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  • 6 de Fevereiro, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Mundo

Mutilação genital feminina

Em nome da tradição tanto se pode defender a morte do touro em Barrancos como a lapidação de uma mulher por adultério. Não há selvajaria, malvadez ou crueldade que não tenha na tradição argumentos de peso e trogloditas defensores.

As mulheres foram, sempre, vítimas predilectas do pecado original e da selvajaria dos homens ou de outras mulheres. Foram queimadas por bruxaria, vergastadas por adultério, repudiadas pelos maridos, casadas por imposição dos pais e exoneradas dos direitos cívicos e humanos pela legislação sexista. O martírio, a desonra e a humilhação foram o ónus do género que as religiões acolheram e as tradições consagraram.

Dentre as tradições mais abjectas conta-se a «mutilação genital feminina» uma forma de impedir à mulher o prazer sexual, de lhe causar sofrimento atroz e de lhe provocar, com frequência, a morte.

Dir-se-á que esta selvajaria não é, tal como outras, imposição religiosa. É verdade, mas não deixa de estar associada a costumes onde, quase sempre, há uma forte implantação do Islão. E, naturalmente, a componente mercantilista de um próspero negócio.

Não há grande diferença entre o facínora que se aluga para disparar um tiro de escopeta num inimigo a abater e a mulher que se contrata para fazer a excisão numa menina. Há nesta selvagem crueldade o peso de séculos e na condescendência ou cumplicidade uma cobardia que envergonha o género humano.

Malditas tradições, maldita gente que respeita um negócio destes, maldita fé que o consente.

Adenda: Vídeo sobre a «mutilação genital feminina»