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5 de Junho, 2006 Palmira Silva

Fundamentalismo hindu

Bharath Mata (Mãe Índia), um quadro «herege» de Maqbool Fida Husain muito protestado

Os quadros de Maqbool Fida Husain, o mais reputado pintor indiano, considerado o Picasso deste país pela Forbes e fundador do Progressive Artists’ Group, são acusados por fundamentalistas hindus de denegrirem o hinduismo pelo facto de retratarem deuses e deusas do panteão hindu em nudez integral e poses eróticas. O fundamentalismo hindu não difere dos seus congéneres das religiões do livro, embora com menor divulgação no Ocidente e poucos seguidores, algo que enfurece os ditos fanáticos que se afadigam em trazer para a ribalta a intolerância da sua religião. Como se lamentou Vyankatesh Abdeo, o secretário-geral do partido de linha dura hindu Vishwa Hindu Parishad, que encenou uma série de protestos, sem grande adesão, em relação aos quadros do pintor (cuja cabeça já foi posta a prémio) que pretende ver na cadeia pela «blasfémia»:

«Apenas porque existe um cartoon do profeta Maomé, todo o mundo muçulmano protesta».

Em Inglaterra, o suposto ultrage destes fundamentalistas e as ameaças que produziram surtiram efeito e através dos grupos Fórum Hindu de Inglaterra e Hindu Human Rights conseguiram, como já indicou o Ricardo, cancelar uma exposição do referido pintor na Asia House Gallery em Londres (depois de destruirem dois dos quadros expostos).

Quarenta e dois académicos asiáticos, pertencentes à organização laica Awaaz – South Asia Watch, «uma rede secular baseada no Reino Unido que congrega organizações e indíviduos dedicados a acompanhar e combater o ódio religioso na Ásia do Sul e no Reino Unido», publicaram uma carta no Guardian pedindo a reabertura da exibição de Husain e condenando em termos veementes os fundamentalistas hindus britânicos:

«O Fórum Hindu de Inglaterra e o Hindu Human Rights acusam a Asia House de não os ‘consultar’ antes de montar a exposição. Consultas não deveriam ser um requerimento para a expressão artística. Estes grupos não foram eleitos, não são conhecidos por consultarem democraticamente a comunidade antes de exercerem pressão em outros em nome do hinduismo. As suas acções não seriam sancionadas pela maioria dos hindus. A tradição hindu tem uma história extensa de diversas representações das suas divindades, incluindo imagens nuas e eróticas de deuses e deusas. O hinduismo nunca teve o conceito de censura que estes grupos autoritários gostariam de promover. Nós pedimos à Asia House para reabrir a exposição – fazendo-o honrará as ricas e diversas tradições do hinduismo e da Índia».

Já anteriormente Lord Meghnad Desai tinha condenado, em outra carta ao Guardian, os grupos fundamentalistas. Carta a que o grupo de «tradicionalistas» hindus respondeu (aliás quasi uma réplica da carta que enviaram à New Humanist) afirmando que afinal as suas alegações iniciais de que era a nudez das divindades retratadas que os ofendia estavam erradas (isto é, eram patéticas de tão absurdas).

Afinal não é a nudez das deusas em poses sexuais, algo que Lord Desai tinha apontado ser frequente em templos hindus, que os ofende mas sim o facto de estas estarem envolvidas em «actos bestiais», isto é, sexo com animais. O que é obviamente falso, como quem quiser pode comprovar e apreciar os arrobos de imaginação (delirante) necessários para ver nos quadros «hereges» do muçulmano Husain a bestialidade que tanto «indigna» os fundamentalistas hindus!

De qualquer forma, considerando que os clérigos hindus casam frequentemente não só animais entre si mas também jovens raparigas com animais sortidos, desde cães a cobras, diria que se percebem as leituras delirantes dos devotos hindus…

4 de Junho, 2006 Carlos Esperança

A excisão genital e a fé

A mutilação genital feminina não é apenas uma crueldade inqualificável, é uma mistura de religião e tribalismo, um acto de demência religiosa que vê no prazer da mulher uma fonte de imoralidade.

No cristianismo a sexualidade feminina é uma abominação que Agostinho condenou quando a idade e o múnus o fizeram o casto. No islão é uma ofensa ao profeta, que os mullahs vigiam, e um perigo que as teocracias se encarregam de erradicar.

No mundo árabe, onde a Idade Média floresce nas teocracias que embrutecem e constrangem socialmente, todas as sevícias e actos de crueldade contra a mulher são formas de perpetuação do poder clerical e do carácter misógino do Corão.

Nos países cristãos a mesma demência, contida pelo carácter secular, é uma constante herdada da cultura judaico-cristã, uma obsessão do clero e um desatino dos mais retrógrados dirigentes.

Nos EUA o presidente Bush, em demência homofóbica, quer a revisão da Constituição para que os casamentos homossexuais sejam interditos.

Do Vaticano, a última teocracia europeia, o ditador vitalício ordena aos sicários que lhe servem de correia de transmissão, que defendam a ortodoxia bíblica, que se oponham à emancipação da mulher e lhe reprimam a sexualidade, numa cruzada pela castidade e por aquilo que designam de bons costumes.

A ICAR leva o caos e a chantagem a qualquer lugar onde os direitos humanos sejam interpretados de igual forma para ambos os sexos. Nem o passado obsceno que guardam os muros do Vaticano morigeram o Papa.

4 de Junho, 2006 Palmira Silva

Código da Vinci: never ending story

«O Código da Vinci» foi proibido em mais dois Estados indianos, Andhra Pradesh e Meghalaya, elevando-se assim para 7 o número de Estados na Índia onde não é possível ver o filme. A estes estados juntam-se o Punjab, Nagaland, Tamil Nadu, Pondicherry e Goa.

Em Goa, as ameaças dos grupos católicos locais do recurso à força, isto é violência, para evitar que o filme fosse visto, pouparam o governo local às decisões indigentes e cobardes dos seus congéneres de Andhra Pradesh, que confessaram ter imposto a proibição com medo das represálias católicas. De facto, a distribuidora retirou o filme. Em Bombaim (Mumbai), o Comissário da polícia local viu-se obrigado a medidas extraordinárias de segurança em torno dos cinemas que exibem o filme para evitar a fúria dos (poucos mas aguerridos) católicos locais.

Também no Paquistão o filme foi proibido, por pressão não só da minoria cristã como da maioria muçulmana do país. Como já referi, o perigo do filme para os dignitários cristãos e muçulmanos reside especialmente no facto de o livro levantar questões, ou antes, sugerir blasfémias execradas por estas religiões misóginas, sobre o papel das mulheres nas respectivas religiões. E especialmente por não só sugerir que a misoginia das três religiões do livro se revela na sua abominação da sexualidade, com especial ênfase na feminina que é dever dos «santos» das 3 religiões reprimir, como sugere que o pecado original nos moldes que hoje é entendido foi uma congeminação da Igreja para destruir o «sagrado feminino» e justificar a subjugação da mulher.

4 de Junho, 2006 Carlos Esperança

Laura VanRyn e a eficácia da oração

Durante cinco semanas – diz o Diário de Notícia de ontem (sítio indisponível) – os pais de Laura, profundamente religiosos, viveram «um misto de angústia e de esperança» enquanto durou o estado comatoso da filha, gravemente ferida num acidente de viação.

Estiveram noite e dia à cabeceira e, quando viram a jovem a sair de coma «deram graças a Deus».

Estranharam, à medida que ela recuperava a consciência, ouvir-lhe coisas incoerentes, como assinalaram no blog Laura VanRyn que propositadamente criaram.

As orações e os louvores a Deus tinham sido por uma colega da filha morta. No mesmo acidente Whitney Cerac, uma colega de 18 anos, com semelhanças físicas evidentes, era a paciente que recuperava do estado de coma.

O trágico equívoco fez explodir de alegria a família da sobrevivente, considerada morta, enquanto os infelizes pais reconheciam o capricho trágico da sorte que os iludiu durante cinco semanas.

4 de Junho, 2006 Palmira Silva

Um alibi do outro mundo

Um dos nossos leitores brasileiros informou-nos de um caso absurdo que ocorreu na cidade gaúcha de Viamão em que uma mulher foi inocentada da acusação de mandante de um assassínio que sob ela pendia, através de … cartas psicografadas!

Aparentemente a justiça brasileira reconhece as palermices sortidas do espiritismo e cartas psicografadas servem de prova nos tribunais brasileiros, o primeiro caso ocorrido em 1979 em que cinco cartas psicografadas inocentaram um homem acusado de assassínio: «pela primeira vez em toda a história jurídica do mundo, um juiz de Direito apoia sua decisão em uma mensagem vinda do Além». (Diário da Noite de 10.09.79, pág. 13).

A psicografia é descrita como integrando a apelidada pomposamente de «sematologia espírita» pelo fundador e codificador daquela que é hoje em dia uma religião com implantação crescente no Brasil – país em que co-habita inesperadamente com o cristianismo – Hippolite Léon Denizard Rivail aka Allan Kardec, nome assumido pelo fundador do espiritismo após o espírito Z o ter «informado» que esse era o seu nome no tempo dos druidas (gauleses).

Segundo Kardec, num artigo na Revista Espírita de Janeiro de 1858, a psicografia ou escrita automática divide-se em directa e indirecta consoante a fraude prosa ditada «do Além» é transcrita directa ou indirectamente pelo médium.

O psicógrafo mais famoso no Brasil e quiçá no mundo é Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) que para além das cartas psicografadas na origem da primeira absolvição do outro mundo, supostamente psicografou mais de 400 livros, incluindo textos (e poemas) de João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro.

Xico Vavier doou os lucros da sua profícua prosa «psicografada» à Federação Espírita Brasileira (FEB). Ambos ganharam notoriedade e manchetes dos jornais brasileiros quando 3 meses após a morte de Humberto Campos, a 5 de Dezembro de 1934, Chico Xavier começou a debitar crónicas do outro mundo do falecido. Manchetes redobradas quando em 1944 a viúva e os 3 filhos de Humberto Campos, moveram uma acção judicial contra a FEB, em relação aos direitos de autor sobre as obras psicografadas.

A psicógrafa que mais lucrou com prosa do outro mundo é a «médium» Zibia Gasparetto, uma escritora sem sucesso de policiais à la Agatha Christie até a inspiração espírita a ter catapultado para os tops de venda. Zibia montou por ordem do «outro mundo» um império editorial que atende pelo nome de Vida & Consciência.

Sobre a psicografia partilho da opinião de Agripino Grieco, crítico literário, que falava sobre textos psicografados atribuídos a autores famosos: «A psicografia é a prova cabal de que a morte faz muito mal ao estilo de um autor».

Como confirmação deixo para apreciação um texto do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) e uma passagem de um conto supostamente ditado pelo seu espírito a Zibia Gasparetto.

«O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia de Jesus precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregar aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses.»
Casa Grande & Senzala

«Irene olhou o relógio e suspirou angustiada. Faltavam dez para as oito. Armando saíra com amigos. Olhou-se no espelho mais uma vez. Como gostaria de ser linda, elegante, maravilhosa, para poder vingar-se dele naquela hora. Para ver em seus olhos o arrependimento por havê-la perdido! Mas ela não se achava bonita. Seus amigos diziam, era sempre muito requisitada pelos homens, mas era porque ela era independente, bem na vida, e indiferente.»
O Encontro, conto de Gilberto Freyre psicografado por Zibia Gasparetto em 1995.

3 de Junho, 2006 Carlos Esperança

As religiões e a liberdade

Os estados industrializados exportam mercadorias, os totalitários ideologia.

O Irão desenvolve a bomba atómica, quer erradicar Israel e curvar o mundo a Maomé.

A Arábia Saudita usa as divisa do petróleo para divulgar o Corão e sustentar os mullahs que deviam estar no manicómio e se encontram, sem tratamento, à frente das mesquitas.

O Vaticano exporta moral e escândalos, impondo a primeira e escondendo os segundos.

Os protestantes evangélicos exigem o ensino do criacionismo e a guerra em defesa da bíblia e na promoção do seu Deus.

Os cristãos ortodoxos agarram-se aos Estados como as lapas à rocha e não prescindem dos privilégios que ao longo dos tempos conquistaram.

Todas as religiões pretendem o monopólio porque – dizem -, há um só Deus verdadeiro. A teocracia é para as religiões o modelo de Estado ideal , condescendendo estas que o Estado seja laico desde que se submeta à vontade do Deus de cada uma.

É neste caldo de cultura que os homens e mulheres livres têm de impor a Deus os princípios democráticos e ao clero o respeito das leis que os povos livremente decidem.

Deus pode ser uma ideia tolerável, como as fadas e os duendes, se não interferir com a vontade dos povos e os ideais de liberdade que se devem ao secularismo e à laicidade.

O ódio do clero à liberdade, em qualquer religião, rivaliza com a embirração de Maomé com a carne de porco.

3 de Junho, 2006 Palmira Silva

Cruise Wars: os mitos da Cientologia

Este é um excerto do episódio que satiriza a Igreja da Cientologia e as celebridades que acreditam nos disparates extra terrestres sortidos desta religião. «Trapped in the Closet» foi banido após Tom Cruise ter ameaçado processar a Paramount se o episódio fosse emitido outra vez.

De igual forma, o cientologista Isaac Hayes, a voz do «Chefe» em South Park abandonou a série uns meses depois da emissão do episódio. Divirtam-se!

3 de Junho, 2006 Palmira Silva

Igreja da Cientologia na Rússia

Um ex-deputado russo, coordenador local de educação em Skovorodinsk, foi condenado a dois anos de prisão por abuso de autoridade e utilização indevida de fundos públicos em prol da Cientologia, uma das religiões mais eficientes a extorquir dinheiro aos desgraçados que lhe caem nas mãos.

Boris Shalimov tornou-se membro da Igreja da Cientologia, mais concreta e apropriadamente da World Institute of Scientology Enterprises, cujo membro mais proeminente é Tom Cruise, em 2002. Para ser promovido na organização, Shalimov forçou os seus subordinados a estudar os disparates do escritor de (má) ficção científica e fundador da seita L. Ron Hubbard e utilizou dinheiros públicos na «formação» dos novos convertidos.

Relembramos que a base de operação da Cientologia é a «salvação» do ‘Thetan’ (espírito imortal), traumatizado por ‘engrams’ (memórias dolorosas) que devem ser erradicados da mente reactiva assim como os outros espíritos que a infectam (Body Thetans, os tais que vagueiam aos magotes pela Terra após o controle de população efectivado pelo malvado comandante da Federação Galáctica Xenu há 75 milhões de anos). O objectivo é o crente atingir o estado de OT (Operating Thetan), estado em que supostamente adoece raramente, é menos propenso a acidentes, tem memória total, QI superior a 135, imaginação criativa, vitalidade extraordinária, personalidade magnética, bom auto-controlo, etc. Alguns ex-adeptos da seita relatam estórias de membros OT’s que reclamam poder «voar» e «matar apenas com um pensamento».

Claro que não é barato chegar a este estado de «graça» OT, apenas possível pela frequência de inúmeros cursos da Igreja da Cientologia, a única competente para proceder à «limpeza» espiritual da pessoa, que «oferece» aos seus crentes um plano total de cura de custo astronómico.

Como em todas as religiões, as dúvidas não são bem-vindas dentro da Cientologia. Quem faz objecções é catalogado como subversivo, podendo mesmo ser considerado «Pessoa Supressiva», contra quem, não obstante as objecções inconvincentes de que é uma prática abandonada, tudo é válido, inclusive essa «Pessoa Supressiva» ser «privada dos seus bens ou ofendida impunemente, por todos os meios e por qualquer cientologista, podendo também ser vigarizada, atacada, ludibriada e destruída». Hubbard chamava a esta táctica «Fair Game» (Jogo Limpo) …

3 de Junho, 2006 Palmira Silva

A virgindade ou a vida

Há uns dias uma das minhas amigas biólogas perguntou-me se não queria ir ao Centro de Saúde da Lapa participar de um estudo sobre a vacinação contra o Human papillomavirus ou HPV, em mulheres de uma faixa etária superior àquela a que a vacina se destina. Este estudo, que precede a introdução desta vacina no esquema de vacinação nacional recordou-me um post que escrevi há uns tempos.

O HPV designa de facto mais de uma centena de vírus dos quais algumas estirpes causam uma doença sexualmente transmitida, incurável e a principal causa de cancro cervical (e a razão porque nós mulheres nos temos de submeter regularmente a testes Pap). A infecção com o HPV por outro lado não é evitada com o uso de preservativo o que faz com que seja a DST de eleição dos teocratas americanos na sua cruzada anti-sexo.

De facto, a HPV é uma arma de peso para os fanáticos fundamentalistas que querem obrigar todos às virtudes cristãs por excelência, abstinência e virgindade, a explicação dada pelo senador republicano Tom Coburn de Oklahoma para a sua pretensão de que os preservativos deveriam ter uma aviso em como não ofereciam alguma segurança contra esta doença sexualmente transmissível ou DST.

Assim não é de estranhar que estes teocratas, grandes defensores de óvulos e espermatozóides, confirmem que a sua cruzada em «defesa intransigente da vida» é na realidade uma cruzada contra a «ideologia do sexo» esgrimida por Ratzinger, e tentem evitar que a vacina entre no esquema de vacinação norte-americano. De facto, com o HPV eliminado dentro de poucos anos pela vacinação, que papão usariam estes fanáticos cristãos nas suas campanhas de demonização do sexo e coacção psicológica à abstinência?

Deve-se a Agostinho a demonização do sexo, a associação da sexualidade a algo maligno, humilhante, perversão e vício. Para os cristãos fundamentalistas o sexo é um discordium malum, a «prenda» do Mafarrico disfarçado de serpente à pecaminosa Eva que para sempre agrilhoou a carne à Terra e a afastou dos céus e de Deus! E para estes fundamentalistas o perigo para a alma tem feições femininas e como tal é legítimo tudo o que as reprima de «espalharem o mal», isto é que evite a assunção plena da sua sexualidade, mesmo que isso acarrete perigos mortais para a mulher.

«Vacinar jovens mulheres contra o HPV pode ser potencialmente perigoso, porque elas podem ver isso como uma licença para praticarem sexo pré-marital» opinou Bridget Maher da Family Research Council ao jornal britânico New Scientist. Isto é, os fundamentalistas cristão americanos consideram que morrer de cancro cervical é a punição adequada para quem não se «guardou» para o casamento.

Outros piedosos cristãos afirmaram que teriam a mesma oposição em relação a uma vacina contra a SIDA, se uma for descoberta. «Temos de olhar atentamento para isso», afirmou Reginald Finger, um cristão evangélico que foi conselheiro médico da organização política conservadora Focus on the Family, «Com qualquer vacina a desinibição [o termo médico para a ausência de medo] do HIV seria certamente um factor e é algo a que teremos de prestar atenção com uma dose muito grande de cuidado». Fingers faz parte do Centers for Disease Control’s Immunization Committee, que recomenda que vacinas devem ser disponibilizadas!

Isto é, a arma esgrimida por estes fundamentalistas cristãos contra o aborto e contracepção de emergência que consideram abortiva, afirmando que são cruzados em «defesa intransigente da vida» é completamente desmascarada pela sua oposição a programas de vacinação contra as DSTs, contra programas de educação sexual e contra qualquer tipo de contraceptivos.

Na realidade os fundamentalistas cristãos de todos os flavours estão-se nas tintas para a vida, querem simplesmente controlar o comportamento de todos e que todos sigam as recomendações agostinianas sobre o pecaminoso sexo, corroboradas pelo Responsum do Papa que inventou os sete pecados mortais, Gregório Magno (590-604), «O prazer sexual nunca ocorre sem pecado».

Sexo é uma abominação que os fanáticos cristãos pretendem ser cumprida por todos no espírito de mortificação de quem sabe estar a cometer um pecado apenas admissível como um «duplo efeito», isto é uma acção directa promovida por uma razão moral (ter filhos) que tem um efeito inevitável, não intencional, indirecto e negativo: o prazer sexual.

2 de Junho, 2006 Ricardo Alves

Laicidade no Nepal?

Tendo sido restaurado com poderes constituintes na sequência das manifestações populares de Abril, o parlamento do Nepal decidiu no dia 18 de Maio que o hinduísmo deixará de ser a religião de Estado. Foi também decidido transformar o monarca numa figura meramente decorativa (sem imunidade judicial, isenções fiscais ou controlo sobre o exército), abalando assim os fundamentos do regime monárquico-clerical.

Os 27 milhões de nepaleses incluem cerca de 80% de hindus, 11% de budistas, 4% de muçulmanos e uma grande diversidade de religiões tradicionais, línguas e etnias. O rei do Nepal (que pertence a uma dinastia que governa este país dos himalaias há mais de duzentos anos) é tradicionalmente considerado pelos hindus a encarnação de Vishnu (um dos três deuses mais importantes numa mitologia que inclui vários milhões de divindades). O clericalismo hindu tem servido para legitimar o sistema de castas e a discriminação das mulheres e dos não hindus. O proselitismo está proibido, muitas igrejas cristãs não se conseguem legalizar, e matar vacas, mesmo que se tenha muita fome, é ilegal e resulta numa pena de prisão.

Nos últimos dias, após críticas de hindus fundamentalistas, manifestações de protesto contra a laicização do único Estado oficialmente hindu do mundo foram promovidas, apoiadas por organizações hindus extremistas da Índia, em quatro dos 75 distritos do Nepal. O líder do partido indiano BJP (hindus conservadores) lamentou a decisão, argumentando que se está a colocar em causa «a identidade» do Nepal.