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O defensor

Bento XVI o mais recente papa, tão louvado por alguns sectores católicos, foi acusado de ter intencionalmente ignorarado, durante 7 anos, as queixas contra o frade Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. O frade em questão é acusado de abusar de nove jovens que estudavam no seu seminário durante as décadas de 40, 50 e 60 mas a abonar em seu favor tem o facto de ter sido um amigo pessoal de João Paulo II – prova de inegável virtude.

Quando em 1997 John R McCann, bispo de Nova York, enviou ao então Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, uma carta aberta redigida pelo frade Juan Vaca (uma das nove vítimas que acusam Maciel) o exaltado Bento XVI, perdão, o cardeal Ratzinger (quase me esquecia da transformação mística que ocorre quando alguém se torna papa) não fez nada. Rigorosamente nada. A atitude deste servo do Senhor foi reconhecer que recebeu a carta e guardá-la num lugar remoto e escuro no Vaticano.

Quando questionado sobre a sua posição sobre o assunto Ratzinger sempre se mostrou evasivo e deu a entender que não considerava «apropriado» que se fizessem tais perguntas. Quando um repórter americano, de nome Brian Ross, teve a coragem de tocar no assunto levou uma palmada de reprovação na mão (literalmente) – o que provavelmente explica a atitude da ICAR em geral e de Ratzinger em particular face aos crentes, infantilizados como crianças retardadas que se portam de forma marota. Mas, numa ocasião em que resolveu quebrar o silêncio sobre o assunto, as suas palavras foram: «Não se pode pôr em julgamento um amigo pessoal do papa como Marcial Marciel».

Em Dezembro passado foi finalmente iniciada uma investigação do Vaticano sobre as queixas. Mas não se pense que houve alguma alteração na posição Ratzinger. Tudo não passou de uma manobra para aumentar a suas hipóteses de ser eleito papa, já que tendo a sombra de proteger abusadores a pairar no ar poderia diminuir de forma substancial a probabilidade de ser eleito.

Em suma, Bento XVI apresenta-se sem dúvida alguma como o defensor das tradicionais virtudes do Vaticano. Ainda bem que existe um homem destes preocupado com o estado moral do mundo e com a «ditadura do relativismo».