4 de Março, 2016 Administrador
AAP presente em debate na Fundação Calouste Gulbenkian
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Por serem divagações divertidas, mas também interessantes e profundas, partilho com os leitores estas palavras de Ricardo Araújo Pereira sobre religião, morte e humor:
Não concordo com tudo, mas aconselho sem reservas.
Quando acontece uma catástrofe natural – um violento e mortífero terramoto, por exemplo – é vulgar que alguns ateus, algumas vezes em jeito de provocação, perguntem aos crentes: “onde está o seu Deus?” tentando, dessa forma, argumentar que se Deus existisse e amasse os chamados “seus filhos”, certamente não permitiria que eles morressem daquela forma. As contra-argumentações dos crentes podem variar de estilo, mas a ideia permanece: Deus não interfere com o que se passa na Terra, pois deu-nos o “livre-arbítrio”, embora não se consiga perceber o que tem o “livre-arbítrio” a ver com os terramotos. Alguns crentes, mais evoluídos e mais cultos, asseguram que os terramotos são causados pela extracção de petróleo, o que é aceitável, porque esta coisa de mexer nas entranhas da terra há-de ter os seus custos. O que me leva a ter inveja de quem viveu até 1846, data em que foi instalado o primeiro poço de petróleo moderno. Mas também me leva a suspeitar de que em 1755 já alguém andava a escarafunchar o planeta… Mas não vamos por aí…
A maioria dos crentes entende que o “livre-arbítrio” é a faculdade de escolhermos entre o Bem e o Mal. É uma visão convenientemente redutora, mas não é verdadeira. O livre-arbítrio é, segundo o Dicionário da Porto-Editora, “o poder de escolher ou não escolher um acto ou uma atitude, quando não temos razão para nos inclinarmos mais para um lado do que para o outro.” Por outras palavras, é o poder de decidirmos o que nos der na real gana.
Se perguntarmos a um ateu e a um crente aonde é que vão passar férias no próximo ano, as respostas, diferentes e prováveis, serão: Ateu – “ainda não decidi”; “estou a hesitar entre as Seychelles e a Costa da Caparica”; “depende das «massas» ”. Crente – “Deus sabe se lá chegarei”; “sei lá, Deus é que sabe”; “olhe, vou para onde Deus quiser”. Ou seja: quem, verdadeiramente, tem o “livre-arbítrio” é o ateu, e não o crente. Porque o crente pensará, sempre, que a sua decisão dependerá, inevitavelmente, da vontade de Deus; enquanto o ateu estará, quando muito, dependente do dinheiro, da concordância da sogra, ou de outros percalços perfeitamente terrenos e, quase sempre resolúveis. Mas sempre com hipóteses alternativas, que o ateu pode escolher a seu bel-prazer.
De acordo com as crenças religiosas, Deus sabe tudo. Ou seja, também sabe aonde o crente vai passar as férias no próximo ano. O crente ainda não sabe, mas “Deus é que sabe”. Ou seja: o crente pode correr e saltar, que tudo o que fizer para passar as férias – pedir dinheiro emprestado, consultar mapas, escolher a roupa para levar – vai conduzi-lo, inevitavelmente… ao lugar que “Deus é que sabe”. Porque é para aí que vai, queira ou não, e por muito que pense que planeou sozinho. Ele apenas se limitou a cumprir os “desígnios de Deus”.
Livre-arbítrio, isto?
Este artigo é sobre as qualidades que os pais mais valorizam nas crianças, se a obediência ou a autonomia. O autor relacionou as respostas a esta pergunta com uma série de variáveis sócio-culturais, tais como sexo, rendimento, religião, idade.
Considerei particularmente curiosas as conclusões relativas à religião: «Formulei a hipótese de que pessoas que eram fundamentalistas religiosas teriam maior propensão para valorizar a obediência e menor propensão para valorizar a autonomia e que pessoas com maior probabilidade de frequentar a igreja teriam as mesmas propensões. Os dados sugerem que isto é verdade.»
O pivô Brandon Davies foi punido pela universidade BYU por admitir que fez sexo com sua namorada antes do casamento. De acordo com um comunicado oficial da instituição, a atitude de Davies feriu os códigos de honra da BYU, uma universidade intimamente ligada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Mórmons. Entre as estritas regras da universidade está a proibição do consumo de álcool, sexo antes do casamento ou o uso de barba.
Eis os homens praticando a “infinita bondade misericordiosa” que eles dizem que seus deuses possuem e defendem. Afinal, duas pessoas responsáveis fazem sexo quando bem entenderem. Difícil é ver alguém ser punido por atos de foro íntimo que não dizem respeito a ninguém. Mas a quem se sujeite a isto em nome de uma recompensa no pós-morte…
O menino de dois anos não sobreviveria se não recebesse logo uma transfusão de sangue. Ele estava com anemia crônica e diarreia. Mas o seu pai já tinha entregado à direção do hospital um documento que proibia os médicos de adotar esse procedimento. A mãe se rebelou contra o marido a foi a justiça para conseguir a transfusão. Agora, o bebê passa bem.
A família da mãe ficou abalada. A avó, por exemplo, não entende como alguém em nome de uma religião pode deixar o seu filho morrer. “Será que Deus quer que uma criança morra? Isso não é normal, não”, disse ela.
Lembro que no final do ano passado falei sobre o caso onde um casal foi condenado por preferir rezar a levar o filho ao hospital. Vale lembrar que os religiosos não fazem isso por maldade. Eles realmente acham que agindo de tal forma, mesmo que sacrificando um ente querido, estarão agradando a deus. Ou seja, mais vale um filho morto do que desagradar um ser invisível, inaudível, intangível. E isso tem muito mais de egoísmo (o pai quer evitar que deus se aborreça com ele) do que de virtude.
As religiões continuam dando claras evidências de que vieram aqui para unir a humanidade, já que somos todos “filhos do criador”.
No Sudão, a população da capital Juba votou com 97,5% a favor da separação do Sul do Sudão. As autoridades de 10 estados do Sul do Sudão apuram os resultados dos diferentes condados locais para este referendo que levará à divisão do Sudão, o maior país da África, dividido entre o Norte, muçulmano e em grande parte árabe, e o Sul, afro-cristão.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro em meio às tragédias, uma denúncia grave. Eu sei, é denúncia. Mas em se tratando de querela entre religiosos eu não ouso duvidar da veracidade. A prefeitura de Teresópolis está sendo acusada de impedir a distribuição de donativos por parte da Igreja Católica. Segundo o padre Paulo Botas, integrantes da comunidade católica que foram até o estádio Pedrão ouviram de funcionários municipais que “nenhuma igreja católica de Teresópolis iria receber doações”.
“Falaram isso sem o menor constrangimento. O prefeito (Jorge Mário Sedlacek) é evangélico e não quer que a ajuda vá para os católicos. As pessoas se cadastraram, mas foram discriminadas. Nessa situação tão grave, não tem confissão religiosa, não pode ter essa competição ideológica. Isso é um pecado mortal, ainda mais vindo de pessoas cristãs“, disse o padre, da igreja do Sagrado Coração de Jesus de Barra do Imbuí, área bastante afetada pelas chuvas.
Sem querer entrar em detalhes sobre a religião do prefeito, o padre Mario José Coutinho, decano da Diocese de Petrópolis, disse que a situação é de boicote à Igreja Católica. “É surreal, uma ofensa, uma vergonha, uma agressão à humanidade. Transformaram uma questão humanitária em religiosa“, criticou.
Vale lembrar que a comunidade evangélica está usando a tragédia para fazer propaganda de seu esforço na ajuda às vítimas. Realmente, estão fazendo um trabalho louvável. Mas isso não justifica impedir os outros de também ajudar. Isso aqui não é uma competição, é um desastre humanitário.
Se várias pessoas alegam conhecer uma terceira, mas não existe nenhum acordo em relação às características fundamentais desta, é razoável desconfiar da validade dessas alegações. Este vídeo explora, de forma satírica, essa questão:
Uma pessoa de mente aberta deve condicionar a sua opinião às evidências e aos factos.
Quando acreditamos que um facto é verdadeiro sabemos que essa crença poderia ser alterada perante evidências em contrário.
Este princípio deve aplicar-se a tudo, e eu aplico-o também à minha crença de que Deus não existe. Existem várias coisas que, a acontecerem, fariam mudar a minha opinião a respeito da existência de Deus. Mesmo do Deus cristão.
E um cristão? E outro crente religioso não cristão? Que factos ou acontecimentos o fariam concluir que afinal Deus não existe?
Se não existirem nenhuns, então a pessoa não tem a mente aberta em relação a esta crença.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.