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Mês: Janeiro 2007

10 de Janeiro, 2007 Carlos Esperança

A ICAR e o aborto

Surpreende-me a violência dos ataques dos movimentos pró prisão aos que pretendem, apenas, que as mulheres (quase sempre pobres) não sejam alvo de devassa da sua vida íntima, da perseguição policial e do julgamento que as pode conduzir à prisão.

Surpreende-me que a Igreja católica, que foi violentamente contra a despenalização do aborto nos casos de malformação do feto, perigo de vida da mãe e violação, mantenha hoje o discurso trauliteiro e as mesmas imagens obscenas de então.

Surpreende-me que, enquanto em Portugal os 20 bispos titulares de dioceses, sem uma única excepção, se empenhem em manter a violência legal contra as mulheres, que em desespero recorrem à interrupção voluntária da gravidez, os bispos de Malta mantêm a mesma intolerância em relação ao divórcio e os de Timor no que diz respeito ao uso de contraceptivos.

Surpreende-me que os recursos financeiros sejam tão amplos para os defensores da prisão e tão escassos para os partidários da despenalização.

Surpreende-me, ainda, que o único Estado do mundo sem maternidade – o Vaticano -, se empenhe tão denodadamente na coacção das consciências e no desafio à legalidade (caso de um clérigo que já ameaçou fazer campanha na missa do próprio dia do referendo).

Surpreende-me, finalmente, que um país laico tivesse ficado refém da vontade clerical sem ter resolvido o problema da IVG em sede própria, na Assembleia da República, um problema de saúde pública que atira as mulheres pobres para o vão de escada, a prisão e o cemitério.

Ler artigo: Diário de Notícias – Publicado em Diário Ateísta/Ponte Europa

10 de Janeiro, 2007 Ricardo Alves

A insinuação

A grave insinuação contida na frase de cima foi escrita por um padre católico. Se viesse de qualquer outro cidadão, ele seria interrogado pelos jornalistas e responsabilizado se não a conseguisse justificar. Como foi um aspirante a ditador, será convenientemente ignorada. Com muito «respeitinho» beato.
10 de Janeiro, 2007 jvasco

Ordenação Criacionista

«Para quem se interessa por informática, está aqui um excelente contributo criacionista: um algoritmo de ordenação por design inteligente.

Como a probabilidade de um dado conjunto de elementos ter a ordem que tem por mero acaso é muito reduzida, conclui-se que foi ordenado por um Criador duma forma perfeita, mesmo que incompreensível para nós. Assim a melhor forma de ordenar qualquer conjunto é deixá-lo como está.

(Via Pharyngula

——————————–[Ludwig Krippahl]

10 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

O cardiocentrismo do não


Na falta de argumentos, os cruzados pelo NÃO no referendo de 11 de Fevereiro próximo apostam numa dramatização demagógica e falaciosa da respectiva campanha, dramatização de que o primeiro cartaz, produzido em quantidades massivas e afixado profusamente pelo menos em Lisboa, é um exemplo acabado.

O cartaz, que interroga em letras garrafais «Abortar por opção quando já bate um coração?» é uma ilustração perfeita de um apelo à emoção primário que remete subliminarmente para o paradigma mariano da mulher e para as arcaicas e anacrónicas concepções cardiocêntricas do homem que se encontram na mitologia cristã.

Isto é, o cartaz que suplica uma resposta negativa do eleitorado, subentende que as mulheres são sub-humanos incapazes de opções morais e como tal deve ser a nossa sociedade (ainda) patriarcal, mais concretamente a classe médica, a única detentora da capacidade de decisão sobre a interrupção de uma gravidez. Ou seja, subentende-se do cartaz que o «crime» não é o aborto mas sim permitir que uma leviana e fútil mulher opte por ele!

Por outro lado, o cartaz remete a uma visão cardiocentrista do homem, completamente obsoleta como tive ocasião de relembrar em Outubro último:

Esta visão cardiocentrista induzida por superstições míticas que podemos fazer remontar aos antigos egpcíos é mantida no cristianismo e persiste até ao século XVII, não obstante os atomistas, nomeadamente Demócrito – que classificou o cérebro como a «cidadela do corpo», o «guardião do pensamento e da inteligência» – e outros pensadores como Hipócrates, Herófilo ou Galeno, terem colocado o cérebro como responsável pelo ser do homem.

Na realidade, é no cérebro e não no coração – como pretende toda a mitologia cristã, que na linha aristotélica privilegia a tese «cardiocentrista», aquela que confere ao coração o monopólio da razão e das paixões – que devemos procurar a explicação do «ser» do homem, em que este ser inclui o «ser» social e moral, que evolui com a encefalização do homem.

Isto é, o batimento do coração nem sequer traça a fronteira entre a vida e morte. De facto, a morte clínica é decretada actualmente pela ausência de actividade cerebral não pela morte do sistema cardio-vascular. É a morte cerebral que indica que uma pessoa morreu, não a «morte» cardíaca. Aliás, o coração vivo de um ser biológico que já não consideramos uma pessoa pode ser transplantado sem alterar a individualidade de quem o recebe, sem lhe alterar o «ser» que nos distingue dos restantes animais.

Se não é no coração que encontramos o ser do Homem, se é a vitalidade do sistema nervoso central que delimita a fronteira entre vida e morte de uma pessoa, porque razão os paladinos de óvulos e espermatozóides e cruzados contra a possibilidade de opção pela mulher, que insistem em não ter motivação religiosa a sua posição pró-prisão, recorrem à mitologia cristã e não à ciência no primeiro cartaz que debitam?

Não é o batimento do coração indicador que a ciência utilize para decretar a morte de uma pessoa. Porque razão consideram os pró-prisão que os parâmetros consensualmente aceites para delimitar o fim da vida de uma pessoa não são aplicáveis para delimitar o seu início?

10 de Janeiro, 2007 Carlos Esperança

Bento XVI recusa convite

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) revelou que B16 recusou o convite para o encerramento das celebrações dos 90 anos de Fátima.

A CEP obrigou o Sapatinhos Vermelhos a armar uma desculpa para não se aventurar na festa comemorativa da maior burla que a ICAR forjou na luta contra o comunismo e no ódio vesgo ao 5 de Outubro de 1910.

A Virgem que puseram a saltitar, de azinheira em azinheira, para os pastorinhos, em que uma ouvia e via, o que o padre lhe dizia, outro só ouvia, e a terceira não via nem ouvia, é hoje o símbolo do Portugal beato, analfabeto e supersticioso onde germinava o ódio à República e o horror à laicidade.

Em 1917 o Sol andou às cambalhotas na Cova da Iria tão doido como beatos que viajam de joelhos ou os Papas que divulgaram essas idiotias. Se JP2 ainda fosse vivo, na sua incomensurável superstição, não faltaria à encenação mística da mentira, mas B16 já viu que não pode contar com o Espírito Santo, que não queimou a tempo os papéis que incriminavam como espião soviético o sucessor de JP2 na Polónia, apenas fez sumir os que comprometiam os antecessores com a CIA.

B16 lá vai sofridamente rubricando os milagres que lhe apresentam, para criar santos, mas tem a noção de que por cada analfabeto que estupefaz nas pampas argentinas ou no sertão brasileiro, perde o respeito das pessoas alfabetizadas de Buenos Aires, S. Paulo e Roma.

É difícil manter viva uma mentira recente quando dois milénios de trapaça começam a fazer sorrir a humanidade e os poucos que fingem acreditar o fazem para se opor a outros aldrabões, dementes e beatos, que vêm dos lados do Islão, fanáticos que debitam o Corão, põem bombas e querem o mundo de cócoras, virado para Meca.

9 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

Sibilas do Apocalipse


O apresentador de televisão evangélico Pat Robertson, o mais famoso teocrata norte-americano – ex-candidato à presidência dos US, fundador da Coligação Cristã e director executivo da CBN (Christian Broadcast Network) – conhecido devido à sua fervorosa alucinação fé e às barbaridades pérolas redondas de raciocínio cristão que debita profusamente, insiste em não deixar os seus créditos por mãos alheias.

Desta vez não são os fanáticos evolucionistas, os tais que insistem em pregar nas escolas públicas o seu «culto», ou quaisquer dos culpados do costume – homossexuais, mulheres, ateus, hindus, muçulmanos, etc. – os alvos das diatribes e augúrios de retribuições divinas debitadas por Robertson no seu programa o Clube dos 700.

A fonte de hilariedade geral foi apenas a habitual profecia de início do ano debitada pelo presciente pregador – que recebe recados e recomendações divinas tão amiúde que sugeriu numa edição de Setembro de 1984 do «Clube» que todos aqueles que cometessem um crime por ordem do Deus cristão, tipo assassinar um médico abortista ou atacar à bomba as clínicas execradas pelos defensores incondicionais da vida, deveriam ser julgados por um tribunal religioso, que averiguaria da autenticidade da incumbência. Se o dito tribunal concluisse que afinal o criminoso era apenas um soldado de Deus deveria ter autoridade para lhe conceder total imunidade – e carta branca para continuar tão meritório trabalho.

Assim, no seu programa de 2 de Janeiro na CBN, Robertson asseverou à sua audiência ter-lhe comunicado Deus durante um retiro de oração que um ataque terrorista – provavelmente nuclear- nos Estados Unidos iria causar «mortes em massa» no último trimestre de 2007. Com a pequena ressalva de que «Deus disse que iria conter o mal, mas não o vai conter necessariamente no início. Muitas destas coisas podem não acontecer; temos apenas de rezar muito».

Não consigo sequer imaginar que vapores terá inalado a sibila Robertson para debitar tão «infalível» e indispensável oráculo mas que deviam ser potentes não tenho qualquer dúvida!

9 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

De funerais e bonifrates

A recusa da Igreja de Roma em conceder um funeral católico a Piergiogio Welby, o italiano de 60 anos que sofria de distrofia muscular em estado terminal e que foi punido pela sua campanha pelo direito a morrer com dignidade – nomeadamente pelo direito a recusar tratamento médico – não é um caso isolado.

Há uns tempos a Mariana deu conta de um bispo de San Diego que recusou um funeral católico ao dono de dois bares gay, negócio «inconsistente com os ensinamentos católicos» e como tal «as pessoas ficariam escandalizadas se a igreja concedesse um funeral a alguém que se dedicasse a estas actividades». Claro que o facto de o mesmo bispo ter sido obrigado a indemnizar um ex-seminarista para evitar mais um mediático julgamento envolvendo abuso sexual perpetrado por um membro do clero católico não escandaliza alguém por tão corriqueiro

Esta ortodoxia na morte parece estar a tornar-se praxis comum em Itália, pelo menos por parte do padre Fernando Di Fiore – com todo o apoio da hierarquia católica local – que considera não serem católicos na morte aqueles que não seguiram estritamente os ditames do Vaticano em vida. Assim, não oficiou ao funeral de um homem que suspeitava ter ligações às Testemunhas do Jeová, não obstante os protestos em contrário da família, e recusou «encomendar a alma» de um homem que, horror dos horrores, tinha quebrado os «sagrados» laços do matrimónio e vivia em pecaminoso «concubinato» – isto é, se tinha casado civilmente após um divórcio.

Uma vez que o bispo local respondeu neste último caso confirmando que o padre Di Fiore tinha agido de acordo com as regulações da Igreja, fico na dúvida porque razão a Igreja consente em práticas «fora da lei» católica, isto é, pelo menos não repreende os padres que regularmente oficiam em funerais de quem ignorou as (muitas) proibições da Igreja e insistiu viver em «pecado».

Se estas regulações fossem obedecidas estritamente e fosse negada a «recomendação da alma» e concomitante missa a todos os que não seguiram à risca os ditames de Roma, nomeadamente no que respeita à sexualidade não abençoada num casamento católico ou com fins não estritamente procriativos -traduzidos no uso dos execrados contraceptivos, condenados como contrários à «moral» católica – deixaria de fazer sentido o quasi monopólio da Igreja no negócio da morte que se verifica cá no burgo.

E poderia ser que o nosso Estado supostamente laico se lembrasse de propiciar espaços condignos na morte aos seus cidadãos que não se regem pelas emanações da Igreja de Roma, isto é, respondesse finalmente à pergunta do Carlos:

«Os que em vida tiveram uma pituitária alérgica ao cheiro das velas, tímpanos avessos às orações e olhos apáticos às sotainas, não têm direito a local digno, liberto de iconografia religiosa, onde os familiares e amigos estejam ao abrigo do latim e do cantochão?»

9 de Janeiro, 2007 Carlos Esperança

Santos escândalos

5/1/2007 11:08 h ESCÁNDALO EN EEUU
Una diócesis de EEUU pagará 36 millones a víctimas de abusos de sus sacerdotes (EFE)

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A diocese católica de Spokane, no estado de Washington (EUA), aceitou pagar 48 milhões de dólares (cerca de 36 milhões de euros) às vítimas de abusos sexuais presumivelmente cometidos por alguns dos seus sacerdotes.

O juiz federal, Gregg Zive, que serviu de mediador, anunciou que o acordo extrajudicial alcançado entre a diocese e os queixosos, fixa o procedimento a seguir para o pagamento de futuras queixas.

A referida diocese tinha-se declarado em bancarrota nos princípios de 2006 para se proteger deste tipo de queixas e o próprio bispo, William Skylstad, manifestou então que a diocese enfrenta mais de 120 processos por abusos sexuais, metade dos quais cometidos por apenas dois dos seus sacerdotes.

O bispo pediu publicamente perdão «pelos terríveis prejuízos causados» e instou os católicos a aceitar o acordo extrajudicial anunciado hoje (5-1-2007) numa das maiores dioceses do estado de Washington com cerca de 90.000 fiéis.

Os parágrafos anteriores são relativos à notícia em epígrafe. Esperei que a comunicação social portuguesa referisse o assunto, o que não aconteceu.

Começo a pensar que, desde que o BCP começou a subsidiar a campanha do NÃO á IVG, há órgãos da comunicação social que estão de joelhos perante a ICAR.

9 de Janeiro, 2007 jvasco

Criacionistas contra Dawkins

«No passado dia 1 surgiu no site criacionista «Creation Ministries» um artigo intitulado «Dawkins and Eugenics, a leading high priest of evolution reveals its ugly side». Este artigo acusa o «ateu fanático» Dawkins de defender que não há bem nem mal, de concordar com Hitler, e promover a eugenia, citando o que Dawkins escreveu no Sunday Herald do dia 19 de Novembro:

«I wonder whether, some 60 years after Hitler’s death, we might at least venture to ask what the moral difference is between breeding for musical ability and forcing a child to take music lessons. Or why it is acceptable to train fast runners and high jumpers but not to breed them.»

Terrível. Estes ateus são piores que o bicho papão. É claro, não parece tão terrível se lermos o resto do parágrafo, que os criacionistas não citaram. Dawkins continua:

«I can think of some answers, and they are good ones, which would probably end up persuading me. But hasn’t the time come when we should stop being frightened even to put the question?»

Afinal parece que Dawkins não considera a eugenia uma boa ideia. O que ele propõe é que se ponha de parte o terror inspirado pelo nazismo e não se tenha medo da pergunta: se pudermos influenciar o património genético dos nossos filhos, devemos fazê-lo ou deixá-lo à sorte?

Numa crítica cinco vezes maior que o artigo criticado, os criacionistas acusam Dawkins e os ateus de não terem valores, de defender a eugenia, e tiram uma citação do contexto para dar uma ideia completamente diferente do que o autor pretendia. Isto revela um atributo curioso dos criacionistas. Apresentam-se como defensores da Verdade, mas têm muito pouco respeito pela verdade.»

——————————–[Ludwig Krippahl]