Não sei se é maior o nojo ou a perplexidade perante a violência misógina, a demência clerical e a injustiça que causa danos irreparáveis a metade do género humano.
| As autoridades eclesiásticas mexicanas culpam as mulheres das agressões sexuais que sofrem, devido à roupa “provocativa” que vestem. A culpa é sempre de Eva, pensam as obtusas criaturas na mentalidade de quem vê o mundo pelos versículos do Levítico. |
«Com decotes pronunciados e minissaias “estão provocando ao homem”, disse o arcebispo de Santo Domingo, México, Nicolás de Jesús López Rodríguez, durante o sexto Encontro Mundial das Famílias. Maldita alegoria da maçã colhida no Paraíso inventado na Idade do Bronze.
– “As mulheres expõem-se a violações, a que as usem, que as tratem como um trapo velho, porque estão desvalorizando a sua pessoa e sua dignidade”, disse por sua vez o bispo auxiliar de Tegucigalpa, Darwin Rudy Andino.
As informações são de 2009 e 2012. Pode-se dizer que são velhas como notícias, mas são recentes e reincidentes na violência contra a mulher, no incitamento à discriminação e no empedernido ódio que move velhos celibatários contra a libertação feminina. Dar tréguas é permitir-lhes reacender velhas fogueiras e novas perseguições alimentadas pelo ódio demente de antigos preconceitos. É absolver os agressores e culpar as vítimas, relevar os crimes e responsabilizar quem os sofre.
Que raio der moral de sentido único, onde a liberdade é um crime para a mulher e uma bênção para os predadores masculinos!
Investigadora de Coimbra assegura
autenticidade de manuscrito de Lúcia sobre Fátima
Uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC) assegura que “a terceira parte do manuscrito do segredo de Fátima é realmente um documento autêntico”, depois de, a convite do Vaticano, ter feito o seu estudo diplomático e paleográfico.
João César das Neves (JCN) dedica a habitual homilia de segunda, no DN, ao ‘Emprego e dignidade’, sem abdicar das tolices que lhe afiançariam um Nobel, se acaso o prémio as distinguisse.
Da escola do Sr. Jacques de la Palice trouxe esta máxima de grande recorte e erudição: “é a ociosidade que paralisa a economia” e acrescenta, na sua meditação profunda, que “Idosos, estudantes, crianças, donas-de-casa, artistas, políticos, sindicalistas, sacerdotes, têm funções decisivas, apesar de não terem emprego”. E lamenta que “Num tempo economicista, que liga personalidade à produção”, percam dignidade, sendo “caso gritante, o trabalho doméstico”, sem que as pessoas vejam que “O lar, um valor humano supremo, agora é desprezado”.
Referindo-se à família, assunto recorrente, onde seria uma autoridade no Concílio de Trento, lamenta que “muitas pessoas, em geral mulheres, se queixam de terem um ‘emprego não remunerado’ em casa, sem ver isso como muito mais digno e valioso do que trabalho” [sic].
Corroborando JCN, é preciso que as mulheres sejam muito estúpidas para não verem que um emprego não remunerado, em casa, é muito mais digno e valioso do que um emprego rentável que, embora menos digno, deve ser exclusivo do género masculino.
Sobre o ensino, limito-me a transcrever JCN, com a certeza de que qualquer comentário ofuscaria o brilho do seu cristalino pensamento: “Também o ensino está mal calibrado. (…) Mas muitos jovens perdem tempo na escola, aprendendo coisas inúteis para o seu futuro, em nome de cânones educativos abstratos”. E, quiçá, comprometem a salvação!
Gastar dinheiro com os filhos dos pobres, que podem ter um emprego muito mais digno e valioso a carregar baldes de cimento do que a frequentar uma universidade, é um mero preconceito subversivo que corrompe as almas simples e confunde a ordem divina que criou ricos e pobres.
JCN não se limita à produção teórica e ao ensino do catecismo económico na Madraça de Palma de Cima, também conhecida por Universidade Católica. JCN faz um programa para “rever certezas e ideologias que décadas de propaganda nos gravaram na mente”:
– «É preciso subir a idade de reforma e conceber processos educativos mais curtos, dirigidos e eficazes.
– Promover e dignificar o voluntariado, trabalho doméstico e outras atividades informais e virtuais (…) que a cultura obsoleta menospreza”.
E, arrasador, conclui: “Estas mudanças ajudariam até o pior problema nacional a que, por isso mesmo, ninguém liga: a decadência familiar e colapso da fertilidade”.
JCN, o último católico medieval, devia ser considerado património da Humanidade.
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