A História está cheia de facínoras que governaram impérios e oprimiram povos. A caminhada para a modernidade fez-se com sonhadores, intelectuais e livres-pensadores.
Nunca, nessa lenta e dolorosa caminhada, se encontraram doutores da Igreja católica ou mullahs islâmicos. Estes estiveram sempre do lado da tradição, do poder e da repressão.
As ditaduras mais ferozes, as perseguições violentas e os ultrajes maiores à dignidade humana, tiveram a religião como apoio ou locomotiva. Até os despotismos do Séc. XX – o nazismo e o estalinismo – converteram em religião de Estado as sádicas ideologias. Ficamos sem saber se Estaline foi facínora por ter sido comunista ou por ter frequentado o seminário, para além das perturbações mentais que só seriam consentidas por povos herdeiros da demência repressiva dos cristianíssimos czares.
Vejam-se as ditaduras e os ditadores do que é hoje a União Europeia. Tiveram a bênção da Igreja e a cumplicidade de papas, cardeais e bispos. Da Espanha à Croácia, de Salazar a Musolini. E não falemos da América do Sul.
Ainda hoje o Papa, esse travesti garrido e excêntrico, goza da categoria de Chefe de Estado, investido na dignidade por Benito Mussolini nos acordos de Latrão. É um teocrata que se julga ungido de Deus e iluminado pelo Espírito Santo mas que deve a tiara ao poder e dinheiro do Opus Dei.
As ditaduras não são eternas mas as religiosas duram séculos e até milénios, até que o desprezo dos crentes ou a revolta das vítimas as coloque no caixote do lixo da História.
Não é a prisão de um obscuro cartunista no Bangladesh que tem o potencial para provocar uma crise internacional. Pelo contrário, a publicação por um jornal sueco de cartunes que mostram um cão com cara de Maomé tem todos os ingredientes para gerar as polarizações tão queridas a quem deseja uma «guerra de civilizações». Os cartunes podem ser vistos na (bem nutrida…) página da wikipedia sobre esta polémica, ou no blogue do seu autor, o artista plástico Lars Vilks. Foram publicados pela primeira vez dia 18 de Agosto, um acto que já foi condenado pelos governos do Irão, do Paquistão, do Egipto, da Jordânia e do Afeganistão. Porque será que, desta vez, a «rua muçulmana» ainda não está a ferro e fogo?Bento XVI afirmou ter esperanças de que os cristãos e os muçulmanos evitem a violência e a intolerância explorando seus valores religiosos comuns e respeitando as suas diferenças.
O projecto do governo de Ancara de incluir na nova Constituição um texto que autorize o uso do véu islâmico nas universidades está a provocar um violento debate sobre a questão na Turquia.
Não sei o que é um crente moderado, se aquele que aceita umas crenças e nega outras ou o que pretende suavizar a violência da fé e o poder dos clérigos.
Sem a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Francesa a Europa teria ainda monarquias absolutas. Talvez se queimassem ainda homossexuais, bruxas, judeus, apóstatas e hereges. Felizmente, a Europa secularizou-se e rendeu-se à democracia, apesar do azedume do Vaticano.
No Islão a Idade Média vive a apoteose do livro que o arcanjo Gabriel ditou a um pastor analfabeto enquanto os letrados tomavam notas dos ensinamentos. Para os crentes só a sua religião é verdadeira (não são únicos) e é sua obrigação matar quem se afaste.
Não sei se um islamita moderado é aquele que acha que o adultério feminino pode ser castigado com a cadeira eléctrica em vez do espectáculo público da lapidação; se é o que em vez de defender a amputação de um membro se contenta com alguns dedos; se aceita que seja reduzida a distância a que a mulher segue o homem; se consente a redução de uma oração diária e, para quem renegue a fé, permita que a decapitação seja substituída pela prisão perpétua.
Recep Tayyip Erdoğan começa por defender o uso do véu nas universidades e acabará por aceitar a burka. Por ora, quer convencer o mundo de que o crescente islâmico é a Lua minguante mas, quem leu o Corão, sabe que nunca chegará a Lua nova.
Depois da demente invasão do Iraque em que os piores líderes do Ocidente derrubaram a ditadura laica para abandonar o País a uma teocracia xiita, o Irão está na fase de não retorno do poder nuclear e as democracias sentem-se ameaçadas.
A deriva turca, cujo PREC (processo de re-islamização em curso) já começou, aperta o cerco a uma Europa que em vez de defender as forças laicas da Turquia reforça a influência das religiões no seu próprio espaço.
Vamos recuperar o assunto lançado por Carlos Esperança do padre exorcista.
No texto pode-se ler.
«A falta de fé é a principal causa do aumento do poder satânico no mundo actual. É matemático, quando se abandona a Fé, entregamo-nos à superstição. Isto aplica-se, em nossos dias, a todos nós do mundo ocidental.»
Como podem estas barbaridades serem ditas? Como podem ter uma audiência que lhes preste atenção? E que sequer se pense que algo como isto possa fazer sentido?!
É a «fé» que faz com que a Igreja Católica, através de charlatães como o padre Amorth, esteja a dizer a alguém como o Prof. António Damásio ou Prof. Carl Zimmer: «os neuro cientistas, os psiquiatras, os fisiologistas, não sabem tanto de doenças como nós, uma vez que nenhum deles fala sobre satánas, do maligno, da possessão demoníaca nos seus livros ou nos seus artigos académicos. Nós sobrepomo-nos ao método científico». Como se pode ser tão leviano, tão inconsciente, tão ignorante!
Quando se abandona a fé, não é na superstição que se cai. Pelo contrário, quando alguém se liberta da fé é que entende que toda a gramática religiosa é absurda e infantil. Esta foi exactamente uma vitória do mundo ocidental
Irracionalidade religiosa em 2007. Seja bem-vindo ao País de Oz. Afinal, Dorothy está mesmo no Kansas.
Para saber mais, visite o NOVA
Uns dias em Barcelona souberam a pouco. Para resumir, digamos que se tivesse menos 20 anos teria ficado por lá. Ao contrário de Madrid, por exemplo, dá um enorme prazer caminhar pelas ruas de Barcelona, sem destino, apenas pelo passeio. Esta comparação com Madrid nem faz muito sentido porque, praticamente, nunca senti que estivesse em Espanha! Não sei se a sensação seria extensível ao resto da Catalunha, mas em Barcelona, seguramente, não se respira uma atmosfera espanhola.
Não me vou alongar na descrição destes dias; Barcelona impressiona pelo seu todo, não se lhe consegue fazer justiça com descrições turísticas.
Gostaria, no entanto, de contar um episódio caricato. Ao tentar visitar a catedral, foi-nos bloqueado o acesso porque a minha filha vestia… uma camisola de alças! Teria que vestir algo que lhe tapasse os ombros para que nos fosse permitido o acesso. Como o dia estava quente não levávamos nenhuma roupa adicional pelo que tivemos que dar meia volta. Ao sair deparo-me com este magnifico cenário (ver foto), mesmo em frente da porta da catedral onde nos barraram o acesso. Não consegui deixar de pensar que a imagem não era nada inocente e que a hipocrisia tem estranhas formas de se revelar.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.