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Etiqueta: Opinião

12 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Trump enterra o Ocidente num “cemitério bonito”

Por Onofre Varela*

*Publicado no Semanário Alto Minho e na Gazeta de Paços de Ferreira.

Donald Trump tomou conta do seu segundo mandato depois de ter sido derrotado eleitoralmente no final do primeiro (e após ter tentado uma espécie de “golpe de Estado” no incentivo que deu aos seus apoiantes para tomarem de assalto o Capitólio), prometendo tornar a “América grande outra vez”. (O seu homólogo brasileiro está a ser julgado por ter incentivado as mesmas acções de assalto ao poder, mas Trump está escudado pela “lei do Far-West”). 

O seu modo de “engrandecer a América” baseia-se na experiência que tem de comissionista, cobrando taxas pelo serviço de intermediação… profissão que deve ter exercido durante toda a sua vida, no estilo de cobrar dois cêntimos por cada botão vendido no território que dominava, tal como Al Capone cobrava com a venda ilegal de whisky no tempo da “Lei Seca” dos anos 20 e 30, nos bairros nova-iorquinos (a “honestidade” do seu enriquecimento poderá ter tido por base o mesmo modelo).

O espírito comercial de Trump, ávido de encher os cofres do Estado (e de fomentar o seu próprio negócio imobiliário), leva-o a reduzir despesas não apoiando a investigação científica, cortando verbas a universidades impedindo a formação de muita gente (entre a qual, estrangeiros), despedindo profissionais qualificados, insultando adversários políticos, ameaçando cancelar a licença de televisão à NBC, dificultando a vida a jornais, começando pelo The New York Times que teima em resistir-lhe, e expulsando imigrantes.

Com tal atitude Trump prepara-se para transformar os EUA numa espécie de Rússia/Putiniana ou China/comunista/capitalista, ambas governadas por quem despreza as liberdades individuais, mais todos os valores humanistas e solidários praticados na Europa desde 1789, reforçados com o fim da Segunda Guerra Mundial há 80 anos. 

Entre a América e o Oriente (via Oceano Atlântico), fica esta Europa que representa a Civilização Ocidental e que vive maus dias. Embora prezando a máxima que diz: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (no significado de “ausência de opressão, direitos iguais para todos e solidariedade”) instituídos após a Revolução Francesa no século XVIII, a Europa vê os seus inimigos internos cada vez mais apoiados por ideais totalitários importados de regimes políticos ditatoriais, colocando em risco todos os valores democráticos e as liberdades conquistadas pelos europeus que nos precederam e que as construíram sobre as ruínas da Segunda Guerra Mundial… fazendo esta Europa Moderna amante da Liberdade.

Do outro lado do mundo, Xi Jinping (China), Narendra Modi (Índia) e Vladimir Putin (Rússia) organizam-se numa frente comercial e num exército bem “municiado” de armamento e soldados, apoiados por outros vizinhos, como: Cazaquistão, Paquistão, Irão e Coreia do Norte, mais cerca de uma dúzia de outros países, de entre os quais se conta: Turquia, Arábia Saudita, Egipto e Myanmar (ex-Birmânia).

Este projecto “Made in Oriente” foi agora anunciado por Xi Jinping como sendo “um esforço de propiciar um modelo de diálogo alternativo ao ocidente”, cuja apresentação teve como convidado especial (para “inglês ver”…) António Guterres numa reunião bi-lateral com Xi Jinping na China. Este “modelo de diálogo alternativo”, obviamente, não passará de um monólogo imperial na imposição de uma única ideia (o que é costume acontecer com ditadores como são Xi e Putin)!

O futuro de todo o mundo adivinha-se muito preocupante, com o comissionista dos EUA a aliar-se aos opressores de todas as liberdades, ou a deixar-se enganar por eles, levado pela sua extrema vaidade incauta e inculta, convicto de que todas as suas acções “são bonitas” não percebendo que corre o risco de ajudar a transformar o mundo (principalmente o Ocidente que tanto preza o Humanismo) num “cemitério bonito”!

OV

Cartoon da autoria de Onofre Varela
5 de Setembro, 2025 Ricardo Alves

Missa de Estado? Era o que faltava.

Texto inicialmente publicado no blogue Esquerda Republicana, por Ricardo Alves.

A ICAR apropriou-se da tragédia do Elevador da Glória para se vestir de Igreja de Estado. Contou para tal com a conivência do presidente da República, do Primeiro Ministro, de vários ministros e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que colaboraram na encenação, assim como políticos da «oposição».

A tragédia da Glória não foi católica, aliás não há religião comum a coreanos, um marroquino, israelitas, brasileiros, norte-americanos, um suíço, alemães, etc. E Lisboa não tem, que se saiba, religião oficial. Tal como a República.

Faz parte da liberdade religiosa a ICAR promover uma missa pela razão que entender, como faz parte dessa liberdade católicos lá irem. Só que a encenação da missa à hora dos telejornais com as altas autoridades do Estado na primeira fila foi uma descarada exibição de poder.

Não há qualquer obrigação para os políticos do poder ou da oposição de se prestarem a estas cerimónias. Há muitas formas de homenagear os mortos e confortar os vivos, e participar na forma católica é privilegiar essa igreja.

Foi confrangedor.

4 de Setembro, 2025 João Monteiro

Sobre o aproveitamento do desastre

Ontem à tarde, os portugueses foram confrontados com o trágico acidente do Elevador da Glória, em Lisboa, que causou 16 mortos e 21 feridos, dos quais pelo menos 5 em estado grave. Dada a gravidade da situação, considero correcto que tenha sido decretado um dia de luto nacional e três dias de luto municipal. Mas a par do processo de luto, é importante que durante os próximos dias se apurem os factos e as responsabilidades do sucedido.

Face à gravidade e seriedade do desastre, esperava que todos os atores, sociais e civis, evitassem fazer qualquer tipo de aproveitamento deste caso, durante o período de luto instituído. As minhas expetativas foram logo goradas, uma vez que a Igreja Católica decidiu fazer uma missa na Igreja de S. Domingos, no Rossio. A missa, presidida pelo Patriarca de Lisboa, pretendeu ser «um momento de oração e solidariedade para com os familiares e amigos das vítimas». Dado o mediatismo do acidente, na missa estiveram presentes também políticos locais e representantes do governo. Fica a dúvida se lá estiveram para uma sincera homenagem às vítimas ou se estavam preocupados com possíveis ganhos políticos, dado que estamos a pouco mais de um mês das eleições autárquicas. Deixo a resposta à consideração dos leitores.

Se a intenção fosse de prestar uma genuína homenagem às vítimas, haveria outras maneiras de o fazer que não num templo religioso, em que uma religião em particular tem a ganhar com essa visibilidade e protagonismo, resultado do mediatismo do acidente.

Também compreendo que dado o desastre ter sido muito recente, que cada um de nós, principalmente em Lisboa, estará ainda a lidar a quente com todas as emoções, sem pensar bem nas suas ações. Outros, porém, poderão estar a ser mais calculistas. Os próximos tempos permitirão a cada cidadão tirar as suas conclusões.

Por enquanto, espero que se continue a respeitar o luto pela perda de vidas. A minha solidariedade aos sobreviventes e às famílias de todas as vítimas.

4 de Setembro, 2025 Onofre Varela

O RECADO DE UM SOCIÓLOGO… E O MEU.

Por Onofre Varela

Na imprensa espanhola li uma entrevista ao professor de sociologia norte-americano Douglas Massey, na qual disse que, depois de Donald Trump ter ganho as eleições a Kamala Harris, teve este desabafo que enviou aos seus amigos, por Internet:

«A maioria dos votantes parece aceitar a sombria mensagem de uma nação em decadência, com a falsa narrativa de uma economia em crise, o aumento da delinquência e das minorias predadoras […] A campanha de Trump foi abertamente racista, xenófoba e autoritária. Os seus partidários parecem dispostos a abandonar a democracia apoiando um demagogo autocrático que promete ‘oferecer tudo’ enquanto alimenta a sua ira e o seu ressentimento […] Uma vez no poder, com um Congresso e um poder judicial controlados pelos republicanos, Trump governará despoticamente como um populista, baseando-se na sua compreensão desinformada e cada vez mais delirante da nação e dos seus desafios, causando estragos na economia política dos Estados Unidos e da ordem política global». 

Foi um discurso premonitório!

Neste momento o mundo tem conflitos produzidos por vários actores políticos, destacando-se de entre eles o próprio Trump, mais Putin e Netanyahu. São três protagonistas de dramas que ocupam noticiários mostrando destruição e morte em dois territórios invadidos (a Palestina por Israel e a Ucrânia pela Rússia), cujas invasões são condenadas por todas as leis e acordos internacionais… mas que Trump apoia! 

Sendo evidente a maldade feita aos povos inocentes da Palestina e da Ucrânia, os invasores são apoiados por alguns jovens (e menos jovens) deste meu país que teve um ditador durante 48 anos, o qual foi combatido, unicamente, pelos heróicos militantes comunistas (cujo reconhecimento público e nacional está por fazer) que sofreram no corpo e na mente as acções da ditadura fascista que nos oprimia e que enviou a juventude para uma guerra colonial ignóbil.

50 anos depois de vivermos em Democracia pluralista, neste Portugal regido por uma Constituição verdadeiramente HUMANISTA (quiçá, ao tempo, a mais progressista do mundo) que saiu da Assembleia da República em 1976, vejo, com muita preocupação, o aumento do apoio dado, dia-a-dia, a aprendizes de ditadores que querem destruir as liberdades conquistadas, e que, no plano internacional, apoiam o genocídio que Israel tenta na Palestina, mais a invasão da Ucrânia pela Rússia!… 

E de entre tais apoiantes contam-se militantes comunistas que desprezam o espírito dos seus heróicos combatentes, os quais me levaram a aderir ao Partido em 1978… mas a abandoná-lo quando os seus deputados, no Parlamento, viraram costas à Ucrânia numa descarada demonstração de apoio ao invasor e condenação do invadido!…

O mundo está ao contrário… o HUMANISMO já não tem valor… deixou de ser atendido por militantes comunistas (alguns nascidos depois da Revolução dos Cravos… mas outros com a minha idade e vivências) e que defendem ditadores pela sua visão sem pinga de HUMANISMO, desfocada pela cegueira ideológica. Os heróicos anti-Salazaristas e militantes comunistas na clandestinidade (cujos exemplos HUMANISTAS me levaram a aderir ao Partido) devem estar a dar voltas no túmulo.

Ou então… eu estive enganado toda a vida!… (Eu não fui ao Trivago…)

OV

Douglas Massey – Fonte: Wikipedia
3 de Setembro, 2025 Onofre Varela

O Papa Leão XIV existe?

Por Onofre Varela

O Papa Leão XIV foi eleito a 8 de Maio de 2025. São passados três meses (100 dias) da sua tomada de posse da cadeira de S. Pedro. Bem sei que três meses não é muito tempo numa organização bi-milenar como é a Igreja Católica… em termos temporais na longevidade de qualquer carreira (mesmo não considerando a idade da instituição), três meses foi ontem.

Porém, tal como o mundo hoje se apresenta, afogado em guerras alimentadas por líderes bélicos, invasores e assassinos dos povos seus vizinhos, a voz do Papa, enquanto referente de uma moral verdadeiramente Humanista e tão propalada pela sua Igreja (é assim que ela se identifica) tem-se mantido quase em silêncio (como é comum dizer-se: num silêncio ruidoso)!…

Pode ser uma atitude defensiva, obrigando-o a pensar muito bem no que quer dizer e como dizer, para ser bem compreendido e aceite, não correndo o risco de mostrar uma imagem de navegador sem rumo definido num mar de interpretações tão diversas e falsas como Judas. O mais certo (segundo o meu pensamento de ateu) é a figura do Papa não valer mais do que a de um chefe de qualquer grupo que só tem interesse para os elementos daquele grupo.

Podemos tentar provar este pensamento com o facto de o Papa Francisco ter sido tão falado, cantado, idolatrado e apresentado como exemplo moral de um perfeito “Jesus” actual, como referência moral que recuperou a degradada imagem da Igreja Católica depois de dirigida por um extremista de Direita-radical como alguns críticos reconhecem ter sido Bento XVI.

Há cem dias que Leão XIV é chefe da Igreja Católica… e nada do seu pensamento passou para a opinião pública, nem o seu nome é referido pelos sectores políticos e sociais que fazem a actualidade. A imagem do seu antecessor, Francisco, ainda perdura na história mais recente da Igreja como seu chefe supremo… como que se Leão XIV não exista, porque não dá sinais de vida, não discursa para fora da Igreja, não critica, não vaticina nem chama a atenção do mundo para aquilo que choca (ou deveria chocar) o seu pensamento… o qual, ninguém sabe qual seja!…

Se eu me colocar no lugar do Papa (o que é um exercício difícil, mas se cada um o fizer quando pretende julgar alguém, esse julgamento deixará de ter razão, ou será feito de um modo menos radical do que a ideia que o produziu), encontro-me sob o peso da forte imagem pública do meu antecessor, e obrigo-me a escolher uma de duas atitudes possíveis: ou continuo no caminho de quem me antecedeu, com todas as imensas dificuldades que vou encontrar no percurso porque eu não sou ele; ou então corto com os laços que me ligariam a ele, fazendo o meu caminho sem receio de comparações que me podem menorizar ou engrandecer, por muito diverso que o meu caminho seja daquele que Francisco percorreu, assumindo o risco de desiludir os crentes que esperavam de mim um “Francisco Segundo”.

Muito provavelmente, neste meu entendimento, estou a atribuir à maioria dos crentes católicos uma consciência moral e ética que eles não têm!… Por outro lado, a parte económica da Igreja é demasiado importante neste mundo onde nada se faz sem o dinheiro que “brota do Inferno” mas que tomou conta dos “altares” das nossas vidas… e dos da Igreja também. O “deus-dinheiro” é o verdadeiro deus da sociedade moderna tão precisada de evoluir no sentido de reconhecer a falta de valores que o dinheiro alimenta, e promover um sentimento maior onde o dinheiro nada vale.

Esta visão moral da despromoção do valor do dinheiro seria uma mais valia para uma Igreja que se diz fraterna e defensora do sentimento do “amor”… mas sem “o guito” que a alimenta, a Igreja falece como falecem os indigentes nas bermas das estradas e nos portais das cidades. Por isso me parece urgente reconhecer a menos-valia do dinheiro e do poder de quem o detém, trocando-o pela mais-valia das pessoas, independentemente de quem elas sejam… basta existirem!

Leão XIV conseguirá promover esta alteração social, transformando qualquer indigente num representante da espécie humana, muito mais importante e digno do que a importância falaciosa e a ausência de dignidade que retratam ratazanas de esgoto como são Trump, Putin e Netanyahu?

1 de Setembro, 2025 Onofre Varela

«Pode-se viver sem deuses, mas não sem conhecimento»

Roberto Calasso foi um escritor e editor italiano que morreu em Milão no dia 29 de Julho de 2021, com 80 anos de idade. Reconhecido pelos seus amigos como sendo dono de um carácter “muito difícil e complicado”, também se lhe reconhecia a sua extrema elegância, falando com a precisão dos sábios. E sabia manter o silêncio sobre qualquer pensamento do qual ainda não tivesse tomado consciência plena para se poder exprimir sobre ele.

O filósofo e ensaísta espanhol Juan Arnau, especialista em religiões orientais, escreveu sobre Roberto Calasso, começando por dizer que “da solidão surge o conhecimento, do conhecimento a arte e da arte o eterno, fechando-se o ciclo”. Calasso não encontrava diferença entre “o pensamento e a literatura”, convivendo com as duas matérias como se fosse uma só.

Numa das suas últimas entrevistas, o escritor e editor confessou que se pode viver sem os deuses, mas que “a experiência do divino muda tudo”, e é essencial saber reconhecê-lo. Calasso soube ler o mundo como se fosse um texto sagrado no qual estamos entrelaçados, mas, ao mesmo tempo, olhava com receio os êxitos da nossa civilização tecnológica, dizendo que “a tecnologia cria a ilusão do conhecimento”, e que “estamos perto de sabermos quase tudo do que não nos interessa saber”.

Sobre a Neurociência (disciplina da moda no século XXI), Calasso mostrou-se muito crítico da ideia de “a consciência ser uma propriedade da matéria”, concluindo que a antiga busca do divino, encetada pelos gregos, se transformou hoje na indagação sobre a Natureza e a consciência, mas que a nossa civilização não foi (ainda) capaz de distinguir “mente e consciência”.

Nem sequer Husserl, que foi o primeiro a fazer da consciência o tema central da filosofia contemporânea. (Edmund Gustav Albrecht Husserl [1859-1938] foi um filósofo e matemático alemão, fundador da “escola da fenomenologia”, cujo pensamento influenciou profundamente todo o cenário intelectual do século XX, mais a parte do século XXI em que já vivemos).

Ao contrário do que é aceite – de que a mente está no cérebro – Calasso defendeu o contrário: o cérebro é que está dentro da mente! A identificação entre mente e cérebro é um dos descalabros do pensamento moderno – dizia ele – para a seguir sentenciar que “na sociedade secular tudo é idolatria, e que toda a boa literatura é sagrada”. A mente deixou-se embrulhar na sua própria projecção “e a inteligência deixou-se absorver pelos algoritmos”, do que resultou esta fatalidade: “os verdadeiros problemas não têm solução”… ou não estamos nada interessados em procurá-la, encantados que nos sentimos na artificialidade com que decoramos a naturalidade, como se fosse uma árvore de Natal!… 

 OV 

Roberto_Calasso_(1991)_by_Erling_Mandelmann

7 de Agosto, 2025 João Monteiro

Sobre “A hóstia do questionamento”

Ricardo Correia, um jovem ateu, contactou-nos com uma ideia: “e se promovêssemos o ceticismo e a cultura portuguesa num registo descontraído e acessível”? E logo de seguida concretizou: a ideia passaria por “rancho folclórico cético”, que combinasse a estética tradicional dos ranchos folclóricos portugueses com letras que promovessem o pensamento crítico e o humor cético.

Estava lançado o mote que logo concretizou na sua página do facebook e que, com a devida permissão, aqui partilhamos:

Hóstia do Questionamento

(Instrumental tradicional – acordeão abre, toque alegre e animado)

Verso 1:

No terreiro da aldeia, o povo a dançar,
Mas o vinho que eu trago é pra mente acordar.
Não quero promessas, nem dogma a mandar,
Só hóstia de dúvida pra nos alimentar.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Verso 2:

O padre e a missa, a festa tradicional,
Mas o santo que eu venero é o meu pensamento racional.
No meio da dança, uma risada solta,
É a ética que muda, a fé que não volta.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Ponte:

E se o mundo acabar, antes da próxima festa,
Que eu morra cético, e com alegria na testa!
Nada de mentiras, nem conto do vigário,
Só a luz do conhecimento, o nosso sagrado relicário.

Refrão final:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Foto que acompanha o poema na conta do Facebook do Ricardo. Créditos: Vítor Neno, Jornal de Cá.

28 de Julho, 2025 Onofre Varela

A FOME COMO ARMA DE GUERRA

Há dias foi divulgado que “Reino Unido, França e Alemanha pediram ao governo israelita que suspenda imediatamente as restrições à distribuição de ajuda e permita urgentemente que a ONU e as ONGs humanitárias realizem o seu trabalho de combate à fome. A declaração dos três governos lembrou a Israel que deve cumprir as suas obrigações segundo o Direito Internacional Humanitário”. Parece que parte do mundo [a Europa civilizada] acordou para a realidade e reivindicou o fim da guerra genocida. 

Netanyahu comete atrocidades em Gaza de acordo com um plano que idealizou no sentido de promover a fome naquela região da Palestina, não permitindo a distribuição de comida ao povo nos lugares onde está, estabelecendo três centros distribuidores de água e alimento perto da fronteira do Egipto, obrigando à deslocação dos palestinos esfomeados que, assim, deixam o território deserto à mercê da ocupação facilitada dos israelitas, para que possam concretizar mais facilmente a terraplanagem de acordo com o projecto de transformação daquela faixa em estância balnear para ricos. Penso que tal intenção imobiliária não será concretizada porque, ao fazê-lo, Israel desrespeitaria a propriedade territorial da Palestina, o que será ilegal à luz do Direito Internacional. 

IMAGEM GERADA POR IA.

Neste momento Israel promove uma guerra com o apoio de Trump, negando todos os direitos dos palestinos espezinhados por um exército de malfeitores instruídos por Netanyahu para destruírem e matarem indiscriminadamente, incluindo o assassínio de povo indefeso que pede comida. A fome que Netanyahu decretou na Palestina é usada para tentar eliminar o povo palestino num genocídio idêntico ao que Hitler usou com os judeus, mas substituindo as câmaras de gás por fome, levando crianças à morte por inanição. 

Os colonos israelitas radicais dispersos pela Cisjordânia ajudam no arrasar da Palestina. A atrocidade de se reter alimento e água – incluindo comida para bebés – com a intenção de se deixar a população palestina morrer à fome, faz parte do projecto genocida de Netanyahu. 

O jornalista israelita Gadi Algazi conta no jornal El País (20/7/2025) que o plano genocida foi iniciado há pouco tempo e os resultados já são dramáticos. Todo o mundo já viu fotos de “esqueletos com pele” que são as crianças desnutridas. Gadi Algazi, que é historiador israelita, fundador do grupo de jovens soldados que se negaram a prestar serviço militar nos territórios ocupados – pelo que foi condenado a um ano de cadeia – diz que Israel aproveitou as atrocidades do grupo Hamas, a 7 de Julho de 2023, para ter a oportunidade de pôr em prática dois grandes projectos: 

“O primeiro é imperialista, no sentido de conseguir a hegemonia regional, do qual fazem parte os ataques militares ao Líbano, à Síria e ao Irão. O segundo é um projecto colonialista contra os palestinos, não só os de Gaza, mas também os que vivem na Cisjordânia debaixo da ocupação militar israelita que protege os colonos, transformando os palestinos em cidadãos de segunda classe mediante a erosão dos seus direitos civis”.

E o mundo assiste a este horror… e deixa!

20 de Julho, 2025 Onofre Varela

Moral, Ética e destruição de barracas

O nosso comportamento social deve obedecer a uma moral e a uma ética. A Moral reúne valores e costumes de uma cultura, para orientação comportamental dos indivíduos; a Ética é a reflexão filosófica sobre a Moral, procurando princípios universais na avaliação do nosso comportamento.

Daqui se conclui que muitas atitudes políticas (e também religiosas) podem ser “morais” perante a moralidade da lei vigente, mas não serão “éticas” (como é exemplo a destruição das barracas de quem não tem tecto… o que, para a autarquia que assim actua, poderá ser legal; mas não há quem, em qualquer lugar do mundo, garanta ser uma atitude moral e ética).

Não haverá sociedade sem um sentimento religioso entendido como normalizador do pensamento colectivo. Entre nós, essa “normalização” pertence ao Cristianismo na versão Católica que toma conta das mentes religiosas. Se ao Cristianismo retirarmos os preceitos puramente de fé (como Jesus ter sido clonado por Deus num útero de empréstimo, e em criança ter dado lições a doutores, e depois ter transformado água em vinho, curado leprosos, ressuscitado mortos e a si próprio)… o que sobra desta crença é o amor (o respeito) devido aos outros; e por aí, o que encontramos é filosofia ateísta pura.

A ética religiosa nem sempre é validada pela moral universal e laica. Por exemplo: no Alcorão (III, 157) a ética religiosa muçulmana manda matar os descrentes (segundo alguma interpretação da “Jihad”). No Catolicismo a ética cristã manda adorar a Deus sobre todas as coisas… o que quer dizer que, no tão humano Cristianismo, os nossos semelhantes estão a um nível inferior na escala do respeito; primeiro há que considerar um mito, só depois será observada a real existência das pessoas nossas iguais!…

Fonte: Sapo

Sendo a fé fruto de um pensamento colectivo, ela é, também, uma opção pessoal. Cada qual terá a sua; e a minha, que considero ter muitíssima importância, na verdade é tão estapafúrdia como a tua que para mim não tem valor algum, mas que para ti é a razão do teu viver.

Um dos males que consomem a Humanidade poderá ser o de se dar demasiada importância à crença num deus fictício, permitindo-se a exploração de mentes menos avisadas, e ao mesmo tempo se desrespeite o semelhante. Desrespeito que leva a guerras, matando gente e destruindo tanto património, só porque um líder vaidoso e malvado quer que seja assim e tem armamento bastante para se sentir seguro da “sua vitória”, por muito injusta que (sendo conseguida) ela venha a ser reconhecida pela História.

O filósofo espanhol Fernando Savater, num dos seus textos, lembra Immanuel Kant para dizer que o mestre “acreditava já ser chegada a hora de a Humanidade abandonar a sua menoridade intelectual”. É esta “menoridade intelectual” que, mais de 200 anos depois de Kant, impede o Humanismo que faria do “Homo” um verdadeiro “sapiens” sem invadir países vizinhos nem destruir barracas antes de se dar habitação digna a quem em tais casebres tem o seu lar.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)