dias pelo dirigente da Penitenciaria Apostólica que profetizou que os próximos 4 anos sob a presidência de Obama, que epitetou de «aggressive, disruptive and apocalyptic», serão similares às agonias de Cristo no jardim das Oliveiras .

«For the next few years, Gethsemane will not be marginal. We will know that garden. On November 4, 2008, America suffered a cultural earthquake.»

O penitenciário-mor disse ainda que os católicos devem estar preparados para  «hot, angry tears of betrayal».

Estas declarações do penitenciário seguem-se aqueloutras do presidente da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) que, carpindo o que considera  «exclusão» e «discriminação» dos católicos da vida pública, exortou Obama a cumprir a agenda política dos bispos, nomeadamente no que respeita ao aborto. O cardeal George debitou esta exortação durante uma conferência particularmente complicada, cujas agruras foram explicitadas por um jornalista da National Catholic Reporter, John Allen, que dividiu as posições dos participantes em três grandes grupos:

“Hardliners,” who want to deny communion to pro-choice Catholic politicians and who believe that under canon 915 of the Code of Canon Law, pro-choice legislators and judges (and, possibly, ordinary Catholics who vote for them) have excommunicated themselves;
• “Compromisers,” who support a less confrontational approach to politicians who don’t follow church teaching, in hopes of finding common ground and avoiding impressions that the bishops are overly partisan;
• A largely silent majority who are just trying to keep their dioceses going, and who hope that polarizing national debates like this one will somehow go away.

Em causa está um projecto de lei, o Freedom of Choice Act ou  FOCA, que Obama já declarou ir assinar quando assumir a presidência. O FOCA declara ser o aborto no primeiro trimestre um direito fundamental da mulher e bane a discriminação  no exercício desse direito «in the regulation or provision of benefits, facilities, services or information».

Para além de se sobrepor a uma série de restrições ao aborto a nível estadual e mesmo federal, o FOCA pode ter efeitos drásticos nas   finanças da ICAR americana mui abaladas pelo escândalo da pedofilia – e consequentes indemnizações multimilionárias.

O número de instituições de saúde religiosas nos Estados Unidos, generosamente financiadas com dinheiro público, explodiu durante as administrações Bush. As unidades católicas correspondem a 18% dos hospitais e 20% das camas em solo norte-americano, o que preocupava muito algumas associações norte-americanas. De facto, essas unidades (e as que por dificuldades económicas a elas estejam ligadas), que em alguns locais são as únicas existentes, regem-se não pelo direito americano mas por uma directiva emanada da conferência de Bispos católicos americanos que tem uma secção muito detalhada sobre a saúde reprodutiva da mulher.

Assim, nesses locais não só o aborto como tudo o que tenha a ver com contracepção, mesmo em caso de violação, é estritamente proibido. Se o FOCA entrar em vigor, os hospitais católicos são obrigados a cumprir a lei – algo a que não estão nada habituados – caso contrário terão provavelmente de fechar as portas.

Não é assim muito complicado de enquadrar e perceber as declarações dos prelados norte-americanos assim como não exige quaisquer dotes de clarividência prever que as relações entre o Vaticano e Obama não serão o mar de rosas que foram durante as presidências Bush.
(em stereo na Jugular)