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15 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Fátima – A manutenção do embuste

Fátima, S. A. teve neste 13 de Maio uma multidão de clientes atraída pela campanha mediática, organização profissional de peregrinações e pelo período de crise que se vive, propenso à superstição e ao fanatismo.

Mas a ICAR já pressentiu que os peregrinos estrangeiros esmorecem com a escassez de milagres e a orquestração de um evento que tresanda a falsidade.

São mais os peregrinos atropelados nas maratonas da fé do que os sinais do divino.

Para prolongar a vida do negócio a ICAR tirou da cartola um anjo que teria visitado o local um ano antes da Virgem. Já começou a comercialização da trapaça. Já divulgou que os pastorinhos viram o anjo, uma espécie zoológica que se julgava extinta e que, afinal, estacionou na Cova da Iria.

Fátima era lugar privilegiado para carreiras regulares entre o Céu e a Terra, quando a fé era mais importante do que a escola, a religião mais respeitada que a ciência e os padres mais convincentes do que os professores.

Assim, o anjo pôs as asas das longas viagens, escovou as penas, fez a higiene matinal e partiu para a Cova da Iria. No Céu era um infeliz entre a numerosa fauna. Na Terra teria três crianças à sua espera, ansiosas pela conversão da Rússia e pela adopção do terço como terapêutica de primeira linha nas mais diversas moléstias.

Ninguém sabe o que veio fazer a criatura mas o pasmo entre os créus cresce e a ICAR já testou a mercadoria. Sob os auspícios do anjo voador vêm mais peregrinos, caem mais uns óbolos e prolonga-se o período de exploração do mais astuto ardil para manter viva a fé e perpetuar a superstição.

É um embuste que a máquina eclesiástica já pôs a render e que, com as canonizações previstas, assegura o retorno dos investimentos imobiliários com benefícios acrescidos no campo da publicidade e na conversão das almas.

15 de Maio, 2006 Palmira Silva

Os católicos e o preservativo

Uma sondagem da Aximage para o Correio da Manhã indica que a esmagadora maioria dos católicos nacionais, 84,2%, discorda da posição da Igreja Católica, isto é do Vaticano, em relação ao uso de preservativo.

A discordância dos católicos em relação à doutrina da Igreja acerca do uso do preservativo foi reconhecida por Fernando Castro, presidente da Associação das Famílias Numerosas, que, reconhecendo a «enorme distância» entre o que fazem os católicos e determinadas leis da Igreja «inspiradas no Espírito Santo», afirmou que estes católicos «Estão errados».

Já Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), manifestou-se «surpreendido» com o resultado desta sondagem.

«Do contacto com as comunidades, essa não é a ideia que tenho, por isso, esse resultado surpreende-me». Mas para o dignitário nacional «sondagens são uma coisa e a realidade outra, por vezes bem diversa».

14 de Maio, 2006 Palmira Silva

A ministra da hipocrisia

Depois da expressiva derrota dos trabalhistas nas eleições locais britânicas Blair remodelou o executivo de Londres. Nesta remodelação, em boa parte um «baralha volta a dar» de ministros, Ruth Kelly, a anterior ministra da Educação, assumiu a pasta da Igualdade e da Mulher, ou como noticia o The Times, a pasta da Hipocrisia.

De facto, é no mínimo bizarro que Ruth Kelly, uma devota Opus Dei, que desde que foi eleita em 1997 faltou, por motivos de consciência, a 12 votações em que estavam em apreciação direitos iguais ou medidas anti-discriminação para homossexuais, votou contra a lei de união civil entre pessoas do mesmo sexo e rejeita a adopção de crianças por casais homossexuais, tenha sido encarregue por Tony Blair de garantir a igualdade de direitos a todos os cidadãos britânicos.

Como comentou a trabalhista Gwyneth Dunwoody ao saber da nomeação «Fico feliz em saber que o primeiro-ministro tem sentido de humor no que toca à nomeação de um ministro para a mulher e igualdade».

De facto, só pode ser uma anedota, de mau gosto, nomear para esta pasta, supostamente para combater qualquer tipo de discriminação, alguém que considera não só ser a homossexualidade uma «depravação grave», «um mal intrínseco», mas também um pecado que todo o político católico, especialmente se membro da Opus Dei, tem por obrigação combater.

O grupo Stonewall exigiu a Blair a renúncia de Kelly e afirmou que a sua designação «é uma bofetada» na luta de décadas em prol dos direitos dos homossexuais britânicos. Alguns blogs ingleses já fazem apostas sobre quanto tempo esta absurda escolha de Tony Blair se aguentará no lugar…

14 de Maio, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a Venezuela

Na reunião de quinta-feira com Hugo Chávez, Bento XVI disse ao presidente venezuelano que estava muito preocupado com a diminuição da influência da Igreja Católica na Venezuela. De facto, a igreja católica venezuelana perdeu boa parte da sua credibilidade e influência junto ao governo a partir de 11 de Abril de 2002, quando a sua hierarquia participou activamente no golpe de Estado que derrubou, por um breve intervalo, o presidente Chávez.

O porta-voz do Vaticano, o Opus Dei Joaquín Navarro-Valls, informou ainda que durante a audiência Bento XVI entregou ao presidente venezuelano uma carta com «pontos de preocupação por parte da Igreja» em relação à Venezuela.

Pontos de preocupação que incluem o «projecto de reforma da educação», que declara a natureza «secular» do ensino e como tal não prevê a obrigatoriedade para todos do ensino da religião católica, e, especialmente, os «programas de saúde pública» da Venezuela, que, horror dos horrores, não só não ilegalizam os contraceptivos como consideram contemplar propostas de legalização do aborto nas condições recentemente viabilizadas na Colômbia: violação, malformações fatais do embrião/feto e quando a vida ou a saúde da gestante está em perigo.

Na realidade, ainda o ano passado os meios católicos se viram «obrigados» a intensas manobras políticas para inviabilizar um projecto lei que pretendia levantar algumas restrições à dracónica lei do aborto na Venezuela, que apenas o permite em caso de risco extremo de vida para a mulher. E mesmo nesta situação a posição da Igreja católica é que este não deve ser permitido. Como escreve um mui católico leitor no site católico em língua espanhola ACIprensa, indignado com a «liberalização» do aborto na Colômbia, «As mães condenadas por Deus a morrer pelos seus filhos devem encarar essa missão com um sorriso, são umas privilegiadas». Neste muito católico site, que censura os comentários considerados não idóneos, pode ler-se ainda um católico apelo a que se atirem ao mar amarrados a pedras os juízes do Tribunal Constitucional que reconheceram o direito à vida e à saúde das mulheres colombianas…

Não obstante Chávez afirmar «Eu sou ainda mais radical. Eu digo que a vida deve ser protegida ainda antes da concepção», isto é, ser pessoalmente contra o uso de contraceptivos, afirmou «ditatorialmente» «Eu, Hugo Chávez, sou contra o aborto, mas não posso impôr a minha posição a todo o país» continuando «Muitos dos que rasgam as vestes em relação ao aborto, esconderam não só abortos mas assassínios… eles veêm fome, crianças pobres e são incapazes de mover uma palha, a vida das crianças que vagueiam nas ruas e daquelas sem escolas também deve ser defendida». E, afronta das afrontas, pediu aos dignitários católicos para debitarem o que quisessem sobre o assunto mas «deixarem as pessoas tomar a decisão».

Assim, a Igreja Católica é uma das vozes mais críticas contra Chávez, considerado possuído pelo próprio Belzebu pelo mesmo Cardeal, Rosalio Castillo Lara, que afirma estar a Venezuela a viver em ditadura, sob o jugo do «mais nefasto governo na história da Venezuela». Mais nefasto porque não legisla o que o Vaticano decreta e especialmente porque reduziu o financiamento da Igreja…

Convém recordar que para a Igreja Católica todos os regimes políticos que não acatem os ditames do Vaticano são ditaduras, como expresso pelo finado João Paulo II no seu último livro, «Memória e Identidade», em que este afirmava que não aceitar os ditames dos Evangelhos é uma nova forma de totalitarismo.

Mais de 90% da população da Venezuela é católica, e os representantes do Vaticano detêm uma não despicienda influência política que pode ser determinante nas eleições de Dezembro próximo, facto que Bento XVI certamente relembrou pessoalmente a Chávez.

13 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Ética republicana


Fonte: Expresso, hoje – 1.ª página.

13 de Maio, 2006 Palmira Silva

Talibans portugueses

Há uns dias referi a recente vitória civilizacional na Colômbia em que, contra os violentos protestos dos dignitários católicos neste país, foi reconhecido pelo Tribunal Constitucional a inconstitucionalidade da lei que criminalizava o aborto em todas as circunstâncias. De facto, esta lei violava os tratados internacionais subscritos por aquele país, nomeadamente a declaração internacional dos direitos do homem, que reconhece a todos o direito à vida e à saúde. A criminalização do aborto no caso em que a saúde ou mesmo a vida da mulher está em risco se a gravidez não for interrompida é uma clara violação destes direitos.

Para a misógina Igreja de Roma só a mera menção de direitos da mulher, nomeadamente o direito à vida, é uma heresia abominável, já que a mulher (excepto no estado embrionário ou fetal) é um sub-humano sem direitos, como implícito nas declarações do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo, o dignitário colombiano que acha ser o vírus HIV mais pequeno que um átomo de hélio, já que afirma serem os preservativos permeáveis ao vírus causador da SIDA. O responsável pelo Conselho Pontifical da Família disse à rádio RCN (colombiana) que a decisão de despenalizar o aborto para salvar a vida da gestante foi «um ataque à vida humana».

Seguindo escrupulosamente as indicações do Vaticano neste tema, os piedosos clérigos colombianos já fizeram saber que o aborto é um «pecado» mortal em qualquer circunstância e que uma «boa» mulher católica deve optar por morrer no caso de a sua vida estar em risco por uma gravidez. Para além de considerarem o apelo à desobediência civil à lei, que tem poucas hipóteses de sucesso, os piedosos bispos já fizeram saber que a retaliação para o caso da não acatação das ordens do Vaticano neste país da América do Sul, supostamente laico, será a excomunhão.

Para aqueles que consideram que esta posição incompreensível da ICAR, atentória dos mais básicos princípios morais e civilizacionais, que atribui maior valor a uma célula, um óvulo fecundado, ou a um conjunto de células (o embrião) que a uma mulher, se restringe a países do Terceiro Mundo convém recordar as declarações recentes de Augusto Lopes Cardoso, o mui católico antigo bastonário da Ordem dos Advogados e actual docente da Universidade Católica, subscritor nas últimas eleições de uma carta aberta aos eleitores católicos apelando explicitamente ao voto na direita (apelo ainda mais explícito feito pela Associação Fiducia)*.

Lopes Cardoso defendeu liminarmente a imoral, diria mesmo criminosa, posição de Roma afirmando:

«Em circunstância alguma é admissível a prática de aborto. Nem mesmo quando a saúde da mãe é colocada em risco ou são diagnosticadas más formações nos fetos

*«Diante destas considerações, lançamos aqui um apelo a todos os portugueses: debatam, elucidem os seus círculos familiares, as suas relações sociais e profissionais a respeito do que verdadeiramente está em causa nas eleições do próximo dia 20 de Fevereiro: os valores básicos de uma civilização autenticamente cristã. Não cremos que seja legítimo e patriótico dar o voto a partidos cujos programas preconizem a aprovação de leis que atentem contra a essência da própria ordem moral».

12 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Milagres à moda de Fátima


Pensei que Deus tinha abandonado o ramo dos milagres e apenas subsistia o negócio, por conta própria, destinado a meios rurais e como ajuda à sustentação do clero.

A reincidência em transformar paralíticos em mancos, tartamudos em oradores e a cura de moléstia da pele, sífilis e cancros, saturam o mercado e fazem desconfiar a clientela.

Há quem acredite que a santinha de Balasar passou os treze anos e sete meses finais da vida em jejum total e anúria (apenas tomava a comunhão), facto confirmado por JP2, e que a falta de consagração da hóstia, por lamentável incúria, possa estar na origem da morte da bem-aventurada que se desabituara de comer e beber.

Ora, toda a gente sabe que JP2 era mitómano e supersticioso, que julgava que Fátima foi feita para ele e que a Lúcia viu a batina com que foi baleado antes de ter sido feito o pano para a confeccionar.

JP2, Lúcia e outros mentirosos desacreditam mais o deus que proclamavam do que os ateus. Deus não morre porque não existe, mas fina-se pelo ridículo a que a ICAR o expõe.

Imaginem as rezas à desgarrada que hoje, em Fátima, uma multidão de crentes encena para pedir a cura de umas ovelhas estropiadas, o milagre de não ter chegado a Portugal a gripe das aves nem ter havido um tufão na Costa da Caparica.

Mafalda Pereira, de 32 anos, saiu de Estarreja, a pé, no Domingo. É a segunda vez. Da primeira «foi quando passei no exame de condução». Se a D. Mafalda acha que ter passado no exame de condução é motivo para ir a Fátima, a pé, eu penso que não devia usar outro meio de transporte.

12 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Café Império – Lisboa

Aqui fica o apelo do «FORUM CIDADANIA LISBOA».

Eis a sua petição:

Lisboa faz-se de homens e mulheres, actos e omissões, recantos e olhares, mas também se faz de bifes, e aí NÃO há melhor bife do que o bife à Café Império. Pela carne, mas sobretudo pelo molho de manteiga, pelo pão embebido no molho, e pelas batatas bem fritas e salgadinhas, aos palitos, coisa rara nos dias que correm. Quem o prova uma vez, repete, repete e torna a repetir.

O mais célebre e clássico dos bifes de Lisboa é servido num dos últimos cafés tradicionais de Lisboa, o Café Império, edifício incorporado no Cinema Império, hoje sede lisboeta da Igreja Universal do Reino de Deus. Edifício que já viu muito melhores dias, é certo, mas que pelo seu bife continua a ter legiões de fãs, masoquistas na sua maioria (ler crítica de Lourenço Viegas, em http:// www.contra-prova.blogspsot.com), já que o estado de conservação e o serviço de restauração muito deixam a desejar nas últimas décadas. Contudo, por aquele bife faz-se tudo!

O Café Império está classificado pelo IPPAR como Imóvel de Interesse Público, desde 1996, porque parte integrante do Cinema Império ( http://www.ippar.pt/pls/dippar/pat_pesq_detalhe?code_pass=74179). O bife à Café Império está classificado pelos estômagos de milhares e milhares de lisboetas, portugueses e outros mais, como património tangível e intangível, municipal e nacional.

Agora que se anuncia que os actuais proprietários o decidiram vender à IURD, e que esta se propõe transformar aquele lugar de peregrinação gastronómica, de novos e velhos, pobres e ricos, altos e baixo, gordos e magros, em mais uma sala de culto; há que levantar a voz gritando bem alto:

NÓS, QUE GOSTAMOS DO “BIFE À CAFÉ IMPÉRIO”, PEDIMOS,

– Aos novos proprietários que continuem a explorar o espaço como café-restaurante, e conservem a receita original do bife, uma vez que o espírito e a fé nada são sem um bom bife, e que aproveitem a ocasião para introduzir benefícios ao espaço;

– À C.M.L. que não conceda licença de exploração do espaço sem ser para restauração; e que regulamente o licenciamento das salas de culto;

– Ao IPPAR que se mantenha atento sobre eventuais obras que desvirtuem o edifício, por dentro (painel de Jorge Barradas e estrutura) e por fora (fachada e painel).

ASSINE A NOSSA PETIÇÃO EM: http://www.petitiononline.com/bifecaim/petition.html

Passe palavra!

Viva o bife à Café Império!

(Publicado no Diário Ateísta e Ponte Europa). Ver artigo do Diário de Notícias.

11 de Maio, 2006 Palmira Silva

Vitória civilizacional na Colômbia

Naquele que foi considerado pelos bispos colombianos «um dia muito triste para a Colômbia», o Tribunal Constitucional colombiano legalizou, por uma maioria 5-3, o aborto em caso de violação, malformações fatais do embrião/feto e quando a vida da gestante está em perigo.

A lei criminalizando a interrupção voluntária da gravidez em qualquer circunstância era uma das questões «fracturantes» que o clero católico local não queria ver alterada. Aliás, o bispo Fabian Marulanda Lopez, secretário-geral da conferência episcopal colombiana, clamava há uns meses que a Colômbia precisava, em relação ao aborto, de leis mais duras e penas mais pesadas (que os entre 1 a seis anos de cadeia previstos até hoje, mesmo quando o aborto se destinava a salvar a vida da grávida).

Face ao que consideram «uma ressonante vitória do lobby anti-vida», os bispos colombianos consideram a hipótese de incitarem à desobediência civil ao que afirmam ser uma lei «imoral».

De facto, para a Igreja Católica é «imoral» salvar a vida de uma gestante. O modelo de perfeição feminina «cristã» é uma mulher como Gianna Beretta Molla (canonizada com o título Mãe de Família), que se recusou a interromper a gravidez que a matou. Aliás, a encíclica Veritatis Splendor (1993)é muito explícita sobre o tema: João Paulo II afirma que o aborto é um mal intrínseco e que não há excepções que o permitam. Mesmo que essa excepção seja salvar a vida da gestante…

Aparentemente nem neste país em que a ICAR tem uma influência quasi medieval os católicos locais seguem os ditames de Roma. De facto, estima-se que na Colômbia 1 em cada 4 gravidezes terminem em aborto, de vão de escada para as mulheres de menor poder económico, 30% das quais apresentam complicações pós-aborto, que são a 3ª causa de morte para as mulheres colombianas. Para além disso, os estudos de opinião indicam que a esmagadora maioria da população concorda com o levantamento das restrições agora efectivado.

Diria que as tentativas de sublevação popular dos bispos colombianos contra esta lei só terão eco nos fanáticos fundamentalistas que acham não terem as mulheres quaisquer direitos… sequer o direito à vida, consagrado em todos os tratados internacionais!