23 de Março, 2011 Ricardo Alves
Só pode ser humor
Dois teólogos acusam os políticos de «baralhar as pessoas» e pedem-lhes que «não mintam». Mas a profissão de teólogo não exige precisamente esses dois requisitos?
Dois teólogos acusam os políticos de «baralhar as pessoas» e pedem-lhes que «não mintam». Mas a profissão de teólogo não exige precisamente esses dois requisitos?
Enquanto a polícia investiga o roubo de 1 milhão e meio de euros, em notas, a polícia fiscal investiga a origem e as virtuosas freiras vão mentindo.
Para maior glória do Deus delas.
Começamos a Quaresma com um texto que nos possibilita reflectir sobre o projecto de Deus a respeito do ser humano. O livro do Génesis nos apresenta o homem sendo criado como o ponto alto de toda a criação, como imagem e semelhança de Deus. Exactamente por isso ele deverá proceder como superior a tudo e não deixar-se influenciar por nenhuma qualidade de qualquer coisa criada, deverá permanecer sempre livre!
É nesse exacto momento que entra o a perversão do Mal ao provocar no homem o forte e imperioso desejo de experimentar a fruta proibida, ao ponto de apequenar-se cedendo às qualidades olfactivas e visuais da fruta em detrimento da orientação do Criador.
É paradoxal serem os crentes infectados com demónios e os ateus imunes aos espíritos malignos.
A população demoníaca tem-se reduzido ao longo dos anos com o avanço da ciência, quiçá porque os espíritos das trevas se anteciparam no planeamento familiar ou, para arreliarem o Papa, porque foram pioneiros no uso da pílula e do preservativo.
Mais raros, mas não extintos, os espíritos malignos existem. Os livros sagrados dedicam várias páginas a esses agitadores de almas pias. O exorcismo é a terapêutica exclusiva aprovada pelo Vaticano, desde que o alvará para o seu exercício seja de um padre católico e, em casos difíceis, só com licença episcopal.
Em Portugal há um velho especialista, com 72 anos, a tirar espíritos de corpos sofridos, padre Humberto Gama, que se dedica aos difíceis combates com o demo, das 7 às 22 horas, aliviando a carteira e as possessões demoníacas a cerca de 20 possessos diários. Com consultório em Fátima e Mirandela já foi proibido de dizer missa e teve vários dissabores um dos quais com um marido que discordou do sítio por onde extraiu os espíritos da amantíssima esposa, na convicção de que o tamanho e a quantidade não precisavam de tão larga e recôndita reentrância. Mas o que sabe um leigo de espíritos?! O padre Gama alegou que têm de sair por algum lado e disse-o convicto à TVI onde fez exorcismos em directo antes de actuar na RTP-1.
Agora, em Figueiró dos Vinhos, o padre José Rosa Gomes recebe na igreja, todas as semanas, centenas de fiéis a quem purifica e resolve os problemas. As mulheres, mais atreitas ao maligno, encontram nas mãos do sacerdote a benzina que desencarde a alma e nas orações o demonífugo que as liberta das apoquentações do demo, desmaiando ao som de cânticos enquanto o mafarrico emigra para outras bandas.
O reverendo Rosa Gomes exorciza das 21H30 à 01H00 da manhã durante a cerimónia da «Adoração do Santíssimo Sacramento», à quarta-feira na igreja de Figueiró e à sexta na do Beco. Vêm camionetas de vários pontos do país cheias de crentes para serem exorcizados. Depois dos desmaios as endemoninhadas acordam havendo quem precise de horas e orações suplementares à porta fechada mas todos ficam com a alma a luzir como prata depois de esfregada com solarina.
O bispo de Coimbra, Albino Cleto, manifestando algum receio, já aconselhou cautela com algumas situações de ordem médica e prefere designar por «orações de cura» a liturgia do exorcismo. De resto, o «grande exorcismo» só pode ser praticado por padres previamente autorizados pelo bispo da diocese e, talvez, só se justifique para demónios resistentes aos pequenos e médios exorcismos.
Em Figueiró dos Vinhos, onde o povo andava arredado da missa desde que o bispo de Coimbra despediu um padre estimado pelo povo, não por ter uma filha mas por assumir a paternidade, a fé voltou e conquista novos crentes.
Os cânticos do padre indiano James Manjajackal entoam na igreja enquanto o colega Rosa Gomes reza para afastar o demo. A oração e a cantoria têm um efeito sinérgico e não há demónios que suportem o barulho e a ameaça da cruz. Preferem emigrar.
Fonte: DN de 07-03-2011, pág. 16, por Sónia Simões
No seu refúgio mexicano, o fundador dos Legionários de Cristo representou a sua última farsa: num ambiente de oração, rodeado pela sua congregação, viveu parte do desterro junto a sua filha e à sua amante.
O periodista de EL PAÍS Jesús Rodríguez conta-o em livro.
Um padre de Roma, condenado a 15 anos por abusar de sete meninos.
Ruggero Conti, pároco da Igreja da Natividade de Maria Santíssima, na periferia de Roma, foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão por ter abusado de sete meninos entre 1998 e 2008.
A sentença da VI Secção do Tribunal Penal de Roma aplica ainda várias penas acessórias, como a interdição perpétua para ocupar cargos públicos (o padre era também assessor para a família do autarca Gianni Alemanno), e condena Conti a indemnizar as vítimas com uma quantia total próxima dos 300.000 euros.
Tenho para mim que a «moral» é a ciência dos costumes e que a humanidade, no seu progresso constante, se tem tornado mais exigente e justa à medida que a diversidade se afirma, a instrução se democratiza e as religiões recuam.
A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), frequentemente referida no Diário Ateísta, está longe de ser a pior. Infelizmente. Apenas conseguiu ser a pior de Portugal durante oito séculos e meio por não ter deixado medrar outras.
Até se compreende que a ICAR, como fenómeno empresarial de sucesso, perdidas as armas repressivas, desabituada da tortura e esquecidos os autos de fé, procure a via legal, ganhando na secretaria, com o Estado, o que perdeu com a deserção dos créus.
Em Portugal, o ultraje à liberdade e à igualdade de todas as crenças tem origem na Concordata negociada nas alfurjas do poder por prelados sonsos e governantes pios. Sempre que se concedem privilégios alguém ganha e alguém perde e a Concordata é a capitulação do Estado, dito laico, perante a última teocracia europeia – o Vaticano.
A ICAR gosta de apresentar-se como defensora da moral e dos bons costumes, apesar da sordidez do seu passado e das misérias do presente. Nos últimos tempos o divórcio, o aborto, a eutanásia e os casamentos homossexuais fazem parte da sanha persecutória da última ditadura europeia.
O Vaticano esqueceu a facilidade com que no passado anulou casamentos em que único obstáculo era o custo da decisão, só ao alcance dos muito ricos.
Mas há um episódio interessante da nossa História que convém lembrar. A Igreja que se baseia na Bíblia, onde o incesto e outros crimes aparecem com natural condescendência é a mesma igreja que abençoa o adultério e incensa os adúlteros.
Quem passar por Alcobaça vá ver os magníficos túmulos de D. Pedro e D. Inês, junto ao altar-mor, para mais facilmente os amantes se encontrarem face a face, no dia de juízo final, quando no Vale de Josafat, entre Jerusalém e o Monte das Oliveiras, o criador do Céu e da Terra vier julgar os vivos e os mortos.
D. Pedro preferiu a bela Inês à rainha D. Constança, teve quatro filhos da adúltera, e a Santa Madre Igreja sepultou os amantes juntos, para gozarem as delícias da eternidade junto ao altar-mor do convento de Alcobaça, perante a indiferença de Deus e a cumplicidade dos padres.
Boa gente !
Por
José Moreira
Pelos vistos, este mosteiro continua na Idade da Pedra.
Claro que esta minha conclusão poderá ser um pouco leviana. Por definição, um mosteiro é um local de reclusão. Ou seja, não há contactos com o exterior, a não ser em casos absolutamente obrigatórios – passe a redundância. Por exemplo, para ir ao médico. Aliás, numa entrevista de que só vi a parte final, a freira assegura isso mesmo. Daí que não se compreenda que a notícia chame “convento” ao mosteiro.
Na verdade, se a freira estava em reclusão – perdão, em clausura, não tinha nada que se relacionar com o mundo exterior, mesmo que através do Facebook. Clausura é clausura, ponto final. Agora, o que lamento é que Deus não tenha mandado um sinal à freira, a indicar-lhe que estava a afastar-se do caminho da “salvação”, seja lá isso o que for. Ou então, a “nossa senhora” poderia aparecer-lhe e explicar-lhe que essa coisa da Internet é assunto demoníaco.
Mas, se calhar, a “nossa senhora” ainda não regressou dos EUA…
Resultado: a freira teve de se inscrever num muito secular centro de emprego, porque Deus tem mais que fazer do que aturar pecadores e freiras relapsas.
Menos 240.342 pessoas participaram no ano passado nas missas celebradas no Santuário de Fátima, confirmando a tendência de diminuição de fiéis nas celebrações no templo desde 2007, ano do 90.º aniversário dos acontecimentos na Cova da Iria.
Nota: «Os acontecimentos da Cova da Iria» referem-se aos embustes do Sol às cambalhotas, da Virgem a saltar de azinheira em azinheira e da aterragem de um anjo no anjódromo de Fátima.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.