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Categoria: Não categorizado

3 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Pelo cilício e pela obediência, sempre!

Não há como estudarmos o nosso «inimigo» ideológico para melhor o compreendermos (e nesse processo compreendermos também porque nos encontramos no campo oposto). Na sequência do aniversário póstumo do fascistóide Josemaría Escrivá (devidamente assinalado pelo Carlos Esperança), o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, produziu uma homilia onde explica com sinceridade o pensamento do fundador do Opus Dei.

Tal como o entendo, o sistema totalitário que o Opus Dei constitui funciona entre dois pólos: humilhação e obediência. Pela humilhação, destroem-se ou controlam-se as vontades, prazeres, instintos e valores éticos que podem afastar a ovelha do rebanho; e assim, castrado e amansado, se prepara o cordeirinho para obedecer, tornando-o um instrumento fiel da organização e dos seus objectivos. A homilia de Carlos Azevedo começa por desdenhar dos evangelistas e do «conteúdo da pregação de Jesus», para logo chegar ao que realmente interessa nas lendas cristãs: «à tua palavra, obedecerei» (o autoritarismo típico das religiões abraâmicas é útil para construir organizações de prosélitos e de soldados). Ao longo da homilia repetem-se depois as exortações a «ser instrumento nas mãos do Pai», e termina-se a prometer até a «glória» aos que «entregam a vida intensamente a ser instrumentos da Obra de Deus». As palavras recorrentes no texto são «vontade», «instrumento», «entrega» e, curiosamente, «liberdade». Mas esta é uma liberdade muito especial: ou é a «libertação» da «lei, do pecado e da morte» (sendo que «pecado» é quase tudo o que vale a pena, e a «libertação da morte» uma banha da cobra) ou então é a «liberdade» de ser instrumento («a vida de filhos tão queridos é impelida, com autêntica liberdade a ser instrumento nas mãos do Pai»). O único agente com «vontade» ao longo de todo o texto é «Deus». A ovelha não tem vontade, e portanto não é realmente livre. A autoridade divina garante a submissão terrestre. É uma leitura esclarecedora.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
3 de Julho, 2007 Carlos Esperança

Terrorismo religioso

A galáxia terrorista que dá pelo nome de al-Qaeda não é uma mera associação criminosa com gosto mórbido pela morte, é uma nebulosa de fanáticos que crêem no Paraíso e nas virgens que os aguardam no estado miserável em que chegam.

Não têm uma ideologia, uma lógica ou um objectivo claro, pretendem apenas agradar a um Deus de virtude duvidosa e ao profeta que é cadáver desde o ano 632.

A demência ganhou ímpeto em 11 de Setembro de 2001, nos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono, em 11 de Março de 2004, na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, nas explosões em estâncias de veraneio, nas embaixadas dos EUA e no Metro de Londres em 7 de Julho de 2005.

Londres, nos últimos dias, voltou a ser alvo de várias tentativas terroristas e a Espanha sofreu ontem sete mortos e seis feridos entre os turistas que visitavam o Iémen, vítimas de um carro bomba conduzido por um facínora beato.

Não vale a pena iludirmo-nos com a bondade do Islão quando os clérigos pregam o ódio e apelam ao martírio. Os países democráticos não se libertam da culpa das cruzadas e da evangelização e tratam o terrorismo religioso com a brandura que não merece.

Um templo onde se prega o ódio é um campo de treino terrorista. Um clérigo que apela à violência é um criminoso que deve ser detido.

Os japoneses que viam Deus no Imperador, imolavam-se em seu nome mas, perdidas as fontes de financiamento e desarticuladas as redes de propaganda deixaram de se dedicar ao suicídio e de se imolarem com aviões e torpedos que dirigiam contra alvos inimigos.

É tempo de conter a ameaça que paira sobre a civilização e a democracia, sem sacrificar o Estado de direito, sem abdicar das liberdades e garantias que são a marca de água da nossa cultura.

Mas não podemos hesitar na luta contra o financiamento e proselitismo ideológico que grassa entre fanáticos de várias religiões. Não são famintos em desespero, são médicos, pilotos e universitários que buscam um passaporte para o Paraíso através dos crimes contra os infiéis.

DA/Ponte Europa

2 de Julho, 2007 Carlos Esperança

A doença da fé

Tal como as carraças que assaltam o homem e transmitem a febre, também os clérigos atacam e envenenam o sangue das criaturas, debilitando-as com a superstição que lhes mina o entendimento e reduz o espírito crítico.

As doenças têm sempre um agente transmissor. A picada da fêmea do mosquito anofélis provoca a malária; a água leva o tifo e a cólera; o leite transmite a brucelose; o ar leva a tuberculose, enfim, podia passar horas a escrever sobre doenças e formas de contágio.

Há, porém, uma doença endémica que se propaga pela geografia, através da família, do medo e do esforço dos padres – a religião.

Enquanto as doenças orgânicas têm cientistas à procura dos meios de cura, a religião tem uma caterva de parasitas á espera de que se agrave. Nas outras doenças ataca-se o agente patogénico e os sintomas. Na religião aguarda-se que a infecção progrida, que o corpo se adapte, que o cérebro se embote, que o paciente se automatize e genuflicta, que o homem renuncie à dignidade e se transforme num escravo da Igreja.

Não viria mal ao mundo se os crentes não vivessem a obsessão da fé, não entrassem na loucura do proselitismo e no ódio aos crentes de outro deus, numa espiral de violência que aspira ao monopólio e à purificação, numa orgia de sangue, terror e morte.

2 de Julho, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Mas é errada a premissa criacionista que qualquer complexidade indica desígnio. Um fio emaranhado é mais complexo que um novelo. Uma faca de pedra polida tem uma forma mais simples que a rocha original, irregular e assimétrica. O que temos que considerar não é se os seres vivos são complexos – são – mas se têm a complexidade que se espera de um design inteligente. E essa não têm.

    Normalmente, o propósito de algo concebido com inteligência é aparente no próprio design. Uma espada, um automóvel, uma muralha de pedra, uma fábrica de rolhas de cortiça. Mas nos seres vivos não. Peixes com pulmões, moscas, pinguins, trezentas mil espécies de escaravelho. Uma diversidade enorme sem que se vislumbre um propósito, nem na vida como um todo nem em cada espécie. Não se pode garantir a ausência de propósito, mas esta complexidade caótica não sugere uma criação inteligente. Pelo contrário.[…]

    Isto é inconcebível num sistema criado com inteligência. Mais uma vez, é o padrão esperado por um lento acumular de mutações aleatórias seleccionadas pela reprodução dos organismos.

    A complexidade da vida na Terra é como a complexidade dos flocos de neve, das tempestades, das correntes oceânicas, dos diamantes ou do fluxo turbulento. É a complexidade de processos naturais sem propósito nem inteligência. E o contrário do que se esperava de um acto metódico, racional e deliberado. Design incompetente? Talvez. Design inteligente está fora de questão.»(«Miscelânea Criacionista: A complexidade.», no Que Treta!)

  2. «Aqui quis apenas dar outro exemplo que contradiz o criacionismo. É falso que as mutações só façam perder capacidades. É falso que as mutações não possam criar novos genes. Para o debate com os criacionistas não adianta dizê-lo nem mostrar evidências. Eles não querem dialogar. Querem rezar, repetindo sempre as mesmas coisas e tentando não ouvir nada do que se lhes diz. Mas pode ser que ajude a criar resistências, «enzimas mentais» para destruir mais umas tretas criacionistas.»Penicilina.», no Que Treta!)
  3. «Trocando por miúdos, diz que a ciência não refuta a bíblia. Engana-se. O dilúvio global é tão compatível com a ciência moderna como a Lua ser feita de queijo. A torre de Babel é tão real como o peixe de Babel. E a queda só explica alguma coisa se tiver sido de cabeça. Mas mesmo que fosse. Vamos supor que um deus acenou a varinha mágica e tudo isto aconteceu sem deixar vestígios. O problema é que este «quadro interpretativo» não serve para nada. Nem para enfeitar serve, este universo das Caldas.

    Não faz sentido acreditar em algo só porque não foi refutado. Não vou passar os dias com medo do homem invisível que ninguém pode provar não me perseguir. Para usar o famoso exemplo de Bertrand Russell, é disparate acreditar que há um bule de loiça a orbitar Plutão mesmo que não se prove o contrário. Não podemos viver assumindo como verdadeiro tudo o que não provamos ser falso.[…]

    Sem nada para dizer, têm que falar muito para compensar. Repetem perguntas que já foram respondidas inúmeras vezes. Dizem que a evolução não explica mas também nunca explicam nada com o criacionismo. Afirmam barbaridades como esta de nada na ciência contradizer o dilúvio. Distorcem a ciência chamando «acaso» a qualquer processo natural, como se fosse preciso uma grande sorte para cozer um ovo ou digerir uma maçã. O resultado é só conversa fiada.»(« Miscelânea Criacionista: Blá, blá, blá…», no Que Treta!)

2 de Julho, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Indústria dos milagres na Fórmula 1

O Vaticano arranja milagres em qualquer recanto, a indústria dos santos e beatos anda em reboliço e até pela televisão eles acontecem, afinal deus e empregados gostam das velocidades, os mandamentos para os condutores católicos entram em contradição, afinal todos podem acelerar à vontade, milagres não faltam.

Kubica, piloto de Fórmula 1, sofreu aparatoso acidente no Canadá, sobreviveu, é milagre. João Paulo II precisa de beatificação, e toca a fazer trabalho que senão o altar da beatice escorrega. Papeladas às resmas, milagres surgem em catadupa, toca a encaminhar responsabilidades aos que estão em fila de espera, ámen.

As fibras de carbono, duas vezes mais resistentes que o aço, supostamente serviriam para salvar a vida de muitos pilotos em acidentes aparatosos, mas são afinal dispensáveis, os aspirantes a divinizações fazem o trabalho, milagre aqui e ali e mais vale fazer carros em esferovite que fica mais barato.

De relance podemos dizer que as 12 camadas de fibras de carbono, combinadas com alumínios e posteriormente enrijecidas em fornos são dispensáveis, assim como todas as tecnologias e desenvolvimentos feitos na segurança passiva dos pilotos, podem despedir esses gajos todos que o João Paulo II trata disso.

Interessante referir a exemplo, que em 1994, os pilotos de Fórmula 1 Senna e Ratzenberger morreram em acidentes em San Marino, altura em que João Paulo II era papa, parece que nessa altura não se predispunha aos milagres, e para além disso os santinhos e beatinhos estavam em greve geral, situação essa a mais recorrente.

Não se esperam milagres relativamente à SIDA, parece que é um castigo justo de um ser superior, valha-nos a adrenalina da velocidade, o João Paulo II salva-nos. Quem sabe este milagre não faça com que o airbag e outras coisas inúteis à segurança passiva sejam tidas como pecados? Com uns terços e autocolantes cristãos as estradas podem ser um sonho tornado realidade, carrinhos de choque como nas feiras populares!

Também publicado em LiVerdades

1 de Julho, 2007 Carlos Esperança

A fé e a cegueira ou a cegueira da fé

As religiões nunca trouxeram felicidade à humanidade e, no entanto, nunca lhe faltaram com a violência, iniquidade, guerras e perseguições.

A ICAR não será das piores mas o passado é mais digno de uma associação terrorista do que de um Estado, embora teocrático e totalitário. Não é na estranha monarquia absoluta electiva que alguém espera encontrar uma ideia, um exemplo, um estímulo em proveito da liberdade e da democracia. No Vaticano encontra sotainas, intrigas e sede de poder.

Recorrer à história e aos crimes perpetrados em nome de um Deus, que inventaram para consumo próprio e domínio alheio, talvez seja cansativo. Falar dos «Papas Perversos» e em «A vida sexual dos Papas» é cansativo e inútil para os crentes, tal como aludir às «Mentiras fundamentais da Igreja Católica».

Talvez tenha algum interesse, por estar próxima no tempo, falar da cumplicidade da Igreja católica portuguesa com a ditadura fascista que fez com Salazar o que Pio XII fez com Hitler. Cerejeira merecia ter sido Papa.

Quando se deportavam cidadãos, assassinavam oposicionistas (Delgado, Ribeiro dos Santos, Dias Coelho), torturavam presos e demitiam democratas, a Igreja calou-se. Mas na censura e como informadores da PIDE não faltaram padres.Quando o bispo do Porto, António Ferreira Gomes, foi exilado, nem um só bispo ergueu a voz – uma cobardia digna de tartufos, pusilanimidade à altura do evangelho da seita.

Era proibido o divórcio a quem tivesse feito o casamento pela ICAR. E era perigoso não o fazer. Um professor primário tinha de ser católico «para cumprir os fins superiores do Estado». Em Escolas de Enfermagem não se podia fazer a matrícula sem o atestado de baptismo…católico.

Isto não invalidou que a Senhora de Fátima dissesse à Lúcia que o Salazar foi escolhido por Deus para governar Portugal, confidência que chegou aos ouvidos do déspota por intermédio do Cerejeira.

Esta igreja pusilânime, perversa e perseguidora foi o suporte da ditadura, da repressão e da guerra colonial. É a mesma que anda a inventar milagres e a fazer santos de figuras tenebrosas. Ninguém a acredita, mas temos de a levar a sério na sua infinita maldade e na genética propensão inquisitória. Basta recordar os salafrários dos dois últimos Papas.

1 de Julho, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Ratzinger quer evangelizar a Ásia

Chuto nas nádegas nos passeios nas Américas e agora surge a deficiência maníaca nas mais hilariantes ridicularidades, senil e nostálgico dos gloriosos tempos de apanha de lenha e magnânimes fogueiras para churrascadas, Ratzinger virou-se para a Ásia, falta a lenha e os cruzados, mas a chama das saudades clama mais alto.

A China é agora o alvo da obsessão compulsiva, evangelização o termo repetido aos quilos, até profecias valem ao velhote carcomido pelas manias imperialistas. Em carta enviada para a China, o homenzinho das saias aos folhes, inspiradas quem sabe nas mais requintadas toalhas de mesa, proferiu que “Durante o primeiro milénio cristão, a Cruz foi colocada na Europa e durante o segundo na América e na África.“. Tudo na paz do senhor faltou referir, sabemos que sim na América, só lhe fazia bem à imagem referir a paz das cruzes nos restantes locais.

A profecia também foi engraçada, “Durante o terceiro milénio, uma grande colheita de fé ocorrerá no vasto e vibrante continente asiático.“. Plantar cruzes na Ásia é agora o sonho do doidivanas, regas serão muitas para que germinem, ao calor das piromanias não será factor consentido certamente. Espadas caíram em desuso, e lenhas só para aquecer com responsabilidade em dias de Inverno, se pela força não é possível neste momento, menos o será pela racionalidade.

De espada em punho e caravela quem sabe não irá Ratzinger evangelizar os pinguins e as focas para os pólos, boatos de vida em planetas distantes e era vê-lo em fato de astronauta com pindicalhos dos ourives ao pescoço e toalha da mesa com rendinhas a dançar o malhão na nave espacial evangelizadora.

Com exorcismos não vai ao sítio, pena ainda não ter ouvido falar em psiquiatria.

Também publicado em LiVerdades

30 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Offshore do Vaticano – um Estado pária

As autoridades dos países civilizados estão atentas às burlas e exigem certificados de garantia às mercadorias que as Empresas comercializam.

A defesa do consumidor é hoje apanágio dos Estados democráticos preocupados com os mais vulneráveis à agressividade do marketing e aos embustes de multinacionais pouco escrupulosas.

Curiosamente, o Vaticano, apesar do longo historial de ardis e abusos de confiança de que é um bom exemplo a troca de indulgências por heranças*, goza de uma impunidade única. Inventa milagres e cria santos com a mesma facilidade com que o abade de Trancoso fazia filhos.

O Vaticano vai investigar o «possível milagre com Kubica». O acidente sofrido pelo piloto polaco Robert Kubica no GP do Canadá de Fórmula 1 pode ser um milagre a favor do papa JP2.

O piloto podia ter morrido e apenas torceu o tornozelo e sofreu escoriações. Ora sabendo que o excesso de velocidade é um dos mais recentes pecados inventados pelo Vaticano, ficamos a saber que os pecados (salvo os de natureza sexual) podem ser abençoados por um milagre se houver um Papa na linha de montagem das canonizações.

*Bula de indulgências de Alexandre VI ao Hospital Termal de Caldas da Rainha (1/6/1497)

30 de Junho, 2007 Carlos Esperança

A morte do Miguel

Dia 27 de Junho o Miguel teve o seu funeral. Caíra no Sábado anterior quando saía do casebre. Quebrou o fémur e ganhou um hematoma na cabeça. Transportado ao Hospital faleceu no dia seguinte.

Na terça-feira foi o funeral. O Miguel teve missa, flores que os amigos lhe levaram e os responsos canónicos antes de baixar à cova. Já não o acompanharam os pais e avós, que partiram antes, mas estavam lá os amigos que jogaram à bola na Praceta, companheiros da escola primária onde começou e terminou os estudos.

Para os que acusam os jovens de egoísmo foi tocante ver os que vieram de longe, alguns já bem instalados na vida, outros à procura de uma oportunidade. E eram muitos.

O Miguel é que não teve vaga. Não conheceu o pai, morto quando ele ainda não tinha dois anos. A mãe esqueceu-o, na amnésia da droga, e não o recordou quando se finou com uma dose reforçada.

Os avós recolheram-no. Partiu a avó primeiro e não se demorou o avô. O Miguel ficou aos baldões da sorte, ao abandono, não lhe faltando pontapés da vida nem a companhia de outros desgraçados.

Tinha 31 anos e mantinha olhos de criança num rosto já cansado. Passou fugazmente por várias drogas mas foi no álcool que se fixou, em doses cada vez mais vastas. Se os amigos o saudavam, sorria com gratidão. Não deixou que lhe virassem as costas, foi-se afastando entre carros que arrumava e garrafas de cerveja que consumia.

Ainda teve tempo para fazer um filho. Foi amado. E a mulher quis levá-lo para o cuidar. Não quis ser um fardo. Andou por aí sem querer ser pesado, sem se queixar, a desfazer o fígado e a vida, a acelerar para o fim, com um sorriso que guardou para os amigos.

Na morte teve a mulher que o amou, vestida de preto, e muita gente: um arrumador no intervalo da ressaca, o director de um estabelecimento do ensino superior, o dono do café, jovens que após os cursos foram pela vida e voltaram à Praceta para dizer adeus ao Miguel e lhe levarem as primeiras flores que recebeu. E todos nos sentimos tristes com vergonha de sermos felizes.

Chamava-se Luís Miguel Neves Caldeira, de seu nome. Era tudo o que tinha com a roupa que trazia e um velho rádio de que fez testamento oral. Dele só resta o rádio e o raio da nossa incapacidade para criar um mundo mais justo.

Hoje vi um edital a anunciar a missa do 7.º dia para as 18H30. Faz seis dias que morreu, mas o 7.º dia é quando um padre puder. Talvez a missa seja pela remissão dos pecados de Deus.