As religiões pelam-se pela crueldade e pelo espectáculo público. O clero tende para o exibicionismo que a morbidez da fé exacerba.
A penitência é um deleite para o confessor. Depois de devassar a intimidade dos beatos que confiam no abutre que lhes espiolha a vida, embota a inteligência e aterroriza com as fogueiras do Inferno, convence os créus de que tem diploma para perdoar pecados.
Lembrar o espectáculo dos pios churrascos promovidos pelo Tribunal do Santo Ofício e o deleite beato com que se assistia à incineração de uma bruxa, judeu ou herege, é uma viagem ao mundo de horrores que deleitavam o Todo-Poderoso.
Os padres rejubilavam com a libertação das almas que fugiam do corpo a temperaturas indeterminadas e ficavam embevecidos com a devoção e gáudio com que os crentes esgotavam os lugares para assistir aos autos de fé.
Livrou-nos da insânia a luta contra a Igreja, o liberalismo e a Revolução Francesa. A secularização e o laicismo apararam as garras com que o clero dilacerava o corpo e o espírito dos livres-pensadores. Deus, na sua infinita crueldade e demência, foi sendo desmascarado e os padres, irados, assistiram ao triunfo da democracia e da liberdade.
Mas a tara não é apanágio do cristianismo e dos antros do clericalismo romano. No islão, uma forma grave de demência mística, cultivada com desvelo e crueldade, os patifes de Deus continuam a aplicar a justiça divina para gozo de Maomé.
Na Somália, o tribunal islâmico de Mogadíscio condenou à morte o assassino de outro homem e ordenou a um rapaz de 16 anos, filho da vítima, que o espancasse até à morte.
É esta a justiça que os crentes praticam em nome de um Supremo Facínora, a pedagogia cívica que exercem em nome da fé, a crueldade que justam às cinco orações diárias.
É esta demência mística, esta violência religiosa, esta crueldade tribal que em nome da Declaração Universal dos Direitos Humanos nos cabe denunciar e combater.
«Obedecer… – Caminho seguro. Obedecer cegamente ao superior » (Caminho, 914)
«Não desaproveites a ocasião de abater o teu próprio juízo: – Custa…, mas que agradável é aos olhos de Deus» (Caminho, 177)
Como bem escreve Alberto Dines, eleito como «A Personalidade da Comunicação» no Brasil em 2002, «A Opus Dei não é uma ordem, devoção ou confissão religiosa, é um projecto de poder político-financeiro-mediático que se desenvolveu na Espanha no período final do franquismo (quando chegou a ter 11 ministros e posteriormente 18) e, em seguida, espraiou-se pela América Latina».
No Brasil (e em toda a América Latina) os tentáculos da Opus Dei invadem os pontos fulcrais da sociedade. Infiltram o meio financeiro e infiltram especialmente os media. Na política, Geraldo Alkcmin, pré-candidato à presidência do país, é um dos políticos brasileiros que melhor ilustra não só as manobras políticas como também a estratégia de poder desenvolvida por esta sinistra organização.
O seu secretário da educação Gabriel Chalita, o tal que é uma das figuras centrais da programação da rede Canção Nova, uma sucursal da Fundação João Paulo II, conseguiu destruir o sistema público de ensino básico e secundário de São Paulo em tempo recorde. Destruição porque Chalita embora clamando uma diminuição do número de abandonos escolares e de reprovações, implementou reformas que conduziram à formação de «ovelhas» que ruminam sem digerir matéria mastigada por outrem e são incapazes de um pensamento ou análise crítica. Futuros cidadãos, completamente desprovidos de sentido crítico e com a capacidade de raciocínio ideal para serem alvos de proselitismo e lavagem cerebral, que engolirão sem pestanejar toda a «pia» matéria debitada pelos media controlados por esta organização!
Estratégia repetida nos países em que a Obra está instalada. Como o próprio Escrivá revelou «O fim específico [da Opus Dei] é trabalhar com todas as forças para que as classes dirigentes, principalmente os intelectuais, adiram aos preceitos [da Obra]» e passa por formar fanáticos, «Oxalá que o teu ‘fanatismo’ se torne cada dia mais forte pela Fé, única defesa da única Verdade» (Sulco, 933), que «libertem» a sociedade das ateias e blasfemas ameaças para a dita fé: «’liberdade’ que aprisiona; ‘progresso’ que faz regressar à selva; ‘ciência’ que esconde ignorância» (Sulco, 933).
Para este retorno aos gloriosos tempos da Idade Média e esplendor da Cristandade, sem qualquer contaminação da famigerada liberdade, progresso ou ciência, em primeiro lugar e principalmente, a Obra investe fortemente no recrutamento de intelectuais e dirigentes, aqueles que governam de facto o destino dos povos e, sobretudo, lhes ministram educação e cultura. Depois de terem operacionais em lugares chave, especialmente na educação, esses operacionais procedem a «reformas» que produzem massas amorfas incapazes de pensamento independente. O espírito crítico, extremamente nocivo à fé, deve ser combatido sem tréguas «É má disposição ouvir as palavras de Deus com espírito crítico» (Caminho, 945).
Assim, não é de estranhar que tantos ministros da Educação nos países em que a Opus Dei estendeu a sua teia de poder estejam ligados à Obra. Para além do exemplo já referido no estado de São Paulo ou de Ruth Kelly, a ministra da Educação Opus Dei de Tony Blair que se devota em destruir o sistema público de ensino britânico, não esqueçamos que foi Roberto Carneiro, mais a sua aberrante teoria que a Educação nacional deveria ser dirigida não para o desenvolvimento individual mas sim dirigida para formar «carneiros», mais concretamente deveria «Fomentar a integração da criança em grupos sociais diversos»*, quem despoletou o processo que conduziu o ensino nacional ao estado actual.
* é criada, para todos os alunos do ensino básico e secundário, a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social …” (Dec.-Lei 286/89, artº 7 ponto 2.)
Estabelece o ponto 5 do artº 7º que é obrigatória esta formação «social» seja ela garantida pela disciplina de DPS – Desenvolvimento Pessoal e Social – ou pela disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica ou de outras confissões pois que, obrigatoriamente, os alunos terão de optar por uma delas (ponto 4 do mesmo artigo 7º).
Um grupo cristão americano reuniu-se no passado dia 27 de Abril em Washington, D.C., em frente a uma estação de gasolina para rezar pela diminuição dos preços da gasolina. Os interessados que não se puderam deslocar a Washington para tão importante (e consequente) iniciativa fizeram-no via fibra óptica num site ao vivo e em real time ou usando uma linha telefónica grátis.
Num comunicado de imprensa o grupo Pray Live afirmou que muitas pessoas «se esquecem do poder da oração para resolver a crise energética». E que para além de a iniciativa ser uma mensagem para Deus (que devia ter colocado todo o petróleo do mundo em terras norte-americanas e não em terras de infiéis) é igualmente uma mensagem para a humanidade:
«É nossa esperança que ver e ouvir alguns dos mais poderosos pregadores reunidos em torno de uma estação de combustível e a capital dos Estados Unidos como cenário recorde a todos quem está de facto à frente do nosso Mundo – Deus».
Não se percebe muito bem se a solução pretendida pelos devotos cristãos para baixar o preço dos combustíveis é um milagre tipo transmutação de água em gasolina mas, não obstante todos os esforços envidados pelos cristãos de todos os «flavours» em descredibilizar a ciência, todo o mui cristão «relativismo nihilista» em relação à ciência, a única saída para a crise energética sairá da odiada e «ateia» comunidade científica.
Cientistas que há décadas vêm alertando o mundo e os políticos para a necessidade de se investir em soluções alternativas ao petróleo. O Deus, suposto omnisciente, a que rezam agora os «mais poderosos» pregadores americanos, os mesmos que passam a mensagem de que só a religião cristã é verdadeira e que a ciência é apenas um conjunto de «teorias» ateístas, não é solução para nada … a não ser para encher os bolsos dos seus «delegados» e a satisfazer a sua sede de poder!
Se os cavalos, à semelhança dos homens, tivessem sido suficientemente burros para criar o seu Deus, ter-se-iam extinguido aos coices.
O Deus dos cavalos, feito à sua imagem e semelhança, teria nascido de égua virgem, com cascos de oiro, crinas de seda, estrela e beta.
Teria vivido no deserto, a reflectir, alimentado 40 dias de palha trilhada, caída do céu, enquanto reflectia no que ia relinchar quando voltasse à companhia dos cavalos seus discípulos.
O Deus-cavalo morreria exausto a fugir dos leões, a galope. Ressuscitaria ao terceiro dia e reapareceria a trote aos dilectos antes de subir ao céu mais veloz que o relâmpago.
Hoje o Deus-cavalo tinha um Cavalo de Deus que relincharia a sua vontade e diria quem era digno de viver a eternidade na sua companhia. Seria um cavalo selado a rigor, alimentado a palha escolhida por velhas éguas e a viver com vetustos cavalos dados à castidade e algum potro de estimação para as confidências.
No seu pio estábulo todos os solípedes se curvariam perante o Cavalo de Deus que, após a morte, teria solenes exéquias procedendo depois um grupo de provectos e destacados equídeos à eleição de um sucessor vitalício.
Se os cavalos fossem, à semelhança dos homens, suficientemente burros, ainda hoje se reuniriam em concílios para discutir se os póneis eram filhos dos cavalos e se as éguas poderiam ser iguais aos cavalos em dignidade como uma perigosa heresia sustentava.
Muitos cavalos morreriam mordidos e escoiceados na defesa da ortodoxia enquanto seriam excomungados os ímpios, execradas as éguas com cio e sangrados os muares do mesmo sexo que se envolvessem em brincadeiras suspeitas.
Assim, os cavalos mantêm o porte altivo e não andam de joelhos nem de rastos. Nem rezam.
Alexander Lukachenko, na Bielorrússia, e Bento 16, no Vaticano, são os dois últimos biltres que perseguem os adversários e se fizeram eleger em condições alheias às regras democráticas vigentes na Europa.
O Sapatinhos Vermelhos, além de interferir na vida interna dos países democráticos, é ditador vitalício, chefe de uma rede internacional de cardeais, bispos e outros clérigos disponíveis para trair os seus países em obediência à teocracia resultante dos acordos de Latrão, por vontade de Mussolini – um católico impoluto e ditador fascista.
O presidente da Comissão Europeia, entusiasta da invasão do Iraque, que garantiu a existência de provas de armas de destruição maciça, foi visitar o velho pastor alemão, sem uma palavra de censura pela ausência de uma Constituição democrática nem referência à luta que o ditador tem conduzido contra o preservativo no mundo infectado de SIDA.
José Manuel Barroso era um dos que exigia a referência ao cristianismo na Constituição Europeia, um dos que ignora que as referência confessionais são motivo de ódios entre pessoas e de quezílias entre as nações.
A visita ao ditador vestido de garridos trajos femininos não é um mero acto diplomático, é a manifestação de subserviência e falta de firmeza perante uma teocracia que fomenta a homofobia, o espírito misógino e o ódio à sexualidade.
Quem se ajoelha perante um déspota e é capaz de lhe lamber o anelão com ametista, não representa cidadãos, é um político que rasteja para gravitar em torno de um tirano.
«Um governo arbitrário é aquele em que as pessoas têm homens que os governam … Só Deus tem essa prerrogativa … por isso homens usurparem essa autoridade é tirania e heresia» John Winthrop (1588 – 1649)
Na passada quarta-feira, sem grandes fanfarras na imprensa, o secretáro de Estado J. Kenneth Blackwell ganhou as primárias do GOP (o partido republicano) para a governação no Ohio. Se Blackwell, conhecido por levar uma Bíblia para todos os eventos a que se desloca, ganhar as eleições para governador do Estado Novembro próximo, como tudo indica, será o primeiro governador negro do Ohio. Será também o governador mais abertamente teocrata nos Estados Unidos desde que John Winthrop governou a colónia de Massachusetts Bay assumindo-se como a mão direita de Deus. Blackwell, a quem se deve a vitória de Bush neste estado em 2004, é igualmente considerado para vice-presidente republicano nas próximas eleições presidenciais.
A relação demasiado íntima (e possivelmente ilegal) de Blackwell com dois megamercados da fé cristã do Ohio já mereceu a atenção do programa Now da PBS. E constitui material que merece uma atenção redobrada.
De facto, duas mega-igrejas do Ohio, a World Harvest Church e a Fairfield Christian Church, esta última dirigida pelo pastor Russell Johnson que está igualmente à frente da Ohio Restoration Project, uma organização cristã cujo objectivo é eleger candidatos que transcrevam nas leis do Estado as aberrações cristãs em matéria de direitos individuais, fizeram campanha activa por Blackwell.
O secretário de estado do Ohio, membro do painel nacional da Juventude por Cristo (Youth for Christ), analista político da Heritage Foundation em Washington, D.C e um comentador muito activo da Salem Communications, participando em programas nas mais de 90 estações desta emissora cristã, pretende, no caso de ser eleito, proceder à «Renovação cívica» deste Estado, isto é, pretende impôr um regime dominionista puro e duro! O que o torna extremamente atraente aos teocratas americanos que, como declarou Rod Parsley, co-fundador com Johnson da Ohio Reformation Movement, pretendem transformar o Ohio em «um campo de treino que lançará uma reforma nacional». Reforma nacional que consiste na abolição da «ateia» democracia uma vez que «Os americanos devem ser cristocratas – cidadãos em simultâneo do seu país e do reino de Deus. E isso não é uma democracia, é uma teocracia».
Os detalhes de como Blackwell usou e usa politicamente (algo que é proíbido nos Estados Unidos em que para beneficiarem de isenção de impostos as igrejas não podem intervir directamente em política) as mega-igrejas e os chamados «pastores patrióticos», nomeadamente Johnson que afirmou serem as próximas eleições de Novembro «um choque apocalíptico entre a cristandade virtuosa [Blackwell] e os fazedores do mal que se opõem aos valores da cristandade [e querem «impôr» a ímpia democracia]», podem ser apreciados num programa recente da PBS, reproduzido aqui.
Reduzido a contemplar, da prisão, o sucesso da conspiração em que participara, Zacarias gritou «Deus é grande», mas é crível que tenha tido alguma inveja. Na religião com que o iludiram, não apenas se acredita numa «vida eterna» posterior à morte, mas também que morrer matando os inimigos da fé garante a maior das glórias nessa «vida depois da morte», em algumas versões garante mesmo umas dezenas de donzelas virgens. Devido ao seu próprio desleixo, Zacarias falhara a ida para este «paraíso das virgens».
Não tem sido devidamente sublinhado que o 11 de Setembro só foi possível porque há pessoas, na Europa e noutros continentes, que vendem a ilusão de que existe uma «vida depois da morte», e que se apresentam como únicas conhecedoras do caminho para essas maravilhas póstumas. Em Portugal, a maioria desses charlatães são muito respeitados, e a ilusão que vendem raramente é criticada em público. Mas é essa ilusão que permite o bombismo suicida.
Zacarias Moussaoui teve azar. O tribunal não o condenou à morte, que ele acha que ainda seria consideravelmente gloriosa e que lhe abriria o caminho, acredita ele, para a «glória eterna». Foi uma decisão humanista do tribunal, mas foi também a segunda desilusão de Zacarias Moussaoui. Esperemos que tenha agora tempo para compreender que foi enganado, e que a vida vale muito mais do que a morte, mesmo sem «paraíso» nem «virgens».

«A concepção de Bush de uma missão baseada na fé, que está acima de qualquer questionamento racional, condiz com os dogmas pró empresariais da sua administração em relação ao aquecimento global e outros assuntos ambientais urgentes». A não perder esta análise dos mandatos de Bush pelo historiador Sean Wilentz, que faz a capa «The Worst President in History» (ou quase, é a opinião da maioria dos historiadores que estudam o tema) da Rolling Stone, a publicação que recuperou o seu estatuto de revista de culto nos últimos tempos. Em que o tema religião é um dos pratos fortes, já que a base de apoio de Bush está neste momento quasi restrita aos que o consideram «um cristão que de facto age de acordo com a sua crença»…
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.