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A amoralidade

Neste nosso planeta, cada vez mais pequeno, ouvimos um aumento no volume da voz das “maiorias morais” que anseiam desesperadamente tornar-se maiorias políticas. O exemplo americano dá-nos uma ideia do que estes grupos anseiam: um governo semi-teocrático onde o teísmo de estado passa a ser a norma, onde a liberdade passa a ser uma palavra oca, cujo único significado é a obediência às leis da maioria crente. Um paraíso onde a religião reina incontestada (ou pelo menos o monoteísmo do médio oriente…).

Num mundo onde esta atitude perante o estado parece cada vez mais comum os religiosos recusam-se a ver os problemas que eles próprios criam. Para eles a moralidade de estado é uma solução maravilhosa desde que seja o seu código a ser vinculado. A existência de pessoas que não partilham o seu código é irrelevante, o facto de o seu código ser imensamente abusivo para as liberdades individuais não os aquece nem arrefece e para culminar tudo isto a completa irracionalidade de todo o seu sistema de crença e organização é negada veementemente, não vá a fé falhar. À medida que as leis da blasfémia voltam a ser implementadas pela Europa e que as religiões voltam à carga no plano político a situação parece má para os que prezam a laicidade (e a liberdade que esta trás).

E é por isso que eu hoje me insurjo e digo: devolvam-me a minha liberdade!! É necessário ter o nosso estado amoral de volta. É preciso negar a autoridade dos políticos de ditar moral aos seus cidadãos. A moralidade do púlpito está morta e não se deve perverter o sistema democrático para a voltar a instaurar (quase consigo ouvir os suspiros nostálgicos de sacerdotes por esse mundo fora…).

Mas como sempre nada é de graça. Em qualquer situação onde há uma liberdade existe sempre uma obrigação/necessidade. É urgente que os cidadãos dos países laicos, de uma vez por todas, tomem a responsabilidade de tomar as rédeas das suas próprias vidas. O pensamento uniforme está morto. E daí a decadência da religião organizada nas zonas onde a liberdade é uma realidade. E para tomar controlo das nossas próprias vidas é preciso começarmos a pensar por nós mesmos e chegar à conclusão que a nossa individualidade é o bem mais precioso que temos e que para o proteger só temos que adoptar um único axioma, uma única norma: e não, não falo do amor (ainda não cedi às baboseiras sentimentalistas do proselitismo barato) falo sim de algo muito mais importante, a regra de ouro de qualquer civilização liberal, a não agressão. Podemos amar ou odiar alguém mas independentemente disso devemos reconhecer o seu direito á individualidade.

«It is grossly selfish to require of one’s neighbour that he should think in the same way, and hold the same opinions. Why should he? If he can think, he will probably think differently.» – Oscar Wilde

Nem mais Oscar.