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Fuga da laicidade

Desde a morte do papa João Paulo II que se tem observado um brutal esquecimento não só dos nossos meios de comunicação social, mas também dos nossos representantes políticos democraticamente eleitos de que há mais mundo para além da religião e de que nem todos os cidadãos deste mundo são católicos e, muito menos, religiosos.

De facto, desde os espaços informativos televisivos aos jornalísticos – comentadores incluídos – que observamos uma estranha lavagem das atrocidades que este papa defendeu implícita ou explicitamente bem como de certas tomadas de posição que não se coadunam com a actual conjuntura social do mundo. Os «media» limitam-se a apresentar uma visão cor-de-rosa das últimas duas décadas de pontificado, mostrando João Paulo II como um lutador pelos interesses dos jovens, dos mais desfavorecidos e de todos os outros cidadãos do mundo. Como já mostrámos no Diário Ateísta, as coisas não são assim tão simples.

Quanto à nossa classe política, hoje ficamos a saber que o senhor Presidente da República, para além dos rasgados elogios que teceu, disponibilizou o «Falcon» da República Portuguesa para que servisse de meio de transporte de José Policarpo e respectiva comitiva, bispo de Lisboa, para Itália.

O PSD, na pessoa do líder interino do seu grupo parlamentar, Marques Guedes, propôs que o período antes da ordem do dia do primeiro plenário desta semana, na quinta-feira, «seja substituído por uma condigna sessão de homenagem ao Santo Padre, com intervenções de todas as bancadas e a aprovação de um voto de pesar». Não se ficando por aqui, Marques Guedes sugere que o voto de pesar seja apresentado no plenário pelo presidente da Assembleia da República, a segunda figura mais importante da República. O social-democrata justifica esta posição dizendo que «a morte de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, toca fundo na alma nacional e deixa emocionada a esmagadora maioria dos portugueses».
O CDS-PP, coerentemente, no passado Sábado, anunciou que iria propor ao Presidente da Assembleia da República uma sessão parlamentar especial para evocar a memória do responsável máximo da Igreja Católica.

E, agora pergunto, o resto dos portugueses que são representados pela Assembleia da República e que não são católicos? Deverão eles suportar este atropelo à laicidade? Deverá o nosso Estado prostrar-se face a esta demonstração prosélita de poder e influência da Igreja Católica? Não. Jamais. Como defensores da Laicidade e, assim, da Igualdade devemos pugnar para que esta submissão não passe despercebida aos olhos dos nossos concidadãos.