30 de Novembro, 2025 Onofre Varela
Qual a influência da Religião na Política?
A frase que faz o título desta crónica vi-a, há cerca de uma semana (precisamente na véspera do dia em que escrevo), em rodapé de um programa de televisão, motivando-me a escrever sobre ela. Qualquer enciclopédia nos diz que “Religião” é o termo que designa um sistema sócio-cultural (de entre imensos sistemas) que abarca divindades, práticas, profecias, crenças, cosmovisões, profecias, éticas, sobrenaturalidade, transcendência, espiritismo e também espiritualidade.
O divino e o sagrado são elementos comuns à maioria esmagadora das religiões, que existem em número desmedido… são cerca de 10.000 em todo o mundo… e cada uma se afirma “única e verdadeira”, na demonstração da pequenez do Homem que as fundou e lidera! Nas práticas religiosas incluem-se rituais, sermões, festivais, venerações, sacrifícios, festas, transes e iniciações, mas também serviços prestados à sociedade onde cada religião se estabelece, como casamentos e funerais (inseridos nos rituais) e a comercialização de creches, infantários e escolas.
Em Portugal, a religião Católica faz a fé dos portugueses desde 5 de Outubro de 1143 (há 882 anos), quando, na Conferência de Zamora, se assinou a independência de Portugal entre D. Afonso Henriques (conde de Portucale) e o seu primo Afonso VII de Leão. 767 anos depois, no mesmo dia e mês (5 de Outubro… mas de 1910) a monarquia portuguesa teve o seu fim e foi implantada uma república laica. A Igreja Católica foi perseguida pelos primeiros republicanos anti-clericais (atente-se que “anti-clericalismo” e “anti-religião” não são a mesma coisa. Se o primeiro “anti” teve razão de existir como antídoto a um clericalismo feroz, já o segundo me parece não ter sentido, pois o Homem é um ser religioso por natureza, característica que não me merece discussão (se o não fosse, não tinha criado deuses). Podemos discutir as práticas das várias religiões e o aproveitamento político que delas se faz… mas isso já é outra conversa… e a política que se lhe mistura faz a razão desta crónica).
Em 1911, com Sidónio Pais (após um ano de República anti-clericalista) foram reatadas as relações diplomáticas com a Santa Sé, e o Catolicismo retomou o caminho que em Portugal vinha fazendo no tempo da monarquia… até hoje.
E aqui chegamos à razão do título desta crónica. À pergunta formulada, eu respondo: “sim, a religião tem muita influência na política”, exercendo-a, principalmente, nas mentes dos cidadãos menos atentos, desligados da História e da filosofia comportamental, e que estejam imbuídos de um “sentimento religioso com defeito”, levando-os a aceitar discursos extremistas que influenciam o seu sentido de voto, não percebendo (para desgraça de todos nós) que votam contra si próprios… (e contra mim… o que é bem pior!). Não é por acaso que o líder da extrema-direita exibe, amiúde, um rosário; e que diz ter acabado de vir da missa. Este discurso leva os religiosos (católicos e evangélicos, quando o são no pior sentido dos termos: o extremado), a votar num vírus destruidor da Democracia… a mesma Democracia que permite ao tal vírus nefasto e maléfico, sentar-se no Parlamento, semear insultos para os seus parceiros parlamentares e sementes de erva daninha na sociedade.
Sim, a Religião influencia a Política, porque sendo actividade humana é, também, actividade política. E num Parlamento democrático, republicano, laico e respeitador do Ser Humano, aos grupos extremistas devia ser negado lugar. Partidos racistas, xenófobos e desagregadores da sociedade, não me merecem crédito, e também não deviam merecer existência legal, exactamente por serem inimigos da ordem e da lei que a nossa Constituição regista e defende. E não é a Constituição que está errada!… O erro mora na mente de quem a quer destruir.
OV








