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A doença da fé

Tal como as carraças que assaltam o homem e transmitem a febre, também os clérigos atacam e envenenam o sangue das criaturas, debilitando-as com a superstição que lhes mina o entendimento e reduz o espírito crítico.

As doenças têm sempre um agente transmissor. A picada da fêmea do mosquito anofélis provoca a malária; a água leva o tifo e a cólera; o leite transmite a brucelose; o ar leva a tuberculose, enfim, podia passar horas a escrever sobre doenças e formas de contágio.

Há, porém, uma doença endémica que se propaga pela geografia, através da família, do medo e do esforço dos padres – a religião.

Enquanto as doenças orgânicas têm cientistas à procura dos meios de cura, a religião tem uma caterva de parasitas á espera de que se agrave. Nas outras doenças ataca-se o agente patogénico e os sintomas. Na religião aguarda-se que a infecção progrida, que o corpo se adapte, que o cérebro se embote, que o paciente se automatize e genuflicta, que o homem renuncie à dignidade e se transforme num escravo da Igreja.

Não viria mal ao mundo se os crentes não vivessem a obsessão da fé, não entrassem na loucura do proselitismo e no ódio aos crentes de outro deus, numa espiral de violência que aspira ao monopólio e à purificação, numa orgia de sangue, terror e morte.