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A exumação do padre Pio

A mórbida atracção por cadáveres é uma pia inclinação que em Itália ocupa espapaço em numerosas igrejas e respectivas criptas. Já o Santo Ofício fazia exumações para queimar os restos de defuntos, desolado por não os ter podido queimar em vida.

Agora é para glorificar um santo que João XXIII considerava embusteiro mas que João Paulo II, especialista em santidade, não deixou escapar à canonização e que Bento XVI, contrariando o desejo da família, não prescinde de exibir em público.

Das diversas vezes que viajei por Itália, apesar de conhecer o mau gosto e a doentia obsessão que criou a «capela dos ossos» em Évora, dei-me conta de que nenhum outro Pais exibe um tão rico património de despojos humanos como tesouros das suas igrejas magníficas e deslumbrante catedrais.

Recordo sempre a guia turística que, depois de enaltecer longamente as virtudes de um santo cujo esqueleto era testemunho da sua existência pia, interrogada sobre a origem de um esqueleto mais pequeno que lhe fazia companhia, o atribuiu ao mesmo santo… quando era mais novo.

Não sei de onde vem a devoção macabra, a necrofilia eclesiástica que conduz à tétrica exibição de um cadáver com quarenta anos de defunção. Esta lúgubre exposição é uma profanação de cadáver em qualquer país civilizado mas, com autorização do Vaticano e a aspersão de água benta, é um acto pio que rende indulgências aos visitantes por entre fumos de incenso para camuflar o odor.