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Casal presidencial visita hoje o Papa

As viagens de Estado são uma obrigação do Presidente da República sem relevância para a diplomacia, cuja condução compete ao Governo, mas necessárias ao prestígio do País, quer se realizem ao Vaticano ou ao Burkina Faso.

Percebe-se mal a agitação que a reincidente visita do casal Cavaco Silva levanta nos órgãos da comunicação social e o frenesim desmesurado por uma deslocação que não ultrapassa os limites estreitos do protocolo. E entende-se ainda pior que a mulher do PR, que goza no aspecto simbólico de algum relevo, se mostre ansiosa com a visita – como declarou – e, que leve como missão «pedir uma bênção especial para Portugal».

Não está provada a eficácia das bênçãos, normais ou especiais, e certamente não resulta daí qualquer benefício ou malefício para o País, mas não deve a mulher do presidente da República de um país laico prestar-se a um gesto de subserviência ou misturar assuntos de Estado com as suas legítimas convicções pessoais ou superstições.

Carece a primeira-dama de legitimidade para pedir uma bênção, logo especial, para o país que é de todos: crentes de várias religiões, ateus, agnósticos, cépticos e outros. A bênção do Papa pode ser ofensiva para um judeu, irritante para um islamita e insultuosa para um cristão ortodoxo ou para um devoto da IURD. Não cabe à D. Maria Cavaco ser portadora de uma bênção que Bento XVI lhe dará com facilidade. Nem sequer lha devia implorar por respeito ao pluralismo religioso e à laicidade do Estado de que o marido é, ou devia ser, o principal garante. 

Em Portugal é difícil respeitar a separação Igreja/Estado, uma imposição constitucional, mas quando a primeira-dama se comporta com o Papa Ratzinger como uma adolescente em presença de uma estrela pop, a situação só tende a piorar.

Carlos Esperança