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3 de Outubro, 2009 Fernandes

O Islamismo

Existem aproximadamente vinte milhões de muçulmanos na Europa. Estes representam todo o espectro de atitudes religiosas possíveis, desde a indiferença até ao fanatismo.

Os muçulmanos europeus tendem a viver agrupados em comunidades, quase sempre mal integrados, seja nos subúrbios das grandes cidades, como em França, ou em bairros abandonados pela população autóctone, como em Bruxelas ou Londres. São mais pobres, sofrem uma taxa de desemprego elevada. A maioria chegou à Europa em vagas desde a Segunda Guerra, numa altura em que estes precisavam de emprego e a Europa devastada pela guerra, precisava de mão-de-obra para a sua reconstrução. Pela primeira vez na sua história, a Europa encontra-se na difícil situação de ter que integrar uma enorme massa de imigrantes não europeus. Um desafio difícil que custa levar a bom termo.

A maioria dos muçulmanos europeus, concorda com a emancipação da mulher, com o papel que a esta cabe na sociedade, é a favor de um Islão moderado e não considera os europeus hostis ao Islão. Mas não nos enganemos, o Islão continua a ser o principal pólo identitário dos muçulmanos. A integração destas comunidades na Europa não é realmente um êxito. Apesar de milhões de muçulmanos viverem a sua vida sem causarem problemas no país de acolhimento, nem por isso se fundem na cultura que os rodeia. De nada serve ignorar o problema da integração, ele existe.

Na Europa existem dois modelos de integração, o modelo republicano francês e o comunitário britânico. O primeiro tenta integrar as identidades estrangeiras, transformando os imigrantes em franceses. O segundo aposta em preservar as identidades estrangeiras num mosaico de muçulmanos. Nenhum dos dois resulta. Sustentados por sólidas muralhas ideológicas, as tragédias recentes – o assassinato de Theo van Gogh em Amesterdam, os atentados de Londres, e os tumultos nos subúrbios franceses – derrubaram as muralhas e mostraram o fracasso de tal ideologia. Há que reconhecer: os modelos, cada um, com suas incongruências, acabaram por criar guetos. O multiculturalismo é uma gafe?

A ideologia multiculturalista é ambígua, serve para cobrir com roupagens novas o velho racismo. – Cada um em sua casa e deus na de todos… A ideologia multiculturalista parte quase sempre de uma boa intenção; peca então por ingenuidade. Não existem critérios para determinar o famoso limite de tolerância, mas, queiramos ou não, o multiculturalismo conduz ao gueto. Uma coisa é certa, estão melhor integrados os avós e os pais, do que os filhos, porque será?

A capacidade de integrar, e proporcionar a cidadania a milhões de cidadãos alienados, de criar as condições de autêntica pertença a esse princípio espiritual que é a Nação, é necessariamente geradora de frustração, de isolamento comunitário, da busca de sentido onde haja uma possibilidade de o encontrar. Nem por isso se convertem todos em fanáticos dispostos a matar, mas reúnem-se as condições para que alguns o façam. Uma integração harmoniosa não é só por si, uma garantia contra o fanatismo assassino, mas a capacidade de recrutar adeptos ficaria minorada.

Efectivamente, do trabalho de socialização que o estado se mostra incapaz de realizar, se encarrega o Islamismo. Financiado com dinheiro saudita, através dos irmãos muçulmanos, uma enorme rede de organizações, realiza um incrível trabalho de islamização profunda das comunidades muçulmanas. As mesquitas, associações, instituições caritativas e educacionais, em princípio, não são instituições terroristas. A sua estratégia a longo prazo, tem quatro objectivos bem definidos: assegurar o monopólio da representação das comunidades muçulmanas, impedir a assimilação dos muçulmanos da Europa, preservando e afirmando a sua identidade; reforçar a sua própria capacidade de influência na política nacional nos centros de decisão, e transformar paulatinamente o Islamismo numa força política decisiva na Europa.

 

2 de Outubro, 2009 Ludwig Krippahl

Crenças e diferenças

No sentido lato, a crença é a atitude de considerar uma proposição verdadeira. E, neste sentido, todos temos crenças. Mas a ideia que todos somos crentes só por aceitarmos algumas proposições esconde uma diferença intuitivamente evidente entre, por exemplo, crer que que um protão tem 1836 vezes a massa de um electrão e crer que Maria deu à luz ainda virgem. A posição tradicional era que havia uma grande diferença. Enquanto a crença acerca da massa do electrão deriva de capacidades humanas limitadas, a virgindade de Maria é revelada por um deus infalível e merece a nossa total confiança. Felizmente, esta posição está hoje relegada às franjas mais fundamentalistas*.

Os crentes mais moderados defendem que as crenças científicas e religiosas estão ao mesmo nível, assentando as primeiras na ideia de um universo regular e observável e as últimas num deus que revela os seus mistérios. De resto, em ambos os casos se confia em alguma fonte, seja observação seja revelação, para decidir que proposições aceitar ou rejeitar. Ou seja, somos todos igualmente crentes, apenas cremos em coisas diferentes**. Finalmente, a terceira posição, que também defendo, é que há uma diferença entre estas crenças e não é verdade que a fé seja o melhor caminho. No entanto, muitos defendem esta posição alegando que a diferença está no fundamento das crenças e confundindo a crença com a proposição em que se crê. Isto falha a diferença mais importante e é facilmente refutável. Por exemplo, eu obtive a minha crença acerca da massa relativa do protão e do electrão lendo o valor num livro. Exactamente o que fez o cristão que acredita na virgindade de Maria. E de nada serve alegar que uma proposição é mais fundamentada que outra porque isso é apenas mais uma crença. O religioso até pode achar que a sua é a mais fundamentada. O melhor é desenlear os dois conceitos.

A proposição é uma descrição abstracta e impessoal de um aspecto da realidade. “O protão tem 1836 vezes a massa do electrão” ou “Maria é virgem”, por exemplo. Enquanto a crença é a atitude pessoal de aceitar uma proposição. Não devemos confundir o hipotético fundamento da proposição, que possa existir algures na mente de um deus ou na comunidade científica, com o fundamento da crença que terá de ser aquilo que a pessoa tem à sua disposição no momento em que decide acreditar. Fazendo esta distinção, percebe-se que a minha crença acerca da massa do electrão não é mais fundamentada que a crença do cristão acerca da virgindade de Maria, pois ambos formámos as nossas crenças com base no que lemos algures e nenhum de nós dispõe dos dados necessários para fundamentar qualquer uma destas proposições.

A diferença não está nem no fundamento que possa haver para a proposição, visto que não o usámos para formar a crença, nem no fundamento das crenças, que é análogo em ambos os casos. A diferença está na crença em si. Não há só uma forma de aceitar algo como verdadeiro. É possível crer de maneiras diferentes. E eu creio que o protão tem uma massa 1836 vezes maior que a do electrão, reconhecendo que não sei substanciar devidamente essa hipótese mas na condição de poder fazê-lo se o quiser. Ou seja, na condição de haver resultados que suportam a proposição, de eu poder ter acesso a esses resultados e que, se me der ao trabalho de os compreender, de concordar que a proposição tem fundamento. Estas premissas são uma condição necessária para a minha crença. Se suspeitar que alguma destas é falsa deixo de confiar na proposição que o protão tem 1836 vezes a massa do electrão. Deixo de crer.

A crença do cristão é diferente. O cristão que crê que Maria era virgem não está a assumir que, algures, existem os exames ginecológicos necessários para substanciar esta proposição, que pode ter acesso a esses registos e que, se os analisar cuidadosamente, concluirá que Maria era mesmo virgem. Esta sua crença não é condicional. Não depende de assumir que há fundamento objectivo para a proposição. É uma crença categórica. O cristão crê. Ponto final.

Esta é uma razão importante para a incompatibilidade entre a ciência e as religiões. Como as crenças científicas são todas condicionadas à premissa de haver fundamento objectivo, acessível e compreensível, para as proposições em que se crê, os cientistas têm uma exigência quase paranóica de registos de resultados, descrições detalhadas dos procedimentos, conclusões cautelosas, crítica aberta, verificação independente e todo esse aparato que nos dá confiança que, quando chegam a acordo acerca de algo, há por trás um forte fundamento para o que defendem. As religiões fazem o contrário. A crença incondicional e dogmática vira as religiões para dentro, para as suas figuras de autoridade ou escritos sagrados onde o fundamento último de tudo é o mistério insondável da fé.

Esta diferença está na atitude. Na crença em si. Nem sequer depende da proposição em que se crê. Um podia acreditar que Maria era virgem por julgar haver registos médicos que o confirmassem e outro acreditar categoricamente, por fé, que o protão tem 1836 vezes a massa do electrão. Não há garantia que a crença condicional nunca falhe, porque temos sempre informação incompleta. Nem é certo que a crença incondicional só leve a aceitar proposições falsas. Até um relógio parado está certo duas vezes por dia. Mas há uma grande diferença entre estas atitudes, tanto na probabilidade de acertar mais perto da realidade como, e principalmente, na capacidade de corrigir erros e melhorar a qualidade das crenças que se tem.

* Mas, infelizmente, as franjas são enormes, quando consideramos o mundo todo…
** Com cada religião a defender, nem que seja em nota de rodapé, que as suas crenças são as mais verdadeiras.

Em simultâneo no Que Treta!

27 de Setembro, 2009 Fernandes

A Fé

Se a Fé nos credos e dogmas religiosos nos fosse proposta depois da adolescência, na idade adulta, não duvido que o profuso reportório de mitos e lendas incluídas nas reelaborações teológicas que substanciam a essência da Fé religiosa, não teriam acolhimento em mentes normalmente formadas, salvo em pessoas com uma peculiar idiossincrasia. A irracionalidade desse reportório e as suas contradições, conduzem à sua recusa, pela maioria das pessoas de bom senso. A Fé adquire-se no seio da família, da tradição, e na infância da vida, quando o sujeito está sob pressão e ao mesmo tempo protecção e cuidado de um Superego manipulador.

A Fé abandona-se por influência de pessoas ou experiências vitais complexas, geralmente intensas e extensas, que exigem um dispêndio de energia psíquica considerável, tanto no plano emotivo como intelectual. As crises de Fé põem à prova o equilíbrio do Ego, como núcleo da personalidade.  A sensibilidade a inteligência e informação, um determinado nível cultural e uma vontade de discernimento, colocados acima dos preconceitos herdados, são o motor capaz de nos libertar das algemas da Fé.

A teologia das religiões reveladas costuma atribuir a Fé a um privilégio pessoal, dom ou graça. Não é por acaso. Os credos contêm tal número de fantasias e infantilidades, que só por dom ou graça, eles ganham assento no intelecto humano. Aqui a teologia fica escrava da psicologia. A tese da revelação, dom ou graça, é a racionalização da falácia conotativa, que reveste o discurso teológico. Deus existe porque o desejo, desejo-o porque o necessito. Logo, tem que existir. A sua graça revela-me essa evidência. Este é o habitual raciocínio em círculo em que assenta o pensamento religioso.

Qualquer criança aceita com complacência uma fé e não arrisca perdê-la. As cerimónias mágicas aprendidas na infância asseguram-lhe uma teofania que não consegue questionar. O adulto que desconhece a tradição, vê essa Fé como um desideratum pueril ou até, como uma brincadeira de mau gosto. As Igrejas sabem-no e por isso obstaculizam por todos os meios o debate intelectual e a informação sobre a origem e as pretensões epistemológicas dos seus credos.

A noção de deus, nas religiões monoteístas – um deus pessoal e criador -, é a mera extrapolação até ao infinito, do conjunto dos atributos finitos e contingentes do ser humano. Esta adjudicação sub specie infinitas atque aeternitatis dos atributos humanos, esbarra inevitavelmente na multitude de antinomias, que arruínam a noção de Deus, e provam a sua impossibilidade.

O inacabável debate sobre a teodiceia e a extenuante polémica de auxilliis, tão dramática como grotesca, bastam para substanciar o facto consumado do colapso do Deus infinito. Pese embora, ousassem exibir esta Divindade com barbas brancas.

 * referências: Gonzalo Ojea, Elogio ao Ateísmo.

 

 

27 de Setembro, 2009 Carlos Esperança

A experiência é madre de todas as cousas

Papa chama a atenção para as fragilidades da família

A Igreja não pode ficar indiferente perante a banalização do divórcio. O alerta foi lançado hoje pelo Papa no Vaticano na audiência que concedeu a um grupo de bispos brasileiros em visita “Ad Limina”.

No encontro, Bento XVI apontou as consequências de uma mentalidade individualista que é contra a família.

Comentário: Eis a justificação para o seu celibato.

20 de Setembro, 2009 Fernandes

Privilégios da Igreja Católica

A constante “colaboração com o Estado“, de que a Igreja Católica se serve para surripiar dinheiro aos contribuintes através de subvenções económicas, – para o culto e para o clero, centros de ensino nomeadamente universidades, construção e conservação de edifícios, entre outras onerosas minudências, a par da atribuição de competências para o ensino em escolas públicas com diplomas e habilitações só por eles reconhecidos; fazem da Igreja um parceiro lesivo para a sociedade e o próprio Estado.

As manobras para converter o ensino da Catequese nas escolas públicas (disfarçada de Religião e Moral), num procedimento favorável à Igreja, financiada com impostos dos contribuintes, constituem uma afronta e um desafio inadmissíveis em democracia. A estes privilégios, essenciais para a hegemonia da Igreja Católica, – económico e competências, – há a acrescentar o privilégio de que esta goza na oficialização dos símbolos eclesiásticos, – festas religiosas, festas militares, hospitais, variadíssimas manifestações de culto público etc. – E ainda o facto de usufruir de uma presença privilegiada e cada vez mais acentuada dos seus ministros e sua clientela nos meios de comunicação social públicos.

Na realidade os privilégios têm aumentando de modo surpreendente e até provocatório, a coberto da chamada lei da “liberdade religiosa“, que mais não é do que uma forma de dilatar a supremacia do “Ideal Católico” no espaço público. O enorme financiamento de que usufruem as escolas e centros docentes, acumulado com as enormes isenções fiscais de que a Igreja continua a gozar, discriminando injustamente os demais cidadãos, individual e colectivamente, é um insulto e uma provocação, pois fica posta em causa a “obrigação” do princípio não-confessional do Estado, espírito este, fiel ao Laicismo, que é o suporte indispensável numa sociedade democrática e pluralista.

Enquanto a Igreja Católica busca aumentar insaciavelmente, subvenções económicas através do Estado, as demais confissões religiosas usam exclusivamente as ofertas dos seus fiéis. Porque insiste a Igreja Católica em não seguir o bom exemplo das suas congéneres? A Igreja está moralmente obrigada a publicar as suas contas, um balanço completo e detalhado da exorbitante ajuda económica que recebe, e que procede dos contribuintes independentemente da ideologia destes. A grande questão é que o dinheiro que recebe do Estado, não representa nem de longe a expressão da fé dos portugueses (contribuintes). Para confirmar o que escrevo basta consultar e ver que só aproximadamente 20% dos portugueses, decide entregar à Igreja a sua cota contributiva colocando o X na casa correspondente na declaração de IRS. Mas a Igreja Católica, obriga os outros 80% da população que não concorda, a contribuir para o seu financiamento através do Estado

Uma Igreja habituada a impor por todos os meios a sua Ideologia em todas as esferas da vida pública e privada, constitui um poder e por conseguinte uma ameaça que tem que ser condicionada pelo Estado, para protecção desse mesmo Estado. A Igreja Católica está cada vez mais perigosa – Politicamente falando. O erro deste governo foi começar com cedências, subvalorizando a força estrutural e a capacidade de reacção política do Clero.

O Estado Português não tem religião oficial, – Ponto final. O Estado não pode obrigar os cidadãos deste país a financiar esta ou qualquer outra religião em particular.

15 de Setembro, 2009 Carlos Esperança

Um assassino sem missas

A habitual cerimónia para assinalar a data da morte de Franco que se realizava anualmente no Vale de los Caídos, este ano (e talvez no futuro) deixará de ocorrer.

A decisão do abade local – o monje beneditino Álvarez – baseia-se na aplicação da Lei da Memória Histórica sobre a retirada dos símbolos franquistas – anuncia o “El País” de ontem.

Um passo na desmistificação do ditador católico.