Ninguém exigia a uma criança que resistisse ao nazismo. Nem a um adolescente.
Nem todos temos vocação de heróis e, muito menos, a coragem e o discernimento para tomar as opções certas, na altura própria, quando o medo e os constrangimentos sociais bloqueiam a decisão.
A situação era ainda mais difícil para quem acreditava numa religião onde a maioria dos bispos e o próprio Papa eram anti-semitas e simpatizantes ou cúmplices de Hitler.
Eis o azar de Ratzinger, a nódoa que cobriu com a sotaina, a cobardia que adorna com a tiara e disfarça com o camauro e os sapatinhos vermelhos.
É perturbador que, um dia, tenha afirmado que «era impossível ter resistido», quando Willy Brandt, por exemplo, resistiu. Mas, enquanto o futuro chanceler amava a liberdade e sonhava com a democracia, o jovem seminarista gostava de paramentos e ambicionava uma carreira eclesiástica.
O mais inquietante é que o Espírito Santo, um espécime zoológico que vive oculto entre conclaves, onde ilumina o bando de cardeais que designa o Papa, tenha decidido que o adolescente pusilânime era ideal para presidir ao Estado totalitário do Vaticano.
B16 é um digno sucessor de Pio 12 como já o demonstrou no fraterno acolhimento à Sociedade S. Pio X, no poder crescente que concedeu ao Opus Dei e na intromissão nos assuntos internos dos países democráticos.
A sequela do filme «Submissão 2», escrita igualmente por Ayaan Hirsi Ali será lançado em breve e as autoridades holandesas receiam que tal torne a Holanda um alvo da intolerância e violência dos fundamentalistas islâmicos. O filme critica a posição do islamismo em relação à homossexualidade, exactamente a mesma do cristianismo, a única diferença reside em que na maioria dos países em que o cristianismo é maioritário existe, em menor ou maior grau, separação da Igreja-Estado e a homofobia religiosa não é transcrita na lei. Ou seja, não há apedrejamentos até à morte de «sodomitas».
Na quarta-feira foi publicado um relatório do Coordenador Nacional anti-Terrorismo (Nationaal Coördinator Terrorismebestrijding, NCTb) que avisa para a possibilidade de o filme despoletar uma «guerra» dos cartoons.
Considerando que o filme já foi abordado no 4º Encontro de Parlamentares da Organização da Conferência Islâmica (OIC) em que o seu secretário geral, Ibrahim Auf, foi instado a coordenar uma «reacção necessária» a «mais uma jogada insultuosa contra as sacralidades islâmicas» (neste caso a «sagrada» homofobia) e que a primeira parte do filme foi considerada um insulto ao Islão o alerta do NCTb é mais que fundamentado!
Sabendo ainda que os organizadores da «guerra dos cartoons» já tinham apresentado queixa contra uma emissora pública de televisão dinamarquesa, acusada de incitar ao ódio ao Islão por transmitir o filme «Submissão» podemos esperar que aproveitem a sequela do filme para outra jihad. Especialmente se considerarmos que o guerra dos cartoons foi despoletada pelo dossier Akkari-Laban, co-organizado (com Ahmed Akkari) pelo membro do Conselho Coordenador de Imans europeus Ahmad Abu Laban, com ligações ao grupo egípcio al-Gama’a al-Islamiyya, que por sua tem ligações à rede al-Qaeda, que há meses ameaça (em vão) sair da Dinamarca.
A guerra civil na Somália, embora intermitente, tem sido uma constante desde 1977. Guerra civil que escalou a partir de 1991 quando foi derrubado o ditador Mohamed Siad Barre, por senhores da guerra tribais que, desde então, têm semeado o terror e a insegurança na Somália na sua luta pelo poder.
As Nações Unidas ajudaram ao estabelecimento de um governo interino há dois anos, mas esse governo situado em Baidoa, a 250 km de Mogadiscío, não conseguiu entrar na capital, devastada por guerras entre senhores da guerra.
Segunda-feira, a União dos Tribunais Islâmicos, UTI, assumiu o controle da capital, expulsando os ditos senhores da guerra que a controlaram nos últimos 15 anos. Os habitantes da capital somali afirmaram-se inicialmente aliviados pela vitória da UTI, que pôs termo a décadas de insegurança e violência.
Mas agora os habitantes de Mogadiscío têm protestado energicamente as decisões dos fundamentalistas islâmicos que, não obstante os insinceros protestos em contrário, pretendem impôr o seu modelo aberrante de sociedade, nomeadamente a Sharia, a todos.
De facto, a milícia islâmica que controla a cidade proibiu a transmissão da Copa do Mundo de futebol, uma imoralidade ocidental. Todas as muitas exibições públicas improvisadas dos jogos de futebol do Mundial (não existe o equivalente à TvCabo na Somália) foram interrompidas à força pelos fanáticos islâmicos, desencandeando uma onda de protestos dos milhares de somalis que pretendem ver os jogos.
«Não permitiremos a exibição do Campeonato do Mundo porque isso corrompe as nossas crianças a quem nos esforçamos por ensinar a via islâmica da vida», declarou Abdul Kadir Ali Omar, vice-presidente da UTI, um grupo suspeito de ligações à Al-Qaeda.
A rota para a talibanização da Somália, análoga à do Afeganistão, parecia-me imparável mas aparentemente o futebol é o único catalizador capaz de despertar os somalis da complacência em relação ao fundamentalismo islâmico!
De facto, em todas as zonas da capital ainda sob o controle dos senhores da guerra os residentes mobilizaram-se para assistir à transmissão dos jogos e fora de Mogadiscío, nomeadamente em Jowhar, o reduto dos senhores da guerra 90 km a norte da capital, a população juntou-se em cinemas públicos para assistir ao Mundial.
«Nós não aceitamos que a milícia islâmica nos impeça de assistir à Copa do Mundo» afirma um residente de Mogadiscío, Ahmed Yusuf, «Continuaremos a manifestar-nos até eles cederem».
«Quando os islamistas assumiram a segurança da nossa cidade pensámos que teríamos liberdade» disse por sua vez Adam Hashi-Ali, um adolescente fã de futebol, «Mas agora eles têm impedido que nós assistamos ao Mundial».
Tenho recebido uma série de emails de católicos que parecem estar muito zangados comigo por eu não concordar com a sua tentativa de censura da peça «Me Cago en Dios». Devo dizer que quando o Carlos Esperança publicou o seu artigo há uns dias eu nem liguei muito à coisa, não me parecia ser algo especialmente interessante (do ponto de vista da minha sensibilidade estética) e nem pensei mais no assunto. Passado pouco tempo recebo um email indignado com a reacção de vários católicos que exigem que se retire qualquer apoio estatal á peça. As suas razões para isso é que como contribuintes isso lhes seria ofensivo.
Ora como eu lhes respondi mais tarde é realmente verdade que os católicos pagam impostos, mas também é verdade que os ateus também o fazem, os agnósticos também, os anti-clericais também e por aí adiante. Ora sendo esse o caso não me parece muito lógico que um grupo (que está em pé de igualdade legal com os outros) tenha o direito de ditar o que pode ser financiado pelo estado, tornando o aparelho do estado ora numa máquina de propaganda religiosa ora numa máquina de repressão – uma questão diferente, muito pertinente, é saber que as criações artísticas, independentemente da sua natureza, devem ser subsidiadas, mas a questão aqui e agora não é essa.
Acho também do mais vergonhoso possível que meia dúzia de cristãos ultra conservadores montem uma cruzada contra uma peça de teatro e insinuem que falem em nome de tudo quanto é cidadão que no censo de população pôs uma cruzinha no quadrado que indica “católico” (a chamada orientação espiritual…). Quando a maioria de tais pessoas está ligada ao catolicismo de forma puramente nominal, sem conhecer o mais básico conjunto de princípios da “sua” fé, sem prestar qualquer atenção às alarvidades sem ética que emanam do Vaticano e cuja soma de participação na organização Igreja Católica é a organização de um casamento para a família ver (são os chamados cristãos folclóricos).
Esta negação do mais básico princípio de igualdade perante as opiniões quanto à natureza dos conceitos deus e religião mostra que existe um subgrupo católico que não assimilou bem que os tempos mudaram um bocado, que o estado não os vai tratar como delicadas flores de estufa, atropelando os direitos de todos os outros cidadãos em nome da sensibilidade religiosa que se recusa a aceitar que não tem direito a uma protecção especial.
A próxima quinta-feira é feriado nacional. Comemora-se o a Festa do Corpo de Deus, ou seja, os crentes e os outros aproveitam o dia de praia, quiçá uma «ponte», para umas mini-férias, se o tempo ajudar.
Mas que vem a ser isso do corpo de Deus? Algo com esqueleto, músculos e órgãos, um conjunto de aparelhos capazes de desempenhar funções, desde a digestão, sem eructações nem ventosidades estrepitosas, até à reprodução pelo método tradicional?
Ou é uma invenção da Igreja católica para marcar a agenda de trabalho dos cidadãos?
Para a ICAR Deus é um ser incorpóreo, umas vezes, e um duplicado do próprio homem quando lhe convém.
A Igreja é como os animais que marcam o terreno com os dejectos. Umas vezes planta capelas no alto dos montes, outras erige cruzes a esmo e nichos de santos nas esquinas. Confisca a toponímia para divulgar taumaturgos desde as ruas aos hospitais, passando pela divisão administrativa do País.
Quando pode, lá constrói mais uma igreja. Sempre que coloca beatos no aparelho de Estado lá sai um santo para nome de ponte ou para patrono de uma escola.
Com tanta apetência para confiscar em seu proveito o espaço que é de todos, não admira que, cada vez mais, as pessoas se afastem da Igreja e expulsem Deus do seu convívio para poderem respirar.
Hoje é a estreia da selecção do Irão no Mundial 2006, estreia que promete ser animada, não apenas pelo que se passará no relvado durante os 90 minutos do jogo. Jogo que já agora todos podem acompanhar no canal francês M6, isto é, se a TvCabo não repetir a façanha de ontem durante a transmissão do jogo Suécia-Trinidade e Tobago, quando a meio deste cortou o sinal à M6.
Mas a animação a que me refiro advém dos protestos marcados para hoje em Nuremberga, onde a equipe do Irão defrontará o México. Vários grupos marcaram os protestos depois de grupos neo-nazis terem anunciado que planeavam cerimónias de solidariedade a Ahmadinejad – e de apoio ao seu negacionismo do Holocausto e ataques a Israel. Embora Ahmadinejad seja fan de futebol não se deverá deslocar à Alemanha para o evento, a não ser que contra todas as previsões o Irão passe à fase seguinte, embora o seu representante Mohammad Aliabadi deva comparecer.
PS: A TvCabo cortou novamente o sinal à M6, quando se iniciava a transmissão do jogo Sérvia-Holanda. Convido os nossos leitores a protestarem junto à TvCabo e indagarem da legalidade do procedimento com a Deco e o Provedor de Justiça.
Imagina: és um soldado de um grupo paramilitar cujo objectivo é transformar a América numa teocracia cristã e estabelecer a sua visão mundana do domínio de Cristo sobre todos os aspectos da vida. É-te fornecido armamento high-tech e és instruído para enfrentar os infiéis nas ruas de Nova Iorque. A tua missão – simultaneamente uma missão religiosa e uma missão militar – é converter ou matar católicos, judeus, muçulmanos, budistas, homossexuais, todos os que advoguem a separação do estado e da Igreja, especialmente cristãos moderados «de café». A tua missão é «conduzir guerra física e espiritual»; todos os que resistirem devem ser mortos.
Esta é a melhor descrição que encontrei do novo jogo cristão que, antes do lançamento, previsto para Novembro, destinado a ser uma apropriada prenda de Natal, está a fazer furor nos Estados Unidos, «Left Behind: Eternal Forces».
O jogo, de cujo grupo de «conselheiros» faz parte um dos colaboradores do pastor Rick Warren, da Purpose Driven Church, é baseado nos livros «Left Behind»- um fenómeno de vendas comparável ao «Código da Vinci» com mais de 65 milhões de cópias vendidas – cujos fans rábidos são pastores dominionistas e homofóbicos, como, p.e., James Dobson da Focus on the Family que doutrinam incontáveis militantes cristobots para os seus exércitos de Deus.
Aliás, os autores dos livros são, como não podia deixar de ser, rábidos fundamentalistas cristãos, em especial o pastor ultra-fundamentalista, criacionista puro e duro, Tim LaHaye – fundador da American Coalition for Traditional Values, da Coalition for Religious Freedom, da organização anti-feminista Concerned Women for America e do Institute for Creation Research . Jerry Jenkins, ligado ao Moody Bible Institute, é o co-autor da série.
Quer o jogo quer os filmes retratam bem os fundamentalistas evangélicos americanos e o seu desejo dominionista. Assim como retratam bem o alvo principal do respectivo ódio incontido, bem evidente em toda a série: a laicidade.
Mas os alvos habituais de todos os fundamentalistas cristãos, a ciência e os homossexuais, não são esquecidos. Nos livros o anti-Cristo tem nome, Nicolae Carpathia, um romeno que preside às Nações Unidas, que, num detalhe não despiciendo, foi concebido «artificialmente» a partir de material genético de homossexuais:
«O marido de Marilena, Sorin, e o seu amante homossexual, Baduna Marius, forneceram material genético para a concepção de Nicolae».
Isto é, o Anti-Cristo é um produto da ciência e de homossexuais.
Um dos braços direitos de Nicolae é um bispo americano pelo que não admira que os católicos sejam advertidos em relação aos livros, considerados anti-católicos. Aliás, LaHaye, segundo a Times um dos 25 pastores evangélicos mais influentes na América, tem um extenso historial de propaganda anti-católica (e anti-semita) que inclui ter suportado um grupo chamado Mission to Catholics. Um dos panfletos debitados pelo grupo asseverava que Paulo VI era «o arquipadre de Satã, um farsante, um anti-cristo».
Larry Eskridge do Institute for the Study of American Evangelicals, vai mais longe que a Times e chama a LaHaye «o mais influente evangélico americano dos últimos vinte e cinco anos». Na realidade, LaHaye foi decisivo na primeira eleição de Bush, sendo após uma reunião com o grupo Committee to Restore American Values, liderado por LaHaye, em que este questionou o empenho de Bush em transformar a América numa teocracia, que os teocratas americanos decidiram empenhar-se a fundo na eleição de Bush, sem quaisquer hipóteses de ganhar as eleições não fora este inestimável auxílio
Não deixa de ser curioso que a obsessão apocaliptica de LaHaye, traduzida na série «Left Behind», esteja centrada no Iraque e que LaHaye esteja convencido que o Armagedão será lançado do quartel-general do Anti-Cristo na Babilónia. De facto, desde 1970 que LaHaye prega que Saddam Hussein é um emissário do Demo. Em 1999, LaHaye escreveu que Saddam é «um servo de Satã», possuído por um demónio e que preparava a «vinda do Anti-Cristo». Discurso com semelhanças assustadores com o do «eixo do Mal» de G.W. Bush…

Com o título em epígrafe, estreou-se na segunda-feira, no Teatro Comuna, em Lisboa, uma peça que tem merecido o mais vivo repúdio dos crentes e que fazem ao cartaz que a anuncia o que não gostariam que fizessem aos que anunciam a procissão do Senhor dos Passos.
A peça é uma co-produção da Cassefaz e da Associación de Actores de Teatro de Madrid. «… o cartaz apresenta uma sanita aberta, da qual saem (ou para a qual entram) vários símbolos religiosos: uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, um Buda, um crucifixo, uma bandeira com o Crescente Vermelho. O espectáculo estreou-se na segunda-feira, no Teatro da Comuna, em Lisboa, e desde então já foi alvo de vários protestos, sobretudo ligados à Igreja Católica» – diz o Diário de Notícias, de hoje.
Resta dizer que Espanha é um país onde são correntes as mais belas blasfémias que só rivalizam com as italianas dos ex-estados pontifícios.
A reflexão que a peça faz sobre as várias religiões e os seus malefícios é indiferente aos crentes que protestam contra o espectáculo.
Seria estranho os católicos que, em nome da liberdade de expressão, defenderam – e muito bem -, a liberdade da publicação dos cartoons de Maomé, virem agora a promover um auto de fé a um espectáculo que tem como título um desabafo, em castelhano, que costuma ser extensivo à Virgem e à hóstia.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.