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Categoria: Catolicismo

13 de Julho, 2007 Ricardo Alves

…E Sócrates ajoelhou

Na reunião de ontem, o Primeiro Ministro português cedeu às exigências da ICAR portuguesa. É essa a leitura da generalidade dos media, e do próprio José Policarpo, que emergiu sorridente para anunciar que uma Concordata é um texto «constitucional», e que a legislação que resulta da Concordata fascista de 1940 deve continuar a ser aplicada até que a Concordata de 2004 seja «regulamentada».

Evidentemente, é impossível saber com exactidão o que preocupava tanto os bispos, e o que lhes foi prometido para saírem tão tranquilos. Mas se a legislação sobre as capelanias hospitalares (ou militares) esperar pela regulamentação da Concordata, que pode demorar mais dois anos, essa garantia traduz-se num adiamento para a próxima legislatura da redução da despesa do Estado nessas áreas. Registe-se que as capelanias hospitalares são cerca de 180 empregos de nomeação eclesial com salário pago pelo Estado, e que as capelanias militares são mais 46. E que ambas constituem privilégios inconstitucionais, melhor protegidos pela Concordata de 1940 do que pela Concordata de 2004. Que outros privilégios da Concordata de 1940 se manterão até 2009, à custa do orçamento de Estado e a favor da corporação católica?

O PS continua assim fiel à herança de Mário Soares, o homem que toda a vida se proclamou «republicano e laico» sem que alguma vez essa proclamação significasse um único avanço concreto para a laicidade do Estado. A tibieza e cobardia do PS é tão mais incompreensível quanto Portugal é um dos países mais secularizados da Europa latina, com uma percentagem de casamentos civis que deve atingir os 50% antes do final da década, em que há um divórcio para cada dois casamentos, e em que os jovens fogem da «Religião e Moral» assim que podem. Espantosamente, sendo a Espanha um país sociologicamente mais conservador do que Portugal, a laicização política tem avançado mais depressa com Zapatero do que com Sócrates.

É um dos maiores paradoxos dos últimos 30 anos que um cada vez maior afastamento da população perante a religião tradicional coincida no tempo com uma crescente influência institucional da ICAR. Paradoxalmente, à medida que o número de fiéis diminui, os políticos parecem temer ainda mais a hierarquia eclesiástica.

Noutros países europeus, como a Espanha ou a França, os partidos socialistas são seguramente laicistas. Para nossa desgraça, o PS português é o mais clerical da Europa ocidental. Percam o medo, caros senhores do PS (e de outros partidos…). Portugal já não é o que era.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
12 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Sócrates vai ajoelhar?

  • «Uma delegação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) será recebida hoje, pelas 15h00, por José Sócrates na residência oficial do Primeiro-Ministro. O encontro acontece depois de, na passada terça-feira, os Bispos terem lamentado a falta de “diálogo” por parte do Governo, na relação com a Igreja Católica.» (Agência Ecclesia)

A agenda reivindicativa da CEP foi profusamente divulgada nos últimos dias: os bispos querem que as crianças passem menos tempo na escola e mais tempo nos ATL´s da ICAR (ou seja, querem ser eles a decidir os horários da escola pública), que as autarquias não negoceiem ATL´s com terceiros mas sim com a ICAR (ou seja, querem que os padres substituam os vereadores na gestão corrente das câmaras municipais), querem mais dinheiro para construir igrejas (como se já não chegasse o que recebem habitualmente), ainda mais dinheiro para a Universidade Católica (que é privada e tem um subsídio público que outras privadas não recebem), ainda mais dinheiro público para escolas privadas (mas só se forem católicas), e, a não esquecer, estão preocupados com o que vai acontecer aos cento e oitenta capelães hospitalares que têm o «direito» (inconstitucional) de andar de cama em cama a incomodar quem tem outra religião ou nenhuma, e que são pagos para isso pelo Estado. O que está em causa nesta ofensiva clerical é sobretudo o vil metal.

Sócrates, explica-lhes que a religião não é um serviço público.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

10 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Sacerdote católico implicado em genocídio

Na Argentina, o padre católico Christian Federico von Wernich sentou-se no banco dos réus pela primeira vez no dia 5 de Julho. É acusado de participar em sete crimes de homicídio e em quarenta e um de sequestro e tortura. Os crimes em que participou ocorreram entre 1976 e 1983, durante a ditadura militar de que a ICAR foi cúmplice e entusiasta de tal forma que, em 23/9/1975, o capelão católico das Forças Armadas chegou a afirmar, numa homilia em que falava de «Cristo»: «o Exército está expiando a impureza do nosso país (…) os militares foram purificados no Jordão do sangue para se porem à frente de todo o país» (outro sacerdote diria anos mais tarde que «por vezes a repressão física é necessária, obrigatória e, enquanto tal, lícita»). A repressão militar vitimou mortalmente cerca de 30 000 pessoas, num país que tinha uma população de 30 milhões. Tratou-se de um verdadeiro genocídio, que a ICAR caucionou moralmente, e em que sacerdotes católicos participaram. O padre católico von Wernich, uma peça chave do sistema repressivo, será acusado de genocídio.

Von Wernich, que era capelão da polícia de Buenos Aires, actuava nas prisões durante as sessões de tortura. Com o pretexto de prestar «assistência religiosa», e perante presos políticos enfraquecidos pelos espancamentos e pelos choques eléctricos, o padre oferecia a última tortura: a «salvação» a troco da confissão. Os seus longos interrogatórios tiveram frequentemente sucesso. Não parecia ter problemas éticos com o que fazia: quando um oficial do exército matou um oposicionista na presença de Von Wernich, este sossegou-o dizendo-lhe que «o que tinha feito era necessário; era um acto patriótico que Deus sabia que tinha sido para o bem do país». Graças aos seus mui católicos serviços, foi mesmo condecorado publicamente pela ditadura fascista. Em tribunal, tem-se recusado a dar detalhes alegando o «segredo de confissão».

A ICAR apoiou-o sempre. Quando, após o final da ditadura, se refugiou numa paróquia de província, a população protestou contra a presença do padre torcionário. A ICAR não ouviu os protestos, mas mudou-o de paróquia quando teve um caso amoroso com uma paroquiana. Conclusão: para a ética invertida que a ICAR pratica, a tortura não é condenável, mas o amor, esse sim, é intolerável.

Em 2003, um juiz argentino defensor dos Direitos do Homem pediu a sua captura. A ICAR disse que não sabia do facínora, mas era mentira: Von Wernich estava numa paróquia remota do Chile, dando missa tranquilamente. Foi capturado depois de a imprensa argentina e chilena ter descoberto o seu esconderijo. É caso para dizer que há jornalistas que têm princípios éticos que não se aprendem na missa.

(Mais informações actualizadas na Federación Internacional de Ateos; mais fotografias em atheisme.org.)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

28 de Maio, 2007 Ricardo Alves

Frei Gambozino e a dança que faz vertigens

No Público de domingo, Bento Domingues, por alcunha (merecida) o Frei Gambozino, diz-nos que em Fátima, a 13 de Outubro de 1917, o sol «dançou vertiginosamente num céu coberto de nuvens». Algumas perguntas simples: se o céu estava coberto de nuvens, como pode Frei Gambozino garantir que o sol «dançou»? O candeeiro mexe-se por detrás da cortina? Ou é a cortina que se mexe à frente do candeeiro? Frei Gambozino tentou as duas experiências? Ou acredita sem raciocinar? (Será essa a definição de fé?) E acredita na hipótese menos plausível porquê? Por interesse comercial e religioso? Por gostar de dançar o tango ou a lambada? Ou porque considera «estúpidos, cretinos e idiotas» os habitantes do hemisfério (e foram a esmagadora maioria…) que não viram o sol «dançar» naquele dia? Preferir as vertigens a manter os pés na terra é considerado uma virtude entre os crentes. Com os maus resultados que se podem constatar…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
25 de Maio, 2007 Ricardo Alves

John Charles Sword ajoelhar-se-á em Fátima?

Na última edição do Expresso, o militante clerical João Carlos Espada saiu em defesa do catolicismo em geral e da variedade fatimista em particular. Diga-se que eu costumava apontar este ideólogo da direita mais extrema como um dos maiores inimigos do pensamento crítico e da herança iluminista e científica em Portugal, a par do inefável João César das Neves e do obscurantista Boaventura Sousa Santos. Infelizmente para quem o aprecia, John Charles Sword tem-se limitado nos últimos anos a perorar sobre a obrigatoriedade da gravata e a produzir exortações ao «cavalheirismo» e ao consumo de chá, temas a propósito dos quais consegue sempre citar quatro ou cinco filósofos ingleses ou políticos neoconservadores num único parágrafo. Em suma, embora a sua influência não cesse de aumentar, a sua combatividade tem declinado.

O que diz Espada desta vez? Que a recente «manifestação» de Fátima foi «não política» e que o fim das ditaduras no sul da Europa e na América Latina foi parte dos «contributos (…) da religião cristã para a liberdade». Começando por aqui: o papel da ICAR nessas transições para a democracia não foi de as apressar; foi de as atrasar. O apoio da nomenclatura católica ao fascismo português foi indefectível, com uma ou duas excepções (honrosas) devidamente denunciadas à PIDE pelos superiores hierárquicos. O 28 de Maio iniciara-se em Braga, capital católica de Portugal, no momento em que aí tinha lugar um «Congresso Mariano», o qual foi visitado pelos golpistas reaccionários para recolherem conselhos e um apoio que foi adequadamente recompensado a seu tempo. O papel evidente da ICAR no nacional-catolicismo franquista, ou a bênção de Pinochet por Wojtyla, são outros exemplos que dispensam mais comentários. Querer passar um certificado de antifascismo à ICAR é uma ironia de mau gosto de que só John Charles Sword se lembraria.

Quanto a Fátima: só alguém desorientado pelo pior relativismo epistemológico pode considerar plausível a ideia de que o sol pode dançar o fandango quando visto das proximidades de Leiria e manter-se aparentemente imóvel para todo o restante hemisfério. Persistir em «respeitar» essa ideia é renunciar a desmascarar uma mentira óbvia que tem sido mantida para financiar a ICAR (não as «obras sociais» para as quais pede dinheiro ao Estado, mas as suas faraónicas catedrais) e combater o espírito científico. Espada não pode pretender dar lições de «cavalheirismo» e de «carácter», e simultaneamente transigir com quem mente e promove uma fraude com evidentes objectivos políticos e comerciais. Muito menos me parece que seja digno de cidadãos livres e emancipados andarem a rastejar de joelhos à volta de uma árvore qualquer, mas admito que o britânico conceito de dignidade de John Charles Sword inclua a prescrição dessas práticas públicas. Se for esse o caso, João Carlos Espada é livre de dar o exemplo e rastejar no joelhódromo…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
15 de Maio, 2007 Helder Sanches

Madeleine McCann em Fátima


Como pai e como alguém que adora crianças, lamento profundamente os acontecimentos à volta do desaparecimento da pequena Madeleine McCann. Como lamento o desaparecimento de todas as crianças portuguesas que, todas juntas, nunca fizeram gastar tanta tinta e tanta concentração de meios para a resolução dos seus casos. Sinceramente, ainda bem para a pequena Madeleine que esses meios estejam disponíveis para ela. Esperemos que este seja um novo padrão a que a nossa policia nos venha a habituar. O ideal seria que tais meios nunca voltassem a ser necessários; mas isso só aconteceria se o mundo, de repente, passasse a ser perfeito.

O que eu não suporto mesmo é a ignorância mascarada de fé saloia. Então, não é que em Fátima, nas celebrações dos 90 anos do embuste-mor nacional, proliferavam as imagens da pequena Maddie com preces para que a pequena fosse encontrada sã e salva!?!

Mas, afinal, onde estava o deus desta gente quando a pequenita desapareceu? Porque é que não se viram cartazes a perguntar ao tal deus ou à sua virgem concubina porque deixaram que a pequena e inocente Maddie desaparecesse, assim, sem mais nem menos? Não é suposto esse tal omni-tudo olhar pelas criancinhas e pelos inocentes? Afinal, ou esse ser que gosta de ser bajulado não sabia o que estava a acontecer e não é omnisciente ou sabia e não fez nada. Pergunto eu: não fez porque não quis ou porque não pôde? Se foi porque não pôde, não é omnipotente. Se foi porque não quis, de facto, não me surpreende; é o que se pode esperar de quem condena um filho à morte por pura vaidade e necessidade de afirmação, num autêntico frenesim de egocentrismo!

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

14 de Maio, 2007 Ricardo Alves

O fracasso brasileiro de Ratzinger

Lendo a imprensa brasileira, a conclusão que se retira é que a incursão de Ratzinger pelo Brasil foi um tremendo fracasso. Politicamente, ouviu um sonoro «não» de um político que raramente se impõe. E teve menos pessoas a idolatrá-lo em público do que em qualquer festival católico de verão que tenha realizado na sisuda Alemanha.

Foi uma surpresa positiva que Lula da Silva, um Presidente ambíguo e pouco dado a rupturas, tenha dito a Ratzinger que o Brasil vai «preservar e consolidar o Estado laico». B-16 pedira, nessa entrevista, uma Concordata que garantisse os privilégios a que a ICAR está habituada noutros países: isenções fiscais e ensino do catolicismo na escola pública a expensas do Estado, por exemplo (com o acinte extra da obrigatoriedade do ensino do catolicismo). Também quereria interferir, aparentemente, na legislação sobre aborto e distribuição de anticoncepcionais. Levou, em tudo, um rotundo «não».

Nas acções de massas, a decepção de Raztinger também foi grande. Teve menos pessoas do que se esperava, e não há jornal que não frise que o catolicismo brasileiro está em regressão demográfica, em perda para as igrejas evangélicas. Uma perda de influência que se estende a toda a América Latina e que Raztinger não parece ser capaz de inverter.

Como se não bastasse, a sua viagem levou a imprensa brasileira a entrevistar os «teólogos da libertação» (como Leonardo Boff) que Ratzinger tanto detesta e que tanto tem perseguido. Enfim, uma semana aziaga para o Papa alemão.

Espero que, pelo menos, o Sapatinhos Vermelhos tenha tido tempo para umas caipirinhas…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
11 de Maio, 2007 Ricardo Alves

A ICAR é pobre?

Muitos responsáveis da ICAR gostam de dizer que «a igreja é pobre». Ai sim? Se é pobre, como será possível que tenha 60 milhões de euros (12 milhões de contos em moeda antiga) para pagar uma basílica faraónica como a que está a ser terminada em Fátima?

Vejamos quanto são 60 milhões de euros: 60 milhões de euros seriam suficientes para financiar 15% do que o Estado gasta anualmente em Ciência e Tecnologia; ou para subsidiar 60% do orçamento anual da Fundação Calouste Gulbenkian; ou para pagar dois anos inteiros de orçamento de uma Câmara Municipal como Beja; ou ainda para pagar dez salários anuais a um jogador de bola como Luís Figo.

E depois disto ainda vão dizer que a ICAR não apenas é pobre, como só gasta dinheiro em «assistência social»… Haja paciência.
9 de Maio, 2007 Ricardo Alves

A minha solidariedade

Quero prestar a minha solidariedade aos brasileiros que lêem este blogue, neste momento em que o último ditador da Europa ocidental está quase a chegar, e presumivelmente se prepara para promover o obscurantismo, interferir na política interna brasileira, ocupar 99,9% do tempo noticioso e proteger-se da mais leve das críticas com o argumento de que ele acha que existe outra realidade material.

Se puderem, digam-lhe tudo o que ele merece ouvir. Como todos os seres humanos, é pela crítica que pode melhorar.
8 de Maio, 2007 Ricardo Alves

Arcebispo de Pamplona diz que a extrema direita é «digna de consideração e apoio»

Num documento datado de 17 de Março, o arcebispo de Pamplona (Espanha) da ICAR, Fernando Sebastián Aguilar, tece considerações sobre a extrema direita:
  • «Hoje em Espanha há alguns partidos políticos que querem ser fiéis à doutrina social da Igreja na sua totalidade, como por exemplo a Comunhão Tradicionalista Católica, Alternativa Espanhola, Terço Católico de Acção Política, Falange Espanhola das JONS. Todos estes são partidos pouco tidos em consideração. Têm um valor de testemunho que pode justificar um voto. Não têm muitas probabilidades de influir de maneira efectiva na vida política, ainda que pudessem entrar em alianças importantes se conseguissem o apoio suficiente dos cidadãos católicos. Por isso não podem ser considerados como obrigatórios, mas sim como dignos de consideração e de apoio. Os grandes partidos, os que regem a vida social e política, são todos eles não confessionais, alguns radicalmente laicos e claramente laicistas

A Falange Espanhola das JONS é a herdeira da Falange (fascista) de Primo de Rivera; o Terço Católico de Acção Política quer fechar as clínicas de planeamento familiar e proibir as pessoas de «ostentarem a sua orientação sexual»; a Alternativa Espanhola acha que os conservadores do PP não respeitam a «lei natural» moral (seja lá isso o que for); finalmente, o outro grupúsculo clerical e extremista não o consegui encontrar…

O episcopado espanhol é muito mais conservador do que o português. Ainda quer voltar ao franquismo.