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9 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Nova catedral em Lisboa

O Patriarcado, a Câmara Municipal e a GESFIMO – Espírito Santo Irmãos, Sociedade Gestora de Fundos, SA, procederam ontem à assinatura do protocolo que espolia o município de terrenos a favor do patriarcado, tendo em vista a construção de uma nova catedral – um equipamento alheio aos interesses da autarquia e inútil para os lisboetas.

A Câmara Municipal sugeriu um terreno, com localização perto do rio, a sul do Parque das Nações e da Avenida Marechal Gomes da Costa, o que foi aceite pelo Patriarcado.

A nova catedral terá vistas para o Tejo, já que se desconhece de que lado está Deus, e conta com o Espírito Santo (Sociedade Gestora de Fundos, S.A.).

9 de Julho, 2005 Palmira Silva

Notícias dos (quasi) antípodas

Chi Yeong Yun, 37 anos, um pastor da Igreja de porta aberta de Chatswood e os professores de estudos da Bíblia James Kang, 21 anos (e 1 metro e oitenta e mais de 130 kg), e Tom Chae-Young Lee, 22 anos, declararam-se ontem culpados do espancamento de uma adolescente, Angela Kim, após o juiz lhes ter mostrado fotos do estado em que ficou a vítima após uma «conversa» com os acusados.

Até aí os três devotos consideravam que apenas tinham tentado persuadir a vítima de que esta devia voltar a frequentar a igreja. Aparentemente os três consideravam perfeitamente legítimo o uso de métodos de persuasão mais «directos» para evitar a apostasia e obviar à falta de respeito em relação aos mais velhos manifestada pela adolescente.

Ainda na Austrália, o fundador do culto apocalíptico cristão a Ordem de Santo Charbel, William Kamm, o tal que que reclama uma linha directa com o panteão católico e instruções ao vivo e a cores de Maria, foi condenado ontem num tribunal australiano.

Aparentemente o juri não acreditou nas aparições marianas, ou nas suas instruções ao devoto para fundar um hárem que forneceria a prole que asseguraria a sobrevivência da humanidade após o apocalipse, e considerou que o réu é apenas um pervertido sexual que aproveitou a sua ascendência espiritual sobre os pais da adolescente, membros da sua comunidade, para a manipular, convencendo-a de que tinha sido escolhida pela «Virgem» para ser uma das suas rainhas, e assim abusar sexualmente da jovem de 15 anos.

8 de Julho, 2005 fburnay

O medo da secularização

São muitos os católicos que não gostam de menções à Inquisição, ao fanatismo ou à intolerância da sua religião porque essa religião que conhecem (ou julgam conhecer) lhes foi apresentada numa forma secularizada. A catequese de que foram inocentes vítimas, apesar de retrógrada e por vezes contraditória em muitas matérias, deixa emergir uma mensagem generalizada de amor, paz e respeito, dado o ambiente cultural da nossa sociedade.

Porque nem todos concordam com tudo o que o Papa diz, nem com o que diz padre fulano na sua homilia. Assim não fosse e não ouviria tantas mulheres dizerem-se católicas. Porque não sabem que o livre-pensamento é castigado com o fogo do Inferno. Inferno esse do qual duvidam enquanto possível destino post-mortem e cuja existência julgam, muitas vezes, ser matéria de opinião pessoal no seio do seu catecismo.

Este diluir do dogma pode ser auto-infligido por pessoas de bom senso não têm tempo para acreditar em contradições ao pequeno-almoço ou por ministros da fé mais liberais, reformadores, jovens ou simplesmente amedrontados pela perda de seguidores. O que é certo é que é a sociedade e não o Vaticano que vai ditando as mudanças profundas na maneira de viver a religião.

Seja essa mudança (ela também uma forma de secularização) um modo de fazer cair um véu sobre a repulsa disfarçada que as instituições religiosas têm pelas liberdades pessoais, seja isso um esforço para fazer evoluir doutrinas estáticas há séculos, o que é certo é que a religião, na sua forma natural, possui todos os ingredientes para instrumentalizar a perseguição, a morte e o ódio livres de punição divina e presenteados com garantias de salvação.

É bom lembrar a entrevista de Omar Bakri Mohammed, auto-intitulado «teórico da Al-Qaeda na Europa», onde este revela o não inesperado desprezo total pelo secularismo e o ódio sagrado incluído nos textos divinos e ameaça um atentado em Londres, infelizmente concretizado.

Não sei o que dizer quando alguém mascara o ódio bíblico de “vicissitude da época” ou “tradução melindrosa”. Será uma forma de o exorcizar, aos poucos, da liturgia? Ou será uma forma de o conservar, à espera de melhor oportunidade para voltar a espalhar o cancro medieval do fanatismo?

7 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Vaticano – Sob os auspícios do gerente do departamento para a Causa dos Santos, cardeal Saraiva Martins, o processo de canonização dos pastorinhos de Fátima, Jacinta e Francisco, vai avançar em Setembro.
O milagre seleccionado refere-se à cura de diabetes, atribuído à intercessão dos dois beatos que, actuando em parceria, curaram um filho de pais portugueses, a viver na Suíça.
O milagre, na área da endocrinologia, foi obrado em Filipe Moura Marques, agora com 5 anos. Este milagre esteve para ser abandonado, mas foi recuperado por falta de outro mais convincente.
É a primeira vez que beatos portugueses obram milagres para um país fora da União Europeia, um facto prodigioso e raro que os peregrinos de Fátima saberão apreciar.

João Paulo II – A beatificação do protector do Opus Dei e admirador dos ditadores católicos corre a bom ritmo. Foi pensado declará-lo mártir mas a ICAR acanhou-se. Assim, encomendou-lhe com carácter de urgência um milagre que não o envergonhe face aos bem-aventurados pouco recomendáveis que ele próprio elevou aos altares.

Europa e cristianismo – Segundo o cardeal Saraiva Martins, cúmplice de JP2 e de B16, a Europa só sairá da crise com o cristianismo.
Ao apelar ao reconhecimento das raízes cristãs da Europa, diz que há lugar para o Islão.
Para além da falsificação histórica que a ICAR pretende fazer, insinuando que o Continente só passou a existir com o cristianismo, reserva ainda um lugar ao islão cujo proselitismo demente aprecia. Um mal nunca vem só.

Lugar para o Islão – O cardeal não se referia ao atentado de Londres, posterior às suas palavras.

7 de Julho, 2005 Carlos Esperança

E o resultado viu-se…

«A única vez que rezei na vida foi quando concorri ao Festival da Canção».

Herman José, humorista. (EM FOCO, «Visão» 07-07-2005, pg. 32).
7 de Julho, 2005 Ricardo Alves

Atentados de Londres: foi em nome de Deus?

Um comunicado de uma alegada Organização Secreta da Al-Qaeda na Europa, assumindo a autoria dos atentados de hoje de manhã em Londres, apareceu num site islamista.
«Em nome de Deus, o misericordioso, cheio de compaixão, possa a paz estar sobre o alegre e destemido lutador, o Profeta Maomé, que a paz de Deus esteja sobre ele.
Comunidade dos muçulmanos e mundo árabe, regozijai-vos pois chegou a hora da vingança contra o governo cruzado e sionista britânico em retaliação contra os massacres que a Grã-Bretanha está a cometer no Iraque e no Afeganistão. Os mujahedin heróicos realizaram um ataque abençoado em Londres. A Grã-Bretanha arde agora com medo, terror e pânico nos seus cantos norte, sul, leste e oeste.
Tínhamos avisado o governo e o povo britânicos repetidamente. Cumprimos a nossa promessa e realizámos o nosso ataque abençoado na Grã-Bretanha depois de os nossos mujahedin se terem esforçado estrenuamente durante um longo período de tempo para assegurar o sucesso do ataque.
Continuamos a avisar os governos da Dinamarca e da Itália e todos os governos de cruzados que serão punidos da mesma maneira se não retirarem as suas tropas do Iraque e do Afeganistão. Aquele que avisa está desculpado.
Deus diz: “Tu, o que acreditas: se ajudares (à causa de) Alá, Ele te ajudará, e plantará os teus pés firmemente.”»
O site onde este comunicado apareceu já não está disponível. A sua autenticidade não está confirmada.
BBC (Comunicado completo)
6 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Tolerância cristã

Quando oiço falar da tolerância cristã vêm-me à memória dois milénios de violência que culminam na influência maléfica que a hierarquia católica exerce nos países sul-americanos e em vários países europeus, da Polónia à Espanha.

Se é verdade que judeus ortodoxos e muçulmanos, particularmente estes, não temem confronto com as malfeitorias dos cristãos, não podemos absolver a violência que brota dos livros ditos sagrados e do proselitismo dos crentes fanatizados.

Os cátaros e o huguenotes provaram cruelmente as manifestações de tolerância cristã, tal como os judeus e os muçulmanos. As Cruzadas e a Inquisição não foram epifenómenos de uma época mas inserem-se na matriz genética de uma doutrina que tem por ambição dominar o mundo.

A Reforma e a Contra-Reforma são o exemplo trágico da ferocidade que os cristãos são capazes de desenvolver. E que dizer dos cristãos que santamente acorriam aos locais de suplício para se deliciarem com as torturas e o churrasco de pessoas vivas?

Calvino foi tolerante? Os Evangélicos e os Adventistas são tolerantes? JP2 e B16 são exemplos de tolerância ou de bondade?

O Opus Dei não alberga o mais leve resquício de tolerância no coração dos seus membros. Monsenhor Escrivá, o tenebroso sacerdote que voou a jacto para a santidade, montado no dorso de JP2, foi director espiritual do casal Franco e do general Pinochet, dois terríveis ditadores que governaram respectivamente a Espanha e o Chile.

De Pinochet e esposa dizia JP2 que eram um casal cristão perfeito. Era esta a opinião do futuro santo sobre o torcionário, ladrão e fascista. É de exemplos de santidade assim que o cristianismo está cheio.

Que existem cristãos tolerantes não há dúvida. Que o cristianismo seja tolerante é falso.